CIÊNCIA E FÉ - Geraldo Barboza de Carvalho



CIÊNCIA E FÉ - Geraldo Barboza de Carvalho
No século passado, era chique ser cientista ateu. O pretexto era que a ciência se faz com observação e experimentação. Como não é observável e experimentável, Deus não é objeto da ciência, não interessa à ciência, mas à fé. O cientista genuíno é, pois, ateu. Fé e ciência estão em lados opostos. Mas, o Deus que criou o homem
capaz de conhecer racional e cientificamente o universo, também pôs no cérebro dele a capacidade de crer. Por isto, cientistas intelectualmente sinceros, buscando
desvendar os segredos do universo, bateram de frente com Deus e converteram-se. Ante as belezas dos planetas e estrelas, extasiados diziam: o ser humano é incapaz de tanta beleza. Deus existe. Descobriram a dimensão da fé, mas permaneceram cientistas, pois ciência e fé visam o mesmo objetivo: a verdade plena. Pesquisas da
neurociência descobriram que há no cérebro humano uma área que só reage a Deus através da fé de pessoas de várias religiões. E os cientistas encontraram-se com Deus, não mais no espaço sideral, no mundo físico, mas no seu próprio corpo, na biologia do cérebro. Como o ex-ateu Agostinho de Hipona, poderiam confessar: "Beleza eterna, quão tarde te conheci". E o ateísmo científico ruiu sem argumento, convicto que fé e ciência são compatíveis, pois ambas brotam do cérebro humano, criado por Deus. Se a ciência não pode conhecer Deus por meios racionais, Deus se revela em Jesus Cristo, num corpo humano como o nosso. Jesus torna visível o mistério de Deus: "Alguém jamais viu Deus: o Filho único, que vive na intimidade do Pai e Deus Mãe, deu-o a conhecer. Quem me vê, vê o Pai e Deus Mãe", diz Jesus.
Qualquer ser humano pode ter acesso ao mistério de Deus por meio da fé. "Veio pra o que era seu ? tudo foi criado nele, com ele e por ele ? e os seus não o receberam. Mas a todos que o acolheram, creram nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, partícipes da natureza divina, quase deuses, divinizados". Gratuitamente, o que a ciência não pode nos dar, a fé o faz de sobra: o convívio filial com o Pai de Jesus e Deus Mãe, a doadora da vida à Trindade imanente e a quem crê em Jesus. Sendo infinito, a ciência limitada não pode alcançar Deus, mas rende-se à evidência que, se Ele não existir, a criação é absurda. Portanto, não há desculpa racional para a incredulidade. Salomão e Paulo Apóstolo já antes notaram o dano causado pela desonestidade intelectual: "manifesta-se a ira de Deus do alto do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens que mantêm a verdade prisioneira da injustiça (incredulidade). Porque o que se pode conhecer de Deus é manifesto entre eles, pois Deus lho revelou. Sua realidade invisível, seu eterno poder e divindade, desde a criação do mundo, tornou-se inteligível através das criaturas, de sorte que não há desculpa. Pois, tendo conhecido Deus, não o honraram como Deus nem renderam-lhe graças; ao contrário, perderam-se em vãos arrazoados e seu coração insensato ficou em trevas. Jactando-se de ser sábios, tornaram-se tolos. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, adoraram e serviram à criatura em vez do Criador. Por isto, são naturalmente vãos todos seres humanos que ignoram Deus: são incapazes de conhecer Aquele que é a partir dos bens visíveis e reconhecer o Autor a partir das obras. Mas, foi o fogo, o ar sutil, o vento, a água impetuosa, a abóbada estrelada, luzeiros do céu que tomaram por deuses, regentes do mundo. Se, fascinados por sua beleza, os consideraram como deuses, aprendam o quanto lhes é superior o Senhor destas coisas, pois foi a Fonte mesma da beleza que as criou. E se a força e atividade delas os assombrou, calculem quanto mais poderoso é Aquele que as fez, pois a beleza e a grandeza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor" Rm 1,18-25, Sb 13,1-5. O salto da razão pra fé dará ao cientista sincero a plenitude da verdade. Sem esta transição, a verdade revelada, doada por graça ao cientista, permanecerá prisioneira das trevas da razão desonesta, infiel à verdade que está além do seu alcance, mas não lhe é negada, pois é oferecida ao acolhimento da fé. Crer não é humilhante, mas ato de sabedoria de quem se reconhece limitado, mas não é arrogante, pois ama a verdade, seja ela racional ou revelada e acolhida na fé.
