Resenha de ''O Homem Elefante'' - Filme de David Lynch, 1980



O Homem elefante é o tipo de história que choca por sua aparente fantasia ter sido realidade. De uma forma extremamente circense David Lynch conta a história de Joseph Merrick, inglês, nascido em Leicester em 1862, que por defeitos congênitos apresentava fisionomia completamente desfigurada, lembrando o excesso de pele que há na face dos elefantes. Em plena Inglaterra Vitoriana, Joseph é retratado como um escravo de sua condição física e através dela apresenta-se em shows de horrores para sobreviver. A grande reviravolta na vida do protagonista se dá quando conhece o Dr. Treves interpretado por A. Hopkins que consegue dar legitimidade ao conflito científico X humanitário certamente vivido pelo médico ao deparar-se com Merrick. Jhon Hurt interpreta o Homem Elefante e em um esforço completamente postural revive o drama do protagonista. O excesso de maquiagem para deixá-lo parecido com Merrick o forçou a encontrar um equilíbrio entre movimentação, fala e olhar para compensar o rosto engessado pelos enxertos artificiais que ajudaram a caracterizar o personagem. Com base nesta tríade Hurt desenvolveu uma comovente interpretação dando humanidade à figura aterrorizadora que ostentava.
David Lynch de maneira extremamente eficiente mostra a realidade das emergências dos hospitais britânicos no fim do século XIX, contextualizando a pobreza e falta de perspectiva de grande parte da população na era de Jack, o Estripador. A fotografia em preto e branco trás ares de expressionismo alemão ao filme, pois em filmes como Nosferatu e o Gabinete do Dr. Calegari o tema freak era recorrente para explicar zumbis e vampiros tentando interagir com seres humanos. Sob este pano de fundo, Lynch vai contando o drama existencial do Homem dito Elefante, que apesar de visto como uma aberração é humano e tenta interagir com os membros de sua espécie.
O fato de o filme ter sido apenas baseado na história real de Merrick (há relatos de pesquisadores que apontam uma maior autonomia de Joseph sob sua própria vida) não elimina a intencionalidade latente do enredo, ou seja, relegar humanidade a um membro fisicamente deslocado da humanidade. Quando se descobre que Joseph é capaz de ler, de produzir arte, de sentir gosto pela companhia das pessoas, verifica-se que o conflito animal-humano existe apenas na aparência física do personagem que consegue expressar sua sensível humanidade de maneira plena. A partir disso, com muita sutileza, Lynch ilustra a brutalidade animalesca dos seres humanos "perfeitos" fisicamente que se aproveitam do defeito de Joseph para divertir-se perversamente e ganhar dinheiro. Neste sentido o expectador se questiona sobre quem realmente seria o animal? Um ser humano com o corpo desfigurado, mas, que possuía uma imensa compaixão e capacidade de perdoar a todos para ser aceito ou um portador de físico normal, mas que guarda um animal brutal interior como alguns contemporâneos de Merrick como Jack, O Estripador?
Autor: Lara (Cinéfilara) Rodrigues Pereira


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