Alcoolismo e a Interação Social com a Família



Roseli Silva dos Santos
Programa de Pós-graduação em Gestão Social: Políticas Sociais, Saúde e Assistência Social, Centro Universitário do Sul de Minas/ Varginha.

Resumo

O artigo apresenta uma perspectiva dos fatores que levam ao consumo de álcool, assim como as conseqüências do alcoolismo no ambiente familiar e social. Mediante estudos realizados com alcoolistas é destacada a influência do meio para a inserção a este quadro patológico. O alcoolismo é mostrado no artigo de forma a levar a compreensão dos comportamentos apresentados e buscar meios para prevenção e tratamento.

Palavras-chave: Alcoolismo; Família; Socialização.

"O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas mergulhou o principezinho em numa profunda melancolia.
- Que fazes aí? Perguntou ao bêbado, silenciosamente instalado diante de uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias.
- Eu bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre.
- Por que é que bebes? Perguntou-lhe o principezinho.
- Para esquecer, respondeu o beberrão.
- Esquecer o quê? Indagou o principezinho, que já começava a sentir pena.
- Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça.
- Vergonha de quê? Investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo.
- Vergonha de beber! Concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.
E o principezinho foi-se embora, perplexo.
As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, dizia de si para si durante a viagem."

(SAINT-EXUPERY, 2003)

1 Introdução
O alcoolismo é um quadro patológico que se desenvolve mediante ao uso excessivo de álcool (OLIVEIRA, WERLANG e WAGNER, 2007). O consumo do álcool e as influências do mesmo na sociedade apresentam como conseqüência problemas de saúde pública, além de danos observados nas redes sociais do indivíduo (CORREA e PARDO, 2004). Dentre as drogas psicotrópicas, o álcool é uma das poucas que tem o seu consumo legalizado (MAZUCA e SARDINHA, 2000).
Mediante resultados de pesquisas, Nascimento e Justo (2000), afirmam que o uso do álcool é direcionado em partes por aspectos sócio-culturais. Apontam também que as principais influências para o início do uso de álcool vêm de grupos de amigos e ambiente familiar. Ainda segundo os autores, os fatores que levam ao alcoolismo estão relacionados a questões afetivas, como timidez, regressão emocional, imaturidade, instabilidade, ansiedade, insegurança e fraqueza. As conseqüências da dependência dentro das relações interpessoais são geralmente marcadas por violência, transferência de culpa, perda de emprego e separação de famílias. Nascimento e Justos (2000) afirmam que "deste modo, o álcool funcionaria como um mecanismo de fuga do indivíduo, devido ao seu sentimento de inadequação encoberto por ideais de grandeza, certo perfeccionismo e exibicionismo, apresentados face à sua auto-imagem negativa".
Segundo Correa e Pardo (2004), o alcoolismo é considerado uma síndrome que afeta aspectos fisiológicos, comportamentais e cognitivos. A dependência alcoólica envolve dificuldades psicológicas e foi apontada por Mazuca e Sardinha (2000) como uma doença a qual as pessoas seriam portadoras, não havendo cura, apenas períodos de crise e abstinência. Os autores afirmam ainda que exista uma grande complexidade em relação ao problema de dependência alcoólica e necessita-se de estudos multidisciplinares para que tal problema seja estudado e analisado por diferentes embasamentos teóricos, visto que as características que envolvem o alcoolismo seguem em diferentes sentidos.
Considerando que a dependência alcoólica trata-se de um estado em que o indivíduo não tem controle consciente, em função de aspectos bioquímicos, é relevante a idéia de abstinência total durante o tratamento, pois apenas uma gota de álcool seria suficiente para uma recaída. O apoio da família nesse período do tratamento do alcoolista é muito importante, pois há uma determinação sócio-cultural que influencia o padrão do alcoolista e que pode ser alterada conforme o meio em que está inserido (MAZUCA e SARDINHA, 2000).
Ainda no âmbito familiar duas questões devem ser amplamente consideradas, a primeira seria a influência de pais alcoólatras sobre o desenvolvimento dos filhos, e a segunda seria a relevância do apoio dos membros da família durante o período de abstinência. De acordo com Correa e Pardo (2004), o modelo oferecido por pai ou mãe alcoólico geralmente distorce o processo de socialização da criança.
Em suma, o conjunto de alterações causadas pelo consumo abusivo de álcool, afeta diretamente o meio social, familiar e individual do dependente. O tratamento não é um processo de fácil conquista, pois, o alcoolista dificilmente aceita o quadro como uma doença e há reforços que tendem a manter o ato de beber. O apoio da família mostra-se como um fator determinístico para o processo de desintoxicação do álcool e na continuidade do tratamento.
Autor: Roseli Silva Dos Santos Oliveira


Artigos Relacionados


Alcoolismo Na Adolescencia: Fatores Predisponentes, Consequencias E Intervenções

As Consequências Físicas E Psicossociais Do Uso Abusivo Do álcool E A Importância Da Psicologia

Perfil Dos Usuários De álcool Adscritos Em Uma Unidade De Saúde Da Família No Município De Rio Branco, Acre – Brasil

AlcoÓlicos Ou AlcoÓlatras

Alcoolismo (doenÇa Perfeitamente TratÁvel)

Álcool E Alcoolismo: Mais Politicamente Incorreto, ImpossÍvel

A DiscriminaÇÃo Na Dispensa Por Justa Causa Do Empregado Portador Da DoenÇa Do Alcoolismo