A oração e a vida ética são característica de quem crer. Quando oro, meu pedido é atendido, na medida em que pratico o que oro. Deus não escuta orações vazias de prática ética, egoístas, interesseira, que não mudam quem ora e o ambiente onde vive. Oração sem fé e prática ética é diabólica, magia. Mas o adversário de Deus e de quem crê, o Diabo, é aético, só faz o mal. A oração genuína é feita com fé e visa o bem para si e os outros. Ela nos conecta com a Fonte da verdade e da vida e pode curar os males do corpo e mente, em mútua interação. O corpo e a alma mortais estão tão unidos que são refeitos na morte, ressuscitam pelo poder da ressurreição de Jesus, que age em nós pela fé. A essência do ser humano é constituída de corpo e alma inseparáveis. O ser humano não pode existir sem corpo nesta vida nem no além. O corpo humano é tão importante que até Deus quis ter um igual ao nosso em Jesus Cristo (Cf. Jo 1,14; Lc 24,36-42; 1 Cor 15,35-49). Sua missão é tirar os males e o pecado do mundo: a baixa auto-estima, o complexo de inferioridade, a depressão. É ilusão achar que a energia cósmica ou mental é capaz de acabar com os males do mundo, que a insensatez humana criou. Nem Deus descerá do céu para consertar os erros humanos. Cabe-nos repará-los, não a Deus. Ele nos deu capacidade ? a energia do amor ? para consertar o que de errado fizemos. Em silêncio, o Espírito de Jesus ressuscitado age na nossa mente e nos conduz a praticar atos benéficos a nós e todo o universo. A luta ecológica pelo meio-ambiente saudável tem dimensão ética profunda. Luta pela vida, valor maior. O homem se salva com a natureza, que está incluída no projeto salvífica de Jesus Cristo: "Ide e anunciai a boa nova a toda criatura". Quando o homem respeitar a natureza, a boa nova terá sido anunciada em atos a todas as criaturas. O universo é criação de Deus e está sob seu domínio, não obstante os seres humanos acharem que as forças cósmicas determinam o destino humano. Ora, o destino humano não depende de forças cósmicas, mas da liberdade de escolha de cada um. Deus, ninguém, nada o determina. Deus nos criou livres e respeita nossa liberdade até no erro (Dt 30,15-20;Sl 1). Forças cósmicas influenciam nossas vidas, porque o universo é COSMOS, não CAOS, diz Aristóteles. Mas não determinam nosso querer. A História, a saúde e doenças físicas e mentais, e o bem-estar humano resultam das nossas ações livres, boas e más. Por isto, Deus e as forças cósmicas não interferem em nossas decisões. Mas nosso comodismo adora delegar nossas responsabilidades a Deus, às pessoas, às forças cósmicas. Mas, Deus não é babá, band-aid, muleta para a paralisia mental, e até física, que criamos e damos como desculpa para nossa incredulidade, mas, parceiro de aliança para, conosco, jamais sem nós, fazer do mundo um hábitat, não um cárcere.
