UM LUGAR NO BOSQUE



Nas férias de 1997, o professor e escritor Jorge Miranda resolveu afastar-se da cidade grande, fugir da agitação e dos compromissos sociais para poder escrever o seu livro.

Precisava de calma, concentração e inspiração junto à natureza. Vila do Castelo era um lugar sossegado sem o barulho e a agitação das grandes cidades. Jorge alugou uma casa nos limites do povoado. Do outro lado da estrada que passava em frente à casa, havia um bosque. Da janela de seu gabinete ele podia ver árvores frondosas e arbustos de varias espécies, que formavam caminhos e recantos sombreados. Certo dia, o escritor saiu para dar um passeio, seguiu por uma trilha aspirando no ar a transpiração da mata, o cheiro da resina vegetal, o odor do humo. A trilha findava num caminho mais largo. Adiante, bambus em ambos os lados se tocavam no alto, formando um túnel verde. Após o túnel, Jorge deparou-se com dois caminhos, um seguia para a esquerda e outro para a direita. Seguindo pela esquerda, chegou a uma clareira onde corria um riacho por entre pedras cobertas de limo. Atravessando o riacho por uma ponte de pedra, encontrou um recanto com um banco de concreto sob a copa de uma árvore que ele julgou ser um jatobá. Do lado oposto, as águas do riacho caiam do terreno elevado, formando uma pequena cachoeira. Depois de apreciar o lugar, Jorge resolveu voltar pelo mesmo caminho. Voltava pensativo pela trilha quando se deparou de repente, com uma moradia. Estacou aturdido olhando para os lados. Havia errado o caminho de volta.

Observou a habitação por um momento, uma construção de madeira de dois pisos com varanda, uma típica casa de campo. Jorge começava a retornar quando um homem surgiu da mata com uma espingarda ao ombro. O sujeito, aparentando 50 anos, aproximou-se a passos largos. Vestia calça de sarja, camisa xadrez, e calçava botas de cano curto. Passando por Jorge, estacou, olhando-o, desconfiado.

- Bom dia! Saudou Jorge. - Meu nome é Jorge Miranda. Estou alugando a casa do outro lado da estrada...

- Sou Vicente Klavinski e moro aqui. Deseja alguma coisa?

- Não! Eu estou dando um passeio pelo parque. Sou escritor, professor de matemática e física. Vim para Vila De o Castelo descansar um pouco a fim de começar a escrever um romance...

A expressão dura do homem suavizou-se e ele esboçou um sorriso. Descansou a arma no braço, olhou para a casa e voltou a encarar Jorge.

- Então, o senhor é escritor? Minha mulher vai querer conhecê-lo, ela adora ler e possui uma invejável coleção de clássicos da literatura. Não quer entrar e tomar uma xícara de chá?

- Desculpe, não quero incomodar!...

- Não, não há incomodo algum. Minha mulher vai ficar furiosa comigo quando souber que conversei com o senhor e não a chamei para conhecê-lo! É raro recebermos visitas, ainda mais de um escritor...

Vicente fez um gesto para a casa e Jorge resolveu acompanhá-lo.

- Saí para caçar na floresta, mas não tive sorte hoje. A caça no município se torna cada vez mais rara. A culpa é dessas madeireiras que devastam a floresta e o avanço desenfreado das construções imobiliárias.

Vicente abriu a porta e esperou que Jorge entrasse.

- Sente-se, faça o favor. Vou avisar minha mulher que temos visita.

Vicente tirou a munição da arma e pendurou-a na parede, sobre a lareira. Enquanto o homem se retirava, Jorge postou-se diante de uma estante repleta de livros. Havia ali livros de jardinagem, pecuária, romances de autores clássicos, alguns raros. Um volume estava fora do lugar sobre uma cômoda. Jorge pegou-o e leu o titulo: "Correntes do tempo. De Tibério Antibes."

Vicente voltou logo em seguida, trazendo uma pasta de cartolina azul.

- Vera não está se sentindo bem e pede desculpas por não poder descer para cumprimentá-lo. Mas, eu vou aproveitar a sua presença para mostrar-lhe uma coisa.

