VARIEDADES NÃO PRESTIGIADAS NA SOCIEDADE AMAPAENSE



VARIEDADES NÃO PRESTIGIADAS NA SOCIEDADE AMAPAENSE



JEOVÁ LIMA PEREIRA


RESUMO


O presente trabalho trata sobre as variedades não prestigiadas na sociedade amapaense, fomentado em teóricos, que abordam a variação lingüística e seus reflexos, como, Marcos Bagno e Magda Soares, também através de pesquisas bibliográficas e coletas de dados para constatar a veracidade do preconceito lingüístico amapaense. Pretendendo, desta maneira abordar, o preconceito lingüístico, causas, conseqüências e reflexões sobre a língua, e obter como resultado a adequação vocabular. Pois, esse estudo tem por objetivo fazer com que o individuo conheça as multifacetas da língua e passe a valorizá-las.

Palavras- chave: Preconceito lingüístico, Causas, Conseqüências e Reflexões.


RESUMEM


El actual trabajo trata en las variedades no sancionadas en la sociedad del amapaense, fomentada en los teóricos, quienes acercan a la variación y a sus consecuencias lingüísticas, as, Marcos Bagno y Magda Soares, también a través de la investigación y de recogidas de datos bibliográficas para evidenciar la veracidad de la preconcepción lingüística del amapaense. Pensando, de esta manera de acercarse, la preconcepción, las causas, las consecuencias y las reflexiones lingüísticas en la lengua, y de conseguir como resultó la suficiencia a vocabular. Por lo tanto, este estudio que tiene para que el objetivo haga con eso el individuo sabe los multifacetas de la lengua y del paso para valorarlos.
Llave de las palabras: Preconcepción, causas, consecuencias y reflexiones lingüísticas.

INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende esclarecer com base epistêmica, as variedades não prestigiadas na sociedade amapaense e o processo amplo de uso ou estético da língua, tema este de grande relevância pelo fato de dar amplitude para o entendimento das variações lingüísticas e principalmente por enfatizar o preconceito do "certo" ou "errado". Apesar de ter-se consultados outras fontes, o trabalho em si está embasado nos respectivos teóricos, como: Marcos Bagno e Magda Soares, por serem unânimes em "denunciar" a prática errônea de diferenciar a maneira "bonita" ou "feia" de se falar. Sendo assim, o que leva a sociedade amapaense a desprezar a variação lingüística local?
Como se sabe, a sociedade amapaense tem um grande fluxo de migrantes, que é visualizado na forma de se comunicar de cada um, de acordo com seus recursos lingüísticos, e nesse trâmite cultural é possível afirmar que há equívocos na distinção da prática de linguagem em uso, pois neste percurso surgem aqueles que julgam conhecer a língua e menosprezam os que "não sabem" diferenciar as várias conversações da linguagem. Vale ressaltar também que, esse julgo é puramente empírico, pois não tem nada lingüísticos.
Dessa forma, o principal objetivo deste artigo é esclarecer de forma sistematizada, sem macula, sem omissão, as variantes que não são prestigiadas pela sociedade amapaense, sendo fundamentadas em pesquisas. Paralelo a isso desenvolver-se-á um estudo correlacionado de intervenção através de coletas de dados, que posteriore será publicado para somar conhecimentos com acadêmicos, professores e outras pessoas da sociedade amapaense.
Inicialmente é feita uma revisão bibliográfica para descrever teorias que abordam o preconceito lingüístico e uma forma de não deixar as regras da norma-padrão ser vista como apenas superior, tornando as variações populares não prestigiadas. A pesquisa de campo foi realizada em quatro bairros: Buritizal, Novo Buritizal, pedrinhas e Zerão, na cidade de Macapá. Foram entrevistados, 40 (quarenta) pessoas, entre homens e mulheres com faixa etária de 13 a 74 anos, em seguida são apresentadas algumas causas, conseqüências e reflexões acerca do tema proposto.


