Educação de Jovens e Adultos no Campo: o trabalho do Movimento dos Atingidos por Barragens



Gisele Rose da Silva  CETEM/MCTResumoO presente trabalho visa abordar o tema Educação de Jovens e Adultos dentro do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mostrando como este movimento social vem desenvolvendo experiências no âmbito da educação, que há muitos anos vem sendo uma das grandes bandeiras defendidas pelos movimentos sociais de origem rural. Dentro desta concepção de educação para todos, os movimentos sociais estão se apresentando como grandes atores em prol desta causa. Nos últimos anos o MAB vem desenvolvendo vários projetos de Educação de Jovens e Adultos no campo, estando estes dentro e fora de assentamentos rurais, onde o nível de analfabetismo é muito alto, estes projetos visam ensinar os militantes que não realizaram sua escolaridade nos crusos regulares, a ler e escrever, qualificando-os para que possam lutar por melhores condições de vida, e principalmente para lutar por um país melhor. O processo de alfabetização de jovens e adultos tem a pretensão de assegurar a assimilação crítica de alguns conhecimentos concebidos como necessários à vida dos atingidos e relevantes à organização do MAB.Palavras-chave: EJA, educação, movimentos sociais.IntroduçãoO presente trabalho visa abordar a experiência do Movimento dos Atingidos por Barragens em Educação de Jovens de Adultos no campo, trançando um histórico da evolução do surgimento e organização dos movimentos sociais no Brasil, que mostraram uma nova vertente para levar a educação a todos, aplicando assim a Educação Popular em vários âmbitos da sociedade.A educação popular é definida como um paradigma político-educativo, teórico e metodológico que emergiu na região com notável força nos anos 1960 e alcançou repercussão internacional com o trabalho de Paulo Freire. Focada no activismo político e na organização das classes subalternas na América Latina, a educação popular tem como seus objetivos promover justiça social e a sua orientação metodológica, que sempre esteve mais associada a formas de educação não-formal do que ao ensino. (MARROW e TORRES, 2004)Dentro de uma perspectiva de luta foi desenvolvido o primeiro conceito de educação popular que foi utilizado no final da década de 1960 na América Latina, que pouco tem haver com o conceito que temos hoje, pois a educação popular era anteriormente uma forma de deixar a escola menos elitisada e mais voltada para o social, era fazer com que os alunos pensassem sobre a realidade vivida naquele momento, que se inserissem no processo histórico.Desde o final dos anos 1960, a ditadura militar vinha reprimindo brutalmente as organizações populares e qualquer tipo de oposição. No início dos anos 1970, torturando e violentando os direitos humanos, os militares haviam derrotado as tentativas de guerrilha e a resistência urbana dos grupos revolucionários, que se tinham isolado dos trabalhadores. Com o período pós-ditadura militar e com a organização dos movimentos sociais no Brasil, foi demonstrada a necessidade de levar educação para todos em todos os lugares do país. E é dentro deste contexto que os movimentos sociais organizados vão criar cursos voltados para a Educação de Jovens e Adultos transformando o conceito de educação popular no que entendemos hoje, como uma educação voltada para aqueles que não puderam participar do processo de educação formal, uma educação que pode ser de qualidade fora do âmbito escolar. Neste contexto podemos dizer então que a educação popular no Brasil e na América Latina tem sua trajétória marcada pela ênfase nas prática educativas que se desenvolvem fora da escola. (OLIVEIRA, 2001)O Movimento dos Atingidos por Barragens então utiliza esta concepção de educação popular desenvolvida fora da escola, para aplicar seus cursos de educação de jovens e adultos, esses alunos são oriundos do campo e não tiveram a oportunidade de adquirir uma educação formal, por motivos diversos, como a falta de escolas, a distância entre a residência e a escola em conjunto com a falta de transporte, um pensamento antigo de que as pessoas da área rural não precisavam ter acesso a educação por não precisarem utilizá-la entre outros fatores.1.O Surgimento dos movimentos sociais organizadosDurante os regimes autoritários da América Latina, a educação popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e apresentando projetos alternativos. No Brasil durante o período da ditadura militar (1964-1985), com o maior enfoque no período de 1954 a 1974, os movimentos populares (com a criação da Confederação Geral dos Trabalhadores e das Ligas Camponesas) são obrigados a silenciar e, portanto, buscam se expressar, sendo representados pela Igreja Católica e os espaços eclesiásticos, principalmente através de seus grupos progressistas, que se tornam os principais ambientes voltados a uma educação com princípios populares de libertação, emancipação e transformação social. No Brasil pós década de 1970 esses movimentos sociais começam a se expressar com maior visibilidade social e, passam a se denominar por movimento popular.