Comedores de Si



Primeiro construímos o telhado, depois levantamos o muro e pintamos de verde, amarelo e azul. Só então fizemos a fiação e mais tarde colocamos o telhado sobre o muro. É assim que montamos nosso barraco de alvenaria, ao avesso. Uma forma estranha e infantil de começar a organizar um lar, tapando buracos com medidas paliativas, justificadas pela urgência de uma "solução".
Para nosso comandante "elite," é fundamental o conforto do ar-condicionado e a beleza de uma noite intranqüila. É também de estrema importância, espalhar trocados entre os sinais e apontar, com cara de ojeriza, para um "indigente" imundo que sobrevive por entre os escombros e os destroços do mundo. É-lhe, ainda, muito confortável conviver com os analfabetos e apontar, sorrindo, para uma banguela de tomara-que-NÃO-caia tentando se equilibrar num ônibus lotado que acabou de ocasionar um engarrafamento.
E é assim que nos vamos encaixando as peças, empurrado-as com a barriga, no quebra-cabeça (perna e braço). Uma forma esquisita que o comandante encontrou para alcançar o conforto e a qualidade de vida. Esqueceu-se, porém, que é só no equilíbrio que ele pode encontrar a paz desejada, que é só através da construção de uma sociedade mais igualitária que ele poderá desfrutar da tranqüilidade.
E cego, continua sendo a causa do seu próprio desconforto. Comendo da sua própria carne, segue. Insaciável. Deve haver algum interruptor, mas ele gosta da vela.
Autor: Anderson Gomes


Artigos Relacionados


Mais Tempo...

Melhores CondiÇoes De Trabalho

Amor A Bandeira.

Ventania

Lado Obscuro

Carência

Muro Pixado