Marx e a Historiografia no Século XX



Isac Ferreira

Resumo

O artigo discutirá o pensamento de Karl Marx e a Historiografia no século XX, recorrendo ao texto de Walmir Barbosa presente no livro História da História de Maria Amélia Garcia de Alencar, publicado em 2005. Discorrerá também do método dialético e a concepção materialista da História. Tratará sobre alguns conceitos marxistas.

Palavras-chaves: dialética, materialismo e modo de produção.

Introdução

Walmir Barbosa nos conta que Karl Marx nasceu em Treves, capital da província alemã do Reno, em 1818. Sua família pertenceu à classe média judia, convertida ao protestantismo e conquistada pelo racionalismo iluminista. Marx confeccionava uma vasta produção de textos a partir do desenvolvimento de um diálogo crítico com pensadores que o precederam e outros pensadores com que contraiu relações intelectuais, políticas e mesmo pessoais. Marx passa a fazer uma interpretação dialética da história e uma crítica da economia política. A partir de então, um amplo movimento de idéias, designado por marxismo, apareceu. Pág: 65-66.

O PENSAMENTO DE MARX

Segundo Marx, a sociedade, articulada por meio de uma formação social concreta e específica, seria produto do desenvolvimento individual e da ação recíproca dos homens, tenham eles consciência disso ou não. Entretanto não poderiam eleger a formação social em que se encontram nem tampouco arbitrar livremente sobre suas forças produtivas. A formação social e as forças produtivas seriam o resultado das lutas sociais e da ação sobre a natureza conduzidas por parte dos homens que as precederam. A sociedade se conformaria em todo complexo e interdependente, sujeita a múltiplas determinações. Portanto qualquer formação social seria sempre transitória e histórica. Pág: 67.

O MÉTODO DIALÉTICO E MATERIALISTA

Para Barbosa, Marx partiria sempre da investigação preliminar do real e do concreto. Não do real e do concreto idealizado, mas do real e do concreto como uma rica totalidade de determinações e diversas relações. Marx concebe o real como um processo histórico, que regeria o movimento social. Para Marx, o fundamental na pesquisa científica seria, portanto, descobrir as dinâmicas que regeriam e modificariam os fenômenos estudados. Marx apresenta o seu método dialético dentro de uma configuração racional, empírica e materialista. Movimenta suas pesquisas do particular para o geral e vice-versa; busca apreender dinâmicas e formular conceitos por meio de estudos comparados dos fenômenos sociais. Pág: 68-71.

A CONCEPÇÃO MATERIALISTA DA HISTÓRIA

Barbosa diz que para Marx as relações de produção seriam as relações concretas que os homens estabeleceriam em uma determinada sociedade, tendo em vista a produção e reprodução dos indivíduos, das classes sociais e da sociedade. Para Marx não seriam possíveis forças produtivas desenvolvidas coexistindo com relações de produção atrasadas historicamente se comparadas ao capitalismo. Portanto, para Marx as relações de produção e forças produtivas determinar-se-iam no desenvolvimento da sociedade humana. Pág:72.

O CONCEITO DE "MODO DE PRODUÇAÕ"

Para Marx "modo de produção" seria uma forma de retratar a totalidade social representada pela estrutura e pela superestrutura. Marx indica que os grandes períodos históricos estariam estruturados a partir dos modos de produção comunal, asiático, antigo, feudal e burguês. Pág: 73.

MODO DE PRODUÇÃO E TRANSFORMAÇÃO HISTÓRICA

Para Marx as forças produtivas tenderiam para o desenvolvimento, o que as faria colidirem com as relações de produção, que qualificariam e conservariam o modo de produção. Marx entendia a sociedade como uma totalidade, na qual a estrutura econômica exercia um profundo condicionamento sobre a superestrutura. A contradição surgida entre as forças produtivas e as relações de produção criaria um ambiente propício para transformações. As lutas de classes seriam conduzidas pelas classes dominantes e dominadas. Pág: 74-75.

MODO DE PRODUÇÃO E FORMAÇÃO SOCIAL

Na concepção de Marx modo de produção englobaria de forma integrada a estrutura ou base econômica e a superestrutura. Seria uma elaboração teórico-abstrata em nível do pensamento que se prestaria a contribuir com os estudos de uma formação social concreta e específica. O conceito de formação social encerraria a realidade social concreta e específica. Seria, portanto, um conceito menos abrangente, o qual nos remeteria a uma formação histórica concreta e específica. Pág: 76.

O CONCEITO DE CLASSE SOCIAL

Marx não cria o conceito de classe social, mas sua contribuição para a formulação desse conceito foi de grande importância. Marx dizia que "a definição de uma classe social implica a referência a certos tipos de aspectos; seria pertinente considerar as classes em função da estrutura de e não isoladamente; as lutas de classes determinam os conflitos e dinâmicas do nível político e dos demais níveis da sociedade". Pág: 77-78.

O CONCEITO DE IDEOLOGIA

Marx formula o conceito de ideologia para demonstrar que a precariedade do desenvolvimento material e as contradições emergidas na vida prática levariam os homens a criarem e a projetarem formas ideológicas de consciência. Há três definições de ideologia em Marx e Engels, que são: ideologia como parte ou conjunto das superestruturas; a ideologia como ocultamento da realidade; a ideologia como um sistema de valores sociais impostos. Pág: 79-80.

