Carta a J.M.A.C.



Meu Preclaro Doutor:

J. M. A. C.


Sabemos nós que a vida não simples nem fácil de ser vivida, mas também não é nenhum bicho de sete cabeças, talvez, como os letrados de hoje gostam de dizer é um pouco complexa. Está bem, complexa, mas nem por isso deixa de ser prazenteira e gostosa de ser observada e deliciosamente exultante ao ser debulhada, compreendida e, construída, pouquinho a pouquinho ? digo eu, tijolo por tijolo. Já que a entendemos complexa então que seja vivida aos poucos ? sorvida, compreendida, dia a dia, hora a hora, medida por medida.

Já que estamos nos tijolos, nas construções, porque não edificarmos um castelo em vez de um "barracão de zinco lá no morro"? A sonhar, que se sonhe alto, para planejar que se planeje algo que tenha algum significado para nossas gerações futuras ? não estou falando de miragens ? de planejamentos mirabolantes inalcançáveis ? não estou falando de ídolos televisivos ? mas sim de pessoas de nossa convivência ? como D. Ozória, por exemplo que deixou sua marca em todos nós, apesar de em toda sua vida ter ganho apenas e tão somente um salário mínimo em qualquer condições. Isso não a impediu de deixar sua marca.

Não apareceu na televisão, não foi notícia de jornal, não fez nada que a tornasse uma estrela, apenas fez o necessário para que pudéssemos ter um exemplo prático a seguir. Lutou pela vida, lutou para deixar filhos e netos, e deixar para eles exemplo de luta. E agora nos vamos deixar para os seguintes o quê? Que exemplo? Que construção de vida?

Não, não estou falando de coisas materiais ? isso tudo vira pó. Falo de força moral, ética e exemplo de honestidade e de trabalho com o amor denotado e perseverança para continuar lutando ? para produzir o alimento, apesar das circunstâncias contrárias; isso nós temos ? se não queremos ver é outro problema.

Ao lembrar dela ? e não dos ídolos televisivos ? que por natureza estão longe de nossa vida e assim continuarão ? quero lembrar de fatos que por certo você deve ter vivido e testemunhado. D. Ozória ? minha particular filosofa ? tinha um conceito na sociedade pouco alcançado pela maioria das pessoas, ela conseguia crédito até na feira. Aquela casa onde moramos por uns bons tempos de nossas vidas foi construída com esse crédito, inclusive a mão-de-obra do pedreiro.

Ora bolas ? obter crédito e não deixar dívidas ? com a remuneração de um salario mínimo constitui um feito e tanto. Não acha?

Hoje eu vejo a vida assim, tantos exemplos de luta, coragem, discernimento e sem ao menos saber ler ou escrever direito. E não posso deixar de me comparar ? deixar de nos comparar ? será que esse letramento todo fez de nós uns covardes? Será que a nossa visão de luta pela vida não ficou embotada, corrompida, mal resolvida?

Para que o homem dê um passo em frente há necessidade de um motivador qualquer ? um objetivo ? construído e nascido na fornalha da necessidade da carência, abastecida com o fogo do amor, da paixão. Sentimentos que vicejam e nascem num terreno arado e adubado chamado bons sentimentos.

Enquanto que a terra seca ? árida e ácida ? onde apenas crescem os cactos espinhosos, cupins e por lá vivem os peçonhentos e formigas, chama-se maus sentimentos.

O bom da vida é aquela crença de que o homem ? hominídio racional (?) ? é um ser racional e como tal tem a capacidade de "escolha" - escolher, portanto, é nossa capacidade de decidir a vida que queremos ? hoje escolhemos e amanhã vivemos o que ontem escolhemos. Viver em terra fértil e produtiva ou entre cactos e peçonhentos. Estou me sentindo um quase "Luta" com tantos volteios. Um bom exemplo, sempre.

A ter de me preocupar com os outros ? vou me preocupar com quem está construindo o futuro ? o progresso ? o conhecimento, os valores positivos. A ter de escolher vou escolher estar longe do mal, do mesquinho, do negativo do improdutivo.

Aliais, foi D. Ozória que me disse: "Meu filho se afasta do mal". Veja que boa máxima.

As vezes o mal nos atinge mesmo que nós estejamos fugindo dele, aí não tem jeito, vamos vivê-lo e superar a fase, mas note que é diferente ? viver o mal para superá-lo quando atingido porque fomos por ele alcançado, e não vivê-lo porque o procuramos ? isso não é racional, nem próprio nem devido.

