Antropologia e Imagem: Descrição de hábitos e costumes de um povo



Autor: MSc. Leonardo Nunes Santana

RESUMO

O presente artigo visa contextualizar o trabalho do antropólogo e o uso da imagem como fonte de pesquisa. Elencando os elementos contraditórios, assim como os percalços influenciaram os precursores da Etnografia até os dias atuais, ressaltando a importância da imagem e as amplas dimensões que esse trabalho pode atingir no que concerne à interpretação da historia cultural pelos antropólogos e seus resultados empíricos, resultando num conjunto de informações que baliza o trabalho de ordem epistemológica no processo de construção do conhecimento. Assim, a pesquisa pretende propor uma discussão sobre a compartimentalização e as especialidades que tanto dividem correntes no âmbito da Antropologia. Para validar tais hipóteses, foi feita uma analise de trabalhos já publicados que abordam essa temática, sob perspectivas diferentes, partido do ponto onde convergem culminando a discussão onde divergem. O que veio a ratificar que a Antropologia como as demais ciências estão em fase de reconstrução de paradigmas, reinventando prismas e ampliando teorias.

Palavras-chave: Antropologia, imagem, pesquisa de campo, empirismo, epistemologia.

ABSTRACT

This article aims to contextualize the work of the anthropologist and the use of the image as a source of research. Listing the elements contradictory, and the vicissitudes of Ethnography influenced the precursors to the present day, emphasizing the importance of image and the large dimensions that this work can achieve with regard to the interpretation of history by cultural anthropologists and their empirical results, resulting in beacon set of information that the work of epistemological order in the construction of knowledge. The research aims to propose a discussion on the compartmentalization and the specialties that both share in the current context of Anthropology. To validate these assumptions was a review of already published work that address this issue, under different perspectives, from the point where the discussion which converge culminating differ. What came to ratify the Anthropology and the other sciences are in the process of reconstruction of paradigms, reinventing and expanding prism theories.

Keywords: Anthropology, image, field research, empiricism, epistemology.

I-Antropologia e Imagem

Descrição de hábitos e costumes de um povo.

O assunto pesquisado neste trabalho é sobre a função do antropólogo e o uso da imagem como fonte. Tem-se como objetivo ressaltar a importância da imagem e as diferentes dimensões em que esse trabalho pode atingir no que concerne à interpretação da história cultural pelos antropólogos e seu público alvo. A pesquisa de campo é onde os resultados das informações coletadas são utilizados no processo de construção do conhecimento. Dentro dessa perspectiva, qual é a relação do antropólogo com o conhecimento que ele produz? O intuito é desvendar quais são os procedimentos até o conhecimento ser processado e sistematizado pelo pensamento do autor/pesquisador, seu progresso intelectual ou crescimento cognitivo atrelado a compartimentalização do saber e as especialidades de cada corrente etnográfica.
A partir de Durkheim, a Antropologia se preocupa com a classificação do homem e o contexto que ele está inserido, fazendo uma distinção análoga entre natureza e cultura. Naturalmente, não quero refutar o fato de o termo ter surgido com Aristóteles, onde ele chamou de antropólogos todos aqueles que falavam de si mesmo. A palavra Antropologia vem do grego Anthropos, que Ciência do Homem. Mas, obviamente esse assunto não vem ao caso nesse momento.
O método de abordagem para o desenvolvimento desse trabalho foi o comparativo, na medida em que conduz à investigação por meio de análise de dois ou mais fatos ou fenômenos, procurando ressaltar as diferenças e as similaridades entre eles. Entretanto, o método histórico dará uma amplitude maior no decorrer da discussão e irá elencar uma investigação a partir do estudo do passado, procurando explicar a influência nos dias atuais, trazendo a luz à compreensão de sua função a partir da perspectiva histórica.
Strauss afirma que ela se preocupa com o estudo do homem e sua conjuntura histórica e geográfica, o que ele denomina de antropologia estética. A divisão clássica dessa ciência é a Antropologia Física, que estuda o homem a partir de sua anatomia, e a Antropologia Cultural que é chamada pela corrente alemã e francesa de Etnologia ou Etnografia, que estuda a cultura humana.
O antropólogo balizado por essa perspectiva, presta inestimável colaboração a projetos de mudanças cultural e social mundialmente. Entretanto, o ponto onde diverge Oliveira de Strauss, é que ele se preocupa com questões que são inerentes a cultura e as Ciências Sociais, são as chamadas faculdades do entendimento. Onde a face cognitiva do pensamento tem extrema relevância, o empirismo completa o conjunto de conhecimento que tem por objetivo o cientificismo epistemológico.

