Água seca



Água seca

Nunca escrevi algo plasticamente bonito de fato,
algo sonoramente inesquecível.
No que escrevo,
a liberdade tenta manter o descontrole:
meu verso é pelado e sem sapato.

Nada meu soa redondo
como "batatinha quando nasce",
nem na linha do camboão...
Nada mais é que uma descarga:
algo que vinha me ocupando a cabeça
é posto para fora.

Nada é rimadinho, exato,
nada infinito enquanto dure.
Escrevo para não sobrar sorte
onde urubu-filosofal pouse,
para sonhar e amar na vida,
para fingir que sou fingidor,
para fugir para onde sou amigo do rei,
para dizer que ouço estrelas...

Sou mesmo um filósofo preguiçoso,
um criativo desdenhador
de minha visão enxuta das coisas puras.
Escrevo poemas para não me cobrar
ensaios, romances, teses de mestrado.
O uso do método, por si só,
joga toda a minha evasão por terra,
e me retorna à secura neutra.
Não estudar como fazer, neste meu caso,
é condição indispensável.
Necessito da aventura efêmera da ilusão.

Eu me ajudo
a procurar e merecer um barranco à sombra
para morrer encostado.
Por isso não sou rimado
como dois e dois são quatro:
o verso, o poema, a minha conversa,
a minha vida
é um feijão com arroz num prato.

E água, ar e amor,
sem frescuras.

10.11.2006


Autor: Roberto Jr Esteves Siqueira


Artigos Relacionados


Poesia, Não Será Por Acaso O Que Lhe Escrevo?

Aquarelas De Mim

Quem Sou Eu

"pensamentos Meus."

A Dupla Do Conto

Poeta

Semblantes