Internacionalidade: Quando a Bola é o Passaporte



Isto é uma das coisas que me pergunto ao ver a Copa do Mundo de 2010 na África. É fato que os jogadores que trocam sua nacionalidade - em sua grande maioria - são atletas que foram para estes países quando muito jovens em busca do reconhecimento profissional almejado, traduzido em novos horizontes e independência financeira para eles e suas famílias. Na outra ponta, levando em conta o desejo dos atletas de alcançar uma vida melhor, estão ? claro - os diversos países com indiscutível poderio econômico e interesse em "turbinar" seus plantéis. É quando os olheiros de plantão - ávidos por revelar e faturar em cima do passe de novos talentos - assediam os jovens jogadores crescidos nos campinhos de várzea brasileiros e os catapultam de forma quase meteórica para um outro patamar de vida, fazendo deles profissionais de ponta, não só do ponto de vista financeiro, como também no âmbito da preparação física.. Com a conta bancária bem abastecida, eles se transferem e jogam nos campeonatos regionais dos países que os receberam e, assim que constatado a habilidade futebolística desses jogadores, é oferecido a eles uma grande quantia para que se nacionalizem e defendam a seleção daquele país. A FIFA, de olho nos altos índices de transferências de jovens jogadores para outros países, até que tenta impedir, criando regras para competições internacionais. Uma delas proíbe que jogadores que já disputaram qualquer tipo de competição internacional por um país, qualquer que seja a categoria, vistam camisas de outras seleções. Mas essa prática não tem surtido muitos resultados, visto que - para burlar a determinação ? cada vez mais os times tem buscado jovens com idade abaixo do mínimo determinado para competições internacionais. Estas "desnacionalizações" de jogadores têm simpatizantes e detratores, movidos por diferentes pontos de vista. Em sua maioria, as pessoas que defendem a troca de nacionalidade são de países com baixa qualidade futebolística, sem expressão em campeonatos internacionais e que justificam a "exportação" de seus atletas com o consequente aumento do nível técnico dos jogadores de seu país. Do outro lado ? no qual me incluo - estão os que não entendem o sentido e não concordam com essas trocas de nacionalidades. Como explicar um país com larga tradição em Copas do Mundo - como a Alemanha ? ter a necessidade de ter o brasileiro Cacau e os poloneses Miroslav Klose e Podolsk em sua seleção? O que piora a situação é que ? no caso citado - a própria Alemanha facilita isso. Para ter direito a dupla nacionalidade, basta que o jogador atue no campeonato nacional por um período de 30 dias. Apenas 30 dias. Talvez isso seja efeito colateral do que o futebol tenha se tornado: uma empresa, onde é visado apenas o lucro, não importando o nacionalismo ou as consequências dessas atitudes. Tal procedimento ? na minha opinião ? acaba sendo um abuso por parte dos países que atraem esses jogadores e ferindo profundamente os apaixonados pela arte do futebol. A continuar assim, em pouco veremos levantar a taça de campeão do mundo, não o país com a melhor "escola de bola", e sim aquele que tiver o cofre mais gordo. Não me espantaria se - algum dia, em alguma Copa - seleções de outros países fossem compostas por 70%, 80% - ou até mais - de jogadores brasileiros. Já que somos o país que mais exporta jogadores. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, entre 2002 e 2005, 659 jogadores brasileiros foram negociados com times do exterior. Isto não teria o menor problema se muitos destes 659 jogadores não acabassem defendendo outras seleções. Porém, deixo claro que: não sou contra esses jogadores irem buscar lá fora quantias que, para nossa realidade, ficam apenas em sonho. Ainda no terreno dos críticos, a principal bandeira que carregam é que essas trocas de nacionalidades traduzem absoluta falta de nacionalismo. Sem dúvida quem mais perde com isso são os países de origem dos jogadores, que perdem ótimos jogadores como Deco e Pepe (brasileiros que jogam pela seleção de Portugal). Não posso deixar de citar jogadores que tiveram atitudes opostas a da maioria dos jogadores, como é o caso do argentino Messi. Com problemas em sua estrutura óssea, o atleta não conseguiu auxílio de nenhum clube em seu país, mesmo tendo se destacado ? ainda bem novo - pela excelente qualidade técnica. Sem ajuda em sua terra natal, aos 13 anos, o - hoje - craque portenho transferiu-se para o clube espanhol Barcelona, que propiciou o tratamento que ele necessitava. Em função disso, Messi nunca jogou em seu próprio país. A Espanha tentou naturalizá-lo inúmeras vezes, mas, nacionalista que é (assim como a maioria dos argentinos), Messi não aceitou e preferiu defender sua pátria (por mais que "goremos" nossos "hermanos", tenho de admitir que nunca ouvi alguma história parecida com protagonista brasileiro). Mas é interessante refletirmos sobre o fato de que, no Brasil, existem aproximadamente 60 milhões de jogadores e apenas 11 vagas na Seleção. Então eu lhe pergunto: até onde vale a pena nossos jogadores sonharem com uma vaga em seleções de alto nível como é a do Brasil, mas acabarem cedendo para jogar por outro país? Resultados dos jogos da Copa
Autor: Leandro Akamine


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