REFLEXÕES ACERCA DAS INFLUÊNCIAS DE ESTRUTURAS LINGÜÍSTICAS DA INTERNET NO COTIDIANO ESCOLAR.



1. INTRODUÇÃO
Diante um encontro informal de acadêmicos do sétimo período de letras de uma Faculdade do interior do Maranhão, uma aluna preocupada com o procedimento de delimitação de seu tema de projeto de pesquisa perguntou o que eu achava sobre a influência da escrita da internet no cotidiano escolar. O objetivo com a pergunta era delimitar um possível título para ser trabalhado numa futura monografia de conclusão de curso, visando abordar a influência do chamado e popularizado "internautes", uma estrutura lingüística caracterizada por abreviações e códigos usados frequentemente em diversas ferramentas de comunicação virtual, principalmente de relacionamento na internet, e que reaparece com certa periodicidade nas atividades escolares, principalmente de alunos do ensino fundamental de uma determinada escola da cidade, onde a aluna pretendia aplicar suas pesquisas empíricas.
Aparentemente simples, a pergunta chegou com certa surpresa. Embora tenha presenciado muitas opiniões e discussões sobre essa temática, jamais posicionei através de um trabalho sobre o assunto, mesmo pesquisando e lecionando a mais de cinco anos com disciplinas ligadas diretamente com a área das tecnologias educacionais.
Por algum tempo, compartilhei das idéias de alguns educadores e intelectuais que colocavam como abomináveis a influência dessas estruturas lingüísticas, demonizando a internet e sua capacidade de analfabetizar o aluno que utiliza constantemente essas ferramentas virtuais de comunicação. Esse período fez lembrar Lévy (1999) quando dizia que em muitos textos, artigos e colóquios, apresentavam coincidentemente uma metáfora bélica, criticável em vários os sentido quando estes faziam uma representação dos fenômenos oriundos das tecnologias como algo comparável a um projétil, e a cultura ou a sociedade um alvo vivo.
Hoje, após o enfraquecimento da fase de estranhamento tecnológico sustentado por diversas correntes apocalípticas, a internet superou o papel de condicionante da evolução tecnológica promovedora da remodelação das organizações sociais para protagonizar uma influência vital em todos os ramos da sociedade. Essa condição impôs a educação uma aliança com essa tecnologia, no intuito de promover parcerias significativas no desenvolvimento de uma aprendizagem eficaz na formação de futuros profissionais alinhados a esse novo contexto social, a sociedade da informação.
Contudo, a presença e a importância das tecnologias no cotidiano da sociedade e principalmente no contexto escolar são focos amplos de discussão, e alguns casos, geram muitas polêmicas. Não poderia ser diferente em relação ao uso de termos oriundos de abreviaturas e códigos usados em sites, blog, chats e ferramentas de relacionamentos da internet. O problema decorre das influências dessa escrita no âmbito da escola, causando preocupações num processo de formação comprometido com o aprendizado correto da estrutura lingüística oficialmente estabelecida. Tais termos são presenciados em simples textos, redações e até em avaliações causando certo frisson nos professores, especialmente aqueles do ensino fundamental.
Diante a situação observa-se uma ambigüidade. De um lado, aceitar pura e simples a transcendência de termos específicos da linguagem virtual para o habitual escolar aparenta ser incoerente já que a instituição real e presencial propõe estudar formas consideradas tradicionalmente corretas da língua. Essa presença, de certo ponto, ameaçadora, pode comprometer a formação do aluno. Por outro lado, a escola depara-se com uma escrita pertencente a uma cultura, erguida pela chamada sociedade da informação, onde Lévy (1999) afirma suas origens pelas inovações tecnológicas que a cada ano, vem se proliferando pelo mundo cibernético da internet. A cibercultura.
Assim, a proposta deste estudo está condicionada a uma análise explicativa e reflexiva de fatores determinantes para a ocorrência de termos lingüísticos característicos da internet no contexto escolar, visando proporcionar algumas reflexões sobre o assunto, na tentativa de compreender suas origens e problemas ocasionados pela influência dessa escrita, e se consequentemente, compromete a formação do aluno