1. A DIMENSÃO DA LINGUAGEM NA SOCIEDADE

A linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar, por meios de signos lingüísticos os quais perpassam por um processo evolutivo dentro de uma determinada sociedade, às vezes, ligada a uma ideologia puramente preconceituosa, baseando-se em regras impostas pelo imperialismo intelectual. Diante disso, surgem dois eixos, abordado por vários lingüistas, dentre estes, o autor Marcos Bagno, que conceitua de um lado, as variedades prestigiadas e de outro as variedades estigmatizadas. A primeira relaciona-se a classe dominante por terem acesso à educação e adquirem credibilidade no meio social, embora se baseando na norma padrão, enquanto que as variedades estigmatizadas são usadas pela maioria dos falantes, por estarem à margem da vulnerabilidade social e na maioria das vezes sem oportunidades educacionais, fatores estes que "colaboram" para a ocorrência do preconceito social.
Segundo Bagno (2006, p. 141), as variedades não prestigiadas, "é o grau de freqüência de determinadas regras lingüísticas variáveis", neste sentido, a linguagem desprestigiada muda a todo instante, de acordo com alguns fatores, como, o tempo, o espaço, o nível cultural e a situação que o individuo se expressa verbalmente. Como já ressaltado, essas são algumas das causas que contribui para a influência das variações lingüísticas, tanto na fala quanto na escrita, mas o que se observa é a má adequação do vocabulário, ou pelo menos nenhuma preocupação em relação à língua brasileira, sendo o interesse maior de encontrar a maneira "certa" ou "errada" de se ler, escrever e conseqüentemente falar, sem ter a responsabilidade de ensinar a essência da língua e sua dimensão.
O que acontece na verdade, são resquícios históricos, pois o próprio conceito de gramática na época, século III a. c., era a arte de ler escrever bem, na visão dos filósofos e filólogos gregos, na qual se propaga infelizmente até o dia de hoje, tal que Bagno (2006, p. 46) afirma: "(...) foram eles que sacralizaram na cultura ocidental o mito de que existe ?erro? na língua, principalmente na língua falada".
Observa-se então com isso, o que sempre ocorre na sociedade brasileira, como também na sociedade amapaense, é uma mesclagem lingüística e cultural, e neste percurso algumas visões descabidas têm perpetuando no meio social, principalmente quando se trata da linguagem culta. Práticas estas que vêm estigmatizando e negando os acontecimentos prévios dos falantes. Assim o autor relata que, "(...) tudo isso ainda é mais pernicioso, porque a língua é parte constitutiva da entidade individual e social de cada ser humano em boa medida, nós somos a língua que falamos (...)". (Bagno, 2006, p. 17).
Contudo, ao abordar a língua exclusivamente sob uma perspectiva normativa segundo o autor, contribui para gerar uma série de falsos conceitos e até mesmo preconceitos, que vêm sendo desmistificados pela lingüística. Em primeiro lugar, está suficientemente demonstrado que a língua escrita não pode ser modelo para a língua falada. Além do fato histórico de que a fala ter precedido e continuar precedendo a escrita em qualquer sociedade, a diferença entre essas duas formas de expressão verifica-se desde sua organização até o seu uso social.
Como Soares (1994, p. 40) retifica:

(...), tal como não se pode falar de "inferioridade" ou "superioridade" entre línguas, mas apenas de diferenças, não se pode falar de inferioridades ou superioridade entre dialetos geográficos ou sociais ou entre registros. Também aqui, como ocorre em relação ás línguas, cada dialeto e cada registro é adequado ás necessidades e características do grupo a que pertence o falante, ou á situação em que a fala ocorre.


No entanto, o que se observa é justamente à visão mística de que existe uma deficiência ou até mesmo uma inferioridade em relação ás variedades de uma mesma língua. Todas essas variações são válidas como instrumentos de comunicação, como também não há nenhuma evidência lingüística que permita afirmar que um dialeto é mais "expressivo", mas "correto", mas "lógico" que qualquer outro, pois todos esses são sistemas lingüístico igualmente complexos, lógicos e estruturados, porém é necessário adequar com conformidade do meio do qual o falante se encontra.
À vista disso, Soares (1994, p. 41) também relata que:

(...) Os preconceitos sociais, que valorizam certas regiões do país em detrimento de outras, determinados contextos, em relação a outros, alguns grupos sociais, em oposição a outros, levam leigos a até especialistas a atribuir superioridade a certos dialetos regionais, a certos registros e, sobretudo, a certo dialeto social. Criando-se, assim, estereótipos lingüisticamente inaceitáveis.