(OLIVEIRA, 2001)O Movimento de Educação de Base  MEB criado originalmente através de um convênio entre o Governo Federal do Brasil e a Conferência dos Bispos Brasileiros em 1961, destinou-se a trabalhos de alfabetização e educação de base nas regiões mais subdesenvolvidas do país: o centro-oeste, o norte e o nordeste. O MEB trabalhou exclusivamente com comunidades rurais através de escolas radiofônicas, em pouco tempo realizou mudanças que acompanham, nos primeiros anos da década de 1960, a mesma trajetória de vários outros movimentos de educação na América Latina. Após dois anos de atuação reformulou radicalmente seus objetivos e seus métodos de ação, aliando-se a outros movimentos de cultura popular do período. Com interrupções e refluxos, o MEB existe até hoje, tentando fazer ressurgir seu modo de atuação original.Os projetos de educação criados entre 1960 e 1965 tiveram o título de cultura e cultura popular , que seria a cultura subalterna das classes populares, em oposição à cultura dominante das classes dirigentes, assim podemos citar: Movimento de Cultura Popular (de alguns governos estaduais e municipais, e também de grupos da sociedade civil, principalmente entre estudantes e professores universitários); Centro Popular de Cultura (da União Nacional dos Estudantes e de outras agremiações de estudantes e artistas); Movimento de Educação de Base (da Igreja Católica em convênio com o Ministério da Educação); Centros de Cultura (unidade de trabalho de alguns MCPs e CPCs); Círculos de Cultura (unidade de alfabetização no Método Paulo Freire); Campanha: De pé no chão também se aprende a ler (da prefeitura de Natal, no Rio Grande do Norte)Desde o final dos anos 1960 a ditadura militar vinha reprimindo brutalmente os movimentos populares e qualquer tipo de oposição. Entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 houve uma transformação gerada pela institucionalização dos movimentos sociais que se tornam então organizações, a mobilização social e a explosão de reivindicações populares passaram a sustentar a estruturação e manutenção da própria organização. A organização teria se consumado surgindo uma preocupação com a auto- organização das classes populares.Esta leitura peculiar do papel da educação popular se estendeu por organizações populares, de assessoria à comunidades pobres, nas organizações eclesiásticas mais progessistas, em segmentos do movimento sindical e alguns movimentos sociais. Esta tensão educacional foi constitutiva, inclusive, de certa crise de identidade de diversas pastorais sociais e organizações de apoio e assessoria a movimentos sociais, quando em meados dos anos 1980, vários movimentos consolidaram suas próprias organizações. De movimento passaram a organizações. A tensão provocada pelos educadores críticos havia gerado sujeitos políticos insititucionalizados.Com todas essas mudanças o papel da educação popular no Brasil mudou, dando origem aos casos mais evidentes que ocorreram no campo sindical e no movimento de luta pela terra. Centrais Sindicais e Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) constituíram, ao longos dos anos 1980, sólidas estruturas educacionais, com concepções e estruturas curriculares próprias, e de movimentos passaram a organizações. (RICCI, 2004)A CUT (Central Única dos Trabalhadores) conseguiu criar um sofisticado sistema educacional, o Sistema Nacional de Formação constituído de escolas sindicais com corpo técnico fixo, programas de formação permanentes, um conjunto de monitores e assessores educacionais (sociólogos, pedagogos, historiadores, filósofos), secretarias estaduais de formação, coletivos de formação por categoria. Cursos permanentes (história do movimento sindical, técnicas de negociação coletiva, matemática sindical, técnicas de comunicação, política industrial, organização no local de trabalho, entre outros) se espalharam pelo país afora. Uma revista específica (Forma & Conteúdo) foi editada para estimular