Vicente retirou uma folha de papel da pasta e estendeu sobre a cômoda. Em seguida ele pegou o livro e colocou-o na estante. Voltou-se para Jorge, dizendo:

- Este é um dos trabalhos de um amigo meu, Alberto Reis, que morreu no ano passado. Alberto era bacharel em física e matemática e estava desenvolvendo um trabalho teórico que deixou incompleto. Achei que o senhor como físico, pudesse entender o que ele estava fazendo. Eu trabalhava com ele como assistente, mas não consegui completar esta fórmula!...

Jorge leu rapidamente o manuscrito.

- A teoria de Lacombe!

- Isso! O senhor a conhece, então?

- Sim. É a teoria das órbitas planetárias e sua relação espaço-tempo.

- O senhor pode completar a fórmula?

- Sim, não há duvida.

Vicente estendeu um lápis a Jorge.

- Faça o favor. Pediu ele. Jorge não viu nada demais naquele pedido. A fórmula não era complexa, mas o significado das equações precisaria de uma análise mais profunda. Jorge não se preocupou com isso e completou as equações.

- Muito obrigado! Agradeceu Vicente, quando Jorge terminou. O homem voltou a guardar a folha de papel e estendeu a mão para o visitante.

- Obrigado novamente e volte quando quiser.

O homem acompanhou Jorge até a varanda.

- Qual o caminho mais curto para eu chegar à estrada?

- Pegue a trilha da esquerda e depois o caminho da direita, não tem como errar.



Jorge afastou-se, seguindo pela trilha. Seguiu pensando em Vicente. Apesar do aspecto rude, o homem era instruído. Primeiro recebeu-o com desconfiança e ao saber quem ele era, tornou-se cortês e por fim, ficou ansioso para ver-se livre do visitante. Havia algo estranho na atitude daquele homem. Talvez fosse algo relacionado com a teoria de Lacombe. A fórmula matemática estava ao lado do esquema de uma máquina. Agora, que tipo de máquina era e qual a finalidade, foi impossível saber.



Passando pelo jatobá, Jorge calculou que estava no caminho certo. Logo adiante estaria a ponte sobre o riacho. Uma bruma seca surgiu de repente. Uma nuvem cinzenta começou a envolver o parque. Jorge estacou desorientado. Ele mal podia enxergar o caminho. Sentiu terreno pantanoso sob os pés. Novamente tinha pegado o caminho errado. Voltou para trás até encontrar a trilha. Agora não sabia para que lado se dirigir. A visibilidade chegava a uns cinco metros de distancia, para além, só se enxergava a cor cinza do nevoeiro. Um trovão soou distante. Cansado e aborrecido, Jorge recomeçou a caminhar, sem mesmo saber se estava se aproximando ou se afastando do caminho de casa. Começou a ventar e o vento dissipou o nevoeiro. Minutos depois, Jorge parou surpreso. Tinha voltado à casa de Vicente. Ele ficou indeciso. Poderia encontrar o caminho para casa, mas a ventania aumentava de intensidade e os trovões ribombavam pelos ares. A mata se agitava ameaçadora e ele resolveu pedir abrigo na casa de Vicente. Bateu na porta com insistência até que esta se abriu, surgindo uma mulher jovem, de cabelos negros compridos até os ombros. Na expressão suave de seu belo rosto estampou-se um ar de surpresa.

- Pensei que era meu marido! Disse ela.

- Desculpe! Eu estive ainda a pouco aqui, conversando com seu marido...

A mulher permaneceu calada, olhando para Jorge.

- A senhora é dona Vera, não?

- Sim.

- Meu nome é Jorge Miranda. Eu estava voltando para casa quando me perdi, devido ao nevoeiro. E com essa tempestade...

A mulher acabou de abrir a porta.

- Desculpe! Entre e sente-se.

Jorge esfregou os sapatos no capacho e entrou. Sentou-se no sofá enquanto Vera fechava a porta e sentava-se numa cadeira.

- O senhor disse que é escritor?

- Sim.

- Está morando na cidade?

- Apenas algumas semanas, até completar um romance de ficção que estou escrevendo. Pretendo me aposentar no cargo de professor para me dedicar somente à literatura.

Vera esboçou um sorriso, sacudindo a cabeça. Houve uma pausa, até que Jorge disse:

- Eu não queria incomodar a senhora, mas a tempestade...

- O senhor não está incomodando. Era o senhor que esteve aqui há pouco?