A partir do momento que os falantes são rotulados de uma deficiência lingüística ou por não se habituarem à norma tão cultuada, conseqüentemente pegarão aversão em relação à língua portuguesa e serão julgados pelos ditos "cultos", naquilo que são diferentes dessa norma, "incorretos", "ilógicos" e até "feios". Essas atitudes em relação aos dialetos não-padrão não são lingüísticas, são atitudes próprias, culturalmente aprendidas, pois se baseiam em valores sociais e culturais, não em conhecimento lingüísticos. Na verdade, são julgamentos sobre os falantes, não sobre a sua fala.
2. ANÁLISE DE DADOS

Por não utilização dos nomes das pessoas envolvidas na pesquisa, por uma questão de ética será feita apenas referência por faixas etárias.

Quadro 1 ? PERFIL DOS INFORMANTES E SUAS VARIANTES

Diante dos dados coletados sobre as variações lingüísticas desprestigiadas no Amapá, constatou-se que, na cidade de Macapá, os habitantes dos bairros supracitados, apresentam variações típicas do estado as quais são desprestigiadas socialmente.
Os entrevistados ressaltam algumas palavras e dizem de maneira passiva, como ?bonitas? ou ?feias?, ?certas? ou ?erradas?, no entanto, percebe-se que tais vocábulos estão intrínsecos no linguajar de cada um, não o bastante, os mas adultos dizem que os mas jovem falam inadequadamente, o qual eu chamo de discriminação dentro das classes dos próprios falantes nativos. Neste sentido, o autor Marcos Bagno ressalta: Muitos falantes "cultos" supõem que seu modo de falar está mais próximo da norma- padrão tradicional e que a língua dos "incultos" é que é cheia de solecismos, barbarismos, vícios e erros (...). Na verdade o que ocorre é uma diferenciação de classes sociais, tendo em vista que toda sociedade é composta de vários status, na sociedade amapaense não é diferente. Pois os próprios entrevistados tendem estar de acordo com sua classe social e intelectual, os quais acreditam que falar "errado" implica na descredibilidade dentro do contexto onde o mesmo está inserido, temendo assim, ser criticado pelo interlocutor.
Isto é comprovado no quadro em anexo, no qual se percebe que a maior porcentagem dos entrevistados usa a variação: "ilharga" (20%) entre a faixa etária de 70 a 74 anos; E embrulhar (18%) entre a faixa etária de 46 a 50 anos; E confronte (15 %) entre a faixa etária de 60 a 67 anos.
As variações de menor uso estão distribuídas em 47% dos entrevistados as quais são: escancarar, espocar, caçuar, embrulhar, sendo que "égua!" e "escangalhar" são de maior uso dentre eles. O que leva a sociedade amapaense a desprezar a sua variação é a falta de conhecimento sobre a língua e suas dimensões, tendo em vista que a língua não se baseia em
Ideologias infundadas, sem lógica e, sobretudo em status, como já mencionadas; Na verdade a língua é um processo de interação e constitucional de cada ser humano, ou seja, o ser humano é agente das mudanças que acontecem na língua, pois não é obsoleta e nem estática, logo está em constante transformação, porém, ao contrário de discriminá-la, devemos nos adequar a ela e suas variações, dependendo da situação em que estamos inseridos, pois o verdadeiro dominante da língua é aquele que sabe adequar as várias conversações da linguagem e não só das nomenclaturas gramaticais, haja visto, que o conhecimento não pode se restrito e sim holístico.

% IDADE SEXO BAIRRO VARIANTES NÃO PRESTIGIADAS SIGNIFICANTE
0,10 25 a 30anos F/M Buritizal Escancarar Aberto
0,13 31 a 35 anos F/M Buritizal Égua! Admiração
0,15 60 a 67anos M. pedrinhas Confronte Em frente
0,03 13 a 16anos F. Novo horizonte Umbucado Muito
0,08 17 a 20 anos M. Buritizal Esmigalhar Despedaçar
0,05 40 a 45anos M./F Zerão Caçuar Caçoar (zombar)
0,18 46 a 50 anos F. Novo Buritizal Embrulhar Empacotar
0,20 70 a 74anos F/M Buritizal Ilharga Ao lado
0,08 10 a 12anos M/F Zerão Escangalhado Quebrado
0,03 21 a 24 anos M. Novo Buritizal A gente fomos A gente foi

% IDADE SEXO BAIRRO VARIANTES NÃO PRESTIGIADAS SIGNIFICANTE


BIBLIOGRAFIA

BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. 5. ed. São Paulo: Parábola, 2006.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: Novela Sociolingüística. 9. Ed. São Paulo: Contexto, 2001.

SOARES, Magda. Linguagem e escola. 12 ed. São Paulo, 1994.

