Quando Ele Falou...



Quando ele (o marido) falou lhe da viagem a trabalho , durante uma semana, na Europa, um certo alívio e até mesmo uma pontinha de alegria e liberdade apossou-se dela.

Ao menos "naquela semana" poderia comer tranqüila na cozinha mesmo (não na suntuosa sala de jantar), assistir sem interrupções os filmes e programas que adorava e ele não.

Escreveria durante a noite ouvindo suas amadas músicas clássicas ou da sua época de adolescente, o que normalmente era impossível: ele dorme muito cedo.

UMA SEMANA DE FÉRIAS!!!!!!!!!!!!!!!

Mas não foi bem assim que aconteceria! Foi melhor!

Tinha feito planos de estudar mais;

Ir nadar na piscina térmica super-chique do condomínio (nunca iam! Pois ele não gosta de água, e ela, que adora nadar, mais uma vez restringia sua vontade para não vê-lo obrigado a fazer o que não gosta e ir onde não quer , conhecia bem aquele gosto amargo de ter que fazer algo apenas para agradar sem o menor prazer. Também sabia que ele preferia ir com ela a vê-la sair sozinha).

Saíria com a melhor amiga (companheira de anos), iriam rir, falar, matar saudades e até mesmo chorar perante a vida que corre diante delas nem sempre com situações felizes ( a mae da amiga havia falecido).

Ah!!!! Sem ter hora para voltar!

Falariam de momentos tão esperados e nunca vividos( Será??? Será que já não os havia vividos, porém no mundo real sem o reboco romântico que sempre enfeitou os seus sentimentos, afetos, desejos, etc.?).

Ele embarcou no sábado de manhã e SOZINHA foi ao cinema e ao restaurante japonês que adorava.

QUE LIBERDADE! ( Estranha ??! Logo quis voltar para casa).

E, voltando para casa , não conseguiu dormir.

Culpou o frio. Estava tudo GELADO E ENORME naquele apartamento.

Na segunda, a amiga ligou animada com o passeio querendo saber hora e local, e ela responde que não estava bem fisicamente, seria melhor deixar para outro dia.

Mas essa não era a SUA verdade!

De repente, bem devagar, começou a entender o que é AMAR ALGUÉM.

Sempre achou que no seu casamento não havia AMOR (ou melhor, sua ilusão deste sentimento tão nobre e tão suscetível a quase todo tipo de violências emocionais).

Sonhara desde a primeira infância com rompantes em forma de poemas e músicas, brigas de amor apaixonado, retornos cinematográficos com direito a velas , flores, sexo perfeito em lugares maravilhosos ao redor do mundo e sempre felizes para SEMPRE!. Isso sim era Amor e, por conseguinte, a FELICIDADE afinal!

Mas o panorama de sua vida de casada sempre foi o exato contrário, no melhor sentido:

Muita concordância, tolerância;

Muito diálogo;

Mais carinho e afeto, menos sexo juvenil;

Não havia muitas cobranças e um sempre cedia quando havia a possibilidade de mágoas e brigas;

Carinho, leveza e ao mesmo tempo tudo previsível ou melhor, havia um relacionamento arrojado entre eles.

Até então, estava certa de que não era Amor o que ambos sentiam um pelo outro.

De sua parte era uma gratidão eterna!

Por aceitá-la, ouvi-la , ser um excelente Pai , não emitir opiniões sobre as loucuras de sua família de origem, o que ela não conseguia fazer por ele . Que silêncio precioso o dele. Jantares gostosos e sempre o quarto aconchegante para uma boa noite de sono!

Foi então que , nesta semana tão cheia de controvérsias interiores, descobriu que ESTA sensação de calma, de paz, de não ter medo de amanhecer com um desafio desconhecido ao seu lado era sem dúvidas o AMOR que tanto buscou .

Tinha o sentimento exato de que acabara por desmascarar toda aquela PAIXÃO que fantasiara ser um sentimento maior, durante muito tempo .

E, por não ser paixão, fugaz, temporário e incerto, ela o sabia-o, vivia-o sentia-o

Vibrou-se FELIZ então!!!!

Na segunda noite sem dormir compreendeu que já não conseguiria dormir bem sem ele ao seu lado e que aquela semana tão esperada de "férias" seria " LONGA ,BEM LONGA"!

Começava a contar ,como ele sempre fazia, "OS DIAS PARA SEU RETORNO? e o retorno dela à vida que sempre desejou e que daqui para frente amaria mais.


Angélica Alvarenga
Autor: Angélica Alvarenga Fantauzzi


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