MODERNISMO



15.ORIGEM:

No começo do séc.XX houve uma grande transformação em todo o mundo. Istoocorreu em todos os sentidos da vida. No campo da Filosofia, da ciência, da arte, da religião as mudanças foram profundas.

A Europa vê o crescimento da Democracia, do Capitalismo (e a queda do mesmo), do

Socialismo que começa a sua fase de expansão. Progride o setor industrial, comercial e agrícola. O capitalismo sem rumo, traz graves consequências: nasce o fascismo de Mussolini, o nazismo de Hitler, o comunismo em vários países. Vem a primeira grande guerra. Quase todos os países se envolvem. A enorme crise e prejuízos são irreparáveis.

A ciência e a indústria progrediram enormemente. É o século dasgrandescriações:avião, lâmpada, televisão, naves espaciais, artefatos espaciais,artefatosdeguerra,etc. É também o século das máquinas.

Com todas estas transformações, justo seria que a literatura tomasse novos rumos. Foi

o que aconteceu. Já em 1909 Marinetti (escritor italiano) lança na França o "Manifesto do Futurismo". Este documento pretendia acabar com a tradição que a literatura seguia e fazer com que ela se voltasse inteiramente para o presente. Por outro lado, queriam a liberdade total para a literatura. O manifesto do Futurismo foi a mola propulsorado Modernismo. Ele pregava a era da velocidade, da agressividade, da máquina. Defendiaoculto ao perigo, ao movimento, a velocidade. Achava que devia abolir a sintaxetradicional, usaro substantivo em vez de adjetivo, verbo no infinitivo. Nele, tudo que fossevelhoteriaque ser abolido, até mesmo a pontuação. Ele conseguiu impor muito do que pregava, mas várias idéias dele não foram postas em prática.

Vários intelectuais contribuíram para uma mudança na mentalidade humana. Assim apareceram: a Filosofia de Nietzshe e Bergson, a Psicanálise de Freud e outros.

Ao lado de Marinetti, vários outros nomes surgiram integrando uma corrente que poderíamos chamar de "ismo": Futurismo, Dadaísmo, Expressionismo, Cubismo,Surrealismo, e outros ismos sem muita importância. Nomes que se destacam como precursores: Guilherme Apollinaire, Tristan Tzara, Paul Éluard, André Breton, Louis Aragon Cézanne, Picasso (pintura) e outros.

15. 2.MODERNISMO EM PORTUGAL:

Em 1915 Luis de Montalvor e o brasileiro Ronald de Carvalho, fundam em Portugal a revista Orpheu. Aparecem muitas colaborações de Fernando Pessoa, AlmadaNegreiros e Mário de Sá-Carneiro e muitos outros. Os objetivos visados eram: romper coma literatura acadêmica e burguesa e integrar o homem na realidade materialeespiritualdoséc. XX. Daí surgir a irreverência, ironia, sarcasmo. Tentavam também criar uma literatura fundada nos valores revelados pelo tecnicismo e pelo pragmatismo de nosso século.

Como em todos os países, o Modernismo foi o movimento mais importante em matéria de correntes, grupos, tendências. Eles procuravam novos valores paraadinâmica do presente. Tudo estava mudando. É de se notar que a literatura também mudasse.

Em Portugal surgem vários ramos do pensamento, daí surgindo várias correntes e grupos que vem crescendo, aumentando e variando ainda.

Costuma-se dividir o Modernismo português em quatro gerações:

PRIMEIRA GERAÇÃO: Entre 1915 e 1927. Houve fundação da revista Orpheu, ao lançamento da revista Presença. Foi comandada por Fernando Pessoa. A poesia teve maior divulgação. Houve a liberdade de concepção e de expressão - daí resultou muito em anarquia. Houve uma explosão de ânimo contra a poesia tradicional e uma auto - afirmação do individual. Existiram outras revistas de divulgação como vida curta: Centauro, Portugal Futurista, Athena, Contemporânea.Destacam-se nesta fase: Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.

