GRACO E LÍDIA



ITÁLIA, ANO 307 DC.

Combatendo povos Bárbaros que haviam invadido províncias romanas em Gália, uma divisão do Exército Romano acabou caindo numa emboscada. Lutando em menor número contra ferozes guerreiros, o general Catulo e seus soldados já se sentiam perdidos quando uma divisão da Legião Dourada, comandada pelo general Graco Vinicius chegou ao campo de batalha. Perdendo maior número de combatentes, o inimigo se dispersou e fugiu.



Após a luta sangrenta, os romanos ergueram acampamento para tratar dos feridos, sepultar os mortos e refazer suas energias. Catulo e dois de seus oficiais procuraram Graco em sua tenda para agradecer-lhe e cumprimentá-lo pela vitória.

- Sem a vossa ajuda certamente estaríamos mortos. Disse Catulo com humildade.

- Foi imprudência sua atacar o inimigo com tão poucos soldados. Respondeu Graco com veemência. O centurião Pompeu olhou para Catulo esperando que o general se ofendesse com a censura de Graco, mas Catulo aceitou a repreensão. Continuando numa atitude tranqüila, disse:

- Eu estava a sua procura. Diocleciano e Maxímiano renunciaram e nomearam Constancio Cloro e Galério como soberanos, mas nós queremos que você seja o nosso novo imperador. Tens o apoio das legiões do norte. Marcharemos para Roma para anunciar a sua nomeação...

Graco olhou para Catulo e permaneceu calado.

- O que foi? Parece-me que não aprovas a nossa escolha!... Graco foi até a entrada da tenda e olhou para o terreno abaixo coberto pelas tendas de seus soldados. Voltou-se, dizendo:

- Estou surpreso. Não esperava que fossem me escolher.

Catulo sorriu.

- És honesto, justo e todos o estimam. Embora Constâncio Cloro e Galério tenham o apoio dos nobres, a escolha das legiões do norte prevalecerá. Os nobres defendem os seus interesses e não o interesse da maioria do povo...

Graco fez um gesto vago.

- Não estou em condições de assumir o Poder, não agora.

- Porque não agora? Não haverá outra oportunidade, Graco Vinicius! Terás o apoio dos teus amigos e soldados! O império é muito grande para que um homem só possa governar! Há inimigos por toda parte! Ou você não está de acordo com isso?

- É claro que sim. Concordo com vosso argumento, porém me sinto cansado, esgotado por tantas batalhas! Preciso de um tempo para descansar e para assumir o governo da nação é necessário muito empenho, muita dedicação! Acho que Cícero Calvo seria o homem ideal para assumir o trono e sei que também ele merece a vossa confiança e esperança.

Catulo olhou para os dois companheiros que permaneciam calados.

- Cícero Calvo?

Pompeu e Alípio não comentaram nada. Pompeu se limitou a erguer os ombros.

Catulo voltou a encarar Graco.

- É a sua palavra definitiva?

- Sim.

- Está certo, então. Falaremos com Cícero.

- Obrigado por pensar em minha pessoa. Disse Graco e despediu-se dos três oficiais.

Quando eles saíram, o centurião Túlio Gaius, ajudante de ordens e amigo de Graco desde a adolescência, entrou na tenda.

- Pelo que vi no semblante daqueles três, não aceitastes a proposta!...

Disse ele observando Graco.

- O que eu quero é descansar, meu amigo! Sele nossos cavalos, nós vamos a Túsculo visitar meu pai.

Túlio ficou indeciso.

- A Túsculo? Agora?

- Sim. Rápido, quero partir antes que escureça.

Túlio ia dizer mais alguma coisa, mas mudou de idéia e saiu para cumprir a ordem. Cerca de meia hora depois os dois partiram. Quando escureceu, Graco resolveu acampar ao abrigo de uma arvore frondosa à beira de um regato. Quando desceu do cavalo, soltou um gemido e levou a mão ao flanco direito.

- O que foi? Perguntou Túlio e só então ele percebeu a mancha escura na túnica do general. Largou as rédeas da sua montaria e foi ajudar Graco.

- Você foi ferido em combate e não disse nada!