2 A ORIGEM, INFLUÊNCIA E A ESCOLA

O final do século XX ficou marcado pela aceleração do processo de globalização, derrubando fronteiras nos vários campos do universo do conhecimento cultural, social e histórico. Castells (1999) lembra que tais condições consolidaram uma nova estrutura de organização social, que já vinha sendo idealizada desde os anos 70, a denominada Sociedade da Informação. Entre as várias características e tendências, pode-se destacar nesta análise como essencial dessa sociedade a difusão rápida, compartilhada e dinâmica das informações.
Evidentemente, as redes de informações protagonizaram um suporte necessário para o surgimento e desenvolvimento das fundamentais características que moldam a sociedade da informação e com isso, estabeleceram um meio repleto de práticas culturais na qual todos aqueles inseridos, desfrutam de uma comunicação livre e aberta, desprovida de regras e limites. Essa liberdade cultural na virtualidade é visto por Lévy (1999) como elemento constituinte da chamada Cibercultura quando o define como um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e de suas memórias.
Desta forma, as estruturas lingüísticas no contexto tecnológico também assumem a função cultural de ação e interação humana, impulsionado pelo interesse de organização de modelos próprios ao fazer o discursivo e pela natureza dinâmica dos meios comunicativos da internet. Mas estas condições geram uma constante transformação, passível de incorporar variações em um sistema considerado padrão, pois como lembra Lévy (1999, p.13) "[...] todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata"
O avanço da tecnologia permitiu não só a ampliação, mas a padronização do léxico, ou seja, de um acervo de palavras de um determinado idioma nesse contexto virtual. Inicialmente, esse acervo passou a ter características monossêmicas quando os termos passaram a ter um sentido único, fechado, muito técnico para compreensão do grande público. Mas as propriedades polissêmicas do léxico da língua geral aliada às tendências monossêmicas da língua específica da internet passaram a exigir uma nova padronização, um padrão alternativo de uso em decorrência da necessidade de uma linguagem mais social e técnica, e assim constituir trocas culturais mais abertas e dinâmicas. Cabré (1993) chega a fazer uma afirmação interessante sobre a existência dessa nova padronização do mundo virtual quando diz que o código que os unifica é a língua comum, enquanto que os diversifica é o da língua especializada, e ambos os códigos se encontram em relação de interseção.
Assim, o léxico de uma determinada língua, tanto no real quanto no virtual, está constantemente se expandindo. Tal expansão decorre por meio da neologia que é o processo de criação de novas palavras de acordo com regras de produção existentes no sistema lexical, sobretudo, em virtude de uma necessidade de comunicação para um novo contexto social. Diferentemente da língua comum, os neologismos que ocorrem na escrita da internet segundo Alves (1998, p.25) "[...] resultam de uma criação motivada, ditada pela necessidade de denominação inerente ao desenvolvimento das ciências e das técnicas". Com isso, pode-se explicar a existência na internet de textos com a presença de termos oriundos de um fenômeno de fusão da língua real com as línguas técnicas do ambiente virtual.
Perante esta análise preliminar, identificam-se nessas relações fatores importantes para a origem dessa revalorização e recriação da linguagem escrita no meio virtual, descompromissado com a língua geral e a priori, pertencente ao mundo da internet, justificando num primeiro momento, o aparecimento das trocas de letras, expressões exageradas, palavras abreviadas, ausência de pontuação e acentuação, criação de novos termos, uso exagerado de símbolos, ícones e outros elementos.
Por outro lado, deve-se levar em conta que estamos diante a era da comunicação virtual, e em especial os jovens e adolescentes, cresceram em companhia do computador e seguiram a passos largos com os avanços do mundo tecnológico. As ferramentas da internet passaram a fazer parte desse cotidiano, se tornando para muitos, um hábito, algo tão comum como é para muitos iniciar o dia lendo o jornal e tomando café ou simplesmente, acompanhando o noticiário pela televisão ou pelo rádio.
Não se pode negar que a era digital conseguiu introduzir o jovem numa rotina, na qual a escrita e a leitura são uma constante, sobretudo em blogs, e-mails, textos de redes sociais e outros na internet. Inevitavelmente, as exposições diárias aliada à agilidade e dinamicidade das relações comunicativas da web proporcionam, dentro desta perspectiva, a criação dessas conjunturas lingüísticas.
Uma delas pode ser verificada através do processo de oralização da escrita, onde os textos virtuais em sites de relacionamento apresentam elementos característicos da língua falada. Isso ocorre pela própria natureza comunicativa nas redes, estabelecidas com alto grau de interação. Os atuais avanços tecnológicos na área da comunicação virtual, conseguem disponibilizar ferramentas capazes de simular uma conversa face a face como uma expressiva realidade.
Outro, bastante simples de constatar, é o uso de expressões de criação lexical originárias da língua inglesa. Muitas intersecções da língua real e técnica provêm grande parte dos entrelaçamentos da língua portuguesa, que são recheados de termos importados do inglês com adaptações ou até mesmo, com a forma original.
