A DICOTOMIA ENTRE E O EU LÍRICO E O EU EMPÍRICO NA OBRA LÍRICA MARÍLIA DE DIRCEU DE TOMÁS ANTONIO GONZAGA



A DICOTOMIA ENTRE E O EU LÍRICO E O EU EMPÍRICO NA OBRA LÍRICA MARÍLIA DE DIRCEU DE TOMÁS ANTONIO GONZAGA

SONIA MARIA FERREIRA MAGALHÃES

RESUMO

A obra lírica amorosa Marília de Dirceu, do consagrado autor Tomás Antonio Gonzaga, discorre em toda a sua temática além de situações vivenciadas por seu próprio criador uma sequência admiravelmente lógica de fatos e situações em todo o seu conteúdo, situações, que por sua vez, estão todas inseridas ao seu contexto histórico e literário, munidos de fatores que se comprometiam e ainda se comprometem com o fazer histórico, literário e até mesmo social que vem atravessando de geração em geração.

Palavras-chave: Lírica amorosa. Tomás de Antonio Gonzaga. Contexto. Marília de Dirceu.

INTRODUÇÃO

O presente artigo trás uma discussão acerca da obra lírica amorosa Marília de Dirceu de Tomás Antonio Gonzaga, juntamente com sua contextualização histórica e seu translado de época a época. Entendendo-se que não diferente das outras obras a que está em questão sofreu significativas diversidades de opiniões.
Posto isso, tal literatura destaca o amor de um homem em contraste com uma forma de vida por ele idealizada, o que evidencia o status social elevado de uma sociedade totalmente patriarcal, o que caracterizava a cultura vivida por este homem, desde sua ascendência
Para tanto, realizou-se uma pesquisa laboral para melhor enriquecer o tema do referido artigo e foi estudada uma seqüência lógica obras relacionadas ao assunto para melhor embasar o conteúdo proposto, diante das limitações encontradas, por ser um assunto comprovadamente de difícil explanação, em virtude de trazer consigo uma série de discussões acerca das reais intenções do autor

1. O CONTEXTO HISTÓRICO DA OBRA MARÍLIA DE DIRCEU

O arcadismo, Setenticismo ou Neoclassicismo foi um período que caracterizou significativamente a segunda metade do século XVIII, tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa. O problema ascensão burguesa supera a questão religiosa deixada pelo barroco, o que abre caminho para as produções árcades, que por sua vez, procuram à pureza e a simplicidade das formas.
Assim sendo, a burguesia atinge a hegemonia política em contraste com o espírito nitidamente reformista do arcadismo. Haja vista, a obra Marília de Dirceu, de tomas Antonio Gonzaga, como a lírica amorosa mais popular da literatura de língua portuguesa, apresenta características do romantismo, porém de predominantes características árcades, não tendo seu estilo definido pela persistência dos elementos poéticos tradicionais, deixando claro que faz parte de um grupo literário com autor autoria de um escritor que integrava grupos burgueses e elitizados, as arcadias, destinados a estudos de cultura clássica, a fim de expressar princípios como a simplicidade, na forma de um pseudônimo o que também era característica de sua época.

