Liderança e Meio Ambiente



Enchentes em Santa Catarina, tempestades no Rio de Janeiro, ondas de calor ou nevascas torrenciais no hemisfério Norte. As recentes catástrofes naturais não ocorreram por acaso, foram a natureza vociferando por causa do descaso acumulado por décadas. A temperatura média dos oceanos sobe a cada ano, gradual e perigosamente, pela ação do que se convencionou chamar de efeito estufa.

É consenso, entre os cientistas de todas as partes do globo, que esses fatos estejam diretamente relacionados ao aquecimento global. Consequência, sobretudo, da queima de combustíveis fósseis, que são os derivados do petróleo. Esse tipo de queima gera gases como o ozônio, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e monóxido de carbono, que são de difícil dispersão. Eles formam uma barreira que dificulta a dissipação do calor, gerando o já citado efeito estufa.

A relação "causa e efeito" é implacável. Uma vez que a temperatura dos oceanos sobe, as calotas polares derretem. Além do mais, calor causa dilatação e com a água não é diferente, seu volume aumenta. Esta é a causa. O efeito é o avanço dos oceanos na direção das cidades litorâneas, além da maior evaporação das suas águas, que aquece as correntes de ar. Ao entrarem em contanto com as correntes de ar frio que vêm dos pólos, tornados e furações são formados, causando cada vez mais estragos. Isso explica o porquê de o Brasil, até pouco tempo incólume, ter entrado na rota dos furacões.

O mundo já abriu os olhos para o que já deixou de ser ameaça. Ações visando a diminuição da emissão dos gases que causam o efeito estufa, seja pela ação das queimadas, seja pela queima de combustíveis fósseis, estão sendo discutidas. Em 1997 teve lugar no Japão uma conferência mundial que reuniu líderes de mais de 160 países. Eles assinaram o Protocolo de Kyoto, conjunto de ações legais que estipulou a diminuição em 5,2% da emissão de gases estufa, em relação aos níveis de 1990, entre 2008 e 2012. No entanto os Estados Unidos, maiores responsáveis pela emissão desses gases, se negaram a assiná-lo pelo impacto que causaria na sua economia.

Em dezembro do ano passado, em Copenhague, ocorreu a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Embora tenha encontrado os mesmos entraves vistos no Japão (com o reforço da União Europeia), o que se viu na capital dinamarquesa foi o levante dos países emergentes, entre os quais o Brasil, pela adoção de medidas emergências. Além disso, nomes de peso, como o ex-Vice-Presidente estadunidense e Prêmio Nobel da Paz Al Gore e o cineasta canadense James Cameron, estão engajados nesta luta, o que confere um peso ainda maior à questão.

Novas fontes de energia são buscadas incessantemente. Em Portugal, o governo de José Sócrates determinou, em 2006, que se busque um crescimento econômico mais eficiente a partir do uso de fontes de energia renováveis e da diminuição da emissão dos gases causadores do efeito estufa. Na Islândia, do impronunciável vulcão Eyjafjallajökull, 80% da energia do país é renovável, sendo 80% desse total gerado por usinas geotérmicas e 20% das usinas hidrelétricas, e o intuito é que, num futuro bem próximo, se alcance a totalidade do que é consumido no país. No Brasil, o nosso Etanol já abastece 100% dos carros fabricados a partir de 2005 e o Biodiesel brasileiro é a alternativa mais eficiente ao óleo diesel extraído do petróleo, pois é renovável e biodegradável. Ainda assim, a exploração de energias renováveis, como a eólica e a solar ainda está muito aquém do seu potencial

Outra forma que poderia ? e deveria ? ser bem mais difundida nas terras tupiniquins é a reciclagem do lixo. A coleta seletiva, que é a forma mais eficaz e o pontapé inicial para que se aproveite melhor o que se joga fora, é pouco incentivada pelas prefeituras, salvas raríssimas exceções, e está presente em menos de 10% dos lares brasileiros.

Como se pode ver, não dá mais para esperar que as autoridades decidam pelo nosso futuro. As ações devem partir de dentro para fora. Um grande passo já foi dado: cada vez mais as empresas estão buscando as chamadas soluções verdes para seus processos produtivos, uma vez que os consumidores estão preferindo os produtos e serviços de empresas que, de alguma forma, compensem o impacto que suas ações causam ao meio ambiente. É uma postura recente, já que os antigos gestores foram educados sob a premissa de que sua principal atribuição era garantir o lucro aos acionistas. Como o tema nunca esteve tão em voga, uma nova geração de líderes e empreendedores tem os olhos voltados para a sustentabilidade.

Assim, cabe ao líder o papel de conduzir todos os envolvidos neste tipo de processo, que envolve desde a quebra de antigos paradigmas até a conscientização dos moradores da região. É um processo complicado, já que envolve, sobretudo, pessoas. Pessoas não são como máquinas, que agem de acordo com a sua programação. Agem de forma diferente, pensam de maneiras distintas, trazem junto de si toda uma carga emocional e bagagem sócio-cultural peculiar. E ainda possuem mais um complicador: mesmo em situações iguais, o mesmo indivíduo pode agir de forma diferente, dada a oscilação de humor, inerente a todos.

Isso posto, entra em cena o líder situacional. Este perfil de liderança exige ações condizentes ao panorama apresentado. Ele pode ser mais cordial com seus comandados se o andamento do processo estiver dentro de um cronograma previamente estabelecido e se não houver ruídos potencialmente perigosos para o êxito da tarefa. Caso contrário, poderá exercê-la de forma mais dura, hostil, centralizadora. Para que seja bem-sucedido, o líder situacional deve passar segurança aos seus comandados, que o verão como um exemplo a ser seguido e nele confiarão. Como nem sempre as ações são iguais, a resposta do líder, obviamente, também tende a mudar.

Não é necessário, tampouco cabível, esperar que as mudanças partam do governo, na forma de leis, ou das empresas, como ferramenta para angariar mais consumidores. Deve pois, partir de cada um, a partir da própria casa, do bairro, da comunidade. Exemplos existem e estão aí para serem vistos e seguidos. Basta-nos boa vontade e a consciência de que o planeta clama por ajuda. Pode demorar, mas, já dizia Mao Tse-tung, "uma grande caminhada começa no primeiro passo".
Autor: Marcos Teixeira


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