O DESAFIO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA A PARTIR DA DIVERSIDADE CULTURAL



1.1 A Diversidade Cultural dentro da Escola

O desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, especialmente a partir da Constituição Federal de 88, foi uma conquista que legitimou o componente democrático representado na universalização do ensino de qualidade para todos.
Com a implantação da gestão escolar democrática, a diversidade cultural passou a ser repensada a partir de uma nova visão. Essa vai além do reconhecimento de que os alunos, sentados nas cadeiras de uma sala de aula são diferentes, por terem suas características individuais e pertencentes a um grupo social, mas sim de efetivar uma gestão da valorização das diferenças.
Para melhor compreendermos a ideia de diversidade cultural recorremos a concepção de Gomes, citado por Barros (2008, p. 133) que define;

Do ponto de vista cultural, a diversidade pode ser entendida como a construção histórica, cultural e social das diferenças. As diferenças, por sua vez, são construídas pelos sujeitos sociais ao longo dos processo histórico e cultural, nos processo de adaptação do homem e da mulher ao meio social e no contexto das relações de poder. Sendo assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis que aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nascimento só passaram a ser percebidos dessa forma porque nós, seres humanos e sujeitos sociais, no contexto da cultura, assim os nomeamos e identificamos.

A diversidade cultural é um dos componentes da escola na contemporaneidade e esta incluída no processo educativo. O ambiente escolar conserva como uma de suas funções transmitir cultura, reconhecer as características de sua diversidade e manter viva a memoria cultural do que foi produzido com mais significância pelos antepassados.
Nessa perspectiva, a escola absorve os principais elementos dessa dinâmica que são os alunos. Em uma única amostragem de alunos, é possível visualizarmos várias manifestações culturais.
Há, pois, aquelas mais aceitas ou menos aceitas por questões étnicas ou de caráter social, como gênero, faixa etária do aluno, espaço geográfico em que vive ou é originário, até mesmo por características relacionadas com a aparência.
Baseado no desenvolvimento de pesquisas, a UNESCO (2001, p. 43) defende que:

Não há educação que não esteja imersa na cultura da humanidade e, particularmente, do momento histórico em que se situa. A reflexão sobre esta temática é co-extensiva ao próprio desenvolvimento do pensamento pedagógico. Não se pode conceber uma experiencia pedagógica "desculturalizada", em que a referencia cultural não esteja presente. Portanto, as relações entre escola e cultura não podem ser concebidas como entre dois pólos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma teia tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados.

Assim, a escola conserva sua singularidade no campo social pelo fato de proporcionar espaço adequado às manifestações pluralistas de cultura, onde as diferenças se cruzam para produzir mais cultura e respeito na convivência.
Para a gestão democrática dirigir uma escola com eficácia e qualidade no ensino, deverá promover em seu cotidiano momentos de reconhecimento e reflexão das manifestações discriminatórias existentes dentro da sociedade.
Nessa dimensão, torna-se inconveniente que as escolas continuem a silenciarem-se diante da diversidade cultural para, simplesmente, mostrarem que todos são tratados de forma igual, não existe diferença entre o branco e o negro, rico e pobre, deficiente físico, o aluno especial ou ainda da opção sexual.
Trabalhar com a diversidade implica na aceitação da heterogeneidade dos grupos sociais e da desigualdade das pessoas. Deve ser conhecidas as particularidades dos alunos a partir do prática dialógica entre os sujeitos de forma passiva e clara.
Através dos PCN /BRASIL (1997, p. 13), observamos que essa pluralidade cultural é reconhecida e celebrada na educação com base no respeito às diferenças:

O conjunto das proposições aqui expressas responde a necessidade de referencias a partir dos quais o sistema educacional do país se organize, a fim de garantir que, respeitadas as diversidades culturais, regionais, técnicas, religiosas e políticas que atravessarem uma sociedade múltipla, estratificada e complexa, a educação passa a atuar decisivamente no processo de construção da cidadania, tendo como meta ideal de uma crescente igualdade de direitos entre os cidadãos, baseado nos princípios democráticos.