e unificar as metodologias e currículos de formação social. (RICCI, 2004)O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) possui um importante papel na luta por uma educação de qualidade para a população rural, e principalmente para aqueles que vivem em assentamentos rurais. O MST possui material didático específico, como Boletins da Educação,  Cadernos de Educação e  Fazendo a História, a organização possui uma estrutura articulada de um sistema educacional que se aproxima em muito da estrutura educacional formal brasileira, pois também compõe a estrutura do sistema educacional do MST Instituto Técnca de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (ITERRA) que desenvolve trabalho educacional e formativo, objetivando ampliar a capacidade de produção, industrialização e comercializaçãoem assentamentos rurais. (RICCI, 2004)Uma das banderias que o MST levanta atualmente é de que a escola pública continua ser vista como um direito, mas, hoje, Sem Terra que honre este nome é o que se sabe com direito e dever de estudar, exatamente porque sem compreender a realidade não é possível transformá-la, e tanto mais quando ela se apresenta de forma tão complexa como agora. É notório o esforço feito pelo MST de incluir a escola em sua dinâmica, acarretando algumas implicações importantes: como o reforço à luta da classe trabalhadora pela escola pública, e a produção da cultura do direto à escola no campo e do campo. O MST hoje possui material didático específico, como Boletins da Educação, Cadernos de Educação e  Fazendo a História.Desevolveram-se recentemente, no contexto brasileiro, o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, as políticas afirmativas da minorias étnicas, as diversas propostas de inclusão de pessoas portadoras de necessidades, especiais na escola regular, a ampliação de reconhecimento dos movimentos de gênero, a valorização das culturas infantis e dos movimentos de pessoas de terceria idade, além dos movimentos sociais articulados em torno de diferentes interesses econômico-políticos. (FLEURI, 2005)A Educação Popular atualmente pode ser aplicada em qualquer contexto, mas atualmente as mais comuns ocorrem em assentamentos rurais, em instituições sócio-educativas, em aldeias indígenas e no ensino de jovens e adultos. A prioridade é dada a movimentos sociais por serem estes os canais pelos quais se faz ouvir a voz das maiorias. O conceito de educação popular agora está ligado diretamente a esses movimentos organizados que se utilizam de metodologias para capacitar política e tecnicamente os militantes para que num processo de compreensão e análise da realidade, possam aprofundar a capacidade de intervenção.2.A história do Movimento dos Atingidos por BarragensO Movimento dos Atingindos por Barragens surge dentro deste contexto de luta, da organização dos movimentos sociais, tendo os grandes projetos hidrelétricos sendo contruídos em todo país como parte deste modelo de desenvolvimento. A energia gerada deveria sustentar a urbanização e industrialização aceleradas, que alimentavam o sonho propagandeado para as classes médias urbanas: fazer do Brasil um a grande potência. As grandes barragens eram usadas como símbolo da potência do país e do regime militar. E serviam também para fornecer energia barata para a exportação de produtos eletrointensivos, como o alumínio. (VAINER, 1992)Estas grandes obras expulsavam dezenas de milhares de pessoas. Pequenos produtores perdiam suas terras, suas casas e seu trabalho. E iam se juntar aos milhões de expropriados pelo latifúndio, condenados ao desemprego e miséria das favelas, mocambos, invasões e periferia das grandes cidades. Mas no final dos anos 1970 e no início dos anos 1980 ressurgiram a organização e a resistência dos movimentos populares, nas cidades e nos campos. Foi neste período que surgiram as lutas e organizações que dariam origem ao Movimento Nacional de Atingidos por Barragens. (VAINER, 1992)Com ajuda de setores da Igreja católica e do movimento sindical  na época era o Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais da CUT - a CRAB tomou a iniciativa de organizar em abril de 1989, em Goiânia, o I Encontro Nacional de Trabalhadores Atingidos por Barragens. O encontro foi preparado em 04 encontros regionais: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul.O Encontro de Goiânia criou a Comissão Nacional Provisória para organizar, no ano seguinte, o I Congresso Nacional dos Atingidos por Barragens. Mas o Congresso só aconteceu em março de 1991, em Brasília. Delegados