VARIEDADES NÃO PRESTIGIADAS NA SOCIEDADE AMAPAENSE



JEOVÁ LIMA PEREIRA


RESUMO


O presente trabalho trata sobre as variedades não prestigiadas na sociedade amapaense, fomentado em teóricos, que abordam a variação lingüística e seus reflexos, como, Marcos Bagno e Magda Soares, também através de pesquisas bibliográficas e coletas de dados para constatar a veracidade do preconceito lingüístico amapaense. Pretendendo, desta maneira abordar, o preconceito lingüístico, causas, conseqüências e reflexões sobre a língua, e obter como resultado a adequação vocabular. Pois, esse estudo tem por objetivo fazer com que o individuo conheça as multifacetas da língua e passe a valorizá-las.

Palavras- chave: Preconceito lingüístico, Causas, Conseqüências e Reflexões.


RESUMEM


El actual trabajo trata en las variedades no sancionadas en la sociedad del amapaense, fomentada en los teóricos, quienes acercan a la variación y a sus consecuencias lingüísticas, as, Marcos Bagno y Magda Soares, también a través de la investigación y de recogidas de datos bibliográficas para evidenciar la veracidad de la preconcepción lingüística del amapaense. Pensando, de esta manera de acercarse, la preconcepción, las causas, las consecuencias y las reflexiones lingüísticas en la lengua, y de conseguir como resultó la suficiencia a vocabular. Por lo tanto, este estudio que tiene para que el objetivo haga con eso el individuo sabe los multifacetas de la lengua y del paso para valorarlos.
Llave de las palabras: Preconcepción, causas, consecuencias y reflexiones lingüísticas.

INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende esclarecer com base epistêmica, as variedades não prestigiadas na sociedade amapaense e o processo amplo de uso ou estético da língua, tema este de grande relevância pelo fato de dar amplitude para o entendimento das variações lingüísticas e principalmente por enfatizar o preconceito do "certo" ou "errado". Apesar de ter-se consultados outras fontes, o trabalho em si está embasado nos respectivos teóricos, como: Marcos Bagno e Magda Soares, por serem unânimes em "denunciar" a prática errônea de diferenciar a maneira "bonita" ou "feia" de se falar. Sendo assim, o que leva a sociedade amapaense a desprezar a variação lingüística local?
Como se sabe, a sociedade amapaense tem um grande fluxo de migrantes, que é visualizado na forma de se comunicar de cada um, de acordo com seus recursos lingüísticos, e nesse trâmite cultural é possível afirmar que há equívocos na distinção da prática de linguagem em uso, pois neste percurso surgem aqueles que julgam conhecer a língua e menosprezam os que "não sabem" diferenciar as várias conversações da linguagem. Vale ressaltar também que, esse julgo é puramente empírico, pois não tem nada lingüísticos.
Dessa forma, o principal objetivo deste artigo é esclarecer de forma sistematizada, sem macula, sem omissão, as variantes que não são prestigiadas pela sociedade amapaense, sendo fundamentadas em pesquisas. Paralelo a isso desenvolver-se-á um estudo correlacionado de intervenção através de coletas de dados, que posteriore será publicado para somar conhecimentos com acadêmicos, professores e outras pessoas da sociedade amapaense.
Inicialmente é feita uma revisão bibliográfica para descrever teorias que abordam o preconceito lingüístico e uma forma de não deixar as regras da norma-padrão ser vista como apenas superior, tornando as variações populares não prestigiadas. A pesquisa de campo foi realizada em quatro bairros: Buritizal, Novo Buritizal, pedrinhas e Zerão, na cidade de Macapá. Foram entrevistados, 40 (quarenta) pessoas, entre homens e mulheres com faixa etária de 13 a 74 anos, em seguida são apresentadas algumas causas, conseqüências e reflexões acerca do tema proposto.