SEGUNDA GERAÇÃO: É lançada em Coimbra a revista Presença em 1927 que vai até 1940. Não há um desligamento do grupo anterior, mas os autores afirmam-se crítico em face ao Modernismo. Propõe uma revisão aos valores literários. A marca registrada deles é o espírito crítico. Eles queriam novamente uma arte pela arte como afirma José Régio- "A finalidade da arte é apenas produzirmos esta emoção tão particular, tão misteriosa e talvez tão complexa: a emoção estética". Destacam-se nesse grupo: José Régio, Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões,Vitorino Nemésio. Fernando Pessoa continua numa fase brilhante.

TERCEIRA GERAÇÃO - Aparece já por volta de 1930. É também chamada de Geração neo-realista. Preocupam-se mais com o cultivo da prosa de ficção, mas também se enveredam pela parte poética.

Os autores vão buscar como fonte inspiradora os argumentos de Eça de Queirós e mais recentemente Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro e os brasileiros regionalistas: Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, bem como os americanos William Faulkner, John Steibeck, Ernest Hemingway e outros.

Como os escritores citados, eles também querem criar uma literatura engajada, tentando mostrar quase que em forma jornalística, documental a condição de vida do povo pobre, dos lugares mais afastados. Eles criam um regionalismo próprio. Querem imitar os brasileiros, mas as diferenças regionais são gritantes para tal pique. Entre os autores temos: Alves Redol, Fernando Namora, Vergílio Ferreira .

QUARTA GERAÇÃO- Iniciada por volta de 1950 - novos escritores se juntam em torno das revistas Távola Redonda, Árvore, Contraponto, Graal, A serpente e outras. Quase todos saíram do movimento acima, mas divergiam dos ideais do mesmo. Eles partem para a chamada Novíssima Poesia, organizada em 1959.

Em 1947 com a constituição do grupo surrealista de Lisboa, o grupo passou a produzir obras Surrealistas. A primeira obra poética é CORPO VISÍVEL de Mário Cesariny de Vasconcelos publicada em 1950. Destacam-se ainda os autores: AlexandreO'Neill, Fernando Lemos, Alfredo Margarido e outros.

15.3. POESIA MODERNA PORTUGUESA - POETAS E OBRAS:

Conforme diz Cecília Meireles, os poetas portugueses são herdeiros de Cesário Verde pela coragem da palavra banal, insólita, destituída de qualquer valor poético e sem valor expressivo. Foi de Antônio Nobre que aprenderam o abandono do ritual métrico, o encanto da flutuação rítmica. De um Antero de Quental herdaram a atenção voltada para o subjetivismo, misturando o céu e a terra num mesmo plano místico com noçõeshumanas e divinos.

A busca anterior, a liberdade de exprimir-se nos termos que lhes conviver - é que mais lhes agrada. Cada poeta possui uma maneira própria de sentir, de pensar e dizer a sua euforia interior. Suas composições são inconfundíveis, nada têm de comum a não ser a disposição do poeta em realizá-las. Os poemas parecem assumir uma feição de depoimento humano, voluntariamente obrigatório e indispensável. Entre os poetas e obras temos:

1.Fernando Pessoa (Lisboa 1888-1935) Aos dez anos ficou órfão. Sua mãe se casou novamente e foram morar na África do Sul. Lá ele frequentou a Universidade de Capetown. Começou a escrever seus primeiros trabalhos em Inglês. Retorna a Portugal e frequenta o curso de Letras. Em 1912 colaborou com a revista Águia escrevendo artigos de crítica literária. Em 1915 ajuda a fundar a revista Orpheu e lidera a campanha Modernista, colaborando com quase todas as revistas da época. Faleceu em Lisboa em 1935, deixando publicado: Antinouns, 35 sonnets e English Poems (Inglês) e Mensagem em português. Todo o resto ficou em jornais e revistas da época, sendo recolhido o material e publicadoposteriormente em forma de livros.

Fernando Pessoa é o poeta mais complexo de Portugal. Sua contribuição para a literatura portuguesa foi imensa e ele é comparado a Camões pela crítica.

Os heterônimos dele são sua nota original. Em cada heterônimo ele assume um poeta diferente. São 3 os heterônimos conhecidos. Ele preparava o nascimento do 4o. pseudônimo quando faleceu. E ainda escreveu usando o próprio Fernando Pessoa.

