Educação e superdotados



EDUCAÇÃO E SUPERDOTADOS: UMA ANÁLISE DO SISTEMA EDUCACIONAL
Education and Gifted: AN ANALYSIS OF THE EDUCATIONAL SYSTEM
Carla Oliveira 1
Laíne Silvany 2
Renata Brandão 3
Sylvana Vasconcelos 4
Tarsila Mendes 5
Tiago Alfredo da Silva Ferreira 6

Resumo: Este estudo teve como finalidade demonstrar as características do aluno superdotado assim como as dificuldades encontradas no sistema de Educação Brasileiro no atendimento desses alunos com habilidades especiais. Foi possível observar as relações afetivas com colegas e professores, fatores esses que podem interferir no seu desenvolvimento escolar e principalmente a atuação do psicólogo nesse contexto tão delicado.
Palavras chaves: Superdotados, educação, Brasil, relações.

Abstract: This study aimed to demonstrate the characteristics of the gifted student as well as the difficulties encountered in the Brazilian education system in meeting these students with special abilities. This analysis was possible to observe the emotional relationships with peers and teachers, those factors that can interfere with his schooling and especially the psychologist in this context as delicate.
Keywords: Gifted, Education, Brazil, relations.
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1. Aluna do 90 semestre do curso de Psicologia das Unijorge.
[email protected]
2. Aluna do 8º semestre do curso de Psicologia das Unijorge.
laí[email protected]
3. Graduada em Psicologia pela Unijorge.
[email protected]
4. Aluna do 100 semestre do curso de Psicologia das Unijorge.
[email protected]
5. Aluna do 10º semestre do curso de Psicologia das Unijorge.
[email protected]
6. Professor Orientador

Quando se fala em dificuldade de aprendizagem no Brasil, logo se associa a imagem de crianças com baixo rendimento escolar. Porém, devem-se levar em consideração os casos de portadores de altas habilidades, também conhecido como superdotados. Mas como definir uma criança superdotada? Elas precisam de atenção especial?Como a superdotação interfere na vida destas pessoas? Estas são algumas das perguntas que guiam este estudo.
Alencar & Fleitch (2001), afirmam, por exemplo, que "superdotação é um constructo psicológico a ser inferido a partir de uma constelação de traços ou características de uma pessoa" (p.52). Sugeri que uma definição só deve surgir depois que houver uma discussão de metas ou objetivos gerais a serem alcançados em um determinado problema.
Segundo a SEESP/MEC (Secretária de Educação Especial), as crianças que apresentam a expressão de traços consistentemente superiores a uma média, como notáveis desempenhos e/ou elevadas potencialidades em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica; pensamento crítico ou produtividade; capacidade de liderança; talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música, e capacidade psicomotora.
Visando auxiliar a identificação de crianças com altas habilidades o Ministério da Educação e Desporto e a Secretária de Educação Especial publicaram, em 1995, os Subsídios para a Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial ? Áreas de Altas Habilidades. Nesse documento, constam alguns procedimentos que foram apresentados para identificar crianças com altas habilidades, entre eles: Avaliações realizadas por professores, especialistas e supervisores; alta ? avaliação; aplicação de testes individuais, coletivos ou combinados e demonstração de habilidades superiores em determinadas áreas. (BRASIL, 1995b, p.23).
Essa supervisão deve ser feita por uma equipe interdisciplinar, devido ao fato de que os testes de inteligência não medem algumas operações presentes no pensamento criativo, o que pode levar a não identificação de um individuo com potencial criativo superior. Atualmente não é mais aceitável mensurar estática e definitivamente esses indivíduos. Como diz o Guenther (2000, p.45): "sem duvida, elas as crianças (superdotadas) não são iguais entre si, mas se igualam a esse nível de serem diferentes dos outros". Assim sendo, como qualquer criança é importante um ambiente acolhedor em casa e na escola.
A escolha desse tema teve como finalidade demonstrar a falta de preparo do Serviço Brasileiro de Educação, assim como as discussões acadêmicas realizadas a fim de proporcionar uma melhor abordagem do tema.