Todo respeito pela ciência, apanágio do ser humano. Toda humildade diante de Deus que nos deu a fé, que nos faz romper os limites da ciência, para ouvir e ver "o que os olhos não ouviram, os ouvidos não ouviram, o coração não percebeu, mas Deus preparou para aqueles que crêem nele e o amam" 1 Cor 2,9. Não é vergonhoso reconhecer que a ciência é limitada e não sacia toda nossa sede de saber. Mas, se o limite metodológico e epistemológico da ciência é porta fechada ao conhecimento do mistério, ele não é porta indevassável por outros caminhos. O mistério que está selado sob sete selos das limitações humanas, pode ser revelado e acolhido como dom grato pela via da fé. Do outro lado da porta Alguém oferece-nos a possibilidade de vencer o limite da nossa condição. Ele está batendo à porta que nos separa dele, esperando que o ouçamos, abramos e deixemos entrar o Transcendente, disposto a permear nossa imanência e dar-lhe as asas da eternidade, e fazer-nos conhecer os segredos últimos e primeiros do universo que são vedados à ciência. Mas, sem a nossa permissão, ele não invadirá o espaço da nossa limitação, não cruzará o limiar da nossa imanência, nem saciará nossa sede das coisas que a ciência não pode nos dar. Tamanho é seu respeito por nossa liberdade de escolha. Mas, se abrirmos a parta e o deixarmos entrar no nosso mundo, ele nos presenteará com tudo aquilo que a razão científica não nos pode dar. A ciência adquirida com o poder da razão limitada será coroada com a ciência revelada ilimitada. Mas, só nos será dada, se entendermos que a porta que limita é, ao mesmo tempo, passagem para a realidade nova que está ao nosso dispor gratuitamente. A porta que parece obstáculo, torna-se, pois, desafio à nossa livre decisão. Munidos com a humildade da fé, abrimos a porta do mistério, Alguém cruza o limiar da nossa limitação e expande o espaço da nossa tenda, pra que caiba nela os bens do mundo transcendente, inatingíveis pela razão, mas dados graça, mediante a fé. Nossa é a decisão de abrir a porta. O mais é com o Doador da novíssima ciência. "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo" Ap 3,20. O generoso Doador poderia abrir a porta e convidar-nos a entrar na sua tenda. Ao invés disto, quer que abramos a porta, não para passar para seu lado, mas para Ele passar para o nosso lado e oferece-nos de graça tudo o que nos falta. Primeiro ceará conosco: partilhara da nossa fragilidade, experimentará da limitação humana; ceará nossas lutas e beberá o cálice das nossas alegrias. A seguir, nos fará provar comida e bebida que jamais bebemos, matando nossa fome e saciando nossa sede por completo. De graça. Nada temos a fazer senão acolher o dom. "Ah, todos que tendes sede, vinde à água. Vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite. Por que gastais dinheiro com o que não é pão, o produto do vosso trabalho com o que não pode satisfazer? Ouvi com toda atenção e comei o que é bom; haveis de deleitar-vos com revigorantes manjares" Is 55,1-3. Isto é: deponde a arrogância de querer revelar o mistério com esforço humano, construindo a Torre de Babel. Ao invés, abri a porta da humildade da fé, de quem pede ajuda para ir além na realização dos seus sonhos. O socorro vem em abundância, assim que a porta for aberta.
Eis a maravilhosa complementaridade entre ciência e fé, entre saber adquirido e
saber revelado, outorgado e proposto ao nosso acolhimento livre pela fé. "A fé é a
posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não
se vêem" Hb 11,1. Aquilo que a experimentação científica é incapaz de nos dar, nós
o recebemos de graça, acolhendo-o livremente na fé. A decisão é nossa. Os bens não palpáveis e o conhecimento de realidades que a razão não pode alcançar, não nos são impostos, mas oferecidos gratuitamente. Basta-nos acolhê-los pela fé. Se o fizermos, não nos arrependeremos, pois nosso saber científico permanecerá intacto e será ampliado: teremos a indizível alegria de vermos revelados todos os segredos do universo, a partir da sua origem no big-bang infinito da explosão de amor da SS Trindade. A limitação humana, que é barreira intransponível pra o conhecimento de Deus, se a iniciativa for do ser humano - "vós podeis comer de todas as árvores do jardim do Eden. Mas árvore do conhecimento do bem e do mal, não comereis, pois no dia em que dele comerdes, tereis de morrer" Gn 2,16-16 - torna-se passagem pra conhecer os mistérios divinos, se a iniciativa de revelá-los for de Deus. Cabe-nos apenas abrir a porta - reconhecer que somos limitados e sozinhos não podemos romper nossos limites - e deixarmos Jesus Cristo entrar no nosso