A BÍBLIA (Na Visão da Doutrina Espírita)
Já o Evangelho não pertence, propriamente, à Bíblia. É um outro livro, com a reunião dos vários escritos sobre Jesus e seus ensinos. O Evangelho ou Novo Testamento é a codificação da "Segunda Revelação" Cristã. As igrejas católicas e protestantes agregaram à Bíblia, os Evangelhos de Jesus, dando a estes o nome geral de Novo Testamento.
Em sua essência ele traz a substituição do "Deus Amor", em detrimento ao "Deus Guerreiro" da Bíblia. A(s) religião(ões) dos Evangelhos é(são) designada(s) de Cristianismo, porque deriva(m) dos ensinamentos do Cristo.
O conceito de "Revelação" que normalmente está atrelado à Bíblia, precisa, no entanto, ser melhor compreendido, na medida em que "revelar significa ensinar". E isso tanto pode ser realizado pelos homens (revelação humana), como pelos nossos irmãos desencarnados ? Espíritos (revelação divina), mas não por Deus "em pessoa", pois Deus age por meio de suas leis imutáveis e pelos Espíritos. Em sua essência, a Bíblia representa a palavra dos Espíritos Reveladores, sendo essa palavra sempre adequada ao tempo em que foi proferida.
A expressão "a palavra de Deus" é de origem judaica e foi "herdada" pelo Cristianismo, visando o mesmo fim, qual seja: dar autoridade à Igreja.
As leis morais da Bíblia podem ser resumidas nos Dez Mandamentos. Mas esses mandamentos nada têm de transcendentes, na medida em que são regras normais de vida para um povo de pastores e agricultores. O Espírito que ditou essas leis a Moisés, no Sinai, era o guia espiritual da família de Abrão, Isaac e Jacob, mais tarde transformado no "Deus de Israel". Desempenhando uma elevada missão, esse Espírito preparava o povo judeu para o monoteísmo, a crença num só Deus, pois os deuses da antiguidade eram muitos. Moisés era um médium, em constante ligação com lave ou Jeová, o deus bíblico, violento e irascível, tão diferente do deus-pai do Evangelho.
Na verdade, como ensinou o apóstolo Paulo, foram os mensageiros de Deus, os Espíritos, que guiaram o povo de Israel, através dos médiuns, então chamados profetas.
Deus não ditou nem dita livros aos homens. Infelizmente, muitas vezes, observamos que é o homem que "faz Deus dizer" o que lhe interessa.
A Bíblia é um dos maiores repositórios de fatos espíritas de toda bibliografia religiosa. E os textos bíblicos estão "recheados" de passagens tipicamente espíritas. O Espiritismo é apresentado por Kardec, sob a orientação do Espírito da Verdade, como uma seqüência natural do Cristianismo e por isso chamado de "A Terceira Revelação". É o cumprimento da promessa evangélica de Jesus, de enviar a Terra o Consolador, que completaria o seu ensino, esclarecendo os homens a respeito daquilo que ele só pudera ensinar através de alegorias, no seu tempo. Os homens de então não estavam em condições de compreender o fenômeno natural da comunicação espírita, que misturavam com interpretações supersticiosas.
Desta forma, é claro que o conceito espírita da Bíblia não pode ser igual ao das religiões dogmáticas que ficaram no passado, apegadas às formas sacramentais de magia, aos ritos materiais e aos cultos exteriores do próprio paganismo.
A Bíblia não pode ser, para o espírita, a "palavra de Deus", pois é um livro escrito pelos homens, como todos os outros livros, e é, principalmente, um conjunto de livros em que encontramos de tudo, desde as regras simplórias de higiene dos judeus primitivos até as lendas e tradições do povo hebreu, misturadas às heranças dos egípcios e babilônios.
O Espiritismo ensina a encarar a Bíblia como um marco da evolução religiosa na Terra, mas não faz dela um novo "bezerro de ouro".
Autor: Silney De Souza
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