2. RELAÇÕES PRESENTES NA LÍRICA AMOROSA MARÍLIA DE DIRCEU

A lírica amorosa Marília de Dirceu ocorre em torno de aspectos seqüenciais, todos contextualizados como o momento histórico vivido por seu autor; entretanto, o assunto que motivou a realização desse ensaio é o ideal de vida burguês demonstrado na obra, partindo do entendimento que relacionado a Dirceu esta tomas Antonio Gonzaga, funcionário publico, advogado, quarentão, amante de uma adolescente de 17 anos, inseguro, ansioso pela estabilidade de uma família e de um lar burguês, posto que esse tema vem notório e contraditoriamente ligado a descrição feita pelo poeta de fatos pessoais na obra, o que vai ser um fator impar para a composição de sua individualidade poética, frisando que as contradições analisadas penteiam liras consideradas racionarias, uma vez que tentavam ofuscar o progresso que o próprio arcadismo gerava.
As liras de Gonzaga podem ser tidas como uma tentativa de resposta a varias inquietações do autor, o que expressam com tensões a sua complexidade interior, podendo ser expresso ainda, no paradoxo entre romantismo e arcadismo, uma vez que na obra ora é enfatizado o pastoralismo, associado ao bucolismo, já que há uma exaltação da vida pastoril e campestre, na compreensão de que a felicidade e a beleza decorrem da vida no campo, uma vez esboçado na simplicidade de alguns se seus versos, onde há predominância da ordem direta e da clareza de expressões: "A minha amada / É mais formosa / Que o branco lírio..." (GONZAGA, 1957, p. 132). Portanto, a poética dá ao eu-lírico, podendo identificar artisticamente como pastor e sua musa como pastora: "Anima, pois, ó musa, o instrumento / Que a voz também levanto;" (GONZAGA, 1957, p. 38). Ora ganha destaque ainda, as confissões de sentimento pessoal, e dessa vez é o eu - empírico que se sobressai, alem da descrição minuciosa de paisagens, ao mesmo tempo cultiva-se o sentimento, a sensibilidade, o irracionalismo; o poeta se desprende das convenções em uma visível, porem sucinta atitude romântica.
Em observação a posição de tomas Antonio Gonzaga na obra, ora de pastor e ora de juiz, e até mesmo a de Maria Dorotéia, expressa por ele como Marília de Dirceu, é perceptível que o seu eu - lírico se remete também ao que se perdeu como a sua própria mocidade: "Enrugaram-se as faces e perderam / Seus olhos a viveza... / não tem uma beleza / das belezas que teve". (GONZAGA, 1957 p. 56); o futuro prometido em que gozaria dos prazeres oferecidos por uma posição social confortável: a de burguês, assim o eu-empírico do poeta se sobrepõe, ou seja, o autor impõe a confidencia ao fingimento das comparações, alusões, metáforas e mitos graças à simplicidade de sua própria língua, contextualizada ao seu momento histórico.
Por conseguinte, o poeta mostra-se sem truques e rodeios, relacionados aos deleites da mesa, do amor e da natureza, como homem que se comporta superiormente social. Isto é tão claro que o título da obra reflete a posição orgulhosa do autor e a visão que o mesmo tem da mulher: Marília ocupa a posição de objeto possuído e Dirceu de objeto possuidor, e extremamente necessário, como no trecho a seguir: "Eu é que sou herói, Marília Bela, / seguindo da virtude a honrosa estrada..." (GONZAGA, 1957 p. 72), o que se torna plausível, uma vez que de acordo com o seu momento histórico e suas próprias inovações, seu patriarcalismo não lhe permitira pôr-se de forma contaria.
Sobretudo, é contraditório afirmar que o amor de Gonzaga por Maria Dorotéia é a única fonte de inspiração, que perpassa pela obra, posto que nela há uma alternância de acontecimentos, aparentemente diretos e espontâneos, cheios de imagens graciosas e de alegorias mitológicas, expressando ainda, de maneira crítica um ideal de vida, pelo pensamento burguês, na afirmação da condição de Dirceu ou de Tomás Antonio Gonzaga, de proprietário do orgulho pela posse da terra, ou na descrição de suas próprias vestes, haja vista o trecho abaixo:

Tenho próprio casal e nele assisto;
Da-me vinho, legume, fruta azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite
E mais as finas lãs, de que me visto
GONZAGA, 1957 p. 15)

Assim Gonzaga enfatiza sua constante constantação de superioridade, tanto que em alguns momentos esquece o tom campesino e avulta o realismo descritivo, captando a rusticidade da paisagem, que vez ou outra é mineira ou européia, em um visível pensamento burguês.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim sendo, essa busca de um ideal de vida burguês é visto na obra Marília de Dirceu como as asas da imaginação de Tomás Antonio Gonzaga e de sua liberdade criadora, o que lhe permitiu navegar por esferas incomensuráveis e por ele idealizadas, que seria a do sonho, da emoção e do subjetivismo, tudo em torno de estar amargurado pela incompreensão e injustiça dos homens, dando a ele maior dose de naturalidade e uma individualidade única.
Portanto, o que se compreende entre o lirismo e o empirismo de Tomás Antonio Gonzaga em Marília de Dirceu, em uma fuga da realidade, tal qual a prepotência de um homem se impõe, isto é, busca-se a simplicidade sem se desprender da vida burguesa, como percebemos no fragmento a seguir:

Eu Marília, não fui nenhum vaqueiro,
Fui honrado pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia;
Tiraram-me o casal e o manso gado,
Nem tenho a que encoste um só cajado.
(GONZAGA, 1957 p. 110)


REFERÊNCIAS

Candido, Antonio. Estrutura literária e função histórica in: literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 8° Ed. São Paulo; TA Queiroz, 2000 p. 169 ? 192.


Gonzaga, Tomás Antonio. Marília de Dirceu, 1957. Ed. Afiliada ABDR: Associação Brasileira de Direitos Retrográficos.


Gonzaga, Tomás Antonio. Marília de Dirceu. S.I: Virtual Book, 2000. Disponível em http://www.terra.com.br/virtualbooks/port.htm acesso em: 10 de abr. de 2010.


Disponível em: http://www.literapiaui.com.br/port.htm acesso em: 11 de abr. de 2010.







Autor: Sonia Ferreira


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