1.0 Sistema Brasileiro de Educação e Superdotados (Portadores de Altas Habilidades)

O sistema de educação brasileiro passou a se interessar no desenvolvimento da educação para superdotados em meados de 1970, onde após algumas pesquisas fizeram-se necessárias transformações nos sistema educacional para atender esse grupo. Nessa mesma época foi realizado o 1º seminário sobre superdotados destacando algumas necessidades básicas:
a) Um diagnóstico precoce do superdotado.
b) Organização de um sistema de educação para o superdotado.
c) Preparação de pessoal especializado pra atender adequadamente as necessidades deste grupo.
d) A doação de um conceito operativo de superdotado.

Helena Antipoff foi umas das especialistas que se destacou no seminário pelos seus trabalhos relacionados à inteligência realizados na França e Suíça, e no Brasil chamou atenção para as necessidades de uma identificação precoce do superdotado e de serviços educacionais para os alunos que se destacavam por habilidades e talentos especiais. Alguns trabalhos realizados pela especialista merecem destaque, pois incentivou melhorias na educação, assim como programas de atendimento ao aluno com habilidades especiais tanto da zona rural quanto da periferia urbana.
Em 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial ? CENESP que apoiou encontros de especialistas assim como seminários visando complementar as iniciativas do sistema de educação brasileiro. Posteriormente a Associação Brasileira para Superdotados (1978), esta patrocinou outros seminários e desde então seminários, palestras, cursos e workshops relacionados à criatividade e talentos dos superdotados.
A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação publicou documentos ao nível federal para o atendimento do superdotado, introduzindo outra terminologia para esse grupo: "altas habilidades".
Políticas e diretrizes foram elaboradas em todos os estados tendo como objetivo programar programas especiais, diferentes modelos de atendimento, promovendo condições favoráveis a esses talentos. De acordo com as perspectivas de Daniel Pfromm Netto é a partir desses programas que as habilidades sociais são valorizadas, devidamente avaliadas e adequadamente desenvolvidas, sendo os cientistas, políticos, empresários e militares do futuro.
CEDET ? centro pra desenvolvimento do potencial e talento fundado em Minas Gerais tendo como objetivos:
Ï Identificar interesses especiais e necessidades educacionais de alunos talentosos e assisti-los no atendimento de suas necessidades.
Ï Dar suporte aos alunos superdotados em seu desenvolvimento pessoal e emocional.
Ï Assegurar a estimulação adequada aos alunos de forma que possa desenvolver habilidades e talentos específicos (Guenther, 1995, p. 27).

De acordo com a autora Eunice e as pesquisas realizadas pela Fundação Educacional do Distrito Federal esses programas vem sendo adotadas também nas redes públicas de ensino, oferecendo desenvolvimento para o seu potencial, promovendo desenvolvimento social e ajustamento escolar expondo às experiências, materiais e informações que extrapolam o currículo regular e apresentam aos estudantes conteúdos acadêmicos de maior grau de dificuldade (Fonseca, Caixeta, Souza & Cavalcante, 1990).
Outro projeto a ser abordado é o projeto Objetivo de Incentivo ao Talento ? POIT (1972) implantado na rede particular de ensino com o objetivo de desafiar o aluno e encoraja-lo a utilizar os seus próprios ritmo.
Atualmente o Governo Federal implantou centros para superdotados. Segundo informações do Ministério da Educação (MEC), foram investidos R$ 2 milhões na criação dos Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S). Cada núcleo atenderá diretamente cerca de 60 alunos por ano. O programa funcionará por meio de atendimento no período contrário ao turno de aula do aluno. A idéia é que ele continue a freqüentar classes regulares, mas conte com ajuda extra para desenvolver sua habilidade em outros horários. O aluno que tiver maior facilidade para escrever, poderá ter o auxílio de um professor de português ou de um especialista que seja parceiro dos núcleos. Ele será orientado a buscar mais informações e a criar projetos, como escrever um livro ou organizar eventos de poesias.
2.0 Inclusão e Exclusão dos Superdotados