1. A DIMENSÃO DA LINGUAGEM NA SOCIEDADE

A linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar, por meios de signos lingüísticos os quais perpassam por um processo evolutivo dentro de uma determinada sociedade, às vezes, ligada a uma ideologia puramente preconceituosa, baseando-se em regras impostas pelo imperialismo intelectual. Diante disso, surgem dois eixos, abordado por vários lingüistas, dentre estes, o autor Marcos Bagno, que conceitua de um lado, as variedades prestigiadas e de outro as variedades estigmatizadas. A primeira relaciona-se a classe dominante por terem acesso à educação e adquirem credibilidade no meio social, embora se baseando na norma padrão, enquanto que as variedades estigmatizadas são usadas pela maioria dos falantes, por estarem à margem da vulnerabilidade social e na maioria das vezes sem oportunidades educacionais, fatores estes que "colaboram" para a ocorrência do preconceito social.
Segundo Bagno (2006, p. 141), as variedades não prestigiadas, "é o grau de freqüência de determinadas regras lingüísticas variáveis", neste sentido, a linguagem desprestigiada muda a todo instante, de acordo com alguns fatores, como, o tempo, o espaço, o nível cultural e a situação que o individuo se expressa verbalmente. Como já ressaltado, essas são algumas das causas que contribui para a influência das variações lingüísticas, tanto na fala quanto na escrita, mas o que se observa é a má adequação do vocabulário, ou pelo menos nenhuma preocupação em relação à língua brasileira, sendo o interesse maior de encontrar a maneira "certa" ou "errada" de se ler, escrever e conseqüentemente falar, sem ter a responsabilidade de ensinar a essência da língua e sua dimensão.
O que acontece na verdade, são resquícios históricos, pois o próprio conceito de gramática na época, século III a. c., era a arte de ler escrever bem, na visão dos filósofos e filólogos gregos, na qual se propaga infelizmente até o dia de hoje, tal que Bagno (2006, p. 46) afirma: "(...) foram eles que sacralizaram na cultura ocidental o mito de que existe ?erro? na língua, principalmente na língua falada".
Observa-se então com isso, o que sempre ocorre na sociedade brasileira, como também na sociedade amapaense, é uma mesclagem lingüística e cultural, e neste percurso algumas visões descabidas têm perpetuando no meio social, principalmente quando se trata da linguagem culta. Práticas estas que vêm estigmatizando e negando os acontecimentos prévios dos falantes. Assim o autor relata que, "(...) tudo isso ainda é mais pernicioso, porque a língua é parte constitutiva da entidade individual e social de cada ser humano em boa medida, nós somos a língua que falamos (...)". (Bagno, 2006, p. 17).
Contudo, ao abordar a língua exclusivamente sob uma perspectiva normativa segundo o autor, contribui para gerar uma série de falsos conceitos e até mesmo preconceitos, que vêm sendo desmistificados pela lingüística. Em primeiro lugar, está suficientemente demonstrado que a língua escrita não pode ser modelo para a língua falada. Além do fato histórico de que a fala ter precedido e continuar precedendo a escrita em qualquer sociedade, a diferença entre essas duas formas de expressão verifica-se desde sua organização até o seu uso social.
Como Soares (1994, p. 40) retifica:

(...), tal como não se pode falar de "inferioridade" ou "superioridade" entre línguas, mas apenas de diferenças, não se pode falar de inferioridades ou superioridade entre dialetos geográficos ou sociais ou entre registros. Também aqui, como ocorre em relação ás línguas, cada dialeto e cada registro é adequado ás necessidades e características do grupo a que pertence o falante, ou á situação em que a fala ocorre.


No entanto, o que se observa é justamente à visão mística de que existe uma deficiência ou até mesmo uma inferioridade em relação ás variedades de uma mesma língua. Todas essas variações são válidas como instrumentos de comunicação, como também não há nenhuma evidência lingüística que permita afirmar que um dialeto é mais "expressivo", mas "correto", mas "lógico" que qualquer outro, pois todos esses são sistemas lingüístico igualmente complexos, lógicos e estruturados, porém é necessário adequar com conformidade do meio do qual o falante se encontra.
À vista disso, Soares (1994, p. 41) também relata que:

(...) Os preconceitos sociais, que valorizam certas regiões do país em detrimento de outras, determinados contextos, em relação a outros, alguns grupos sociais, em oposição a outros, levam leigos a até especialistas a atribuir superioridade a certos dialetos regionais, a certos registros e, sobretudo, a certo dialeto social. Criando-se, assim, estereótipos lingüisticamente inaceitáveis.

