Ser professor: formação, saberes e desafios para a profissão



Ser professor: formação, saberes e desafios para a profissão.

Sabemos que a formação formal de um professor inicia-se nas instituições credenciadas para isso e que ele praticamente não é um agente produtor de seus próprios saberes, já que não participa ou colabora nas escolhas das disciplinas, ou seja, do conteúdo do currículo do seu curso. Sendo passivo, segue os modelos que a instituição dá, de acordo com o momento histórico ? político - social em que se encontra.
Basta lembrarmo-nos que há alguns anos atrás, tínhamos professores instruídos pelas universidades, atuando de uma forma que exigia somente o domínio da técnica, pois sua função principal era mediar a relação Estado e comunidade, transmitindo os ideais daquele, no meio desta, conforme Guimarães(2004) "esse processo se deu na esteira de maior produtividade escolar, por meio da racionalização ou, mais propriamente, da burocratização do trabalho e da participação do processo ensino/aprendizagem."
Após mudanças políticas, viu-se uma brecha para que discussões em torno desse tema questionassem essa forma de ensinar, tendo destaque, segundo Guimarães "o enfoque de formação de professores denominado ensino com pesquisa" A partir desse momento vemos que os saberes docentes voltam-se para o lado mais humano, preocupando-se com o indivíduo como sujeito ativo, embora não abandonasse aspecto daquela prática baseada na técnica .
Segundo Guimarães "essa prática presente na maioria das escolas reproduz, em grande parte, a estrutura dos cursos de formação e os processos formativos hoje predominantes nas licenciaturas??.
A formação do docente também dar-se de forma continuada, Guimarães citando Pérez Gomes afirma que "compreende-se que formação inicial e contínua se vinculam, constituindo-se num continuum formativo", como, muitas vezes, as formações continuada que os professores participam são promovidos pelas secretarias de educação, a formação deste profissional traduz o que Guimarães (2004) chama de "ideário do custo-benefício e da viabilidade para o mercado" ou seja, a atuação do docentes nas escolas tornas-se semelhante as dos modelos empresariais.
E é nesse ponto que entra outra questão a de identidade docente. Mas, antes é preciso lembrar que a formação continuada também depende muito do interesse do profissional, que deve ir a busca do aperfeiçoamento, participando de conferências, palestras, cursos e outros. Enfim, procurar atualizar seus saberes didáticos, pedagógicos e disciplinares.
No entanto, é justamente quando ele investe menos nele mesmo, acomodando a sua prática, o seu saber fazer. Com isso, a identidade docente acaba sendo menosprezada, não tendo status de profissão que mereça prestígio, como diz Guimarães (2004) ela é vista, "a identidade da profissão docente como um "que fazer" de baixa aspiração profissional, a ser desenvolvido por pessoas cordatas e generosas??. Ainda segundo o autor "tornar o professor um "profissional" passa, necessariamente, por maior qualificação", pois citando Perrenoud, ele afirma também que "uma sociedade só estará pronta a pagar a profissionalização pelo seu preço justo quando as tarefas cumpridas lhe parecerem bastantes importantes para merecerem tal esforço??.
Com isso, podemos concluir que a identidade docente não é o que se espera que ela seja, pois não é como uma teoria que se cria, e sim como a profissão de docente é vista e interpretada pela sociedade. Afirma Guimarães citando Sacristán, "a profissionalidade docente é (...) a afirmação do que é especifico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamento, conhecimento, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor".
Não podemos deixar de levar em consideração que identidade docente aqui citada é a identidade que Guimarães diz aproximar-se do conceito de identidade para os outros, que por sua vez, aproxima-se do conceito de profissionalidade docente. Também não podemos deixar de lembrar que a identidade profissional de quem ensina não é gerada espontaneamente nos cursos de formação, mas que ala constitui-se no professor durante toda sua trajetória de vida pessoal, universitária e profissional.
Os saberes necessários para a prática docente são adquiridos por fases, onde a primeira se dá com a própria vivencia do profissional, já a segunda acontece durante a formação profissional de forma sistemática e a terceira é concretizada com a prática, ou seja, após o término da formação, que é onde o professor vai mostrar o que aprendeu juntamente com os saberes construídos ao longo de sua vida.