Além disso, não se podem menosprezar as variantes lingüísticas. O Brasil possui dimensões continentais com grande diversidade cultural, acarretando uma exposição significativa de formas lingüísticas essencialmente regionais, que refletem uma cultura regionalizada, além de dialetos específicos que podem surgir através de uma simples conversa numa sala virtual de relacionamento.
Mesmo assim, essas estruturas lingüísticas da internet não se consolidam dentro de uma determinada comunidade apenas com esses elementos de criação. Dependem profundamente do processo de aceitação e consequentemente, da vulgarização, da banalização e a chamada popularização dos termos pelos seus membros constituintes. Apesar de esses últimos três processos citados parecerem ter o mesmo significado, aqui são apresentados para destacar os passadouros evolutivos dos termos rumo à consolidação no virtual.
O período que compreende a criação e a difusão não é uma constante, mas isso não contradiz o caráter dinâmico dessa estrutura devido ao seu próprio ambiente onde é originado. Dependem essencialmente da relação de consentimento de uma comunidade virtual presente e ativa, que estabelecem sua utilização a partir de seus objetivos comunicativos, que pode se dá de forma imediata, com certo tempo ou nunca ser usado.
Em caso de sucesso, constituem um acervo de termos globalizados na web, e assim, suas escritas e seus respectivos significados também passam a ser aceitas por aqueles que não participam ativamente dessas comunidades consolidadas, proliferando seu uso em diversos espaços na internet.
Um desses fenômenos da aceitação de termos ocorrida externamente das comunidades virtuais consolidadas pode ser elucidado através da própria pretensão de inclusão nelas e com isso, a possibilidade de compartilhar deste meio de forma social, dinamizando consequentemente, a expansão dessas estruturas lingüísticas. Para participar de determinados grupos, torna-se necessário que o individuo iniciante ao uso das tecnologias da informação compreenda e assimile determinadas tradições e costumes, sendo a escrita uma questão fundamental.
O fenômeno da propagação além das comunidades virtuais está diretamente ligado em ser aceito por elas, e para isso, é preciso desfrutar dos mesmos modos culturais estabelecidos por seus membros. Com o uso diário, os jovens e adolescentes são os mais propícios a se candidatarem a participar dessas comunidades, influenciados constantemente pelas inúmeras formas interativas de comunicação síncrona e assíncrona que a rede disponibiliza.
Diante a este cotidiano contato com as tecnologias aliado a imaturidade da idade verifica-se constantemente a transcendência dessas estruturas virtuais no contexto real, mas de forma fragilizada. É verdadeira a afirmação que existem momentos onde as escritas desenvolvidas na internet transcendem sua atuação na virtualidade e acabam aparecendo no dia a dia, refletidos principalmente na escola.
Em muitos casos, quando o fenômeno ocorre numa instituição educacional, existe uma tendência quase sobrenatural de amplificar o acontecimento, gerando discussões e polêmicas sobre o assunto. Tais situações fazem os educadores envolvidos acreditarem que num futuro próximo, nossa cultura lingüística será dominada ou remodelada, ou mais especificamente, todos passarão a escrever de forma híbrida, uma combinação dúbia de língua geral com a forte influência da língua especifica do virtual, caso a escola aceitar simplesmente o aparecimento e a disseminação de tais códigos do ciberespaço.
Compreende-se a preocupação entorno dessa influência, contudo tal profecia futurista não parece possuir exemplos históricos, conceituais ou concretos ao ponto de criar um assombro, muitas vezes desnecessário, ameaçando a hegemonia da língua oficial.
Historicamente, nos primeiros anos da colonização do território brasileiro, os portugueses utilizavam-se frequentemente das abreviaturas em diversos documentos, e entre os fatores que contribuíram para sua ocorrência estavam: à escassez de recursos como tinta, papeis e plumas em razão da distância intercontinental de Portugal, que gerava um período longo de reabastecimento com produtos manufaturados para a colônia; e a ausência de um sistema ortográfico oficial para língua portuguesa.
Assim, a melhor opção era abreviar as palavras, levando em conta a praticidade do ato frente à escrita de textos produzidos à mão, originando as primeiras estruturas lingüísticas não oficiais no Brasil. Essa prática não acabou com a chegada dos primeiros documentos impressos, muito menos com a chegada da família real que poderia sustentar legalmente a hegemonia da língua oficial. As condições da época aliado aos altos preços dos materiais impressos acabaram perpetuando as abreviaturas na história, dificultando até hoje o trabalho de diversos pesquisadores em decifrar manuscritos antigos.
Para uma melhor compreensão "[...] um exemplo destas dificuldades é a letra "P", que quando grafada isoladamente possui até 50 significados identificados, desde as unidades de medidas, como "pé" e "polegada", até os nomes próprios, como "Paulo" e "Pedro"." Duarte (2010)
Outros exemplos são apresentados no trabalho de Vânia Duarte sobre o uso histórico de abreviaturas como:

X- Essa letra, na sua forma maiúscula, era empregada para designar "Cristo".
7.bro e 8.bro - Essas abreviaturas serviam para grafar os nomes dos meses de setembro e outubro, muito semelhante ao modelo atual encontrado nas salas de bate -papo. Vm - Hoje é muito comum colocar "vc" para abreviar você, e naqueles tempos era para designar "vossa mercê". Onra e Sõra - Abreviaturas de senhora. Hoje, a constante repetição de termos em correspondências oficiais e empresariais é muito usual, como é o caso de Cia., Ltda.(abreviação de Companhia Limitada). Em virtude disso, já existem órgãos responsáveis por padronizar as normas de abreviação para os textos oficiais, que é a ABNT (Associação Brasileira de Normas e Técnicas). (DUARTE, 2010)

Mesmo com a oficialização de algumas abreviaturas, não houve elementos substanciais que comprometessem a hegemonia da língua. Isso pode ser explicado através das reflexões de Saussure (1945) a cerca da língua e da escrita, quando afirma existir uma tradição e prestigio conquistado através de quatro circunstâncias nas relações sociais:

1° En primer lugar, la imagen gráfica de las palabras nos impresiona como un objeto permanente y sólido, más propio que el sonido para constituir la unidad de la lengua a través del tiempo. Ya puede ese vínculo ser todo lo superficial que se quiera y crear una unidad puramente ficticia: siempre será mucho más fácil de comprender que el vínculo natural, el único verdadero, el del sonido. 2° En la mayoría de los individuos las impresiones visuales son más firmes y durables que las acústicas, y por eso se atienen de preferencia a las primeras. La imagen gráfica acaba por imponerse a expensas del sonido. 3° La lengua literaria agranda todavía la importancia inmerecida de la escritura. Tiene sus diccionarios, sus gramáticas; según los libros y con libros es como se enseña en la escuela; la lengua aparece regulada por un código; ahora bien, ese código es a su vez una regla escrita, sometida a un uso riguroso: la ortografía; eso es lo que confiere a la escritura una importancia primordial. Se acaba por olvidar que se aprende a hablar antes que a escribir, y la relación natural queda invertida. 4° Por último, cuando hay desacuerdo entre la lengua y la ortografía, el debate es siempre muy difícil de zanjar para quien no sea lingüista; pero como el lingüista no tiene voz en la disputa, la forma escrita obtiene casi fatalmente el triunfo, porque toda solución que se atenga a ella es más cómoda; la escritura se arroga de esta ventaja una importancia a que no tiene derecho. (SAUSSURE, 1945, p.53)

Perante essas condições, acreditar na fragmentação ou perca da hegemonia da língua e da escrita oficial perante o surgimento de tais abreviaturas tornar-se-ia um equivoco. Seria também um equivoco acreditar que o uso de hábitos dos usuários de internet ao utilizar uma linguagem reduzida para se comunicar em tempo real interfira no desempenho lingüístico quando se trata de textos escritos.
A presença de abreviaturas é comum historicamente a qualquer língua, e os indivíduos de uma determinada comunidade lingüística têm a plena consciência disto, porque sabem distinguir entre a situação contextual em que estão inseridos. Ora, como lembra Duarte (2010) os alunos que conhecem bem o funcionamento da língua (os bons alunos a língua portuguesa) não escrevem nos testes em linguagem virtual porque sabem que serão punidos nas notas. Os que conhecem mal o funcionamento da língua é que escrevem abreviações e outros desvios.
Se fosse para acreditar nesse equivoco, levar-se-ia os educadores a também se preocupar com as influências ameaçadoras das línguas estrangeiras e dialetos que fazem parte não só do cotidiano escolar e da internet, mas em todos os lugares. Um simples passeio por um bairro ou centro comercial facilmente observa-se termos abreviados, termos em inglês, francês, termos errados e outros que não fazem parte da língua portuguesa oficial.
