A Assinatura







A ASSINATURA
Raul Santos
Usina Embaúba, Eunápolis, BA, 01 de março de 1985.
Diariamente, por volta das seis da manhã, metodicamente, o pessoal que estava saindo comparecia para devolver o material do serviço noturno ao balcão da ferramentaria e os que estavam chegando receber para o serviço diurno. Eram chaves de todos os tipos, martelos, marretas, serras, material elétrico, válvulas, botas, luvas, caldeiraria, todo o equipamento enfim para o funcionamento da usina alcooleira.
Um dos funcionários, porém, negro, de pequena estatura e cabelos grisalhos do avançado da idade chamava particularmente a minha atenção pelo carinho na escolha do vassourão, como se fora objeto sagrado, seu companheiro do dia. Eu não sabia nem qual era o setor em que ele prestava serviço, pois eram muitas as instalações. No momento de assinar a ficha de recebimento do material, enquanto os outros simplesmente rubricavam, ele retirava os óculos da caixa presa ao cinturão, colocava no rosto e, apanhando a esferográfica, apunha com mão trêmula o seu nome completo, conforme aprendera na escolinha da vila já de muitos e muitos anos antes, como se quisesse naquele gesto colocar todo o conhecimento que tivera vontade de adquirir e não conseguira nos idos tempos de moço, de trabalho pesado, suor, lágrimas de angústia e sofrimento por que houvera passado, restando a recordação da época que se fora nas águas turbilhonosas do passado que se vai e nunca mais retorna, a não ser unicamente pela lembrança dos que, apesar das dores, dos sofrimentos e do avançado da idade ainda têm ânimo, coragem e resignação para sonhar com um futuro promissor.
Que Deus os abençoe!...


Autor: Raul Santos


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