A diversidade cultural é uma riqueza a ser explora dentro da escola e ao Núcleo Gestor compete estabelecer metodologias que permitam converter as contribuições étnicos-culturais em conteúdos educativos. Portanto, o gestor precisa reeducar seu olhar para a interculturalidade, precisa descobrir elementos culturais externos capazes de revitalizar a sua própria cultura.
No interior da sala de aula, o professor agrega a responsabilidade de conhecer a questão da diversidade social e desempenhar um processo coletivo que envolva novas metodologias com fim de atender a todos os alunos em suas diferenças individuais, para garantir que ele experimente o crescimento, a formação como cidadão crítico, atuante e apto para exercer a cidadania.
Para haver a inclusão social a partir da diversidade cultural, faz-se indispensável a promoção de políticas educacionais; em âmbito escolar o Projeto Pedagógico é uma das ferramentas mais importantes.
É o que nos esclarece UNESCO (2001, p.53):

A escola tem de ter um papel claro e verdadeiramente democrático, e a escola se democratiza quando ela garante os direitos e cobra os deveres de cada um e faz com que todos os alunos dali se respeitem. [...] na construção de um projeto pedagógico que seja da escola e seja da Secretaria também, um projeto claro, porque o projeto pedagógico ele pensa a escola, ele pensa no todo, na sociedade. Ele tem que ser uma instituição que tem o objetivo no futuro.

Assim, a efetivação de politicas educacionais contextualizadas com a situação da escola e incluída na realidade da comunidade devem estar voltadas à eliminação de discriminações e à construção de um sistema educacional inclusivo e democrático.
É pelo Projeto Político Pedagógico (PPP) que a escola estabelece as relações com a sociedade na busca de parcerias para sanar ou minimizar as dificuldades encontradas no decorrer do processo educativo.
A escola é desafiada a todo o momento quando proporciona uma educação inclusiva, pois é pelas diversidades que se constrói escolas críticas, responsáveis e comprometidas com a formação de cidadãos atuantes e reflexivos na sociedade em que vivem e são constantemente cobrados.

2 CONCLUSÃO

A noção de pluralidade cultural contribui para explicar a diversidade étnica e cultural que compõe a sociedade brasileira, além de ajudar a compreender suas relações, marcadas por desigualdades socieconômicas e apontar transformações necessárias. Oferece também elementos à compreensão de que valorizar as diferenças e culturas não significa aderir aos valores dos outros, e sim respeitá-los como expressão da diversidade.
Nessa dimensão, podemos constatar ser uma das funções da escola desenvolver no discente a habilidade de expressar sua formação cultural e, na mesma proporção, respeitar e aprender com a diversidade cultural dos demais, pois a escola detém fortes indícios motivacionais de participação coletiva e individual, onde todos possam manifestar a sua diversidade cultural.
Os docentes possuem uma parcela dessa responsabilidade, pois irão se deparar constantemente com situações conflitantes de cultura, raça, gênero, de cunho sexual e até mesmo religiosa.
A partir da desconstrução de relações preconceituosas, a escola pública torna-se um espaço participativo e construtivo, onde opiniões se cruzem para formar outras mais consistentes e geram novas.

3 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

BARROS, José (Org.). Diversidade cultural: da proteção à promoção/José Barros, organizador- belo Horizonte: Autentica Editora, 2008

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Pluralidade cultural, orientação sexual. Secretaria de Educação Fundamental- Brasília:MEC/SEF, 1997.

CEARÁ, Secretaria da Educação Básica. Gestão Escolar e Qualidade da Educação. Fortaleza: SEDUC, 2005.

UNESCO. Educação: Um Tesouro a Construir. -6. Ed. - São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2001.
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