mundo e abrir os 7 selos que encerram os mistérios de Deus. "Vi na mão direita daquele que estava no trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos. Vi, então, um Anjo poderoso, proclamando em alta voz: Quem é digno de abrir o livro, rompendo seus selos. Mas ninguém no céu, na terra ou sob a terra era capaz de abrir nem ler o livro. Eu chorava muito, porque ninguém foi considerado digno de abrir ou de ler o livro. Um dos Anjos, porém, consolou-me: Não chores! Eis que o rebento de Davi venceu Satanás e o mundo para poder abrir o livro e seus sete selos. De fato, vi um Cordeiro de pé, como que imolado. Ele veio então receber o livro da mão direita do que estava sentado no trono. Ao receber o livro, os 4 Seres vivos (a criação inteira) e os 24 Anciãos (o povo judeu com todos os povos da terra) prostraram-se diante do Cordeiro, cada um com uma cítara e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos (os que crêem), cantando um cântico novo: digno és de receber o livro e abrir seus selos, pois foste imolado e, por teu sangue, resgataste pra Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação" Ap 5,1-9. Por partilhar do mundo divino e humano, Jesus Cristo, a sabedoria, a ciência divina em carne e osso, tem a chave dos mistérios do céu e da terra. Quem quiser saber quem são Deus e o homem, veja e ouça Jesus, "no Qual habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Ele é a revelação do mistério envolto no silêncio de toda a eternidade, mas revelado e dado a conhecer agora a todos os povos pelos escritos proféticos e disposição do eterno Deus, pra levá-los à obediência da fé Rm 16,25-26". A obediência da fé a disposição para ouvir a Palavra revelada em carne e osso, Jesus Cristo, que coroará a palavra ouvida da razão. O cientista entenderá que a Palavra revelada é também racional, é compatível com a palavra humana sobre as coisas criadas. Em Jesus Cristo, razão e fé se dão as mãos. Deus dotou o ser humano de capacidade racional limitada, mas também o equipou de capacidade de conhecer os últimos mistérios da criação, "escondidos com Cristo em Deus", se ele se dispuser a acolher a verdade revelada na fé. Pela razão, estamos metodologicamente impedidos de conhecer o segredo da árvore do bem e do mal ? segredo reservado a Deus. Mas, como o Cordeiro está de pé e imolado, e tem nas mãos as chaves dos mistérios do céu e da terra, aquele que
aderir a ele pela fé, receberá de graça todo o conhecimento que a ciência não pode dar-lhe. De um lado, o saber científico, construído racionalmente e desdobrado na práxis tecnológica geradora de civilização. Do outro, o saber revelado, desdobrado na prática dos valores éticos a ele inerentes, geradores de cultura e bem-estar. Não precisa haver guerra entre uma e outra ciência, mas reconhecer que há um saber adquirido, controlado pelo ser humano, e o saber revelado ofertado ao acolhimento livre pela fé. É pura insensatez pretender cruzar o limiar da ciência fenomênica para desvendar os mistérios do mundo numênico. O Enviado do Pai é explícito: "Alguém deste mundo jamais viu Deus; mas, o Filho Único, que vive na intimidade de Deus, deu-o a conhecer. E todos que o acolhem, que crêem no seu Nome, dá-lhes o poder de se tornarem filhos, partícipes da natureza de Deus", herdeiro do conhecimento e dos bens vedados à razão. "Estes não foram gerados do sangue, da vontade da carne, vontade humana, mas de Deus. E a Palavra, o Logos, a Ciência, a Sabedoria de Deus se fez carne, fragilidade e habita conosco". Com nossa permissão, Deus rompe o limite da nossa fragilidade a partir dela e sem sair dela. Ainda que humano como nós, ele nos revela um mundo que a ciência não conhece, mas ele conhece, porque veio de lá, e no-lo dá a conhecer de graça se o acolhermos na fé. Pela fé, sem deixarmos nossa limitação, cruzamos o limiar da nossa limitação e passamos a viver no mundo do Unigênito que vive na dimensão da eternidade. "Aquele que crê em mim já tem a vida eterna. Quando eu passar a porta que separa a ciência da fé, assumirei toda a realidade objeto da ciência e a introduzirei na realidade onde se enraíza a fé. o mesmo acontece com aquele que crê. Aí ciência e fé cearão juntas". Pois, o mundo divino e o mundo humano é um só em interação dinâmica. O divino se revela no humano, e este sinaliza o divino. O mistério se faz palpável no Corpo do Cordeiro de pé e imolado. Quem olhar pra cruz e túmulo vazio, entenderá todo o mistério: ciência e fé se tornarão a Sabedoria de Deus.
Geraldo Barboza de Carvalho


Autor: Geraldo Barboza De Carvalho


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