O CONCEITO ESTADO

O Estado é concebido como uma instituição acima de todas as outras, com a função de assegurar e conservar a dominação e a exploração de classe. Pág: 81.

PRÁXIS E A POLÍTICA

O conceito de práxis exprime o poder que o homem tem de transformar o ambiente esterno, tanto natural como social. Marx define a práxis, primeiramente, como atividade prático-crítica, ou seja, não existe na realidade uma natureza pura. Marx define práxis como encontro entre razão e história, isto é, o lugar da reconstrução da humanidade como obra de uma vontade expressa racionalmente. Marx também define práxis como luta de classes, isto é, um instrumento motor da história da humanidade. Pág: 82-83.

VERTENTES E INFLUÊNCIAS MARXISTAS

Se a influência marxista no meio intelectual e universitário no século XIX é insignificante, no século XX ela assume grande significado. Ela se torna indireta e difusa (Escola dos Annales); direta, concentrada e dogmática (historiografia marxista soviética); e concentrada e flexível (historiadores marxistas ingleses). Pág: 84.

ESCOLA ANNALES E MARXISMO

A influência do marxismo na Escola Annales é indireta e difusa. A recusa da Escola Annales em adotar sistemas filosóficos globais que se pretendem anunciadores do sentido da história é um fator que concorre para a resistência ao marxismo por parte da maioria dos seus membros. Os marxistas também edificaram obstáculos para que essa influência se conformasse indireta e difusa, como por exemplo, a crítica aos métodos quantitativos. Pág: 85.

A INFLUÊNCIA DA ESCOLA ANNALES NA HISTORIOGRAFIA MARXISTA

A maior influência da Escola Annales na historiografia mundial ocorre na denominada segunda geração. Um fator importante é a herança do espírito de interdisciplinaridade de Marc e Febvre aliado a prática interdisciplinar que Braudel estabelece com a geografia. Mais a grande influência da Escola Annales é no terreno da história econômica e social. Pág: 86.

CONTRADIÇÕES NA RELAÇÃO ANNALES/MARXISMO

Ressalvas são realizadas por marxistas sobre a Escola Annales. Pág: 87.

HISTORIOGRAFIA MARXISTA INGLESA

A historiografia marxista inglesa forma-se a partir de um grupo de jovens historiadores vinculados ao pequeno Partido Comunista Inglês. O seu objetivo é edificar uma proposta teórico-metodológica alternativa a dominante concepção da história. A influência da Escola Annales na definição dessas características da historiografia marxista inglesa é significativa. A historiografia marxista inglesa busca construir uma análise da sociedade como uma totalidade em movimento, na qual a experiência humana não se encontraria submetida a qualquer forma de determinismo. Pág: 88.

VERTENTES DA HISTORIOGRAFIA MARXISTA INGLESA

Estudiosos costumam dividi-la em duas vertentes: socioeconômica, estaria vinculada aos estudos estruturais do desenvolvimento do capitalismo, e a sociocultural, estaria mais vinculada aos estudos da formação e do desenvolvimento de classes sociais. Pág: 89.

A HISTÓRIA DE BAIXO PARA CIMA

A historiografia marxista inglesa se contrapôs a diversas propostas teórico-metodológicas que comprometiam uma leitura dialética. São elas a saber: estudos das estruturas do poder sob o modelo clássico da história de elite; estudos das mentalidades; estudos da cultura material; estudos da modernização das sociedades modernas e contemporâneas; estudos populistas radicais. Pág: 90-91.

OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO

ü Compreender as origens, o desenvolvimento e a expansão do capitalismo;
ü Interpretar os movimentos da sociedade a partir da análise da luta de classes;
ü Conceber uma história cuja perspectiva é a história de baixo para cima;
ü Contribuir com a construção do método marxista;
ü E interferir na cultura e na política inglesa. Pág: 92.

HISTORIOGRAFIA MARXISTA SOVIÉTICA

A historiografia marxista soviética não é apenas soviética. Houve vertentes historiográficas em outros países onde ocorreu grande influência de partidos comunistas nos meios intelectuais e onde esses partidos eram obedientes a Moscou. A historiografia marxista soviética apresenta algumas características, dentre elas, destacam-se duas: a história é investigada e analisada nos quadros de uma visão linear e finalista da história; as classes laboriosas dão lugar aos gênios dos povos oprimidos. Pág: 93-94.

PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DAS VERTENTES HISTORIOGRÁFICAS MARXISTAS

São vários os problemas que se relacionam as perspectivas das vertentes historiográficas marxistas, dentre eles destacam-se: a relação social global e estrutura regional; a relação estrutura e conjuntura; a relação estrutura, classe e personagens; a relação base e superestrutura; a relação entre longa, média e curta duração; a relação classe, etnia e gênero. Pág: 95-99.

O HORIZONTE HISTORIOGRÁFICO MARXISTA

Teorias e metodologias ditas marxistas compreendem que nenhuma realidade é estável e eterna. Compreendem ainda que devem estar abertas a crítica e autocrítica e a construção permanente a partir da base filosófica e social de origem. As vertentes historiográficas devem encontrar-se coerentes com esses ensinamentos que acompanharam a vida e obra de Marx. Pág: 100-101.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Walmir. Marx e a Historiografia no Século XX. In. História da História. Goiânia-GO.: Ed. UCG, 2005, pp. 65-101.
Autor: Isac Ferreira


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