Mais essa visão inquietada não ocorre com essas outras estruturas lingüísticas, diferentemente, as escritas virtuais tem a capacidade de está presente em quase todos os lugares geograficamente distantes e com isso, a possibilidade de proliferação de determinados códigos, escritas e abreviaturas é facilitada territorialmente, transformando-se em termos globalizados. Identifico o motivo impulsionador da polêmica e consequentemente, formador de tais equívocos ligados a uma capacidade maior de difusão desses termos do que em outros momentos da humanidade devido às redes da internet.
Como esses termos não ficam mais sobre um suposto domínio territorial, colocando-se, de certo modo, sem controle num ambiente onde as trocas das informações são mais dinâmicas que as tradicionais conhecidas, o medo impulsionador da polêmica deriva na amplificação da significação e posteriormente, de sua aceitação, acreditando na possibilidade de constituir futuras estruturas lingüísticas desordenadas e assim, proporcionando uma inevitável e descabida remodelação no contexto da escrita oficial.
Mas o próprio Saussure (1945) chega a reconhecer o caráter territorial do idioma como um divisor de águas entre a lingüística interna e a lingüística externa, que é um fenômeno geográfico associado com a existência do idioma, ou seja, sua fragmentação lingüística pode ocorrer externamente ao seu território. Ora, se a língua virtual é originada de um entrelaçamento de línguas e dialetos, não possui limites geográficos e consequentemente não impõe uma tradição ou prestigio por perdê-lo ao longo do tempo através do amadurecimento intelectual do individuo ou usuário, a própria polêmica entorno do assunto tende a se diluir da mesma forma. Mesmo existindo focos dessas estruturas em determinados momentos da realidade, não demonstra consolidação lingüística, principalmente no âmbito escolar, já que a língua oficial possui elementos necessários citados anteriormente pelo próprio Saussure, que impedem a queda de sua hegemonia territorial e social.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é a pretensão deste trabalho dá um ponto final nesse problema. Como já foi mencionado anteriormente, o assunto gera muita polêmica entre os educadores e pesquisadores, mas acredito que o hábito dos jovens e adolescentes utilizarem uma linguagem reduzida, abreviada ou codificada para se comunicarem em tempo real na internet não afeta o desempenho lingüístico quando se trata de textos escritos. Essa posição é baseada na capacidade de distinção dos jovens e adolescentes, principalmente mediante as exigências educacionais, de uma situação de comunicação no ambiente virtual para uma contextual.
Para isso, o papel da escola em sintonia com a família é proporcionar ao aluno nos primeiro anos de sua educação a aquisição da estrutura da língua oficial antes do contato com outras linguagens ou códigos. Deve-se desenvolver uma aprendizagem da língua e de suas estruturas de uma forma sólida, fazendo o aluno ter a clareza da sua importância, tradição e prestigio perante nossa sociedade. Tendo a consciência disto, podem aprender as variantes, os desvios, os códigos e quaisquer outras estruturas que claramente estão distinguidas.
Concordo que o processo dessa aprendizagem não pode ser invertido. Inevitavelmente o fenômeno poderia ganhar espaço e até se consolidar, desencadeando um modelo estrutural da escrita em pleno conflito com a língua oficial, proporcionando uma real ameaça a sua hegemonia. Por isso, que o principal foco de tratamento desta pequena anomalia está na escola, que deve deixar claro através de seus processos educacionais, principalmente exigindo em suas avaliações, a distinção correta das estruturas lingüísticas que circulam em nossa sociedade, tanto no real como no virtual.