vindos todo o país decidiram, deliberam constituir o MAB  Movimento dos Atingidos por Barragens, como um movimento nacional, popular e autônomo. Foi eleita a primeira Coordenação Nacional do MAB. Também se resolveu que o Movimento teria sede em São Paulo, com uma secretaria nacional funcionando permanentemente. Para marcar a fundação do MAB, o dia da plenária final do I Congresso, 14 de março, foi consagrado como Dia Nacional de Luta contra as Barragens, sendo celebrado desde então em todo país. O MAB hoje conta com escassos recursos científicos e técnicos para atuar na defesa dos direitos dos atingidos. Expressando as desigualdades da sociedade brasileira em termos de acesso ao conhecimento científico e técnico, a base social e a imensa maioria das lideranças do MAB padecem de enormes carências seja para se apropriar dos documentos referentes aos projetos hidrelétricos, seja para discutir e negociar com os técnicos e consultores das empresas responsáveis pelos grandes projetos. (VAINER, 2006)O movimento dos Atingidos por Barragens  MAB  é um movimento popular, de massa, que visa organizar toda a população atingida ou ameaçada para lutarem contra a construção de grandes barragens e pela garantia dos seus direitos, colaborando com isto para a construção de um novo modelo energético. Somos um movimento popular autônomo que surge contrapondo-se ao modelo do setor elétrico, visamos esclarecer, organizar os atingidos pela barragens sem fronteiras de estados ou países, sem distinção de cor, sexo, religião ou opção político partidária.(MAB, MAB: uma história de lutas, desafios e conquistas: 5)3.Educação de Jovens e Adultos dentro do Movimento dos Atingido por BarragensA educação popular surge para dar um novo rumo a educação no Brasil, principalmente na educação formal, tornando esta mais voltada para os problemas sociais de nossa sociedade, e com um compromisso de mostrar que educação não é um privilégio, mas sim um direito de todos. Mas também dá um novo rumo a educação informal, a educação gerada nos movimentos sociais, a socialização de experiências de luta, e principalmente experiências de vida. A educação popular, da maneira como passou a ser tematizada no Brasil, tem suas origens no início do século passado, muito embora ainda sob o termo de educação pública, através do movimento operário, das escolas sindicais, das universidades populares, dos expressivos movimentos culturais e artístico, surge quando se faz necessário uma nova forma de pensar condições ideológicas, políticas e pedagógicas, tentando aglutinar os movimentos populares no campo específico das relações que envolvem saber e conhecimento.(MARINHO, 2007)Em nome do que eu falo, companheiroO horizonte da cultura popular é a cultura de classe,e a cultura da classe é o saber do homem libertado.O homem libertado exite na classe que torna o podere liberta o homem, quando cumpre a profeciaa que serve a verdadeira educação popular:Inexoravelmente,como uma onda que ninguém trava,vencemos,o povo tomou a direção da barcaBRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Cultura do Povo, a prática da classe Canções de Militância. Campinas, 1980A Educação de Jovens e Adultos será estudada aqui como um desdobramento da Educação Popular, visto que esta pode ser aplicada em várias circunstâncias. A importância da EJA se dá devido a possibilidade de resgatar os sujeitos que foram excluídos durante o percurso escolar e no caso da Educação no Campo essa exclusão se apresenta com diversos fatores.A EJA é uma conquista da sociedade brasileira. O seu reconhecimento como um direito humano veio acontecendo de maneira gradativa ao longo do século passado, atingindo sua plenitude na Constituição de 1988, quando o poder público reconhece a demanda da sociedade brasileira em dar aos jovens e adultos que não realizaram sua escolaridade o mesmo direito que os alunos dos cursos regulares que frequentam a escola em idades próprias ou levemente defasadas. Este direito humano foi reconhecido no contexto do processo de democratização da sociedade brasileira, que na década de 1980 lutava para implementar uma nova ordem jurídica e democrática que pudesse estabelecer um novo patamar de convivência depois de 20 anos de ditadura militar. (HADDAD, 2007)A educação de jovens e adultos oriundos do campo se torna necessária por superar os paradigmas de que a educação é privilégio de poucos, mas principalmente que privilégio da população urbana, por esta ser considerada desenvolvida e pronta para receber uma educação de qualidade. A