Escolarização e Qualificação para o Cidadão Brasileiro



Ameaçados pelos processos modernizantes dos setores produtivos e por uma exclusão social cada vez mais crescente os indivíduos analfabetos tomam consciência de sua classe e condição social e partem para uma melhoria de vida através de uma escolarização ou de cursos de qualificação.Estes por sua vez permitem adquirir um emprego a qual o cidadão integra-se na sociedade.O termo emprego é ultrapassado segundo as aplicações neoliberais e segundo Suely Galli, emprego é hoje uma palavra significativa geradora de conteúdos para reflexão histórico-social,de grande relevância na formação do educando jovem e adulto.Antigamente emprego era sinônimo de segurança econômica acalentada no trabalho,registro em carteira com direitos e deveres para o trabalhador.
Atualmente esta palavra na nova sociedade produtiva ganha outra dimensão. É uma atividade temporária, precária e sem garantias sociais. Tornou-se um exercício potencial de possibilidades geradoras de renda e para alguns trabalhadores autônomos pode significa até risco,perdas,danos e enganos.Sobreviver nesta sociedade cada vez mais veloz na sua complexibilidade ,mutante e despida de laços e vínculos não é fácil.
A qualificação passou a ser uma necessita intrínseca das pessoas que temem a exclusão do emprego.A falta desta qualificação gera um sentimento que atormenta o desempregado pois de acordo com o modelo utilitário da sociedade orquestrada pelo mercado e suas leis,sem qualificação praticamente o individuo não é notado. Cobra-se do analfabeto sua escolarização porque o discurso sobre empregabilidade sempre esta atrelado com escolaridade,com qualificação.Esse movimento gera varias discussões sobre o problema que recai em parte sobre a falha da educação.Não é considerado os processos históricos de desvalorização e descaso político econômico em relação a educação no pais no geral e isso sim é descaso com a maioria da população.
Mediante esta situação os trabalhadores sem escolaridade que são desempregados ou os preocupados com a perda de seu emprego começam uma luta angustiante juntamente com professores nos programas do EJA para adquirir a escolaridade.
Esta educação de jovens e adultos teve inicio com a pedagogia de Paulo Freire que inspirou os principais programas de alfabetização e educação popular do ensino dos anos 60. Diversos grupos de educadores foram se articulando e passaram a pressionar o governo federal para que os apoiasse e estabelecesse uma coordenação nacional das iniciativas, sendo aprovado ao Plano Nacional de Alfabetização em janeiro de 1964, que previa difundir por todo o Brasil a proposta de Paulo Freire nos programas de alfabetização.
Por meio de Paulo Freire e a sua pedagogia que os programas de alfabetização para adultos foram reconhecidos. Esse programa era baseado nos direitos humanos com a contribuição de cada cidadão sendo ele homem ou mulher.

Antes apontados como causa da pobreza e da marginalização, o analfabetismo passou a ser interpretado como efeito da situação de pobreza gerado pala estrutura social. Era preciso, portanto, que o processo educativo interferisse na estrutura social que produzia o analfabetismo.

O analfabetismo era responsável pela situação de pobreza do indivíduo e cabia a escola fazer alguma coisa para evitar essa situação, por que o espelho do mundo era o que acontecia com as pessoas que nele viviam. Quanto mais pobres, mais se refletia o quadro de miséria e não era esse o objetivo.
Como meta, antes de o aluno iniciar-se em sua escrita, o professor tinha como proposta fazer com que o mesmo fosse sujeito que vai a busca do conhecimento, ultrapassando uma compreensão mágica da realidade, desfazendo a cultura letrada, na qual o educando estaria se iniciando. Orientado por esses princípios foram produzidos diversos materiais de alfabetização procurando o universo essencial dos alfabetizados
Previsto assim na LDB 9.424/1996 como parte integrante da Educação Básica e na Constituição de 1988, em seu Art. 2008, parágrafo 1º, que afirma que a educação é um direito de todos, nada mais justo que jovens e adultos se apropriem deste direito e voltem a estudar.Ter acesso ao conhecimento cientifico é uma necessidade e não cabe mais se manter alienado diante deste quadro de exclusão cada vez mais crescente.Esses excluídos que não tiveram que não tiveram a oportunidade de iniciação escolar é que fazem partes de dados estatísticos da desigualdade econômica.
Os jovens e adultos freqüentadores deste programa forma crianças que estavam em condições sociais adversas no passado.A realidade de outrora não difere da presente. A média nacional de permanência na escola no período obrigatório é de oito anos, todavia, a realidade se estende até os 11 anos em média, e muitos alunos permanecem no ensino fundamental, quando já deveriam estar cursando o ensino médio. As expressões mais claras desta realidade são a repetência, a reprovação, e principalmente, a evasão. Ambas promovem a manutenção da distorção idade e ano escolar retardando o acerto no fluxo escolar que continua a reproduzir excluídos. Neste contexto perverso, a Educação e Jovens e Adultos em muitos casos se constitui na única alternativa de inclusão social para os alunos que já estão fora do sistema de ensino.
Conforme o Art. 3º da Declaração de Hamburgo sobre educação de adultos entende-se por Educação de Adultos:
"O conjunto de processo de aprendizagem, formais ou não formais, graças aos quais as pessoas cujo entorno social considera que os adultos desenvolvam suas capacidades, enriqueçam seus conhecimentos e melhoram suas competências técnicas ou profissionais ou as reorientam a fim de atender suas próprias necessidades e as da sociedade. A educação de adultos compreende a educação formal e permanente, a educação não formal a toda a gama de oportunidades de educação informal e ocasional existente em uma sociedade educativa e multicultural, na qual se reconhecem os enfoques teóricos e baseados na prática"

