O PROCESSO DE EXCLUSÃO RELACIONADO À ALFABETIZAÇÃO NA SOCIEDADE



Historicamente, o tema da alfabetização no Brasil, mais que uma preocupação pedagógica, tem servido à manutenção de mecanismos excludentes, atendendo a interesses diversos, demonstrando o descaso público e a falta de uma política voltada a atender àqueles a quem de fato a questão diga respeito. Por quase quatro séculos a questão do analfabetismo não constituíra um problema para o nosso país, surgindo apenas no final do Império. Não surge porém "com uma preocupação pedagógica associada à educação do povo", mas antes relacionada a questões religiosas, militares, escravistas e especialmente eleitorais, ou "eleitoreiras". O tema discriminação e exclusão geram em si mesmo, inúmeras possibilidades de reflexão. Nossos preconceitos representam construções ideológicas, que de maneira articulada contribuem para a construção de nossa própria identidade. Esse trabalho se propõe a buscar alguns elementos para avaliar a questão da exclusão gerada pela não alfabetização em uma sociedade predominantemente de letrados cujos saberes legitimam a discriminação e exclusão daqueles que não alcançaram a condição de letrados por intermédio de mecanismos diversos. Em nosso país, assim como em grande parte do mundo, as pessoas que não tiveram acesso à educação são aquelas que passaram por alguma dificuldade na infância e não puderam estudar ou aquelas que não tiveram oportunidades devido à condição social ou impossibilidade de ir à escola. Essa situação é muito prejudicial para as pessoas que convivem com esse "iletramento", pois gera vários desconfortos. Quando do primeiro censo brasileiro, realizado em 1872, a taxa de analfabetismo no país era em torno de 82,3%, sendo de 78% o índice dos analfabetos com mais de 10 anos. Em 1890 a situação praticamente permanecia a mesma com 82,6 % da população com mais de 5 anos analfabeta. Dados de 1988 divulgados pela Unicef davam conta de que 21,9% das nossas crianças entre 7 e 17 anos permaneciam analfabetas. Segundo o mesmo órgão, em 2000, ainda havia cerca de 16 milhões de analfabetos com mais de 15 anos em nosso país. A maior dificuldade dos não alfabetizados (excluídos) está em se inserir na sociedade onde vive, pois essa não atende às suas necessidades, devido à este não ter o padrão de letramento necessário para que outros o aceitem espontaneamente. A maior mudança que deve haver na sociedade é o modo como ela pensa a respeito dos assuntos que a envolvem. Essa exclusão, não só com os discriminados educacionalmente, é fruto principalmente do capitalismo e neoliberalismo (mas antes existia do mesmo jeito). A mesma sociedade que exclui, pode ser a mesma que tem o poder de incluir determinadas pessoas na sociedade, independentemente de suas atribuições mentais ou físicas, Os excluídos são aqueles que não estão adaptados à sociedade na forma em que se constitui. Podemos dizer então, que as desigualdades sociais são o estopim das exclusões. Em nossa sociedade, o fundamental para entrar no mercado de trabalho é ter uma formação profissional e em muitos casos alguma qualificação. Os excluídos da educação ficam de fora dessa realidade, pois não possuem esses requisitos formais para preencher essas vagas de emprego. Muitas vezes, eles podem até ter capacidade de exercer certa profissão, mas não são aceitos, devido ao grau de analfabetismo que possuem. Como já foi dito, a discriminação com essas pessoas são de tempos passados. É com a lei Saraiva, em 1881, que a questão emerge pela primeira vez de fato, proibindo o voto aos analfabetos. Durante mais de um século foi suprimido o direito ao voto aos não alfabetizados. A situação só foi revertida com a constituição de 1988 que revoga a proibição e permite a estes votarem. As pessoas costumam praticar um tipo de preconceito contra os não-alfabetizados assimilando a marginalidade com essas pessoas. Para além de uma construção histórica há que se considerar a importância do papel da mídia no senso comum, especialmente nos últimos anos, no sentido de associar aos índices divulgados de analfabetismo à marginalidade, à criminalidade e à miséria. Além disso, existem pessoas que agem com má-fé para conseguir vantagens, aproveitando-se da pouca capacidade intelectual de outro (esses golpes são muito comuns atualmente). O processo de globalização impossibilita muitas pessoas de usufruir das vantagens auferidas com o desenvolvimento de novas tecnologias em todos os ramos da vida social. O conhecimento, importantíssimo para o desenvolvimento intelectual do indivíduo, fica acessível a poucos, deixando muitas pessoas na "inércia" do aprendizado. Os meios tecnológicos que até tinham o intuito de minimizar a exclusão, tiveram como conseqüência então, o aumento deste mal. No sistema educacional, de uma forma ou outra, existe certo tipo de preconceito quando falamos do sistema de cotas nas universidades públicas. Independentemente da raça do indivíduo, a capacidade intelectual de pessoas normais é a mesma (claro que umas usam essa capacidade mais que as outras). Percebe-se então que muitos são prejudicados por esse sistema de ingresso nas faculdades, pois podem até ser melhores que outros em um vestibular e não conseguir ingressar no curso almejado, porque certa quantia de vagas está destinada às cotas. Em faculdades particulares, muitos alunos recebem bolsa sem possuir os requisitos necessários, enquanto outros que não tem necessidade de pagar ficam sem esse benefício e acabam por não fazer um curso superior. Esses dois exemplos se referem à exclusão no acesso à educação. As políticas educacionais criadas em tempos atrás acabaram por arruinar com o sistema pedagógico e prejudicar a educação. Essa exclusão social em relação à educação tem caráter coletivo e algumas medidas tomadas pelas pessoas ou pelos nossos governantes podem acabar por aumentar essas desigualdades. É por isso que programas que ajudem na inserção social desse indivíduo são muito importantes na luta contra esse preconceito e no desenvolvimento do país. Portanto, notamos que nas sociedades industriais modernas, lado a lado com o desenvolvimento científico e tecnológico, decorrente do letramento, existe um desenvolvimento correspondente, a nível individual, ou de pequenos grupos sociais, desenvolvimento este que independe da alfabetização e escolarização. Existe, no entanto, o lado negativo, o lado da perda: esse desenvolvimento não ocorre à custa de nada. Ele, na verdade, aliena os indivíduos de seu próprio desejo, de sua individualidade, e, muitas vezes, de sua cultura e historicidade. Em um país pouco comprometido com as questões da educação, especialmente no que tange às políticas públicas, parece ser um contra senso imaginar que a sociedade dos letrados possa continuar impondo os seus próprios padrões, perpetuando uma condição de culpabilizar justamente àqueles que não tiveram, ainda, acesso à condição de alfabetizados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS STRECK, Danilo Romeu. Da pedagogia do oprimido às pedagogias da exclusão: um breve balanço crítico. Disponível em: . Acesso em: 19 de março de 2010.
Autor: Eduardo Berti Ribeiro


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