educação no campo é concebida como toda ação educativa que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher para si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas, e fundamenta-se nas práticas sociais constitutivas dessas populações: os seus conhecimentos, habilidades, sentimentos, valores, modos de ser e de produzir, de se relacionar com a terra e formas de compartilhar a vida. (PASSOS, 2006)A Educação do Campo tem-se constituído a partir das reflexões feitas pelos sujeitos envolvidos com a vida do campo, nas mais variadas práticas estabelecidas nas organizações e movimentos sociais que integram a Articulação por uma Educação no Campo, que nasce como resultado de uma caminhada que se iniciou em julho de 1997, quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Na história de nosso país, a educação sempre esteve nas mãos da classe dominante. Mais do que ninguém, é a classe dominante que sabe da importância que o processo de educação, bem como a apropriação dos conhecimentos historicamente acumulados e a construção de novos saberes, tem para manter-se no poder. (VARGAS, 2004)A Articulação por uma Educação no Campo, nasce como resultado de uma caminhada que se iniciou em julho de 1997, quando o MST realiza o I Encontro Nacioanl de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (I ENERA), em parceira com organizações como Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Universidade de Brasília (UnB). Deste primeiro encontro resultou a I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, que te como organizadores MST, UNICEF, UNESCO, CNBB e UnB, e contou também com a participação de sujeitos de escolas do campo, de ONGs, de sindicatos, associações e de outras entidades que tinham vinculação com o trabalho de educação. (VARGAS, 2004)É necessário lembrar que ao longo dos últimos anos o MAB vem desenvolvendo várias experiências no âmbito da educação que é mais do ensinar a Jovens e Adultos a ler e a escrever, mas sim é fazer com que estes tenham acesso a sua história e cultura, pois na educação encontra-se a possibilidade concreta de libertação e da emancipação das classes. E a partir disso tem se consolidado como um importante sujeito político nesta área.O projeto político-pedagógico do MAB demonstra que é de suma importância reconhecer que os atingidos, sejam eles adultos, jovens ou crianças, devem elevar seus níveis de compreensão da realidade, não apenas pela mobilização, mas também pelo acesso ao conhecimento, à informação e a cultura universal.O MAB organiza as turmas de EJA dentro de assentamentos rurais, pois o movimento ainda não possui um escola, e junto também existem turmas de educação infantil. Os educadores do movimento possuem graduação em Pedagogia da Terra, para estarem bem mais próximos da realidade dos educandos. Essas turmas são compostas de alunos (militantes) que foram atingidos por alguma barragem, que não tiveram a oportunidade de cursar uma educação formal.A importânica dessas turmas é que contribuem para a formação desses alunos que por vários motivos ficaram afastados das salas de aula durante o período escolar, a contribuição do MAB é fundamental para levar educação a aqueles que por vários motivos não puderam estudar durante o tempo certo.O projeto de Educação de Jovens e Adultos no MAB em síntese prentede :- Ser organicamente vinculado à história dos povos atingidos, sua identidade, cultura e experiência de vida e trabalho às lutas políticas e sociais que o Movimento dos Atingidos por Barragens tem organizado;- Ser geradora de novas vidas, novos sujeitos, culturas, conhecimentos, atividades produtivas e relações com a natureza;- Dialogar com a diversidade, as diferenças e as divergêncioas, produzindo valores coletivos e acesso ao conhecimento;- Ser processual e ter perspecitva de continuidade, mobilizando os povos atingidos nas diversas situações e condições em que se encontram;- Relacionar política pública de educação do campo à política energética e ambiental à Nação brasileira.A reflexão feita aqui diz respeito à necessidade política e pedagógica de se pensar os movimento social também como uma das matrizes pedagógicas fundamentais na reflexão de um projeto educativo que se contraponha aos processos de exclusão social, e que ajude a reconstruir a perspectiva histórica e a utopia coletiva de uma sociedade com justiça social e trabalho para todos. (CALDART, 2001)Os princípios pedagógicos que orientam as práticas da educação dos povos atingidos são:- O direito à educação, a escolarização e à aprendizagem;- O