- Sim. Vicente disse que a senhora estava indisposta...

- Ah! O Vicente anda meio esquisito. Depois que se aposentou, resolveu ser inventor e passa o dia no porão, trabalhando. Há uma semana que ele não descia lá...

Vera fez uma pausa e olhou ao redor. Num tom de mágoa, disse: - Já estou cansada desse lugar!

- Mas, é uma bela casa! E o lugar é aprazível!

- Eu gostava daqui. Amigos vinham nos visitar, mas aos poucos Vicente os foi ignorando, tornou-se recluso e se dedicou somente ao seu invento.

- O que é mesmo que ele está construindo?

- Não sei. Respondeu Vera. Após uma pequena pausa, perguntou: - E a sua esposa veio com o senhor?

- Sou divorciado.

Nova pausa. Vera baixou os olhos, as mãos pousadas sobre os joelhos, os dedos finos entrelaçados. Refletia sobre alguma coisa. Jorge ergue-se e foi olhar pela janela.

- A tempestade parou. Anunciou ele. - Preciso ir.

Vera acompanhou-o até a porta.

- O senhor não quer ficar mais um pouco? Eu chamo Vicente para tomarmos um chá!...

- Não, obrigado. Fica para outro dia. Jorge deu alguns passos pela varanda e voltou-se.

- Esse parque é muito bonito e grande. Existem tantos caminhos que alguém que não o conhece, se perde!

- Pegue a trilha da esquerda e depois a da direita. Recomendou a mulher.

- Obrigado. Até logo!



Jorge afastou-se rapidamente. O vento havia cessado. Não havia sinal de chuva, mas o céu permanecia cor de chumbo. Seguindo pelo caminho indicado, deparou-se com uma árvore tombada sobre a trilha. Ele parou, olhando para os lados, procurando uma passagem entre a folhagem. Percebeu que o ar parecia carregado de eletricidade. Teve a impressão de que a mata estalava como se estivesse pegando fogo. De repente ouviu alguém chamá-lo. Olhou para trás e viu Vera, que se aproximava correndo.

- Ainda bem que o alcancei! Disse ela, fazendo uma pausa para regular a respiração.

- O que houve?

- Alguma coisa aconteceu com Vicente. O porão está trancado e ele não me responde! Ouvi um barulho estranho lá embaixo, um estouro, e em seguida as luzes piscaram!

- Vamos ver o que aconteceu.



Chegando à casa, Vera conduziu Jorge para o porão. Desceram por uma escada ao lado da entrada da cozinha e chegaram a uma porta de madeira. Jorge bateu diversas vezes chamando por Vicente. Sem obter resposta ele decidiu arrombar a porta. A porta era maciça, mas a ombreira estava corroída por cupim. Forçando com o ombro, Jorge conseguiu abri-la. O aposento continha uma longa mesa de trabalho encostada na parede, um armário com ferramentas, alguns caixotes e no centro da peça estava uma máquina estranha, um conjunto compacto de peças e mecanismos que emitia um zumbido, indicando que ela estava em funcionamento. Três canos niquelados saiam da máquina, dois deles penetravam no soalho de concreto e o outro subia rente ao teto e saía pela parede. Vicente estava caído no solo, de barriga para baixo. Jorge virou-o e examinou-o. As mãos do homem estavam pretas, as mangas do jaleco chamuscadas. Jorge ergueu-se, olhando para a mulher.

- Ele não respira e não tem batimentos cardíacos!

Pálida, Vera levou as mãos ao rosto sufocando um lamento. Jorge conduziu-a para cima. Colocou-a sentada numa cadeira e pegou o telefone. Sua intenção era chamar a policia, mas não havia nenhum sinal, o telefone estava mudo. As luzes apagaram-se naquele instante. Jorge largou o fone e permaneceu imóvel, olhando para Vera, que ergueu os olhos cheios de lágrimas.

- Eu pretendia chamar a polícia, mas o telefone está mudo. Vou para casa e telefono de lá.

Vera ergueu-se.

- Vou com você.

- É claro, eu não ia deixar você aqui sozinha! Vamos!

Saíram os dois e Vera sugeriu ir pela trilha que passava por trás da residência. Enquanto se afastavam da casa o nevoeiro retornou, uma névoa escura que brotava da terra. Na trilha, dentro da mata, a visibilidade tornou-se difícil. Vera estacou, tentando orientar-se.

