Ponto final



Ponto final




- Rosinha ainda vai ser minha! Custe o que custar! Falou Roberto com Cláudio.
- Por que essa obsessão? Ela não quer nada com você!
- Nós já temos uma história, ficamos juntos mais de dois anos.
- Mas ela terminou e não te quer mais.
- Aí é que você se engana, de vez em quando a gente ainda fica.
Rosinha namorou Roberto por mais de dois anos, mas depois de muitas idas e vindas ela resolveu terminar. Não suportava as puladas de cerca de Roberto. Esse, por sinal, não se conformava com o fim do namoro, insistia sempre pela volta. Depois de muitas promessas e juras de fidelidade, Rosinha resolve dar outra chance a Roberto.
- Vou te dar outra chance, mas juro que é a última!
- Você sabe que só tenho olhos pra você, meu amor.
- Pra mim e todas as garotas do bairro.
- Isso é coisa do passado!
- Espero Roberto, espero.
Os dois retomam o namoro e parecem até um casal vindo do conto de fadas. Rosinha anda feliz e Roberto é só dedicação. Ninguém estava acreditando naquela mudança brusca de Roberto, todos estavam admirados e achando estranho o que estava acontecendo. Roberto nunca fez o tipo romântico e fiel, por isso a dúvida e o pé atrás dos amigos próximos do casal.
- Que mudança é essa, Roberto? Falou Cláudio.
- Mudança, eu amo a Rosinha. E como eu te falei, ela também me ama.
- Estou gostando de ver, fiel e apaixonado.
- Pode apostar!
Mas como muitos não acreditavam, Joana era a que menos colocava fé nesse romance já saturado por tantas separações.
- Rosinha, você ainda vai se dar mal com o Roberto.
- Ele mudou, você não percebe? Falou Rosinha.
- Eu acho que ele só está dando um tempo, depois vai mostrar suas garras.
- Que nada, ele está muito carinhoso e gentil.
- Espero que continue assim.
- Não rogue pragas.
- Eu não estou rogando, mas você sabe que ele é meio doido.
- Por que?
- Você sabe!
- Só por que ele gosta de ler aquelas coisas que tem sempre um final horrível?
Rosinha estava falando que Roberto adora ler sobre tragédias e histórias com final dramático. Até então, isso não é de assustar, é até louvável, pois ler é sempre muito bom. A vida ia passando e Roberto começava a colocar as manguinhas de fora. Queria dominar rosinha, escolher suas amigas e colocar horários para sua saída. A vida de Rosinha estava virando um inferno, mas ela acreditava que aquilo era apenas ciúme e que ciúme só tem quem ama. Ela procurava desculpas pelo comportamento exagerado de Roberto, talvez porque ela o amasse também demais. Um dia Rosinha queria sair com a amiga Joana e Roberto a proibiu.
- Você não vai sair com ela. Falou irritado.
- Por que Roberto. Respondeu, no mesmo tom, Joana.
- Porque você não serve pra ser amiga de Rosinha. Você não é decente.
- Quem não é decente é você, seu vagabundo.
- Calem a boca os dois. Eu decidi, não vou sair e pronto. Gritou Rosinha.
- Isso meu amor, fica comigo que é bem melhor do que estar na rua com certas pessoas. Falou Roberto.
- Chega Roberto, eu já disse que vou ficar. Joana eu não vou, pode ir.
- Você é quem sabe. Fica com esse maluco! Respondeu Joana.
Joana vai embora e Roberto mostrou sua força. Rosinha e ele entraram em casa e na demorou muito Roberto falou.
- Amor, vou ter que sair! Eu esqueci que tinha marcado com o Cláudio de baixar uns filmes na NET.
- Mas eu fiquei em casa só pra ficar com você!
- Eu já volto, é coisa rápida.
Roberto sai e deixa Rosinha com sua solidão. Ele tem pressa, mas não para encontrar seu amigo e sim para falar com Joana. Há algum tempo eles tiveram um caso, à revelia de Rosinha. Foram amantes durante um bom tempo.
- E aí Joana? Vim correndo só pra te ver. Ofegante, falou Roberto.
- E daí, o que tenho com isso?
- Vim pra ficar com você.
- Eu não quero mais nada com você, vá embora.
- Por que, minha flor? Nesse momento ele se aproxima e tenta abraçá-la, ela resiste, mas por pouco tempo. Joana tinha um amor que ficava sempre adormecido, mas quando Roberto a seduzia, ela logo se entregava.
- Você não presta!
- Nem você, minha flor!
Os dois ficam a noite toda juntos, se amam e esquecem do tempo. Enquanto em sua casa, Rosinha não agüenta esperar por Roberto e cai no sono. Rosinha não desconfia que sua melhor amiga e o seu namorado são amantes. No outro dia Roberto aparece com um buquê de flores e um sorriso de pedir perdão. Rosinha até tenta esboçar uma raiva, mas logo cede aos galanteios do namorado. Roberto sabe como conquistá-la e usa essa tática para mantê-la sempre submissa.
- Meu amor, eu tenho que ir ali, à casa de Cristina para estudar. Falou Rosinha.
- Por que você não estuda aqui? Você tem livros, computador, tem tudo. Fica aqui! Roberto deu a sua ordem.
- Mas lá eu tiro algumas dúvidas com ela.
- E quem disse que ela sabe mais que você?
- Mas...
- Fica!
Rosinha estava totalmente dominada e sem forçar para ter voz altiva. Era submissa e estava morrendo por dentro, sua vida estava sem brilho, sem poesia. Já não tinha amigos, não ia para festas, nem sozinha e nem com Roberto. Vivia praticamente a espera de Roberto, que, às vezes, nunca vinha. Sua vida estava morrendo e ela ainda não tinha despertado para esse problema.