- Era coisa pequena, mas eu acho que agora inflamou. Disse Graco sentando-se no chão e encostando-se ao tronco da arvore. Túlio ajudou-o a despir a túnica.

- Por Júpiter, Vinicius! O cirurgião poderia ter feito um curativo! E agora, o que posso fazer?

- Deve haver alguma erva curativa aí no mato, vá procurar.

Túlio entrou na mata e andou algum tempo entre a folhagem até encontrar ervas adequada que tivessem propriedades curativas. Depois de fazer o curativo em seu chefe, Túlio acendeu uma fogueira e preparou um pão para assar. Comeram o pão com figo seco e beberam água do regato. Graco deitou-se e logo adormeceu. Teve um sono agitado perturbado por pesadelos. Somente depois de algum tempo, quando ele já dormia tranqüilo, é que Túlio dispôs-se a dormir.



Graco acordou na manhã seguinte ainda com dor no ferimento. Túlio fez novo curativo.

- Acho que a espada daquele bárbaro estava embebida em veneno. Disse o general.

- Essa erva não estão fazendo efeito. Afirmou Túlio, apreensivo.

- Horla está muito longe daqui?

- Não. Está muito mais perto que Túsculo. Chegaremos pela tarde...

- Então vamos para lá.

- Ótimo! Talvez encontremos um bom cirurgião na cidade.



Túlio recolheu seus apetrechos, canecas, facas, o embornal, as mantas, encilhou os animais e depois ajudou Graco a montar.

- Lembra-se de Lídia Agripa? Depois que o pai morreu, ela foi morar com um parente.

- Sim, lembro. Respondeu Túlio. Vocês se tornaram inimigos.

Túlio montou e os dois reiniciaram a viagem.

- Me senti ofendido por ela ter falado inverdades sobre meu caráter. Disse Graco.

- Fiquei sabendo que vocês dois deixaram de serem amigos...

- Conheci Lídia há cerca de oito anos na Praça do Coliseu. Lembro-me como se fosse ontem, alguém nos apresentou, acho que foi Aellus. Eu ainda era centurião.

Graco fez uma pausa com ar pensativo, inclinando-se, apoiou-se na sela. As montarias seguiam a passo lento atravessando um campo em direção a estrada.

- Foi no começo das festas de setembro, o dia estava agradável e como eu estava de folga, fui dar um passeio com Mario Lupo. A praça estava movimentada, cheia de gente. Encontramos Aellus conversando com uma bela jovem. Era Lídia filha do falecido tribuno Otavio Agripa. Ela liderava um grupo de jovens simpatizantes dos cristãos que pressionavam os pretores e ao próprio imperador, pedindo liberdade de culto aos cristãos. Aellus é claro, concordava com essa idéia e até aquele dia eu ignorava isso, e tampouco sabia das atividades de Lídia. Depois que nos apresentou, Aellus se retirou em companhia de Mario. Fiquei conversando por longo tempo com Lídia, falando sobre as festas e sobre nós mesmos. Simpatizamo-nos um com o outro e tudo levava a crer que iniciaríamos um romance. Mas, na semana seguinte recebi ordens para debelar um grupo de manifestantes que estava obstruindo a entrada do senado. Fiquei surpreso ao descobrir que Lídia estava entre os manifestantes. Tirei-a dali e levei-a para um lugar reservado onde pudesse conversar com calma. Foi pela atitude de arrogância e de rebeldia dela e por não concordar com suas idéias é que, o que poderia ser uma bela amizade se tornou em antipatia e aversão. Se por acaso a gente se encontrava, sempre acabávamos discutindo.

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Adriana estava na cozinha, fazendo o almoço e pela janela avistou Lídia sentada na varanda, pensativa. No pátio, Tíbulo e dois de seus servos construíam um novo curral. Adriana saiu e foi sentar-se ao lado da sobrinha.

- Tenho notado que desde ontem estás pensativa, preocupada com alguma coisa. O que acontece? Sentes falta de teu pai? Com saudades de Roma?

- Não, não é isso.

Lídia suspirou, olhando a paisagem. No campo pastavam rebanhos de carneiros. Para além do cercado em frente à propriedade passava a estrada, contornando o bosque e seguindo até a cidade atrás dos montes verdejantes.

- O que é então?

