DIÓGENES O CÍNICO E SUA LANTERNA



DIÓGENES O CÍNICO E SUA LANTERNA

Sem dúvida, algumas pessoas gostam de ser enganadas. E pagam bem caro por isto. Mas não gostam de ser enganadas por qualquer um. É preciso que possua algum prestígio e saiba enganar com classe. A vaidade humana, ainda que otária, é muito grã-fina ...
Foi o que constatei num desses fins de semana, à noite, em que chovia torrencialmente, ao ver centenas de pessoas enfrentarem o mau tempo para assistir a um espetáculo de humor, cuja função é expor a sociedade ao ridículo, mediante remuneração, como têm afirmado, com graciosa honestidade, os próprios humoristas.
Esta é, aliás, uma profissão muito antiga, outrora exercida nos palácios e nas cortes.
Aqueles a quem chamavam de "bobos da corte" eram na verdade indivíduos que de bobos não tinham nada. Viviam nababescamente à custa daqueles a quem faziam rir e que metamorfoseavam do modo mais degradante.
Se visualizarmos a figura de um desses bobos da corte, veremos em seu chapéu desabado, com pontas e bolas, a própria coroa do rei.
Mas, para todos os efeitos, era a coroa do rei adversário, ou do senhor de outros domínios ...
Com isto, os chamados "bobos" lucravam duas vezes. Enquanto insultavam com pantomimas o seu próprio rei, também cobravam dele seus honorários.
Muitos destes bobos acumularam tamanho patrimônio e riqueza, que acabaram, a altos juros, emprestando dinheiro a seus próprios soberanos, sem contudo deixarem de continuar a divertí-los.
Mutatis-mutandis é o que hoje acontece. Pagamos para rir de nós mesmos.
O ser honrado ou honesto sempre foi, e continua sendo, motivo de escárnio ou repulsa. Em terras do "me engana que eu gosto" ninguém deve pensar seriamente a não ser em si mesmo. O que vale é a fraude, a mentira e a desfaçatez. É apregoar uma coisa e fazer o contrário. São as lições do quotidiano, em que triunfam os apaniguados, os safados e usurpadores.
Senão vejamos o que sucede mediante certos critérios de escolha ou aprovação:
Quem geralmente obtém, quem passa, ingressa ou assume?
Aquele ou aquela que entrou na fila, se sacrificou ou se matou estudando? Não mesmo.
Quem se beneficia de certas oportunidades? O mais correto, o mais qualificado, o mais virtuoso ou capacitado? Não senhor.
Pode ser a maior nulidade, desde que traga consigo uma carta de recomendação.
Assim as coisas acontecem aqui, ali e acolá. Já muito poucos se salvam.
Quem for realmente honesto, que enfie no bolso os seus princípios morais, que disfarce e se acautele. Os bons, os puros e bem intencionados têm apenas uma virtude: são lenha barata e de boa qualidade ...
Onde está a verdade, a igualdade, o respeito, o bom senso, a dignidade e a justiça?
Não esperemos encontrar facilmente estes valores ...
Diógenes, o Cínico, os procurou inutilmente com sua lanterna.

Luciano Machado

Autor: Luciano Machado


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