Ou seja,esta educação tem que ser um processo de longo prazo para que se perceba que a pratica pedagogia não é formatada como uma aprendizagem mecânica,mas sim baseada na liberdade ou independência do aluno.Respeito as diferenças culturais e valorização das próprias experiências. Acreditamos que o EJA vem atender expectativas e necessidades dos jovens por uma educação voltada para a reposição de escolaridade com conteúdos centrados na pratica social e no trabalho, elemento de principal significado e preocupação de docentes e discentes por meio da inserção social dos alunos.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, precisam ser oferecidas condições para que os alunos possam construir suas idéias a partir de suas experiências, tornando-se sujeitos sócio-culturais aptos a conhecer diferentes épocas e lugares, e poder compará-los com sua própria história de vida.Entretanto são vários os entraves apresentados no caminho, ,falta de profissionais habilitados para o trabalho com adultos,remuneração injusta a estes,recursos didáticos escassos e ausência de estratégias metodológicas direcionadas para este publico especifico.Entretanto existe o esforço destes docentes em contemplar conteúdo escolar vasto em tempo exíguo.
Para Paulo Freire a prática pedagógica necessita estar vinculada aos aspectos históricos e sociais para facilitar a compreensão e elucidação das questões que realmente importam para o envolvidos no processo educativo, para ele se não ocorre uma reflexão sobre si mesmo, sobre seu papel no mundo, não é possível ultrapassar os obstáculos que o próprio mundo impõe, por isso a ação do professor, tendo ele consciência ou não, estimula o aluno à libertação ou à opressão.
Nesta perspectiva, o alfabetizador deve incentivar os alunos a se posicionarem de maneira crítica diante da realidade que cada um vive, buscando favorecer sua conscientização. A formação do cidadão crítico é um imperativo para o desenvolvimento da sociedade, além de ser um direito inalienável, neste sentido, a Educação de Jovens e Adultos precisa compor um sistema educativo no qual o aluno e o meio social devem estar absolutamente articulados. Por isso a elaboração da estratégia de ensino terá de ser desenvolvida com a finalidade de instrumentalizar o alfabetizador com subsídios que lhe garanta a maior eficácia na hora de alfabetizar. E isto é possível através da combinação de métodos e técnicas em sala de aula capazes de empreender o processo de ensino-aprendizagem. Nela também estão presentes as concepções culturais e ideológicas do modo de viver e agir dos alunos e também dos alfabetizadores
...um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado social e economicamente, mas se vive em um meio que a leitura e a escrita tem presença forte, se se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por alfabetizado, se recebe cartas que outros lêem para ele se dita cartas para que um alfabetizado escreva..., se pede alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse analfabeto é, de certa forma letrado, por que faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita".(SOARES 1998,p.24).
Diante desta esperança o desafio é romper com os limites que restrigem a atividade escolar à mera repetição de conteúdos. Procurar a formulação de propostas que integram os conteúdos das diferentes disciplinas, diferentes abordagens na explicação da realidade presente interna e externamente à escola configura-se como o maior desafio a ser enfrentado. E isto equivale a selecionar as atividades que serão desempenhadas pelos alfabetizandos, que em sua maioria são: donas de casa, pescador, pedreiro, pintor, agricultor, etc... Cabe ao alfabetizador discutir a importância do papel desempenhado por cada aluno na sua comunidade, ao passo que estas atividades sejam incluídas no processo de alfabetização. O que os professores sabem é que não se pode erradicar o analfabetismo e nem levar o país ao desenvolvimento econômico e independência cultural.Porem pode se promover o atendimento a satisfação pessoal,elevação da auto estima , trazer o prazer da leitura,de pode ler.Promover o conhecimento de velhas descobertas e de nova desse mundo.

REFERÊNCIAS:
BRASIL ? CONSTITUIÇÃO (1988). Direito constitucional. Fundação de Assistência ao Estudante, Rio de Janeiro: 2. ed., 1989.
SOARES, Magda. Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:
CEALE/Autêntica, 1998.
SOARES, SUELY GALLI. ARQUITETURA DA IDENTIDADE : SOBRE EDUCAÇÃO, ENSINO E APRENDIZAGEM São Paulo: Cortez, 2000. 120p. ((Coleção Questões da Nossa Época ; n. 76)).BBE.
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: . Acesso em: 12 outubro 2006.
_______. Plano Nacional de Educação. Disponível em: . Acesso em: 12 outubro 2006.


Autor: Maressa Nasaré Lima


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