atingido como sujeito do processo educativo e histórico;- O diálogo como princípio educativo;- O zelo, a liberdade e a solidariedade como atitudes nas práticas de educação;- A gestão democrática das práticas de educação;- A relação entre educação e política energética e ambiental;- A educação contribuindo com a construção do projeto socialista do Brasil.A concepção do projeto político-pedagógico do MAB consiste em observar a nossa volta podemos perceber o quanto a leitura, a escrita e os conhecimentos matemáticos estão presentes em nossas realidades, ou seja, observar fatores que estejam no inseridos no cotidiano do educando para este possa assimilar melhor os conteúdos. Em nossos nomes e histórias de vida, nas informações de embalagens que fazem o nosso dia-a-dia como remédios, alimentos, folhetos e propagandas de igrejas e comércios, nas indicações de ruas ou localização de imóveis de repartições públicas, nas cobranças como contas de luz e outras formas de cobranças bancárias, em receitas culinárias e médicas, nas medidas presentes nos instrumentos de trabalho de tecelãos e tecelãs, pescadores, agricultores, boiadeiros, artesão e artesãs... Diariamente realizamos contagens, medidas, comparamos quantidades, conferimos o troco, calculamos o valor das mercadorias. Os jovens e adultos que chegam para aprender tem muito a compartilhar e a ensinar sobre as estratégias que criaram para decifrar as informações ao longo da vida.As atividades educativas devem seguir os seguintes princípios:- O diálogo e a problematização das histórias e experiências de vida, da identidade, da cultura, da realidade e das lutas dos povos atingidos;- A valorização das linguagens e a construção coletiva do conhecimento;- A relação entre local-global-local na construção do conhecimento;- A autodisciplina e a organização dos povos atingidos;- A interdisciplinaridade na construção do conhecimento;- O educador e a educadora como mediadores dos processos de educação e aprendizagem.Como podemos observar o projeto de Educação de Jovens e Adultos do Movimento dos Atingidos por Barragens é estruturado de acordo com a concepção de que a educação rural deve ser deve ser pensada e pelas pessoas do campo para elas próprias. Não podemos utilizar elementos oriundos da cidade para elucidar a realidade rural, mas sim devemos utilizar elementos rurais para mostrar a realidade rural.A partir da leitura das imagens, das conversas e reflexões que as fotografias e os textos incentivarem, o conhecimento dos educandos vão sendo apresentados, discutidos, questionados, complementados, renovados... Este movimento é inacabável! Ao final de cada encontro cada um e cada uma que volta pra casa, já não volta igual. Os conhecimentos prévios são potencializados pelas experiências das outras pessoas do grupo, pela discussão realizada a partir da imagem e pelos textos do caderno pedagógico Imagens em Movimento: Textos de Aprofundamento e Debate e outros tantos que serão utilizados.O educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer os seus alunos. É dentro desta perspectiva que o educador do MAB trabalha tanto as questões rurais, quando a dura realidade dos atingidos pelos grandes projetos hidrelétricos.Cabe ao educador e a educadora trazer outros materiais para serem explorados no trabalho em aula e também incentivar os educandos e educandas a pesquisarem outros portadores de informações sobre a temática que está sendo trabalhada. Vale tanto outras imagens, como fotos da comunidade, e também outros tipos de textos: poesias, música, jornal, documentos, contas de luz, água e tudo o que for possível conseguir.A importância dessas aulas em turmas de EJA dentro do MAB se dá pelo tanto pelo resgate histórico das lutas quanto pelo resgate de situações cotidianas, mas também se dá pela integração entre aluno e professor, pelas trocas de informação, visto que a prática educativa dentro do MAB também é um exemplo de luta por uma sociedade mais justa, onde todos tenham o direito à educação.BilbiografiaFLEURI, Reinaldo Matias. Intercultura, Educação e Movimentos Sociais no Brasil. V Colóquio Internacional Paulo Freire. Recife, 2005.GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspectivas atuais da educação, v. 14, n. 2 pp. 03-11. 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script/sci_arttext&pid=S010288392000000200002&lng=en&nrm=iso. Acesso em 05 mai. 2010.HADDAD, Sérgio. 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Autor: Gisele Rose


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