Cesar Lattes: O brasileiro que o nobel esqueceu



Matheus Vidotti Monteiro

Baseado no artigo de José Tadeu Arantes na edição de número 1 da revista Scientific American Brasil denominado "O brasileiro que o Nobel esqueceu" .

Apesar de não ter sido devidamente reconhecido, Cesar Lattes foi, junto com o italiano Giuseppe Occhialini, protagonista na descoberta do méson pi, uma particula que, se descoberta, revolucionaria o entendimento do mundo atômico. Infelizmente, os dois pesquisadores não levaram o premio Nobel, ouve a omissão de sua contribuição na atribuição do prêmio a essa descoberta, tendo esse sido entregue a apenas um pesquisador, o coordenador das pesquisas Cecil Powell. Esse deslize, que até hoje espantaestudiosos da história da ciência, é considerado um dos maiores erros da Real Academia Sueca (responsável pela entrega dos premios Nobel na área das ciências e literatura).

Lattes começou sua carreira como físico teórico, porém logo mudou de ramo e tornou-se experimentador, considerava a física teórica "uma calculeira danada". Assim ,apenas 3 anos após ter se formado, foi à Inglaterra e juntou-se a um grupo de pesquisa liderados pelo inglês Cecil Powell. Eles estudavam traços produzidos por partículas subatômicas em emulsões fotográficas com o objetivo de detectar características importantes delas. A entrada de Lattes e Occhialini ajudou a avançar o trabalho que já vinha se arrastando por anos sem progressos significtivos.

O cientista brasileiro foi responsável por mudanças no projeto que foram chave no progresso da pesquisa. A primeira delas foi adição de borax às emulsões, uma medida fundamental, visto que assim essas poderiam reter os traços das partículas estudadas por muito mais tempo. Outra sugestão, que foi importantíssima para a pesquisa, foi a ideia de levar as emulsões a altas altitudes. Nestes locais havia raios cósmicos com particulas de alta energia, e o que é mais importante, em grande quantidade, o que facilitaria em muito o trabalho do grupo. As primeiras chapas ao serem reveladas, após essas modificações no projeto, continham algo que os impressionou. Um traço de um méson que dimunia diminuía a velocidade e parava dando origem a um novo traço.

O méson havia sido proposto alguns anos antes por um físico japonês, Hideki Yukawa, com o objetivo de explicar a força que mantinha o núcleo atômico unido. Essa partícula ,teoricamente, seria incessantemente emitida e absorvida pelas partculas nucleares o que produziria uma atração de curto alcance e consequentemente manutenção do núcleo, não obstante fora do núcleo, os mésons sobreviveriam nanosegundos e se desintegrariam em seguida. Em 1937-38, dois físicos (Anderson e Neddermayer ) detectaram algo parecido com os mésons propostos por Yukawa, no entanto o méson detectado podia atravessar centenas de núcleos atômicos sem serem absorvidos ou densintegrados.

Lattes logo percebeu a importância de sua descoberta para a explicação do fenômeno. Teorizou que o méson que produzira o primeiro traço era o méson de Yukawa, ou seja, seria responsável pela força que mantém o núcleo atômico coeso; o segundo traço seria o méson de Anderson e Neddermayer que, fruto da desintegração do primeiro, poderia atravessar muitos núcleos sem nenhuma interação. Apesar de convencido disso, o jovem cientista tratou de testar sua teoria, foi à Chacaltaya, na Bolívia, local a 5500 metros de altitude onde a quantidade de particulas cósmicas é muito superior.

As emulsões expostas na Bolívia por Cesar revelaram aproximadamente, mais 30 rastros de mésons duplos. Feito os cálculos constatou-se que de fato a teoria do pesquisador correspondia à realidade. O méson de Anderson e Neddermayer foi denominado méson mi e o méson qua não havia sido detectado antes (o gerador do méson mi) foi denominado méson pi. O feito rendeu a Powell o prêmio Nobel de Física. Lattes e Occhialini (que foram os verdadeiros responsáveis pela descoberta ) não receberam o reconhecimento devido pelo seu trabalho.

Cesar na época não deu muita importância a atribuição indevida dos créditos de seu trabalho. Continuou suas pesquisas e trabalhou itensamente para o desenvolvimento cientìfico e tecnológico do Brasil tendo contribuido imensamente para o surgimento do Centro Brasileiro de Pesquisas físicas (CBPF), Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e também para uma das mais importantes e respeitadas universidades brasileiras: a Unicamp.
Autor: Matheus Vidotti Monteiro


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