(...) o saber docente se compõe, na verdade, de vários saberes provenientes de diferentes fontes. Esses saberes são os saberes disciplinares, curriculares, profissionais e experiências. (Tardif, 2002. p.33)

Esses saberes são originados desde o momento em que se decide por esta profissionalidade, ou seja, quando passa a viver situações educacionais cotidianas. O profissional da educação, mais especificamente o professor precisa estar em comunhão com o seu local de trabalho, assim como qualquer outro profissional, para que haja, um rendimento de metas, onde os objetivos sejam realizados. Desta maneira coloca-se a questão de se trabalhar em gestão, que acontece a partir do momento em que os profissionais passam a realizarem ações em comunhão, ao mesmo tempo em que assumem compromisso com a Escola.
Deste modo é necessário que o ambiente de trabalho seja aconchegante, construtivista e democrático, pois é onde entra a concepção do novo Currículo Escolar que vem juntamente com a visão democrática para ser aplicado, esperando assim que haja um maior acompanhamento da sociedade em relação à educação, ou seja, passe a aumentar a ligação já existente entre a Escola e a Sociedade.
Contudo sabe-se que se o local de trabalho não é aprovado pelo profissional, pode ocorrer uma série de situações desagradáveis, como a incoerência de ações, impedindo que o modelo de gestão seja concretizado. Esse ambiente é refletido tanto na formação do professor quanto na Instituição de ensino.
Um aspecto que também caracteriza a docência é a falta de preocupação pela forma como os docentes e os discentes se integram no ensino. A inserção profissional no ensino é o período de tempo que abarca os primeiros anos, nos quais os professores tratam de realizar a transição de estudantes a docentes. É um período de tensões e aprendizagens intensivas, em contextos geralmente desconhecidos, e durante o qual os professores principiantes devem adquirir conhecimento profissional, além de conseguirem manter o equilíbrio pessoal.

(...) definimos a inserção com a transição de um professor em formação até chegar a ser um profissional autônomo. A inserção pode ser mais bem entendida como uma parte de um contínuo processo de desenvolvimento profissional dos professores. (Vonk, 1996, p.115).

A representatividade social que a formação docente apresenta quanto ao bom desempenho do professor diante de seu cenário de atuação profissional, considerando as crescentes demandas nas exigências sociais, tem sido um dos pontos nos quais se situa o discurso dos espaços educacionais. Quanto se trata de discutir a necessidade do professor se atualizar, muitas são as justificativas que surgem tentando programar e solidificar, cada vez mais, uma atuação concreta para o trabalho docente. Por se tratar de um momento em que acontecem avanços advindos do desenvolvimento econômico e das múltiplas alterações que decorrem no meio social, a organização do trabalho educativo alcança novos paradigmas e alterações diversas, reclamando o reencontro de seres pensantes e atuantes na perspectiva de construir respostas educacionais que correspondam aos objetivos sócio-educacionais vigentes.

Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:
I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;
II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades. (LDB 1996)

Nesse pressuposto, a formação continuada se faz elo entre a profissão e a construção da identidade do educador a formalizar a dinâmica social do trabalho docente, especialmente pelo seu caráter conjunto e pela interação da classe educativa visando à melhoria da qualidade do ensino, rumo ao alcance dos seus objetivos, os quais retratam como função social para a escola a instrumentalização de um ensino no qual se vivencie a garantia de uma educação para a vida, ou seja, o que se aprenda na escola seja útil na vida fora da instituição.
Assim a profissão docente, mesmo diante das mudanças ocorridas na educação nas últimas décadas, ainda é muito desvalorizada e desacreditada. Fato esse que já começa no curso de formação inicial, onde muitos escondem ou sentem receio de falar que estão cursando Pedagogia (por exemplo) na universidade.
Atualmente, a educação tem se tornado alvo de atenção das políticas públicas, pois se percebeu que a mesma é imprescindível para o crescimento e desenvolvimento de toda nação.

