Resenha Crítica Sobre o Texto ''O Pergaminho e o Fogo'' de Christopher Hill



A Revolução Inglesa Pela Voz dos Excluídos

Christopher Hill busca através de sua ótica neomarxista mostrar os "excluídos" da historiografia oficial sobre a Revolução Inglesa. O texto apresenta uma análise da História vista de baixo com pinceladas de História Cultural. É uma pioneira forma de analisar um evento que sempre foi visto pela ótica liberal ou pela ótica marxista.

Nascido em 1912 e falecido em 2003, Christopher Hill é reconhecido pelos seus estudos que reinterpretam a visão marxista tradicional. Hill estuda o século XVII na Inglaterra com enfoque na Guerra Civil e na era Oliver Cromwell.

Na primeira parte do texto O Pergaminho e o Fogo Hill analisa as tensões sociais ocorridas em Londres que após os cercamentos virou refúgio de suas vítimas, descritos como vagabundos e criminosos. É descrito um recíproco mal estar entre o povo e a nobreza representada pelos Stuart "Não é preciso, assim, descer muito abaixo da superfície na Sociedade Stuart para se encontrar um profuso descontentamento." (p. 38)

São citadas não texto várias tentativas de construir um novo reino e constituir um novo monarca inglês. Há uma revolta do povo insuflado por idéias protestantes e que passam a questionar a união Estado/Igreja. Os populares venderam o que tinham em troca de sua liberdade e agora eram "sem camisas" em Londres.

Há toda uma aversão a nobreza e a fidalguia cada vez mais crescente e surge o "partido popular" e há o antagonismo entre parlamento e coroa. Há a cisão entre Parlamentaristas (conta o absolutismo) e Realistas (a favor do Rei) e explode a Guerra Civil com forte participação do exército do Novo Tipo descrito como o povo comum em uniforme.

No item de nome Heresia de Classe Inferior Hill começa afirmando que existia uma tradição plebéia de aversão ao clero e irreligião onde destacam-se os "lolardos" que contestavam a venda de missas; os "anabatistas" que pregavam o batismo espontâneo e em idade adulta. Hill diz que teve como fonte na pesquisa sobre os anabatistas documentos de tribunais eclesiásticos. Um terceiro grupo, ao familistas, do qual Hill declara ter mais documentação a seu respeito, eram seguidores de Henry Niclaes que dizia que Deus faz o homem e do homem faz Deus. Duvidavam os familistas, da divisão entre céu e inferno. Acreditavam os membros da Família do Amor que a humanidade voltaria, na terra, ao seu estado de inocência anterior a Queda.

A Igreja oficial era impopular e templos eram profanados, imagens incendiadas e cruzes quebradas. Bispos e Ministros da Igreja recebiam acusações e insultos e havia uma total insatisfação com a ingerência dos tribunais eclesiásticos sobre a vida dos comuns. Pessoas eram levadas a julgamento acusadas de não guardar feriados, casarem sem licença e faltarem contra a castidade.

Há uma associação, por parte dos lordes, dos protestantes, principalmente Presbiterianos, aos hereges em uma Inglaterra onde a Igreja Anglicana seguia alguns rituais Católicos. Acontece a guerra dos Trinta Anos (1618 ? 1648) entre Católicos e protestantes que assolou a Europa continental. Monarquia e aristocracia foram declaradas por Christopher Feake como "inimigas de Cristo".

Em 1640 tentou-se substituir os tribunais eclesiásticos por um sistema disciplinar presbiteriano causou uma imensa hostilidade e foi chamada de "a guarda negra de Satanás". Há uma exigência da separação entre Igreja e Estado, ficando o Clero subordinado ao Estado e perdendo seu papel repressivo e controlador.

O povo, que sempre foi mantido à ignorância dos acontecimentos, agora tem seu olhos abertos por idéia anticlericais e protestantes que afirmavam que agora a plebe teria sua liberdade cristã. Os fidalgos seriam obrigados a trabalhar para viver e que todo homem capacitado poderia ser escolhido como ministro de uma congregação e que a escolha não seria feita apenas pela nobreza.

Os discursos dos puritanos que exaltavam os pobres e davam-lhe voz e vez foram confundidos por alguns erroneamente como discursos "comunistas" e que o Evangelho significava o "comunismo" e a subversão da ordem social.

Analisando a Revolução Inglesa como um fenômeno mais abrangente que a simples definição de que o movimento foi o triunfo da ética protestante e a ascensão da burguesia ou foi simplesmente a Revolução Gloriosa, Hill traz à baila os excluídos pela historiografia "oficial". O povo com suas idéias em comum, suas organizações e seus segmentos, influiu decisivamente na revolução que segundo Hill já vinha sendo gestada antes da data oficial de 1640.

Usando um conceito de classe social mais amplo e a meu ver mais justo do que ao definição de Classe dominante e Classe dominada ou Patrão e Proletariado, Hill vê nos "descamisados" seu real valor e sua participação efetiva na contestação do poder vigente. Agora as classes subalternas não aparecem simplesmente como coadjuvantes de luxo e simples bonecos mudos na História.
Autor: Cláudio Rogério Abrita Gonçalves


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