Roberto não mudou sua vida e tampouco mudou seu comportamento, continuava fazendo suas farras e traindo da maneira mais vil. Não respeitava o amor de Rosinha e continuava com farras que terminavam na angústia de sua namorada. Depois de muito tempo Rosinha descobriu que Roberto a traia, mas não tinha forças para terminar, estava envolvida num sentimento de submissão e amor. Amor sem orgulho próprio. A vida passava, mas a de Rosinha continuava estagnada, à espera pelo namorado que trazia restos de carinho e beijos molhados por outras bocas. Ela estava nesse momento querendo tão pouco, apenas as migalhas que lhe sobraram de um amor estranho.
Sem vida ela começou a procurar vida nos livros que Roberto lia e deixava em sua casa. Sonhava e viajava nas histórias, mas chorava sempre com o final. Os livros que Roberto gostava tinham sempre uma história triste no final, O mocinho nem sempre terminava com a mocinha.
Roberto mantinha um romance extra com Joana, melhor amiga de Rosinha. Os dois se divertiam muito, iam para as festas, andavam como namorados. Todos no bairro sabiam, menos a envolvida na traição. Mas como se diz por aí: mentira tem pernas curtas!
Roberto saiu como de costume, cedo de sua casa, mas Rosinha resolveu segui-lo, pois queria saber pra onde ele ia quando saia dos seus braços. Ficou a espreitá-lo de longe, quando viu uma mulher se aproximar e beijá-lo loucamente. Ela demorou a identificar, a traição, às vezes, coloca uma venda nos olhos e ainda mais quando é uma dupla traição. Olhou e chorou amargamente, mas não quis se aproximar, pois não queria ser motivo de risos e nem de piedade. Sua melhor amiga e seu namorado, amando pela cidade e ela morta dentro de casa. Toda aquela renuncia de nada valeu, apenas deu asas para a liberdade permissiva de Roberto. Rosinha sentiu o gosto da traição, mas um coração ferido pode reagir de várias maneiras. Alguns choram até expulsar a angústia e a tristeza pelas lágrimas, outros partem para a agressão e tentam com a força bruta se vingar, mas a pior das coisas é chorar, calar e ficar tranqüilo. O silêncio muitas vezes é maquiavélico e perigoso. È no silêncio que surgem as idéias, as canções, as poesias e também grandes planos e estratégias. Rosinha ficou em silêncio por muito tempo, aceitando a traição dos namorados pérfidos com resignação. Fingia-se de cega e aceitava passivamente as ordens de Roberto. Mas não agüentando mais a situação, ela quis colocar um ponto final nessa história. Mas era um ponto final mesmo, sem segmento e sem chance pra ninguém.
Depois de ler muitas tragicomédias e pensar na terrível traição, ela decidiu. Foi ao mercado e comprou veneno pra ratos em grande quantidade e teve a terrível idéia... Convidou os dois para irem a sua casa para lancharem. O casal chegou na hora marcada por Rosinha. Hora do Ponto final.
- Oi meu amor, bem na hora. Falou rosinha.
- Eu sempre venho quando você chama. Respondeu Roberto.
Não demorou muito e Joana chegou.
- Oi amiga. Falou Joana.
- Bem na hora minha amiga. Com um tom irônico respondeu Rosinha.
Roberto então esboçou surpresa por Joana estar ali e quis discutir fingindo não gostar de sua presença, mas logo se acalmou. Percebeu que Rosinha ainda estava inocente sobre seu caso com Joana. Rosinha então preparou o suco do casal e caprichou no veneno.
- Tomem, neste suco está todo o amor e consideração que sinto por vocês dois, fiz com todo carinho. Com cinismo falou Rosinha.
Sem perceber que estavam tomando o liquido da morte, os dois beberam e Roberto então falou.
- Meu amor, você faz tudo gostoso. Esse suco estava uma delícia.
- Está mesmo Rosinha, você caprichou. Falou Joana.
- Espera que eu também fiz uns bolinhos, vou pegar.
Rosinha fez bolo, recheado com morte, pois jogou todo o veneno na massa do bolo. Ela trouxe e os dois se saciaram, repetiram e comeram juntos pela última vez. Não demorou muito e o casal começou a passar mal. Uma dor na barriga e começaram a espumar pela boca. Roberto então fala:
- O que está acontecendo comigo, eu estou sentindo muita dor.
- Willian Shakespeare, meu amor. Não reconhece o final de Romeu e Julieta? Rindo falou Rosinha.
- Você nos envenenou Rosinha, Por que? Com muitas dores perguntou Joana.
- Pra consumar o amor de vocês, amor de livros. Pensa que eu não sabia de vocês? Agora amaram em vida e vão morrer de amor. Falou Rosinha.
- Você é doida, liga pro hospital. Gritou Roberto.
- Que hospital, agonizem a minha traição e sinta a dor que eu senti com a traição de vocês. Morrer ou morrer! Que lindo! Agora vocês fizeram Romeu e Julieta de verdade. Morrrrrraaaaaaaaaaaaaammmmmmmmmmmm. Gritou Rosinha.
Não demorou muito e o casal faleceu, Rosinha então os colocou juntos com as mãos dadas e disse:
- Enfim, juntos eternamente!
Rosinha deu asas à vingança, pagou com uma moeda mais cara que a traição. Acabou com sua angústia e se condenou a solidão da cadeia. Matou por amor ou por ódio? Quem vai saber a diferença entre os dois, pois ambos caminham lado a lado. Separados por uma linha tênue.






Autor: Mário Paternostro


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