TROVADORISMO



TROVADORISMO(1189-98/1418)

3.1.INTRODUÇÃO:

O Trovadorismo foi o florescimento da primeira corrente literária do mundo ocidental. O centro de difusão da poesia medieval foi a Provença - hoje uma região do sul da França.
O troubadour, trovador em português, era o poeta que se mostrava capaz de trouver (achar) sua mensagem poética. As composições recebiam o nome de cantigas porque se destinavam ao canto. Este contava com o acompanhamento de instrumentos como a viola, o pandeiro, o alaúde e a flauta. O menestrel era o músico da coroa.
O verticalismo configurado no mundo social da época: nobreza, clero e povo, refletia se na concepção do Teocentrismo do plano religioso: o conceito de que Deus está no centro de todas as coisas.
Situa-se nos séc. XII e XIII o apogeu do Trovadorismo. A língua então utilizada era o galaico-português.
Os cancioneiros são as coletâneas de canções que contém a produção literária que a época nos legou. Cumpre citar os três mais importantes:
1.Cancioneiro da Ajuda - compilado no final do séc. XIII na coroa portuguesa e compreende 310 cantigas;
2.Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa - conhecido também por Colocci Brancuti, compilado na Itália no séc. XVI e reúne 1647 cantigas.
3.Cancioneiro da Vaticana - traz este nome em razão de ter sido encontrado na Biblioteca do Vaticano. Chamado também de Cancioneiro del-rei D.Dinis, posto que, de um total de 1 205 cantigas, l38 são atribuídas ao rei trovador.

3.2.CANTIGA DE AMOR:

De inspiração provençal, a cantiga de amor reflete o requinte da fidalguia do sul da França, que então se difundia por toda a Europa.
O trovador, em tom de confissão, dirige-se a uma dama da nobreza, via de regra casada. Configura-se, pois, a situação de um amor idealizado, ao nível de uma contemplação platônica, onde os impulsos eróticos aparecem sublinhados. É o sofrimento do homem que assume, diante da amada, o papel de vassalo, do servo. A mulher torna-se distante, inacessível, aproximando-se do culto medieval à Imaculada. Conforme as convenções do amor cortês, o trovador não revela o nome da dama, mas lança mão de expressões convencionais - mia senhor, mia dona (minha senhora) expressões estas que servem para identificar a cantiga de amor.

3.3.CANTIGA DE AMIGO:

As raízes da cantiga de amigo encontram-se nas tradições folclóricas da própria península Ibérica, razão pela qual é mais espontânea que a de amor. O trovador, por assim dizer, monta uma cena, onde a figura central é uma mulher que fala do sofrimento amoroso, em vista da ausência do amigo (namorado). Os namorados aparecem no mesmo nível de sentimento, ao contrário da cantiga de amor. Podemos observar traços de realismo, um certo tom narrativo, mas o que mais chama a atenção é o aspecto descritivo dessas cantigas.
A expressão que identifica essa modalidade da poesia trovadoresca é mia senhor, ou mio amigo. Uma vez que se inspira em motivos populares, obedece a uma estrutura mais simples, utilizando refrão. Já o paralelismo consiste em repetir com mínimas variantes o mesmo pensamento.
De acordo com os ambientes que retratam, são classificadas em: Pastorales (vida pastoril), Romarias (peregrinações religiosas), Barcarolas (paisagem marítima) e Bailias (danças e bailados).

3.4.CANTIGAS SATÍRICAS:

Dividem-se em duas partes:
a)Cantiga de Escárnio - é aquela que faz críticas aos desvios do comportamento social imposto pela época. A sátira é indireta, dosada entre a ironia e o sarcasmo.

b)Cantiga de Maldizer - predomina a crítica direta e a irreverência aparece da primeira à última linha do poema. Pode atingir mesmo um grau de ofensa, fazendo-se valer de uma linguagem grosseira.

3.5.NOVELAS DE CAVALARIAS:

As narrativas que melhor refletiram o espírito medieval, foram as novelas de cavalaria. Originárias dos poemas que abordavam temas bélicos (canções de gesta), apareceram em três ciclos:
a)Ciclo Bretão ou Arturiano, quando associadas ao rei Artur e aos cavaleiros da Távola Redonda:
b)Ciclo Carolíngio - quando ligadas a Carlos Magno e Os doze pares da França;
c)Ciclo Clássico - quando fazem referência a temas da antiguidade greco-latina.
Cumpre frisar que os textos em língua portuguesa vinculam-se apenas ao Arturiano.

3.6.A DEMANDA DO SANTO GRAAL:
A Demanda do Santo Graal é uma alegoria da viagem da alma humana à procura da Perfeição. Em Camaalot, capital do reino de Logres, o reino do rei Artur, Galaaz revela-se como cavalheiro escolhido, ao tomar assento na cadeira perigosa, após ter arrancado a espada fincada na pedra de mármore que surgiu boiando na água. Durante a ceia, em torno da távola redonda, no dia de Pentecostes, ocorre a milagrosa aparição do Graal (cálice), para em seguida, desaparecer. Os cavaleiros entendem que devem sair à demanda (à procura) do Santo Graal. Os obstáculos vão selecionando, um a um, todos os cavaleiros, restando apenas Galaaz que,em Sarras, na câmara do Santo Vaso, recebe a Eucaristia.


CANTIGA DE AMOR
Martim Soares

Meu Senhor Deus,se vos prouguer,
tolhed' amor de sobre mim,
e non me leixedes assi
en tamanha coita viver!
Ca vos devedes a valer
a tod'ome que coit ouver,

Ca me seria mais mester.
Ca me ten oj'el na maior
cuit' en qu'ome ten amor.
E Deus, se vos for en prazer,
sacade-me de seu poder,
e pois fazed mi-al que-quer!

E des que mi-amor non fezer
a coita, que levo, levar,
Deus! nunca por outro pesar
averei sabor de morrer,
o que eu non coido perder,
mentr'amor sobre mi puder.

CANTIGA DE AMIGO
Pero de Viviães

Pois nossas madres vão a San Simon
De Val de prados candeas queimar
Nós, as meninhas, punhemos d?andar,
Com nossas madres, com elas enton
Queimen candeas por nós e por si
E nos, meninhas, bailaeremos i.

Nossos amigos, todos lá Iran
Por nós veer e andaremos nós
Bailand?and?eles, fremosas, em cós,
E nossas madres, pois que alá van,
Queimen candeas por nós e por si
E nós meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos Iran por cousir
Como bailamos e poden veer
Bailar moças de bon parecer
E nossas madres, pois lá querem ir,
Queimen candeas por nós e por si
E nós, meninhas, bailaremos i.


Autor: Henrique Araújo


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