A imagem construtiva-destrutiva
Mestrado Acadêmico em Filosofia. CMAF.
Seminário: Walter Benjamim.
Profª. Drª Tereza de Castro Callado
Aluno(especial) José Gilardo Carvalho
Resumo: Esta comunicação é uma tentativa de interpretação do capitulo I do livro de autoria da professora Tereza de Castro Callado: ¨ A Experiência da Origem ¨ onde a filósofa comenta Walter Benjamim. Uma metodologia destrutiva-construtiva estruturada na Mimesis da Cultura.
Palavras chaves: Mimesis, cultura, Allegorie, dialética, ruínas, mundo, anjo, história, idéia, barroco, drama, mosaico medieval, alma, corpo.
Segundo Tereza Callado, a imagem para Benjamim é dialética, nos possibilita a interpretação da história na contrariedade dos efeitos visuais. Ali na presença dos elementos contraditórios encontramos na Allegorie a idéia de mundo, o conhecimento e o sentimento de perda. A autora comenta a questão alma e corpo, os dois sentem a perda, interior e exterior podem encontrar na Allgorie o sentido, a significação esteja eles onde quer que estejam. Benjamim aí segundo a autora desmistifica o preconceito racionalista que desde Descartes, atribui o erro apenas aos sentidos. Na verdade, tanto corpo quanto pensamento podem ser local de corrupção e erro.A apresentação como método filosófico deve ser apresentação de idéias.
Passado e presente constituem uma constelação na imagem dialética. A Allegorie presente na imagem dialética presentifica passado e agora torna possível a leitura inteligível dos vários significados e a exigência para atuar no mundo que dispersou e fragmentou o Ser.A Allegorie possui uma flexibilidade que não está presente no conceito decadente. Segundo Tereza Callado, Benjamim quer evitar que o particular seja neutralizado pelo sempre igual(das Immergleiche). Ou seja, o particular no conceito continua um particular, enquanto na idéia ele se torna totalidade.O drama barroco é visto por Benjamim enquanto idéia. Assim a idéia possui uma constituição intemporal que permite a um fenômeno do passado se reconhecer no do presente. O mosaico medieval descrito por Benjamim na leitura de seus fragmentos permite, na sua exegese, que eterno e transitório se completem e se encontrem na redenção, a morte significa vida e salvalção. A Allegorie na sua roupagem profana capta a aporia da historia para decifrar o enigmático da forma. Isto é, torna possível a leitura dos elementos presentes no contexto histórico e sua face política. Para daí extrair uma sabedoria capaz de iluminar as trevas da natureza.
A linguagem, na modernidade, ao investigar a ideologia em sua roupagem de fetiche mostra que esta se trai na sua ambigüidade. Revelada então se torna libertaria ao mostrar o objeto como ele realmente é, sem a aparência de sagrado.A autora comenta a idéia de Hofmannsthal aceita por Benjamim sobre o antagonismo do sagrado, que distancia a medida que superpõe a espiritualidade um valor excedente que a coloca na atmosfera do medo. Seria esse o mesmo sentido da critica de Lutero a religião e o homem transformado em mercadoria na Metrópole Paris.Segundo Tereza Callado, Benjamim coloca Baudelaire que rejeita todo estorvo e coloca a imagem à serviço do pensamento.Ao contrário do que acontece na imagística contemporânea empregada pela ideologia do mesmo, as imagens da Allegorie barroca não se esvaziam. A imagística barroca tinha a capacidade de resolver conflitos morais, diferente do método da produção em que a realidade é cópia e constitui ao mesmo tempo realidade e verdade.O aspecto vulnerável da cultura registrado pela nova Allegorie reavalia a natureza dogmática do sistema que havia atingido a arte naquele movimento. Ela reaparece na versão moderna do mito. Essa inteface política na poesia baudelariana aparece considerando a posição hierárquica e apontando a direção libertária, uma vez que o sistema abandonou a guarda das pequenas coisas. Para Benjamim é necessário reassumir a fidelidade ao particular. O universal não pode ser dado pela media, o universal é a idéia. Essa desproporção entre o universal e o particular deve ser combatida pela imagem dialética.Elas reconstituem o mundo a partir de seus fragmentos.