REFERÊNCIAS
ALVES, I. M. Neologia e tecnoletos, In: OLIVEIRA, A. M. de., ISQUERDO, A. N. (Orgs.)
As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia e terminologia. Campo Grande: Ed. UFMS,
1998.

CABRÉ, M. T. La terminología ? Teoría, metodogía, aplicaciones. Barcelona: Editorial
Antártida/Empúries, 1993.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Venâncio Majer; Editora Paz e Terra. 6º Ed. São Paulo. 1999.

DUARTE, Vânia. A linguagem abreviada dos internautas remota um passado. Disponível em: http://www.brasilescola.com/gramatica/a-linguagem-abreviada-dos-internautas-remonta-um-passado-.htm. Acessado em 7 de junho de 2010

LÉVY, P. O que é o virtual?. Trad. Paulo Neves. 3ª ed. São Paulo: Ed. 34, 1996.

______, P. As tecnologias da inteligência ? O futuro do pensamento na era da
informática. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. de Carlos Irineu da Costa. São Paulo. Ed. 34 1999.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística general. Traduccion, prólogo y notas de Amado Alonso. Vigesimacuarta Edición. Editorial Losada. 1945.



Autor: Roure Santos Ribeiro


Artigos Relacionados


Intercâmbio Entre A Língua Falada E A Língua Escrita

O Que é Metodologia Da Língua Espanhola?

Há Equivalência Entre A Linguística E A Gramática Tradicional?

Abreviação

Como Os Pcns De LÍngua Portuguesa Abordam O Trabalho De Leitura .

Metodologia Aplicada No Ensino De LÍngua Inglesa Na Escola Estadual Tobias Barreto

InternetÊs: Uma Nova Linguagem