O investimento na formação é um ponto de partida que apresenta possibilidades de melhoria da profissionalidade e de um significado diferente para a profissionalização e o profissionalismo docentes, bem como possibilidade para a ressignificação da sua identidade profissional nesse contexto pródigo em mudança de natureza variada. (GUIMARÃES, 2004, p. 27).

Vários projetos e novos modelos educacionais foram implantados na escola. Mudanças também ocorreram dentro das universidades, na formação do docente. E o professor que há anos leciona como fica diante de tantas mudanças? É preciso capacitá-lo e prepará-lo para que essa quebra de paradigma ocorra, mas sem causar danos ao profissional.

Afirmar o direito da pessoa humana à educação é assumir uma responsabilidade muito mais pesada do que assegurar a cada um a capacidade de ler, escrever e contar. É garantir a toda criança o inteiro desenvolvimento de suas funções mentais e a aquisição de conhecimentos e valores morais correspondentes ao exercício de suas funções, até adaptação à vida social atual (PIAGET 2007)

O professor não pode parar no tempo, nota-se que há uma necessidade de estar na constante busca de se aperfeiçoar através de pós-graduação, palestras, pesquisas, lendo livros. Como profissional da educação o mesmo sabe que os saberes são temporais, que estão em constantes mudanças, desse modo achar que sabe de tudo para ser um bom profissional é um erro que não pode mais cometido.
Os vários setores da atividade humana passam por significativas mudanças que se concretizam em novas configurações da ordem econômica e política relacionada ao conhecimento, às vinculações pessoais, às comunicações, entre outras, que trazem conseqüências muito diretas para a educação escolar. (GUIMARÃES, 2004, p.27).

Segundo Guimarães (2004) essas mudanças afetam diretamente os professores, não somente no âmbito do conhecimento, mas também da ética, estando em jogo entendimentos, convicções e atitudes necessárias ao processo de preparação de crianças e jovens. O professor tem por obrigação estar atento e aberto às mudanças tecnológicas. Do contrário o choque de mundo entre o docente e o discente (que já é grande) pode formar um abismo que torne a aprendizagem uma utopia.

A atividade profissional do professor pode ser caracterizada como uma atividade de mediação não só entre o aluno e a cultura, mas também entre a escola, pais e alunos, Estado e comunidade, etc. Esse caráter de mediação (...) justifica os investimentos de organismos diversos na configuração de uma identidade do professor na sociedade. (GUIMARÃES, 2004, p. 32).

Os pais, as crianças, os adolescentes mudaram. A sociedade mudou. Vivemos rodeados pelas drogas, pedofilia, prostituição, delinquência, desestruturamento familiar. O docente convive com diferentes realidades dentro da escola, ignorá-las levaria nossa educação a um processo de estagnação ainda maior do que o presenciado atualmente.
De acordo com Guimarães (2004) as atividades desenvolvidas pelo professor são amplas e complexas e ecoam de maneiras diferentes para cada aluno, de acordo com a singularidade dos contextos, da experiência e da história de vida de cada um. É imprescindível que o professor conheça a realidade em que o aluno se encontra, onde o mesmo deve trazê-la para sua sala de aula, para que o educando a reconheça e lhe dê a importância de um mundo que precisa ser mudado e não ignorado, instigando-o a sentir prazer em aprender.



Referências Bibliográficas

GUARNIERI, Maria Regina. Aprendendo a Ensinar: O caminho nada suave da docência. Ed. Autores associados. p. 25-42.

GUIMARÃES, Valter Soares. Formação de professores: Saberes, identidade e profissão. Campinas, SP: Papirus, 2004. p. 25-60.

PIAGET, Jean. Para onde vai a educação?. Rio de Janeiro: José Olimpio, 2007

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. p.31-43.






Autor: Maria Gilmara Mesquita Bezerra Gomes


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