Legal
LEGAL
Raul Santos
José Bensabath Legal era, na década de sessenta, sargento controlador de vôo, na torre de Salvador. Bom operador, mas as pingas não o deixavam ser assíduo e muitos colegas dobraram serviço por causa dele. O Sérgio me contou que na terça-feira do carnaval de sessenta e oito, o sargento que saía às dezoito horas estava fantasiado para brincar no Pinaúna, clube dos sargentos da Aeronáutica, em Piatã. O Legal estava escalado para o serviço da noite e os ônibus para o aeroporto eram tão escassos que não se sabia os horários, mas um chegava por volta das dezoito horas.
Muito bom!... Da torre, era possível ver a estrada até o bambuzal, no portão de entrada para o aeroporto e para a Base Aérea. Os ponteiros corriam e a angústia aumentava: ? O Legal virá, ou não?...
O ônibus apareceu e levou algum tempo para percorrer os quase mil metros até o prédio, aumentando o suspense: ? Estará o Legal, no ônibus?... Estava!... Saltou, trocando as pernas, apontou o veículo, e disse:
? Ta vendo este ônibus?... Pois vou voltar nele, pra brincar carnaval!...
Foi a gota d?água, que entornou o copo!... Os sargentos se reuniram e combinaram a terrível vingança. Na primeira semana que ele entrou de serviço numa sexta-feira ao meio-dia, o pessoal foi embora às dezesseis e trinta e às dezoito horas não apareceu ninguém. No sábado de manhã, não apareceu ninguém. No sábado meio-dia, não apareceu ninguém. No sábado à tarde, não apareceu ninguém. No domingo de manhã, não apareceu ninguém. No domingo ao meio-dia, não apareceu ninguém. No domingo à tarde, não apareceu ninguém. Na segunda-feira de manhã, o pessoal foi chegando com as sacolinhas às costa, como se nada tivesse acontecido, e encontraram um sargento Legal com olheiras profundas de um fim de semana inteiro na torre de controlo, quase desmaiando, ainda atendendo as aeronaves, e cumprimentavam:
? Bom dia, Legal, tudo bem?...
Ainda não estava tudo bem, mas ficou!...
? * ? * ? * ?
Autor: Raul Santos
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