- Sonhei com Graco ontem e a imagem dele não me sai do pensamento.

- Graco Vinicius?

- Já faz cinco anos que não o vejo e não sei por que ele me aparece em sonhos, e agora não me sai do pensamento!...

- Acha que ele pode aparecer para te prejudicar mais ainda? Inquiriu Adriana. Lídia respondeu num tom melancólico:

- Não sei minha tia. Não tenho mais nada que ele me possa tirar!

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Os dois viajantes pararam na margem da estrada para que os cavalos pudessem descansar e pastar. Túlio foi até um regato e encheu uma bilha com água. Deu de beber a Graco e sentou-se ao lado dele.

- Logo chegaremos a Horla. Disse.

- Quando chegarmos lá, pergunte a alguém onde mora Tíbulo Tarquínio. Pediu Graco recostado no tronco seco de uma arvore caída.

- É parente seu?

- Não, Tíbulo é tio de Lídia.

- E nós vamos a casa dele?

- Exato.

- Acha que é uma boa idéia? O tio de Lídia poderá não recebê-lo. Pelo que sei você se tornou inimigo deles...

- Vou lhe contar o que fiz e verás que eu agi corretamente. Graco fez uma pausa, ajeitou-se e falou pausadamente. - O pai de Lídia tomou dinheiro emprestado de um onzenário e deu como garantia a sua casa. Como ele não conseguiu pagar, o agiota estava disposto a tomar a propriedade. Sem que Lídia e o pai soubessem, paguei a divida e recebi em troca o título que Otavio Agripa havia assinado. De posse do título, me tornei proprietário da casa. Minha intenção, claro, era devolver a propriedade a Otavio. Ao saber que eu estava de posse do título, Lídia ficou furiosa e quando me encontrou não me deu chances de explicar, foi logo me insultando. Perdi a paciência e resolvi ficar com o documento. No dia seguinte mudei de idéia e fui procurá-la, mas fiquei sabendo que ela deixou Roma. Alguns dias depois recebi a notícia de que Otavio Agripa havia falecido. Daí então, tive a certeza de que Lídia nunca poderia me perdoar.

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- Não conheço Graco Vinicius. Disse Adriana. ? Mas pelo que ele fez a teu pai e a ti, mostra que é um homem de mau caráter!

- Realmente, Graco agiu de má fé. É um bruto, valentão, grosseiro. Para ele as mulheres são seres inferiores, que não tem aptidão para tomar decisões próprias, não tem direito de participar da política, nem exercer cargo publico!

- Ele te falou isso?

- Não, mas ficou furioso quando soube que eu fazia manifestações a favor do culto cristão.

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Túlio começou a selar os cavalos enquanto Graco permanecia sentado, pensativo.

- Se você tem certeza de que a moça não vai perdoá-lo, por que vai lá? Perguntou Túlio.

Graco apoiou-se no tronco da arvore e ergueu-se. O ferimento tinha parado de sangrar e a dor diminuiu.

- Eu tinha uma dívida moral com o pai dela. Foi através do apoio de Otavio que consegui o comando da legião Dourada. A forma que achei para pagar esse débito foi quitar a dívida dele. Vou dizer isso para Lídia, se ela não acreditar, paciência.

Túlio ajudou o general a montar.

- Não entendo por que só agora você resolveu fazer isso.

- Também não sei meu amigo.

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- Acho que você deve se distrair com alguma coisa. Disse Adriana. - Não quer sair um pouco? Porque não vais visitar tua prima?

- Prefiro ficar em casa. Vou trabalhar no tear...

- Está bem.

Num gesto de carinho, Adriana passou a mão pelos cabelos de Lídia e entrou na cozinha. Lídia permaneceu sentada no mesmo lugar olhando para a estrada e dali a instantes avistou dois cavaleiros surgirem na curva do caminho.

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- Aquela é a quinta de Tíbulo Tarquínio. Disse Túlio para Graco. - Tem certeza de quer ir lá?

- Sim. Preciso ver Lídia.

- Para que? Vocês se detestam!...

- Tenho um peso na consciência, Túlio!

Os dois cavaleiros conduziram as montarias pela trilha que levava a morada de Tíbulo Tarquínio. Tíbulo, que havia avistado os visitantes, dirigiu-se para a varanda e postou-se ao lado da sobrinha. Ao reconhecer Graco, Lídia ergueu-se.