A obra do poeta fica sendo distribuída da seguinte maneira: Poemas de Álvaro de Campos, Poemas completos de AlbertoCaeiro, OdesdeRicardoReis,Mensagem, Poemas dramáticos e Cancioneiro.

Vejamos as idéias da cada pseudônimo de Fernando Pessoa:

a)Alberto Caeiro - Reage contra os filósofos tradicionais. É um poeta que se voltaparaas coisas mais simples e puras do mundo, restaurando as forças líricaseemcontatocoma natureza e com os seres sensitivos. Mostra-se uma atitude irreverenteemrelação aos valores estratificados.

b)Ricardo Reis - Identifica-se com os povos daantiguidade - sereno,aristocrático,pensamento epicurista. Há mesmo um formalismo helênico equilibrado. A filosofia devidase mostra através da lição dada aos jogadores de xadrez.

c)Álvaro de Campos - Rebelde por excelência, tanto no plano pessoalcomonopolítico. Há uma revolução poética lusitana. Espírito Futurista, acha-se integrado no mundo novo, moderno. Quer abandonar todo tipo de tradição.

d)Fernando Pessoa (Ele mesmo) - Mostra-se um lírico apegadonalíricatradicionalque remonta aos trovadores, ligado aos valores do povoportuguês. Mistura as inovações, situação de vocabulário próprio do espírito da geração de 1915.

OUTROS AUTORES:

2.Mário de Sá-Carneiro -"Amizade", "Princípio", "Céu em Fogo", "A confissão de Lúcio"

3.José Régio - "Poemas de Deus e do Diabo", "Biografia", "As encruzilhadasdeDeus",

"Fada", "O filho do homem" e outros.

4.Miguel Torga - "O outro livro de Job", "Odes, Cântico do Homem", "Penas do purgatório".

5.Adolfo Casais Monteiro - "Confusão", "Poemas do Tempo incerto", "Sempre sem fim",

"Canto da nossa agonia".

A PROSA DE FICÇÃO

É a partir de 1930 que a prosa começa a se fixar com obras de José Régio, mas agrande virada acontece a partir de 1940 com a obra inaugural da linha Neo-realista.

O Neo-realismo corresponde a transformação cujo sentido principia a definir-se na vida nacional e por isso apresenta como característicasbásicas uma novatomada deconsciência, da realidade portuguesa, de certo modo análoga a dageraçãode 70, mas que já conta com um interesse de estratos sociais progressivamente amplos.

Esta nova corrente tem como destino a média e alta burguesia, mas os escritores contam com um pequeno apoio da classe mais baixa.

A designação neo-realista denota ainda outro contraste quanto à tradição realista:o de um sentimento de confiança no processo histórico social.

A burguesia portuguesa recusa quaisquer exercícios a estilo ou academismo. Eles preferem que tudo nasça no escritor naturalmente, sem qualquer artificialismo. É por isto queeles gostam de Jorge Amado, por escrever exatamente aquilo que está ao lado do povo.

     Alves Redol produziu uma obra semelhante: "Gaibés" e disse:"Esteromance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documento humano fixado no Ribatejo. Entre os autores temos:

1.Aquilino Ribeiro - Jardim das tormentas, Estrada de Santiago, Terras do Demo...

2.Ferreira de Castro - Criminosos por ambição (produzido no Brasil), Emigrantes, A selva, Eternidade, A tempestade...

4.Alves Redol - Gaibés, Horizonte Cerrado, Os homens e as sombras, Uma fenda na muralha...

5.Fernando Namora - As sete partidas do mundo,Fogo na noite escura, Casa de Malta...

15.5.CRÍTICA E ENSAIO LITERÁRIO:

Estes dois gêneros avançaram muito em Portugal nestes últimos anos, principalmente partindo da revista Presença. São vários os críticos e ensaístas portugueses. Entre eles temos: Fidelino de Figueiredo, Manoel Rodrigues Lapa,Álvaro Júlio, Antônio Sérgio, Hernani cidade, José Régio, João Gaspar e outros.


Autor: Henrique Araújo


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