Na mentalidade do barroco para cada idéia existe uma idéia, diferente da imagem contemporânea. O drama barroco(trauesrpiel)é na leitura de Benjamim uma idéia e como idéia do belo deixa cintilar a verdade ( die Wahrheit) da época.O saber da beleza precisa ser transformado em sabedoria. O papel da critica é testar o que há de verdade na obra de arte.O belo que coincide com a verdade.
O viés da tradição racional filosófica, analítica e lógica só valoriza o conhecimento que passa pela triagem da ciência. Enquanto o alegorista na arte diz o ser na sua totalidade, não mais na incapacidade da lógica de ler o mistério do mundo.Como emblema desse saber ele (der Allegoriker) venera a imagem que é ¨monograma do Ser¨ , dessa forma previsto para a totalidade de experiências que pode se realizar ou não.
A imagem traz um enigma. O drama caracterizado pela imagem no barroco tinha a necessidade de fixidez e signo, mas essa fixidez é apenas como um flash de uma câmera, sua contra face, o esbanjamento( Verschwendung) uma característica do barroco, esse armazenamento do sentido(Scrhifibild) está presente em todo o ¨exagero¨ do barroco nas imagens. O desvio( Umweg) presente na Allegorie colocada como imagen a ser lida, um labirinto onde a idéia da perda da orientação em encontrar uma saída já está presente.
Segundo a autora, na concepção benjaminiana do desvio(Umweg) o ser só se mostra por eclipse. No labirinto da cidade grande a Allegorie como Aletheia são capazes de transmitir uma verdade num jogo de lusco-fusco, no mostra-esconde Na contemplação a verdade ¨fulgura¨ enquanto na consciência a busca do saber ela é Forma(Eidos). Na contemplação a verdade ultrapassa o mero discurso(Phase). Benjamim, na imagem dialética, denuncia o vazio discurso da política mundial(Welpolitik) que só tem como objetivo de persuasão entre os que não sabem, passar como saber mais do que os que sabem.O legado civilizatório representado no quadro de Paul Klee, onde um amontoado de escombros é o resultado da catástrofe da civilização onde se acumula ruínas sobre ruínas, pode ser interpretado como uma imagem onde a critica ao desvio da razão no sentido de gerar sentidos para o mundo é possível.
Segundo a filósofa, para Benjamim as ruínas são os atributos de: coragem, confiança, firmeza e humor, nomeados aos vencidos pela idéia iluminista.Benjamim quer um outro sentido para as ruínas. Aquele da interpretação do quadro de Paul Klee, diante das ruínas da civilização, onde historiador e colecionador se curvam para salvar fragmentos pela possibilidade de encontrar neles o valor disperso.O anjo que romper com o estabelecido, despertar os mortos e recuperar o que permaneceu desapercebido.Mas a tempestade que vem do paraíso (progresso) o impede. É a imagem do homem que não tem tempo para perceber a realidade e salvá-la através desse valor disperso ¨ nos cacos da história¨ . Mas é no meio desse torvelinho de valores falsos e positivos que o anjo da história insiste na sua tarefa salvadora.Esse resgate é possibilitado no ¨ mecanismo memorável da ancestralidade ¨ , e se conduz na experiência de uma ¨ iluminação profana ¨ , que entra em vigor no mundo laico, para substituir a iluminação sagrada. Na realidade da perda a salvação sacra não é mais possível, visto que se precisa preservar o homem interior, a psique, o individuo a partir do físico, do temporal . A cisão entre corpo e alma é expressa na realidade do fragmento, do tempo descontinuo, da perda da memória. Benjamim processa dialeticamente na técnica da colagem, na retomada da composição do mosaico medieval e na estrutura ensaística do tratado que valoriza cada pequeno elemento como parte significativa para a totalidade. A Allegorie como armadura da modernidade se faz necessária. Ela funciona como um sismógrafo que capta o sentido o sentido que deve ser salvo, por isso ela deve conhecer cada detalhe do real.O particular (Einzelnen) é reconhecido pela idéia e incluído na totalidade(Totalitat).Ela denuncia o mundo regido pela ciência que se distanciou da sabedoria ( Phronesis) na tradição dos antigos.Para Benjamim o mal se estabelece na falta de ação, diante do estilhaçamento civilizatório, que conta com a conivência da ciência, o homem diante essa tensão entre moral cristã e moral pagã, fragmenta a realidade para salvá-la nos estilhaços significativos.
Autor: José Carvalho
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