- Conhece aqueles dois? Perguntou o tio.

- O general romano é Graco Vinicius. Respondeu a moça com uma expressão de surpresa no belo rosto.

- O que será que ele quer?

Graco desceu do cavalo e deu as rédeas para Túlio segurar. Com uma mão na ilharga e uma expressão de sofrimento, dirigiu-se para a varanda. Estava subindo a escada quando parou, inclinando-se, retrocedeu deu meia volta e caiu sentado no chão. Túlio saltou do cavalo e correu para ajudá-lo.

- Ele esta ferido! Exclamou. Tíbulo desceu para ajudar. Os dois homens carregaram Graco para dentro da casa e o ajudaram a deitar-se num divã. Túlio despiu a túnica e a camisa de Graco e examinou o ferimento.

- A ferida está inflamada!

- Como isso aconteceu? Perguntou Tíbulo.

- Aconteceu em combate com os bárbaros. Disse Túlio colocando a mão na testa de Graco.

- Ele está com febre. Eu ia levá-lo a um cirurgião na cidade, mas Graco insistiu em vir para cá...

- Faça um emplastro com malva, figos e óleo. Pediu Tíbulo para Adriana que observava Graco com uma expressão inquiridora.

- Deixe que eu faça isso. Disse Lídia e se retirou em seguida.

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Quando Graco despertou, estranhou o lugar onde estava. Não era a sua tenda, tampouco o seu dormitório em sua casa em Roma. Ao fazer um movimento para erguer-se, sentiu uma dor do lado direito e foi então que se lembrou do ferimento e da sua chegada a casa de Tíbulo Tarquínio. Com cuidado sentou-se na beira do leito, pegou a túnica que estava sobre uma cadeira e vestiu-a. Saindo do dormitório encontrou Adriana e Lídia na cozinha, olhando apreensivas para fora através da janela.

- O que está acontecendo? Perguntou. As duas mulheres olharam para ele.

- Foi para isso que o senhor veio para cá? Perguntou Adriana num tom seco. Sem esperar resposta ela se retirou a passos largos. Estacou, voltou-se e pegou Lídia pelo braço.

- Quero falar com ele, minha tia. Disse a moça. A contragosto, Adriana se retirou.

- Há quanto tempo estou aqui? Perguntou Graco. Com uma expressão impassível Lídia respondeu:

- Há quatro dias. Você poderia ter morrido se não fossem os nossos cuidados.

Na rua soaram relinchos de cavalos e vozes.

- O que está acontecendo lá fora? Perguntou Graco e foi olhar para o pátio. Em frente e ao redor da casa havia soldados romanos, alguns montados em seus cavalos, outros de pé aguardando ordens. O comandante conversava com Tíbulo. Graco reconheceu-o, era Marco Probo, comandante da legião Falcon. Tíbulo falava fazendo gestos largos e parecia nervoso. Graco voltou-se para Lídia.

- Onde está Túlio?

- Partiu há dois dias para Roma.

- O que esses soldados estão fazendo aqui?

- Tomar posse de nossas terras. Não foi para isso que o senhor veio? Depois de tudo que fizemos pelo senhor? Disse Lídia com uma expressão de desprezo e deu meia volta para retirar-se, mas Graco segurou-a pelo braço.

- Por Júpiter! Não sei o que está acontecendo! Não sei o que Marco Probo quer, mas vou procurar saber.

Graco saiu para o pátio e Lídia permaneceu na porta ao lado da tia. Graco aproximou-se de Probo, que discutia com Tíbulo. Ao ver Graco, o general suavizou a expressão esboçando um sorriso.

- Salve Graco Vinicius! É uma coincidência encontrá-lo aqui! Eu ia mandar um mensageiro procurá-lo em seu acampamento em Gália. Pretendo ser o novo governador de Roma. Tenho o apoio de Silas e espero também o seu apoio.

Graco olhou ao redor. Viu soldados cansados, desanimados. Talvez nem todos concordassem com as idéias de Marco Probo.

- E, o que estão fazendo aqui?