Temendo perder-se e se afastar cada vez mais do caminho, Jorge resolveu voltar. Logo que entrou em casa, Vera voltou a sentar-se. Olhou tristemente para a entrada do porão.

- Pobre Vicente! Ele estava obcecado por aquele invento, seja lá o que for! Nosso casamento acabou há dois anos e eu nunca tive coragem para deixá-lo aqui sozinho. Ele sabia disso, mas nunca tomou uma atitude para melhorar o nosso relacionamento.

- O que é aquela máquina?

- Não tenho a menor idéia. Vicente nunca me disse nada e me proibia falar no assunto.

- Ele me mostrou uma pasta de cartolina azul com documentos referentes a uma máquina. Sabe onde está a pasta?

- Não sei talvez no porão.

Jorge colocou uma mão no ombro da mulher.

- Sente-se bem?

- Sim. Vou fazer um café.

- Vou dar uma olhada no porão.

Vera dirigiu-se para a cozinha enquanto Jorge descia para o porão. Encontrou a pasta numa gaveta do armário, mas estava vazia. Num latão de lixo havia papel queimado. Vicente havia destruído os documentos. Jorge aproximou-se da máquina e procurou por um interruptor de energia. Na parte de cima havia uma pedra de cristal que emitia um brilho fosforescente. Abaixo da base estava o interruptor. Jorge apertou o botão, o zumbido da máquina cessou e o brilho da pedra sumiu. Lançando um olhar sobre o corpo de Vicente, Jorge voltou a subir. Precisava encontrar um jeito de sair dali e avisar a policia. Vera surgiu da cozinha com uma bandeja com sanduíches e duas xícaras de café.

- Eu estou com fome e você? Perguntou ela.

- Na verdade sim. Vamos comer e depois vamos tentar encontrar outro caminho para sair daqui. Talvez possamos chegar à casa de algum vizinho para pedir ajuda. Que horas são? Meu relógio parou.

- Não sei. Todos os relógios estão parados!

Depois de comer, enquanto Vera levava a louça para a cozinha, Jorge saiu da casa para o pátio. Arvores e arbustos tinham a folhagem esmaecida, a mata parecia estar envolta num manto etéreo. Nenhuma brisa soprava. Jorge se dirigia para a esquina da casa quando ouviu um grito dentro da residência. Correu para dentro da sala e chamou por Vera. Não houve resposta. Examinou a cozinha, subiu ao segundo piso e não a encontrou. Descendo ao porão ficou surpreso ao descobrir que o corpo de Vicente havia desaparecido. Outro grito soou desta vez nos fundos do quintal. Saindo pela porta da cozinha, Jorge examinou cada recanto do arvoredo sempre chamando pela mulher. O solo começava a ficar coberto por uma fina camada de uma substância branca, parecido com neve. A temperatura estava em torno dos vinte graus, portanto aquilo não podia ser gelo, nem frio era. Jorge não se deteve para examinar aquele fenômeno, saiu do pomar descendo um declive em direção a uma clareira. O campo e as arvores também começavam a se cobrir de branco. O nevoeiro havia sumido. Jorge parou na orla do campo, escutando. Ouviu um movimento na mata à esquerda e em seguida a voz de Vera, pedindo socorro. Ele correu naquela direção. Entrou na mata e parou, prestando atenção. Passos apressados pisando sobre folhas secas soaram logo adiante. Jorge avançou afastando a folhagem. Logo em seguida ele viu Vera, correndo por entre as arvores.

- Vera! Espera!

A mulher estacou e foi em sua direção. Abalada, ela respirou fundo, olhando para os lados.

- Vicente não estava morto, como você pensava. Eu estava na cozinha quando ele apareceu de repente e sem dizer nada, me obrigou a acompanhá-lo. Parece que está louco!

- E onde ele está?

- Não sei, em alguma parte lá atrás.

- Vamos sair daqui!

Começaram a voltar. Vicente surgiu de repente no caminho. Com uma expressão dura no rosto sombrio, segurava com as duas mãos um galho pontiagudo como se fosse uma lança. Avançou soltando um grunhido. Jorge empurrou Vera para trás.

- Corra! Vá para casa!