Para Rodrigues (2005), a inclusão é o crescimento de todos no respeito à diferença, no convívio com a diversidade. Trata-se de um longo caminho que se inicia.
No nosso país, a educação para todos ainda não é uma realidade e as escolas não estão preparadas para conviver com a diversidade. O processo é muito maior que o problema. O problema você pode resolver quando decide que será assim, que não há outro jeito. O problema está resolvido: a escola deve ser aberta à diversidade.
A exclusão social e inclusão social são conceitos dialéticos, polarizados, simétricos e constituem uma das grandes preocupações da sociedade atual. O processo de inclusão social é a inclusão escolar estão no conjunto de políticas públicas e particulares de levar a escolarização a todos os segmentos humanos da sociedade, com ênfase na infância e juventude. Nesse contexto, recebem atenção especial à integração de portadores de deficiências (físicas ou mentais) nas escolas regulares, o ensino voltado para a formação profissionalizante e a constituição da consciência cidadã.
No Brasil, a Constituição de 1988, assim como a LDB 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) destaca a importância e urgência de promover-se a inclusão educacional como elemento formador da nacionalidade. Os sistemas educacionais federais, estaduais e municipais, assim como as redes privadas de escolas, têm envidado esforços no sentido de operacionalizar os dispositivos legais que exigem ou amparam iniciativas no caminho da inclusão escolar.
Devido a esses fatos as crianças superdotadas enfrentam uma série de dificuldades por terem inteligência acima da média e se destacar entre os colegas da mesma idade. Os pais ficam orgulhosos, mas se preocupam muito em encontrar a melhor educação para os filhos.
O ano de 2006 está sendo considerado o "ano dos superdotados" pelo governo, que decidiu criar núcleos de atendimento a essas crianças. Tendo como objetivo evitar que essas crianças sofram exclusão. Muita das preocupações dos pais de superdotados é justamente evitar que seus filhos sofram preconceito na escola ou entre os amigos.
O superdotado sofre muito preconceito. Ser "geninho" pode causar isolamento por parte das outras crianças. Por isso, o método que vem sendo aplicado é conhecido como enriquecimento. Por meio dele, a criança continua com a turma escolar de mesma idade e aprende a mesma matéria. O que a diferencia das outras é que há um maior aprofundamento daquilo que a turma aprende. Tirar a criança do grupo, mudar de escola ou passá-la para uma turma mais avançada é segregação e isso pode causar problemas emocionais e de exclusão.

3.0 Problemas gerais dos superdotados em relação à educação.

As crianças superdotadas enfrentam diversas dificuldades devido as suas altas habilidades, principalmente, em relação à educação. Tentaremos expor abaixo alguns dos problemas gerais destes indivíduos, como relação com os colegas; relação com professores; conflitos com a família/comportamentos opositores.

3.1 Relações com os colegas
A criança superdotada passa a ser vista como uma ameaça pelos outros alunos, porque, muitas vezes, os professores passam a exigir e cobrar mais dos seus alunos. Além disso, os outros alunos não se sentem à vontade diante de uma criança considerada muito "inteligente" e passam a se sentir "burra" quando comparadas a esta criança.

3.2 Relações com os professores

Segundo Pickard (1976), os professores, em geral, apreciam 3 características nos alunos: habilidade acadêmica , alta motivação e conformismo social. As crianças que fogem a essas características, como é o caso dos superdotados, tornam-se insatisfeitos e acabam desapontando pais e professores. Muitas vezes, as crianças superdotadas são discriminadas e até hostilizadas por seus professores quando estes detectam que esses alunos aprendem e dominam o que os outros levam semanas e até meses para aprender, diante dessa situação os professores deixam esse aluno entregue " a própria sorte", o que leva o aluno a produzir bem menos do que é capaz, devido a falta de estímulo.
Novaes (1979) lista uma série de atitudes de professores que podem prejudicar o desenvolvimento do superdotado:
- Atitudes Freqüentes de Professores de Superdotados Que Prejudicam o Seu Desenvolvimento Segundo Novaes (1979).
? Comentários como "tal aluno deve tirar boas notas porque é inteligente" e outros do gênero fazem com que o superdotado abdique e desista de seus talentos e aptidões, uma vez que, por tê-los, tem mais preocupações e obrigações do que os outros colegas.
? Os professores, por constatarem que tal aluno é mais inteligente ou talentoso do que os seus colegas de classe, freqüentemente, passam a exibi-lo ou a protegê-lo, distinguindo-o dos demais e prejudicando suas relações com os colegas, os quais passam a rejeitá-lo.
? Por vezes, o professor se identifica com o superdotado e projeta nele suas aspirações e desejos, sendo a imagem daquele que gostaria de ter sido, do filho idealizado ou do indivíduo superior. Entretanto, pode também não aceitá-lo, desenvolvendo atitudes de antagonismo e oposição permanentes.
? Professores que tiveram alunos brilhantes geralmente tem prazer em contar, mais tarde, sua experiência; embora no ensino tenham tido dúvidas se tais crianças eram realmente superdotadas, ou problemáticas, diferentes, estranhas.
? Muito raramente o professor é tão talentoso como seu aluno em sua área específica, e não tem tanta imaginação nem criatividade quanto ele.
? O aluno superdotado é curioso, inquisidor, instável e, por vezes, irritado e agressivo, exigindo muito da pessoa do professor. Nem sempre ele (o professor) está psicologicamente preparado para enfrentá-lo e, portanto, sente-se inseguro, inferiorizado e perseguido, porquanto aquele é o aluno que sabe mais, que faz perguntas difíceis e que abala seu status de saber e de autoridade.
? Muitos professores competem com seus alunos superdotados e não admitem que estes últimos saibam mais do que eles ou que possam ter idéias mais criativas ou originais.

