A RIQUEZA EM NOSSO PAÍS É IRREAL
Marcos José Miguel
Desde o início da colonização de nosso país foi priorizada a exploração de todas as riquezas que a terra recém descoberta pudesse ofertar. Os portugueses que vieram desbravar o "novo mundo" buscavam enriquecimento fácil e, para isso, extraíram todas as riquezas que puderam, dizimando inclusive diversos povos indígenas que aqui viviam.
Mais de cinco séculos após a chegada dos primeiros portugueses é notório o acúmulo de riquezas da elite brasileira, a qual enriqueceu numa proporção inversa ao empobrecimento do restante de nosso povo. Porém, para os ricos brasileiros tem valido a máxima de que "dinheiro não traz felicidade". Possuem grandes latifúndios que são constantemente invadidos por membros do MST, moram em casas e apartamentos luxuosíssimos que são alvos da ação de ladrões e sequestradores, vivem cercados por seguranças, câmeras de vídeo e blindagens que acabam absorvendo grande parte da riqueza e da tranqüilidade que poderiam desfrutar caso a distribuição de riquezas e renda em nosso país fosse feita de maneira mais justa.
Nossos ricos criaram um mundinho, protegido por uma redoma de vidro muito frágil, cercado pela miséria social que se abateu sobre nosso país a partir do instante em que os escravos foram libertos e abandonados a sua própria sorte. Por sinal, a idéia de libertação é uma falácia. Os negros foram realmente libertos? Foram simplesmente colocados de lado, como seres inferiores, sem direito à moradia digna, à educação, a condições dignas de trabalho. Foi muito mais fácil descartá-los, trazendo mão-de-obra qualificada de imigrantes europeus e asiáticos que ainda poderiam ajudar no "clareamento" de nossa população.
Quisera nossos ricos de hoje sentir vergonha apenas da cor de nosso povo diante do restante do mundo. Essa negritude de nossa população representa a miséria, a falta de acesso à educação e à saúde de qualidade, o analfabetismo, a falta de moradias dignas, o desemprego, o tráfico de drogas, representa o trabalho infantil e o trabalho escravo ainda nos dias de hoje, a prostituição de nossas crianças e jovens, a violência urbana, o descaso de nossos governantes corruptos, que preferem financiar obras de infra-estrutura que privilegiam o enriquecimento e a concentração de renda de nossa minoria rica ao invés de investir na melhoria das condições de vida de nosso povo.
Mas, há quem divulgue mundo afora que somos o país do futuro. Que futuro é reservado ao nosso povo? Nossos jovens têm afundado cada vez mais na ignorância, com uma educação de péssima qualidade, que acumula índices baixíssimos em avaliações mundiais e que não tem proporcionado formação eficiente ao ponto de inseri-los no mercado de trabalho. Nossas indústrias têm diminuído sua produtividade e, apesar de todos os programas sociais de distribuição de renda, o poder aquisitivo de nossa população ainda é muito baixo quando comparado com outros países pobres do mundo.
Assim, podemos concluir que a pobreza social produzida por nossos ricos ao longo de séculos também pertence a eles, porque de qualquer maneira acabam partilhando com os pobres todo o ônus das desigualdades por eles produzidas.
Autor: Marcos Miguel
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