"CÉSAR E ROMA: DUAS REALIDADES"



Em 1º de janeiro de 49 a.C. temendo que César chegue a impor algumas de suas exigências contra a vontade do Senado e que se torne tão poderoso que, em razão disso, se deva esperar o renascimento de conflitos incessantes e novas diretrizes no Senado, os cônsules fazem de tudo para que ele seja destituído do seu comando, que já dura há mais ou menos nove anos.
Em posição oposta ao pensamento do Senado e para frustração de seus opositores que pretendiam vê-lo processado por violações constitucionais durante o seu consulado, César tem a intenção de conquistar o consulado no ano de 48 a.C. e retornar à política interna de Roma.
Apesar dos seus adversários tentarem por quase dois anos a sua destituição, todas restam fracassadas porque César conquistou alguns tribunos da plebe, que, através do direito ao veto, impediram decisões do Senado contra ele, conseguindo inclusive algumas resoluções favoráveis a César.
No começo de janeiro fica decidido que se naquela data César não se demitisse do seu comando, ele estaria agindo contra a República.
Em sete de janeiro, apesar da veto dos tribunos da plebe, é votado o "senatus-consulta supremo" e é declarado o estado de emergência, com isso, acreditando que a liberdade do povo romano encontra-se ameaçada, os tribunos da plebe partidários de César abandonam a cidade, vestidos como escravos, em um dos veículos de aluguel que esperavam na porta da cidade.
César recebe a notícia do "senatus-consulta supremo" e da fuga dos tribunos da plebe na manhã de 10 de janeiro de 49 a.C., na Gália Cisalpina, em Ravena e num gesto de extrema audácia, envia uma tropa em direção de Ariminum (Rimini), a primeira cidade de tamanho mais significativo no território italiano propriamente dito, para além do Rubicão, que era o limite de sua jurisdição.
Objetivando utilizar-se do fator surpresa César parte em direção ao inimigo com apenas uma legião, ou seja, cinco mil homens e trezentos cavaleiros.
Em Ariminum, os tribunos da plebe que fugiram de Roma vão ao encontro de César que juntamente com seus soldados inicia uma guerra civil que ? com breves interrupções ? absorverá César durante quase cinco anos, derramará muito sangue e abalará de maneira profunda e duradoura todo o mundo romano.
César tenta maquiar as suas verdadeiras intenções de manter-se no poder sob o argumento que os tribunos e o povo estão ameaçados, quando na verdade é o próprio César que está ameaçado, suas reais intenções são reveladas pelos seu discurso: "Eles o queriam, após tão grandiosas ações, eu, Caius César, teria sido condenado, se não houvesse pedido ao meu exército que visse em meu socorro".
Para César a decisão que fora tomada contra ele não lhe parecia como uma expressão da vontade da República romana, mas como uma maquinação dos seus adversários, onde estavam em jogo, sob seu ponto de vista, motivações políticas, mas exclusivamente motivações altamente interessadas.
César considera que os que estão ao seu lado são seus amigos, os que não estão são seus inimigos, deste modo seus amigos reconhecem, na prática, que a guerra é tão somente entre ele e seus inimigos do Senado.
Em Roma, as pessoas comportam-se como se a guerra não lhes dissesse respeito. Eles compõem facilmente com César, em pouco tempo ele reverte o quadro pouco amistoso do Senado e passa a combater não mais a totalidade do Senado, mas somente a grande parte dele.
Os partidários de Pompeu, o general na posição de comando, também são simpáticos a causa de César, já que Pompeu também esteve exposto aos ataques do Senado, estabeleceu-se uma tolerância mútua, que tornou possível a incorporação de Pompeu na coalizão contra César. A sociedade romana não conhecia uma clivagem que pudesse corresponder à oposição entre César e seus adversários. Aqueles que em seguida ficaram a favor de César o fizeram porque ele estava prometido ao sucesso, porque ele era conquistador e finalmente vencedor.
A ordem da sociedade era considerada como a única ordem legítima, pois ela assegurou a Roma à conquista do mundo, nela a cidadania romana encontrou não apenas uma forma política, mas acima de tudo a sua identidade social.
Os adversários de César tinham uma visão da realidade romana do interior, e ela lhes parecia certa, quanto a César, sua visão era do exterior e é por causa dessa visão que ele pode apreciar de modo tão pertinente as relações de força, sem saber, contudo o quanto a causa do Senado está profundamente enraizada no pensamento comum dos romanos.
A capacidade de César de situar-se fora dessa realidade consegue transformá-la de forma tão específica que os seus pressupostos, os seus costumes, seus preceitos fundamentais não têm mais meios de se contrapor a vontade de César.
Tratando-se César da representação do antigo ideal aristocrático da proeza, se compreende a naturalidade e a franqueza com que ele empreende uma guerra capaz de trazer a infelicidade para toda a humanidade, César não podia admitir ou perceber que a sociedade romana estivesse contra ele depois de tantos feitos realizados para a glória Romana.
Tendo em conta a sociedade encontrar-se em um estado de desintegração progressiva ou em uma situação de crise, César com sua visão exterior, pode lançar um grande desafio ao todo porque ele pôde construir o seu próprio mundo.

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