Perdão entre pai & filho



Conhecemo-nos quando tínhamos apenas dez anos de idade cada. Íamos eu e ele levar marmita para nossos pais almoçar, ambos trabalhavam da construção civil. Estranhei, ao conhecer aquele garoto com trejeitos femininos. Nunca havia prestado atenção nessa possibilidade. Este garoto foi estudar na mesma escola que eu. Durante o recreio, muitas algazarras. Os demais garotos diziam "mulherzinha", "bicha" entre outros nomes que prefiro não mencionar. A diretora da escola pediu os pais que lhe transferisse para outra instituição de ensino. Cinco anos depois, o pai do jovem Antonio (pseudônimo) o expulsou de casa, depois de descobrir que seu filho era homossexual. A mãe era empregada doméstica de uma família rica, cuja segunda residência era na capital Vitória. Pediu à patroa que acolhesse o filho, de preferência que o levasse para Vitória, pois seus familiares não queriam acolher o garoto. A patroa então contratou o garoto para fazer serviços domésticos em sua residência em Vitória, o que lhe garantiria sustento e ele voltaria a estudar. Mais tarde, Antonio terminou os estudos e montou um salão de beleza. Seu salão localizava-se no maior shopping center do estado. Ocasião em que escreveu aos pais, informando-lhes, que não precisariam mais trabalhar em serviço pesado. Comprou-lhes uma casa, e passou a enviar mensalmente um cheque para cobrir todas as despesas deles. Antonio passou a morar sozinho, comprou o próprio apartamento e trocava de carro todos os anos. Levava uma vida de muita diversão e promiscuidade, em uma época de poucos esclarecimentos sobre a contaminação pela AIDS. Acabou contaminado pelo HIV. Naqueles anos ainda não existia medicamentos para conter o vírus, o que levou rapidamente a manifestação da doença. Em estágio terminal o jovem foi removido para a cidade do interior e lá poder morrer ao lado dos seus pais e demais familiares. Seu pai contou-me que médicos e enfermeiros tinham medo de chegar perto de seu filho. Era o pai, que, sem maiores experiências, o medicava, e fazia-lhe a higiene pessoal. Seu corpinho agora muito magro não tinha força para tal. Em uma noite, o filho percebendo a aproximação da morte diz ao pai: "Papai, me perdoe, sei que sendo o único filho, gostaria que eu seguisse seu exemplo. Perdoe-me por isso papai, eu não quis magoá-lo. Perdoe-me papai, pois eu te amo tanto." E o pai, com os olhos mareado de lágrimas disse-me: "Sabe Aloísio, meu filho, ali, com aqueles olhos verdes, que apesar da vida esvair, teimava em brilhar. Então foquei os seus olhos e lhe disse: - sou eu quem te peço perdão, meu filho, minha ignorância, levou-me a expulsá-lo de nossa casa, quantas noites, chorei arrependido. Cada vez que o rapaz dos correios nos entregava o aviso de retirada do cheque, era como se meu coração me lembrasse do meu ato insano. Perdoa-me filho, perdoa-me, sinto-me culpado pela sua doença, perdoa-me. Se pudesse voltaria atrás e, ao invés de expulsá-lo, o protegeria como os pais devem proteger seus filhos, perdoa-me." E o filho respondeu: "Não existe motivo para perdão papai, o senhor fez o que um pai com o esclarecimento que dominava na época podia fazer. Não se martirize, o senhor é o maior pai do mundo, cuidou de mim, com os cuidados que uma mãe faz a uma criança. Sou muito grato ao senhor, te amo muito papai, te amo muito. Deus há de recompensá-lo por todo o carinho e cuidado que teve comigo, neste últimos dias. Diga a mamãe que também a amo muito." Disse o senhor Theobaldo: "E aí amigo Aloísio, meu filho fechou os lindos olhos verdes que herdou da mãe. O posso eu fazer agora que ele se foi?" Eu respondi orar para que os emissários de Jesus o acolham como você o acolheu. E lembrar dos momentos felizes que viveram juntos.
Autor: Aloisio Silva


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