- Precisamos de comida e água e estas terras é um bom lugar para acamparmos. Silas virá ao nosso encontro. Combateremos Carino e eu tomarei o poder. Então, o que me diz?

Graco ficou algum tempo em silêncio, pensativo. Certamente Catulo lutaria com Marco Probo pelo poder. Haveria uma rebelião entre as legiões. Talvez uma guerra civil. A não ser que Constancio Cloro e Galério agissem com diplomacia e bom senso, que tomassem decisões que contentasse a todos.

- Eu não vou apoiar ninguém. Respondeu Graco.

- Por quê? Pretende disputar o trono também?

- Claro que não! Pretendo deixar o exército. Quero voltar para casa e descansar.

Marco Probo soltou uma risada e depois se calou, olhando sério para Graco.

- Se unir-se a nós prometo que o nomearei governador de alguma província, onde quiserdes e lhe concederei outros privilégios, palavra de honra!

- Não, Marco Probo! Já estou decidido. Se o senhor quer lutar contra os romanos para tomar o trono do império, lute, mas não conte comigo! E por favor, saia dessas terras, elas têm dono!

O rosto do general ficou vermelho, deu um passo para trás e segurou o cabo da espada. Graco permaneceu impassível.

- Vais atacar um homem desarmado? O que estarão pensando seus soldados?

Marco Probo olhou ao redor e percebeu que seus homens estavam atentos à discussão. Sabia que muitos deles já estiveram sob o comando de Graco e o estimavam. Resolveu agir com prudência. Graco decidiu tomar uma decisão para acabar com aquele impasse.

- Estou disposto a defender esta propriedade e estas pessoas, nem que para isso eu precise lutar com o senhor! Só nos dois.

- Porque isso? Achais que pode me vencer? Não sejas tolo! Una-se a mim e tomaremos o trono!

- Não vou me unir a uma pessoa que não respeita os direitos alheios, e que já matou velhos e crianças!

Marco probo bufou e gesticulou, gritando:

- Pegue uma espada, traidor! Alguém dê uma espada a ele!

Graco voltou-se para Tíbulo que assistia a discussão.

- Por favor, traga minha espada.

- Senhores isso não é necessário! Exclamou Tíbulo.

- Faça o que estou pedindo. Retrucou Graco. - Essa luta já era para acontecer a mais tempo...

O homem saiu correndo, entrou no quarto e retornou com a espada. Adriana o deteve.

- O que está acontecendo?

- Graco vai lutar contra o general, para defender nossa propriedade!

- A ferida pode se abrir, meu Tio! Exclamou Lídia. - Ele ainda está fraco! Porque está fazendo isso?

- Deve ter se arrependido dos males que te fez. Afirmou Adriana.

- Se eu tivesse condições, enfrentaria esse general Probo. Disse Tíbulo, olhando para a espada em sua mão. - De qualquer maneira, aqueles dois têm antigas contas a ajustar. Não posso fazer nada para detê-los!

Tíbulo saiu para o pátio e Lídia ficou aflita ao lado da tia, observando os acontecimentos. Graco tomou a espada e os dois generais se enfrentaram, cada um estudando o movimento do outro. Marco Probo atacou com vigor, desferindo golpes seguidos que Graco repeliu com facilidade. Afastando a lamina mortal, Graco tentou atingir o seu oponente que também aparou os golpes com a espada. Marco Probo fez nova investida, Graco recuou e chocou-se contra a cerca do curral. Com uma expressão de dor, deu um passo para o lado e se manteve fora do alcance da espada de Marco Probo. Novamente os dois lutadores trocaram golpes sem, no entanto, atingir o seu adversário, e se afastaram um do outro, estudando uma nova investida. Os soldados assistiam a luta em silencio. Apesar das desavenças com Graco, Lídia temia pela vida dele. Graco levou a mão ao lado do corpo, onde uma mancha vermelha surgira na túnica. A ferida havia se aberto. Ao ver o sangue na roupa de Graco, Marco Probo sorriu satisfeito e com novo ânimo, atacou. Desferiu um golpe de cima para baixo, mas Graco desviou-se e atingiu a perna dele. O general soltou um grito de dor, com um corte profundo na coxa. Com a perna ferida ele perdia a agilidade e quase não podia permanecer em pé. Baixou a guarda e foi nesse instante que Graco desarmou-o com um golpe de espada. Apavorado, o general gritou para seus soldados:

- Matem-no! Matem Graco Vinicius!

