De Bolívar a Sandino: a América Latina descrita por Maria Lígia Prado



PRADO, Maria Lígia. América Latina: Tradição e Crítica. In: Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH. V.1, n.2, set. 1981.
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Maria Lígia Prado faz no artigo América Latina Tradição e Crítica, uma exposição de fatores e pensamentos que procuram identificar os rumos da América Latina através de suas raízes históricas desde a independência política, passando pelos ideais bolivarianos até chegas à revolução cubana e o sandinismo nicaraguense no século XX.

Mestre e Doutora em história Social pela Universidade de São Paulo, Maria Lígia Prado é professora de História da América independente pela mesma Universidade de São Paulo. Com diversas obras publicadas sobre a História da América, Maria Lígia Prado atua como coordenadora do Projeto Temático/FAPESP: Cultura e Política nas Américas: Circulação de Idéias e Configuração de Identidades (séculos XIX e XX).

São apresentadas duas perspectivas sobre a América: uma expressa o pensamento do colonizador e outra - até certo ponto utópica - defende uma América unida e forte sem influencias tanto européias, quanto de seu vizinho rico do norte os EUA.

Simon Bolívar aparece no artigo como o primeiro idealizador político da América Latina e que queria da América algo novo, algo original, livre das amarras européias e do pensamento imperialista em construção nos Estados Unidos. Bolívar, após sofrer atentados e perder seu grande amigo Sucre, tergiversa à suas convicções anteriores e exibe um tom desesperançoso e conformista com o destino da América Latina. Segundo Maria Lígia Prado Bolívar "[...] jamais conseguiu entender a realidade concreta da América, vivendo-a sempre através de sua idealização [...]" (p. 168).

O caudilhismo é citado erroneamente como uma causa preponderante da anarquia Latino- americana e é tido como consequencia da imaturidade política da América latina. É a visão do colonizador, onde a América, enquanto colônia era "civilizada" e após a emancipação política voltou ao seu estado de "primitivismo" e "selvageria". Para o colonizador o colonizado livre não tem história.

È citada também uma visão que descamba para o anti-semitismo ao dizer que a América latina vive no atraso por permitir entre o seu povo índios e negros ao contrário da América Anglo-saxônica que via o indígena como um povo inferior. O modelo norte americano é apontado como um modelo ideal e a grande meta é ser cópia dos Estados Unidos.

No Brasil ainda há quem defenda a idéia de que a colonização portuguesa foi o grande fator de atraso para o desenvolvimento do país. Há também quem levante a hipótese que se fossemos colonizados pelos ingleses estaríamos no mesmo patamar das ex colônias inglesas na África. São duas versões ancoradas em hipóteses e em História não se trabalha com o "se".

Francisco Bilbao retoma os ideias bolivarianos e busca soluções para a América Latina, sem que a mesma seja uma "sucursal" de seu vizinho rico- os EUA - e busque na diferença o triunfo. Valorizamos e acolhemos em nosso povo os indígenas, pensamos no coletivo em detrimento do individual, queremos formar um povo e não somente um Estado.
Bilbao busca dentro das especificidades culturais e na capacidade realizadora - ou idealizadora - do sul-americano o fator que fará da América Latina, una e forte, uma potência que faça frente aos seus vizinhos do Norte, mais especificamente os EUA e aos europeus, sobretudo França e Inglaterra.

Não precisa a América Latina, de modelos, de espelhos e sim sem buscar ter outra face conseguir impor-se usando a sua própria face. É uma visão utópica e que despreza discrepâncias internas, mas que mesmo assim traz um frescor de liberdade e independência moral e política. Bilbao construiu suas idéias quando o avanço do império Norte Americano ainda começava e as relações eram outras.

Maria Lígia Prado termina discorrendo sobre a dominação imperialista dos EUA, sem citar os golpes de Estado que - apoiados direta ou indiretamente pelos EUA - implantaram ditaduras de extrema direita que favoreceram amplamente o domínio imperialista Yankee na América Latina. Com exceção de Cuba e uma tentativa de resistência sandinista na Nicarágua.

No artigo escrito por Maria Lígia Prado são descritos problemas e suas discutíveis causas e são também descritas tentativas de soluções para a América Latina. Ao longo desses séculos de independência muito foi escrito, muita idéias caíram por terra, outra continuam erguidas como bandeira. Muito da utopia e da "inocência" latino americana foi ferido pelo imperialismo dos EUA.
A apresentação clara de duas vertentes de pensamento sobre a América Latina, seu passado, seu presente e sua perspectiva para o futuro se faz de maneira clara e concisa neste texto que deixa um legado que muito ainda há para ser estudado e revisto sobre a América Latina e, como buscou Maria Lígia Prado, traduzido sobre nossa Latino América.
Autor: Cláudio Rogério Abrita Gonçalves


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