Porque vou procurar "sarna pra me coçar" será que nesse tempo não tenho nada mais útil e belo a fazer? Isso é falta de imaginação.

Outra coisa.

Dirás ? você diz isso porque não vive ou viveu o que eu vivi?

Esta bem, ninguém ? absolutamente ? ninguém consegue modificar ou viver a vida do outro, só o próprio tem esse poder e julgamento, mas não quer dizer que não possamos contribuir com algumas visões para ajudar na escolha.

Os sentimentos de vindita ? causados por sofrimentos passados devem ser esquecidos. Sabe como?

Toda vez que passar por sua cabeça se envolver com algo parecido como ? vingança ? ódio ? raiva ? nojo ? frustração. Compre umas flores para as pessoas que você quer bem. Ou uma jóia ? vai marcar em você e nela, positivamente e nas pessoas que lhe rodeiam. Às pessoas que jamais esperam um gesto de carinho, de bondade sua, faça um bem a quem não espera. Compre bombons e dê aos seus colegas. Alimente um pássaro. Cumprimente efusivamente o transeunte, o lixeiro, o porteiro, pare para dar atenção ao mendigo, se doe inteiro ao seu semelhante, sem esperar respostas ou prêmios.

Compre um vinho e programe um jantar a dois, a luz de velas ao som de uma orquestra tocando boleros ? dance. Compre um disco diferente dê de presente pra si mesmo e ouça junto com quem ama. Descubra coisas novas que estão aí para serem descobertas. Plante uma flor ? aprenda a gostar delas, e cuide de aprender o que elas tentam em seu mutismo nos dizer ? asseguro que dizem. Tente, invente, faça mais e melhor da próxima vez. Escreva um poema, envie uma carta de amor. Quem sabe o por do sol, não está lhe aguardando para ser fotografado, ouça o que as ondas do mar querem dizer.

Alimente o amor ele inundará e fertilizará o seu terreno. E muitas flores e frutos nascerão desse gesto. Até mesmo aquele sentimento não muito legal vai desaparecer ? porque plantas ruins não prosperam em terrenos bem cuidados ? cuide, portanto, do que nasce em sua mente.

As lembranças dolorosas vão existir até o fim de nossas vidas, mas o tratamento e a danosidade que essas lembranças nos causam na vida atual é por nos comandada. E não elas que devem comandar nossas ações. Ou seja, nós temos o leme em nossas mãos para guiar o barco e não o leme que nos guia a mercê das ondas.

Aí, vá a uma missa ? só para ouvir o que o padre vai falar. Peque um folheto e leve pra casa e faça um exercício crítico do que ele disse e o que você pensa à respeito. A religião, não é como alguns pensam, para ser absorvida sem questionamentos, mas sim para ser interpretada e buscada pessoalmente ? Deus não fala de modo genérico, mas sim pessoalmente.

Não estou querendo salvar sua alma ? não estou querendo que você receba o espírito do bem ? apenas que você descubra que tem uma alma e um espírito que precisam de alimentos saudáveis para que possa desfrutar a vida em toda sua plenitude.

Napoleão ? foi um guerreiro feroz ? e dizia que o homem tem de calçar luvas de pelica em sua mão de ferro. Ou seja ? o fato de sermos amorosos, delicados e justos não significa abdicar da fortaleza e da força com que temos de lutar, quando necessário. Ou o fato de sermos predominantemente sentimentais não significa abdicar à razão para nortear nossas ações.

Guatama ? O Buda ? ensinava que o caminho da verdade é o caminho do meio ? o caminho do equilíbrio ? mas cuidado, com as simplificações ? o caminho do meio, do equilíbrio não é ficar em cima do muro ? é conhecer com profundidade necessária o bem e o mal ? e saber escolher que banda vamos trilhar. Outra vez, O caminho do meio é administrar com maestria e prudência a razão e o sentimento sem deixar que os julgamentos apressados nos façam agir imprudentemente ou com muita frieza ou por força de rompantes apaixonados. Em ambos vamos errar, se não ponderar, equacionar e medir e... temperar com amor profundo as nossas ações e omissões. O futuro exige essa atitude.

Você tem uma vida ? viva-a, com plenitude, com objetivos, realizações e prazer, com felicidade, portanto.

Apolinario de Araujo Albuquerque Rio de Janeiro, 07 abril 2009.

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