Educação: A Impotência Instaurada



Ao iniciar o ano letivo busca-se repetidamente anos após anos realizar um planejamento pedagógico que tenha o máximo de conteúdos, atividades, intenções, sonhos e outros devaneios. A exemplo dos os planos de recuperação em massa veiculados recentemente que dão exclusivamente ênfase nos conteúdos de Português e Matemática. Os profissionais reunidos procuram as melhores idéias e se associam a outras. Este trabalho fica menos penoso quando conhecemos a comunidade escolar e quando estamos trabalhando por algum tempo, assim acredita-se saber quais conhecimento os alunos precisam adquirir. Isso é fato e rotineiro! Quando o professor “cai de para quedas” em uma comunidade ele recorre ao senso comum sobre aquele grupo que vai ensinar. Começa com conteúdos conceituais e pouco a pouco vai introduzindo outros procedimentos. Quando não, abandona a escola e justifica sua impotência dizendo que “aqueles jovens” que não querem nada com nada. Nem sequer percebe que é vítima de um sistema que também o experimenta. Inúmeros conflitos rondam a difícil tarefa de ensinar os jovens de hoje. Além destes, outros fatores inviabilizam qualquer mediação e não fazem educação. Nada contra planos de aula nem contra a construção de projetos pedagógicos que ficarão guardados nos arquivos da escola. Este ritual faz parte da falsa sensação de dever cumprido e guarda segredos ideológicos tão perigosos quanto aqueles que nos espera todos os dias nas diferentes salas de aula.
Mas, a grande dificuldade não está neste fazer e sim na impotência instaurada. Confesso desnuda de preconceitos e opiniões alheias, que tenho medo dela! Queremos resolver a questão da educação, acreditando e experimentando aplicações, de teorias da educação, pedagogias milagrosas nascidas de comunidades distantes e desconhecidas, em muitos casos uma “pedagosneira”. Com as melhores intenções o corpo docente e a equipe gestora, acreditando que um “up” no projeto pedagógico anual, criando uma nova/velha comunidade educativa, o mal possa ser erradicado. - Este termo tem a ver com o pensamento arcaico de que os problemas vividos em educação seja uma doença, uma peste que assola o País.

Para se aventurar na tarefa de educar temos que principiar aceitando o fato que a educação está agonizando desde que foi criada como instituição formal, que não existe receita milagrosa. Antecede aos projetos pedagógicos o conhecimento da sociedade, ou melhor, pensar as classes sociais que a pensam desta forma que está, e organizam sua estrutura e funcionamento. Caso isto não seja imposto na educação como condição sine qua non na tarefa de planejar, continuaremos a trabalhar com um corpo que vem se decompondo e achando que existe contribuição neste universo educativo. Reafirmaremos sem perceber o discurso que a fez nascer morta.

Se considerarmos o fato de que a educação tornou-se adestramento, onde nenhum aluno pode esbravejar, sem espernear e gritar, aceitar a destruição programada, a dor de ser descerebrado, quando a argila seca do senso comum impera contra a diversidade e as minorias, quando aquele que não sofre porque já aceitou o processo de imbecilização, o senso comum, o consenso, a ideologia veiculada pela mídia enquanto realidade, já aceitou ser comprado com preço mínimo e embalado como pacotes em supermercados, Quando adotarmos a visão utilitarista de só oferecer informações "úteis" para o mundo competitivo, para obter resultados. Quando nos rendermos à lógica de mercado, a educação deixará de ser nossa a maior conquista.

Os governantes aplicam sempre o mesmo discurso que mescla incompetência, impotência e hipocrisia: O Estado nunca não tem recursos para pagar melhor os seus docentes, para investir em formação continuada, em estrutura física escolar. “Esse pragmatismo a que me refiro serve para encobrir uma verdade que ultrapassa todos os governos: A sociedade e seus representantes não parecem muito interessados em colocar o ensino público como prioridade.”
A educação escolar que estabelece uma forma específica de fortalecer a relação de ensino-aprendizagem entre o sujeito-professor e o sujeito-educando, devem criar um núcleo central de conhecimentos e estabelecer mediação para a humanização das pessoas que vivem naquela comunidade, incluindo nós professores. Isto tem que ser feito através da construção autêntica de relações educativas, acreditando nos princípios da educação emancipadora.
A educação tem que ser encarada, acima de tudo, como um processo social da construção da diferença, existe para fazer a diferença. Nela não há lugar para a mesmice, a repetição, o “lugar comum” e para a impotência instaurada. “Para ensinar, sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma informação que os faça crescer e não embrutecer.” “que amem ao invés de desprezar”, as propostas educacionais precisam ir além das linguagens, as técnicas, os conteúdos, não deixar que eles assumam lugar central, mas que seja somente a bússola na formação geral na direção de uma educação integral.

Rosely Poletto
Professora de Educação-relações econômicas e tecnologia da Rede Municipal de Campinas.
Membro do Conselho Municipal de Educação

Autor: rosely poletto


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