Globalização: mundo sem fronteira?



GLOBALIZAÇÃO: MUNDO SEM FRONTEIRAS?

MÉRCIA MARIA BACELAR GOMES DE AZEVEDO


A tendência globalizante surgiu junto com as primeiras experiências de estado neoliberal, com a abertura das fronteiras nacionais para os capitais e as mercadorias estrangeiras.
A idéia de transformar o planeta terra em uma grande aldeia sem fronteira não é recente. A expressão, "Aldeia global" cunhada por MacLuhan foi, possivelmente, inspirada na obra de P. Wyndham Lewis, America and the Cosmic Mano, publicada na Inglaterra no ano de 1948, e posteriormente nos Estados Unidos.
Com a globalização as limitações de tempo e espaço ficam mitigadas. Pode-se saber em tempo real fatos relevantes ou não que acontecem em qualquer parte do planeta. Podemos até acompanhar daqui a rotina diária de uma família estabelecida no Canadá, ou na china, ou qualquer outro país, por um sistema básico de câmeras e internet, o que há algumas décadas só ocorreria mediante um sistema muito oneroso via satélite.
Produtos importados podem ser consumidos por qualquer pessoa que tenha poder de compra. Esse poder de consumo pode ser exercido em qualquer mercado. Um duplo click, no mouse, e os produtos estão na cesta virtual, assim como o pagamento. O dinheiro sai da conta corrente individual do comprador e entra na conta do vendedor de forma rápida, virtual e real.
É o admirável mundo novo (parafraseando Zé Ramalho) do povo marcado, mas povo feliz. A felicidade é quantificada pela capacidade de consumo. Quem tem maior capacidade é mais feliz. Quem tem menos capacidade é menos feliz. E, os desprovidos dessa capacidade, como os sem reais em um shopping na cidade se São Paulo, uma família pobre que foi acompanhada por uma empresa jornalística que descreveu seu passeio, mencionado na matéria "Os Instrangeiros" de Cristovam Buarque, não chegam nem perto dessa felicidade definida e caracterizada pelo consumo. Aos que não possuem poder de compra resta assistir o espetáculo globalizante mundial dos mercados se expandindo, melhor seria dizer se irradiando como raios fulminantes, para além das fronteiras nacionais. Mas, democracia lastreada por capital é bem objetiva: quem tem, compra, que não tem, não compra.
Os que estavam à margem do desenvolvimento, e não recebiam os frutos, permanecem à margem da política transnacional globalizante. O brilho e o glamour da globalização não lhes são estendidos.
Lembro de uma aula do professor e amigo Getúlio Gutenberg em que ele dizia que um fenômeno não possui uma única interpretação e efeito. Se um observador na beira da estrada observa um trem passando, para ele o trem está se deslocando a determinada velocidade. Mas, se o observador está dentro do trem, quem está se deslocando é a pessoa que esta do lado de fora. Então, as palavrinhas mágicas na busca do bom entendimento são "depende do referencial". Assim, como o exemplo da aula de física de Gutemberg nos mostra, os efeitos dos acontecimentos são relativos, e dependem do referencial. A globalização vista pelos famélicos não possui a conotação de uma grande nação irmanada com todos juntos sem fronteiras.
A estratégia globalizante dos pensadores das políticas mundiais não inclui a erradicação da pobreza. Certamente devido porque o custo inevitável é o (discreto) deslocamento do fiel da balança que pesa as riquezas. O aumento de patrimônio de uma classe corresponde a diminuição de patrimônio de outra.











Autor: Mércia Maria Bacelar Gomes De Azevedo


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