Porém, nenhum homem se moveu, se limitaram a olhar para o seu comandante com desprezo. Naquele instante uma tropa de soldados com o emblema da guarda pretoriana de Roma surgiu na estrada e irrompeu no pátio. Túlio Gaius estacou a montaria, pulou para o chão e gritou:

- Prendam o general Marco Probo!

Dois soldados agarraram o general pelos braços e Túlio aproximou-se dele, encarando-o.

- General Marco Probo, o senhor está preso por desobedecer às ordens superiores, assassinato e traição. Será levado para Roma e julgado por ordem do novo imperador do estado Romano, general Constantino nomeado pelo senado. Túlio fez uma pausa e falou aos soldados:

- Peguem suas armas e tendas, montem em seus cavalos e retornem aos vossos lares até nova convocação.

Túlio mandou um cirurgião tratar do ferimento do general e dirigiu-se até onde estava Graco, escorado na cerca do curral.

- Até pensei que tinhas me abandonado! Disse Graco em tom de brincadeira. Túlio sorriu.

- Assim você me ofende! Como está a ferida?

- Parece que abriu, mas não se preocupe, deixe o cirurgião tratar primeiro de Marco Probo, ele está pior do eu.

Tíbulo aproximou-se e convidou os dois homens a entrarem em sua casa. Lídia esperava Graco na varanda, agora um pouco mais aliviada por vê-lo salvo da espada de Marco Probo. Graco sentou-se no divã e despiu a túnica. O choque com a cerca havia aberto a ferida. Lídia fez novo curativo.

- O senhor foi imprudente, lutar nessas condições. Disse Adriana. - Não entendo porque se arriscou morrer para nos defender!

- Tia, deixe esse assunto de lado! Pediu Lídia.

- Não! Eu preciso compreender! Insistiu a mulher. - Afinal de contas, vocês dois eram inimigos! Mas, agora eu vejo o general lutar para te proteger e você trata o ferimento dele!... Resolveram serem amigos, ou isso é apenas uma trégua?

- Eu também quero entender o que está acontecendo. Disse Túlio em tom amistoso.

Graco falou, olhando para Lídia.

- Eu lhes devia isso. Principalmente a Lídia. Quero que me perdoe por tudo que aconteceu. Com relação à casa de teu pai, eu tentei explicar em outra ocasião, mas não tive oportunidade. Na realidade, comprei o titulo que Otavio havia assinado com o agiota com a intenção de devolver a propriedade a vocês. Acreditem ou não, essa é a verdade.

- Porque não me disse isso antes? Perguntou Lídia.

- Eu tentei, mas estavas muito nervosa e não quis me ouvir, lembra?

A moça sacudiu a cabeça em silencio. Acabou de fazer o curativo e sentou-se numa cadeira. Tíbulo tocou o braço de Túlio.

- Vamos para a cozinha. Acho que esses dois ainda têm muito que conversar.

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Graco agradeceu a Tíbulo pela hospedagem e despediu-se, apertando-lhe a mão. Na varanda da casa, Lídia o observava junto com Adriana. Graco acenou para elas e montou em seu cavalo. Lídia correu até ele.

- Graco!

- Eu o convidei para passar uns dias conosco. Disse Tíbulo.

- Tenho que ir a Roma pedir dispensa do exercito. Explicou Graco. - Pretendo me dedicar a outros afazeres. Tíbulo me ofereceu trabalho em sua quinta. Vou pensar no assunto e voltarei para dar uma resposta.

- Nós vamos esperá-lo. Respondeu Tíbulo.

Graco acenou com a mão e partiu.

- Você gosta dele não é? Perguntou o tio para Lídia.

- Já não sinto aquela antipatia, aquele desprezo por Graco, mas não sei se o amo.

- Talvez ele pense da mesma forma. Mas, vocês vão descobrir a verdade...

Antes de sumir na curva do caminho, Graco acenou para ela e Lídia respondeu com outro aceno.

FIM

ANTONIO STEGUES BATISTA
Autor: Antonio Stegues Batista


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