1.0 Desenvolvimento Sócio-Emocional do Superdotado

Nos últimos anos está se percebendo uma grande preocupação em desenvolver e programar práticas pedagógicas para atender as necessidades pedagógicas e cognitivas dos alunos portadores de habilidades especiais. Vários estudos (Horowitz, 1987; Roeper, 1982 cit. in Alencar & Fleith, 2001: 2006), mostram que as características emocionais dos superdotados não ocorre mais rapidamente ou precocemente do que o das outras crianças; ele ocorre de forma diferenciada em termos de estilos e aprendizagem, criatividade, interesses e traços de personalidade.
Entre elas, destacamos:
(a) Idealismo e senso de justiça, que se reflete na preocupação da criança superdotada e abraçar causas que promovam igualdades sociais;
(b) perfeccionismo, expresso pela auto-imposição de padrões de desempenho altos, rígidos e, muitas vezes, irrealistas;
(c) alto nível de energia envolvido na realização de atividades;
(d) perseverança, envolvendo grande concentração em atividades de interesse e a realização de obstáculos.
A falta de sintonia entre suas necessidades emocionais, sociais, cognitivas e educacionais e as condições oferecidas pela sociedade pode desencadear, nos superdotados conflitos intra e interpessoais.


5.0 Papel do Psicólogo

O psicólogo tem um papel muito importante, porém pouco explorado nesse processo da inclusão e exclusão do superdotado no contexto social e educacional.
A implementação de técnicas de aconselhamento psicológico, bem como de estratégias de intervenção junto ao aluno, ao professor, á família e á comunidade são algumas das praticas a serem desenvolvidas pelo psicólogo escolar na área de superdotação. Na escola, práticas pedagógicas devem levar em consideração estratégias de diferenciação e modificação o currículo regular com vistas a adequar o processo de aprendizagem ás necessidades e características dos alunos, e especial dos superdotados e talentosos. Modelos de aprendizagem, áreas de interesse e pontos fortes os alunos são palavras chaves para o bom desenvolvimento nesse processo.
Além disso, o psicólogo poderia ainda contribuir na orientação profissional desses alunos, especialmente aqueles que, em função de habilidades e interesses diversos (multipotencialidade), têm dificuldade em escolher uma carreira.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALENCAR, M. L. S., FLEITH, D.S. (2001) Superdotados: Determinantes, Educação e Ajustamento. São Paulo: EPU

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades: superdotação e talentos. Brasília:MEC/SEESP, 1995a.
GUENTHER, Z. C. Desenvolver capacidades e talentos: um conceito de inclusão. Petrópolis: Vozes, 2000
NOVAES, Maria Helena. Desenvolvimento Psicológico do Superdotado. São Paulo: Atlas, 1979.
PICKARD, Phyllis Marguerite. A criança aprende brincando. Tradução de GERTEL, Noé. 1. ed. São Paulo: Ibrasa. 1976.
RODRIGUES, D. A inclusão na universidade: limites e possibilidades da construção de uma universidade inclusiva. www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2005/01/al.htm.










Autor: Tarsila Mendes


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