A partir do momento que os falantes são rotulados de uma deficiência lingüística ou por não se habituarem à norma tão cultuada, conseqüentemente pegarão aversão em relação à língua portuguesa e serão julgados pelos ditos "cultos", naquilo que são diferentes dessa norma, "incorretos", "ilógicos" e até "feios". Essas atitudes em relação aos dialetos não-padrão não são lingüísticas, são atitudes próprias, culturalmente aprendidas, pois se baseiam em valores sociais e culturais, não em conhecimento lingüísticos. Na verdade, são julgamentos sobre os falantes, não sobre a sua fala.
2. ANÁLISE DE DADOS

Por não utilização dos nomes das pessoas envolvidas na pesquisa, por uma questão de ética será feita apenas referência por faixas etárias.

Quadro 1 ? PERFIL DOS INFORMANTES E SUAS VARIANTES

Diante dos dados coletados sobre as variações lingüísticas desprestigiadas no Amapá, constatou-se que, na cidade de Macapá, os habitantes dos bairros supracitados, apresentam variações típicas do estado as quais são desprestigiadas socialmente.
Os entrevistados ressaltam algumas palavras e dizem de maneira passiva, como ?bonitas? ou ?feias?, ?certas? ou ?erradas?, no entanto, percebe-se que tais vocábulos estão intrínsecos no linguajar de cada um, não o bastante, os mas adultos dizem que os mas jovem falam inadequadamente, o qual eu chamo de discriminação dentro das classes dos próprios falantes nativos. Neste sentido, o autor Marcos Bagno ressalta: Muitos falantes "cultos" supõem que seu modo de falar está mais próximo da norma- padrão tradicional e que a língua dos "incultos" é que é cheia de solecismos, barbarismos, vícios e erros (...). Na verdade o que ocorre é uma diferenciação de classes sociais, tendo em vista que toda sociedade é composta de vários status, na sociedade amapaense não é diferente. Pois os próprios entrevistados tendem estar de acordo com sua classe social e intelectual, os quais acreditam que falar "errado" implica na descredibilidade dentro do contexto onde o mesmo está inserido, temendo assim, ser criticado pelo interlocutor.
Isto é comprovado no quadro em anexo, no qual se percebe que a maior porcentagem dos entrevistados usa a variação: "ilharga" (20%) entre a faixa etária de 70 a 74 anos; E embrulhar (18%) entre a faixa etária de 46 a 50 anos; E confronte (15 %) entre a faixa etária de 60 a 67 anos.
As variações de menor uso estão distribuídas em 47% dos entrevistados as quais são: escancarar, espocar, caçuar, embrulhar, sendo que "égua!" e "escangalhar" são de maior uso dentre eles. O que leva a sociedade amapaense a desprezar a sua variação é a falta de conhecimento sobre a língua e suas dimensões, tendo em vista que a língua não se baseia em
Ideologias infundadas, sem lógica e, sobretudo em status, como já mencionadas; Na verdade a língua é um processo de interação e constitucional de cada ser humano, ou seja, o ser humano é agente das mudanças que acontecem na língua, pois não é obsoleta e nem estática, logo está em constante transformação, porém, ao contrário de discriminá-la, devemos nos adequar a ela e suas variações, dependendo da situação em que estamos inseridos, pois o verdadeiro dominante da língua é aquele que sabe adequar as várias conversações da linguagem e não só das nomenclaturas gramaticais, haja visto, que o conhecimento não pode se restrito e sim holístico.

% IDADE SEXO BAIRRO VARIANTES NÃO PRESTIGIADAS SIGNIFICANTE
0,10 25 a 30anos F/M Buritizal Escancarar Aberto
0,13 31 a 35 anos F/M Buritizal Égua! Admiração
0,15 60 a 67anos M. pedrinhas Confronte Em frente
0,03 13 a 16anos F. Novo horizonte Umbucado Muito
0,08 17 a 20 anos M. Buritizal Esmigalhar Despedaçar
0,05 40 a 45anos M./F Zerão Caçuar Caçoar (zombar)
0,18 46 a 50 anos F. Novo Buritizal Embrulhar Empacotar
0,20 70 a 74anos F/M Buritizal Ilharga Ao lado
0,08 10 a 12anos M/F Zerão Escangalhado Quebrado
0,03 21 a 24 anos M. Novo Buritizal A gente fomos A gente foi

% IDADE SEXO BAIRRO VARIANTES NÃO PRESTIGIADAS SIGNIFICANTE


BIBLIOGRAFIA

BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. 5. ed. São Paulo: Parábola, 2006.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: Novela Sociolingüística. 9. Ed. São Paulo: Contexto, 2001.

SOARES, Magda. Linguagem e escola. 12 ed. São Paulo, 1994.


Autor: Jeová Pereira


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