Jorge desviou-se do golpe com facilidade. Vicente era lento, mas possuía muita força. Jorge resolveu evitá-lo. Não estava em condições de medir forças com o homem. Correu atrás de Vera e alcançou-a logo depois. Os dois entraram na casa. Vera trancou as portas e Jorge examinando as janelas, constatou que estavam bem trancadas. Olhou para o pátio. Vicente não estava à vista, mas ele poderia estar rondando a casa.

- Vicente perdeu a razão. Disse Vera sentando-se no sofá e recostando-se nas almofadas. - Ele nunca agiu assim, com essa violência, sem sentido!

Jorge sentou-se ao lado dela.

- Vamos descansar um pouco. Depois veremos o que fazer.

Jorge recostou-se, fechando os olhos. Devido ao cansaço, o sono venceu-o. Quando abriu os olhos, percebeu que Vera ainda dormia. O relógio continuava parado e ele não sabia quanto tempo tinha dormido. Ainda havia claridade lá fora. Ergueu-se e dirigiu-se para a janela. Ficou surpreso ao ver o solo coberto de neve. Neve em pleno verão? Não, não era neve, e sim algo branco que ele não tinha idéia de onde surgiu. Súbito, soou um barulho de vidro se quebrando no andar superior. Jorge acordou Vera.

- Rápido, vamos sair! Vicente acaba de arrombar a janela lá de cima! Vamos aproveitar e sair daqui.

Saíram os dois pisando o solo branco que estalava sob seus pés. A substância branca cobria tudo. Seguindo por uma trilha estreita entre a folhagem petrificada, Jorge estacou quando chegaram a uma pequena clareira. Para além dela havia uma muralha cinzenta.

- O nevoeiro! Exclamou Jorge segurando a mão de Vera. Ela olhou para ele, tensa.

- Parece que estamos num outro mundo!

-Talvez aquela máquina no porão seja o responsável por esse fenômeno. Vamos voltar!

Voltaram pelo mesmo caminho. O telhado da casa também estava coberto por aquilo que parecia ser neve. Vera estacou, apertando a mão de Jorge.

- Olhe! Disse ela, apontando para um grupo de árvores. Olhando naquela direção, Jorge viu alguém caído, quase invisível na brancura do solo. Era Vicente, caído de barriga para baixo. Jorge virou-o e constatou que o homem estava rijo, como se estivesse congelado. Evitando assistir aquela cena, Vera entrou na casa. Jorge entrou logo depois.

- Acho que desta vez ele está realmente morto. Disse ele e acrescentou: - Vou dar uma olhada naquela maquina.

Vera acompanhou-o. Encontrando um alicate, Jorge cortou os fios da máquina e tirou a pedra do lugar. Com um martelo ele quebrou o cristal.

- Acho que aquela substância veio de outra dimensão, ou esta maquina é que estava criando um mundo alternativo. Agora, vamos esperar para ver o que acontece.

Vera serviu café para os dois. Um vento forte começou a soprar. Jorge foi até a janela, olhar para fora. Vera postou-se ao lado dele. A substância branca era levada pelo vento e se desmanchava no ar. Vera segurou o braço de Jorge e gritou:

- A casa está pegando fogo!

Jorge voltou-se e viu uma fumaça negra saindo do porão. Pegou a mão de Vera e correu para fora. Correram para a rua mergulhando na ventania. Vicente surgiu de repente. Jorge não teve tempo para desviar-se da pancada que o homem desferiu em sua cabeça com a coronha da espingarda. Sentiu-se flutuar na escuridão. Quando recuperou os sentidos, viu-se deitado no chão com a cabeça pousada no colo de Vera.

- Como se sente? Perguntou ela.

- Estou bem, apenas com a cabeça dolorida.

Jorge ergueu-se e ajudou Vera a levantar-se. Havia dois policiais junto ao corpo de Vicente, estirado no chão.

- Eles estavam patrulhando o parque. Explicou Vera. - Ao ouvir os meus gritos, correram para cá e tentaram deter Vicente, mas ele atirou contra os policiais e eles tiveram que revidar...

Jorge passou um braço pelo ombro de Vera e ela descansou a cabeça no peito dele.

- O pesadelo acabou. Disse Jorge.

FIM

ANTONIO STEGUES BATISTA
Autor: Antonio Stegues Batista


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