Terapia
Ao entrar no consultório não havia vontade de falar, apenas de retirar de dentro do peito e do pensamento todas as dúvidas e culpas que ha muito tempo a acompanhavam.
O médico, amigo doce e que a conhecia como uma abelha a uma flor, tentou uma abordagem elegante e engraçada o que sempre surtia resultados positivos nesses momentos da terapia.
A conversa era mais uma regurgitação de toda crueldade sofrida quando pequena pelos mais velhos das famílias de origem, apelidos indelicados (MAGRELA, Olívia Palito, perna de aranha, macarrão da Santa Casa etc.), a impaciência da mãe (sua vaca; por que voltou para casa; cabelo ruim), os primos (crianças como ela) rudes nas palavras e na vontade de mostrar-lhe, como se ela já não sentisse e soubesse de sua inferioridade social.
E toda aquela lama foi saindo junto com lágrimas e indignação!
Percebeu uma lágrima nos olhos do médico querido, vivido em experiências dolorosas da mente humana, ou seja, havia sido mesmo uma infância cruel e desalmada.
A salvação era sempre o PAI, o ídolo que sempre esteve presente, fazendo-a se sentir
Branca de Neve já coroada princesa daquele reino distante em uma era de "Faz -de -conta" em que todo o país estava feliz e a ditadura militar era a salvação para a pátria amada.
Deixou a pequena sala com o nariz vermelho, óculos escuros, pois as lágrimas insistiam em rolar, mas o peito estava "VAZIO".
O peito havia sido limpo, sofrera um processo cirúrgico sem anestesia e sem auto piedade e, agora estava pronto para ser preenchido com todas as circunstâncias e situações boas e ruins que todos estamos sujeitos ao nascer " MAS COM A CERTEZA DE QUE NINGUÉM MAIS SERIA CRUEL COM ELA , OU MELHOR ELA IRIA REAGIR"!
Autor: Angélica Alvarenga Fantauzzi
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