Bochechas desiguais (Cristóvam Buarque)
Infelizmente, há seres humanos (e não são poucos) que são frios e desumanos o suficiente para encararem o olhar amargurado de uma dessas crianças e não sentirem nada. Nem piedade, nem compaixão, nem angústia, muito menos revolta. E quem realmente pode fazer algo pra mudar essa situação, quem tem maior poder para tal, na sua grande maioria, compõe o grupo dessas pessoas ?sem coração?. Que podem até se sentirem mal com a situação, mas acabam se acostumando com a mesma e achando comum, corriqueiro.
Isso não quer dizer que no Brasil não exista uma preocupação social com a concentração de renda. Existe sim, e o problema é exatamente esse. A preocupação dos brasileiros se restringe à renda. Economicamente falando, é isso que realmente importa e interessa. Por pura insensibilidade ou frieza, a saúde e condições físicas e sociais da criança são menos importantes que assuntos da economia.
A distribuição de renda não garante acesso aos bens e serviços essenciais aos quais todos deveriam ter direito. Não garante uma boa educação, valores sociais, ou um olhar de carinho e amor que uma criança merece receber. A prioridade deveria ser sua qualidade de vida, saúde e bem-estar social. Nota-se que os rostos tristes e desnutridos de nossas crianças representam o resultado de políticas econômicas mal planejadas, de valores com prioridades invertidas.
Mas é possível que essa situação seja revertida. Se um sistema de proteção à infância fosse implementado, se houvesse um maior investimento em ONGs direcionadas para tal, ou até mesmo uma maior crítica e fiscalização por parte da mídia, entre inúmeras outras medidas que são economicamente viáveis ao nosso país, aos poucos essa triste realidade iria mudar.
O que ainda impede essa mudança, como disse o autor Cristovam Buarque, é "a miopia moral, que não permite aos ricos verem as bochechas das crianças pobres, e a miopia lógica, que amarra este problema à economia". É preciso mudar a visão da nossa elite dirigente.
Portanto, para reverter a situação temos que nos conscientizar, não nos acostumarmos ou acomodarmos diante do triste e amargurado olhar de uma criança sem saúde, e sim nos revoltarmos, cobrarmos de quem pode mudar essa situação consideravelmente, para que essas pessoas de poder sintam a dor dessas pequenas criaturas, levando em consideração seu sofrimento e infelicidade, e não reduzir isto a uma simples desigualdade de renda.
Autor: Camila Mendonça
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