"ao contrário do dos ensaios de antropologia estética de Lévi-Strauss, trata de questionar algumas daquelas que se poderiam chamar as principais "faculdades do entendimento" sócio-cultural que acredito,sejam inerentes ao modo conhecer das ciências sociais. "

E de forma indubitável, o universo da imagem abre um paralelo com a Antropologia para elaboração do conhecimento, abrindo um leque de possibilidades a serem trabalhadas na pesquisa de campo. Com intuito de entender, desvencilhar e compartilhar as diversidades culturais mundiais, no sentido mais amplo da palavra. A imagem apresenta dois aspectos/valores diferentes, o olhar do alvo de pesquisa e de quem os observa. E essa alteridade inaugura a necessidade do conhecimento através da experiência, o ponto de convergência entre a imagem e etnografia data do final do século XIX pra o começo do XX, nesse primeiro momento a racionalização vai ser característica marcante dessas pesquisas.
Pragmaticamente, nesses primeiros momentos a etnografia com a escrita e a fotografia com a imagem resultou numa parceria de sucesso; entretanto, os autores/pesquisadores não levaram em consideração a imaginação que dá corpo ao outro. Método amplamente utilizado pela literatura narrativa. Logo, a Antropologia seguiu as tendências e deixou fluir o acompanhamento do pesquisador na vida do seu alvo de estudo, o que refletiu em ricos dados e influenciou nos fundamentos da disciplina, Malinowski é exemplo disso. Adentrar no mundo subjetivo do outro exigia um envolvimento do pesquisador, a imparcialidade positivista não cabia nesse novo conceito.
A simples leitura de um texto não surtiu o mesmo efeito que uma imagem, salta aos olhos a distinção entre ver e olhar, juntas elas produzem idéias no imaginário humano. O olhar do antropólogo conhece a qualidade do outro e valoriza pelo o que ela é, e não existiria outra forma que demonstrar isso visualmente. Além de causar, inevitavelmente, a proximidade do autor com seu objeto de pesquisa, a desenvoltura da câmera evidencia uma interação entre cinematografia e etnografia.
A carga de pessoalidade sobre o objeto, chamado de "olhar etnográfico" vai em busca de detalhes que aos olhos de desatentos passariam despercebidos, e que a descrição de viajantes e cronistas se distanciaria do seu discurso, mas o olhar por si só não é o suficiente. É necessário ouvir, ele elimina tudo que lhe parece insignificante e foca o alvo de seu interesse, um exemplo disso é a compartimentalização das ciências e suas especializações. Mas, o ato de ouvir sistematicamente cria um campo ilusório de interação, segundo Oliveira.
A verdadeira interação esta quando o pesquisador se abre para o outro, propondo um encontro etnógrafo, esse feedback proporcionaria um diálogo entre iguais. Nessa relação a "observação participante" faz do ouvir uma via de mão dupla. O registro dessa experiência, o escrever, vai organizar as informações coletadas, tornar as informações empíricas em num resultado epistemológico.
Partindo desse pressuposto, o auge da função cognitiva é o escrever, textualizam-se os fenômenos sócio-culturais observados, é a junção de tudo que foi visto e ouvido. Embora imbuído de subjetividade o parecer final do autor/pesquisador esta balizado pelo ambiente acadêmico e suas teorias.

"O momento de escrever, marcado por uma interpretação de e no gabinete, faz com que aqueles dados sofram "refração" uma vez que todo o processo de escrever, ou de inscrever as observações no discurso da disciplina, está contaminado pelo discurso do being-here ? a saber, pelas conversas de corredor ou de restaurante, pelos debates realizados nos congressos, pela atividade docente, pela pesquisa de biblioteca [...]"

Embora, isoladamente o ato de escrever tenha suas limitações associado a uma observação visual, compartilha a ambivalência da alteridade. Todo esse processo resulta numa reflexão antropológica, onde oferece alternativas de interpretação. O que não quer dizer que a imagem substitui o olhar do antropólogo, ela torna visível à subjetividade do pesquisador/autor, capta a visão, no sentindo tênue da palavra, etnográfica da pesquisa.
Afirmo que a Antropologia está em processo de construção, assim como as demais ciências com a crise do paradigma , tendo que reinventar prismas e teorias. Face aos desafios do século XXI e o avanços tecnológicos incontestáveis, agregar características multidisciplinares e problematizar questões postas tem sido a nova tendência dialética, em que o ponto central é ampliar o conhecimento produzido. Um bom texto etnográfico obedece às etapas de construção, é o empirismo a serviço do conhecimento epistemológico onde o uso da imagem, torna-se imprescindível para ilustrar o que e sobre o que se escreveu.

"A inventividade sempre esteve presente, e a incorporação da imagem seja ela fotográfica ou em movimento, ao processo de construção da pratica antropológica constitui, assim, não mera questão de método, mas, sobretudo uma questão epistemológica."

Depreende-se que o acumulo de recursos utilizados no trabalho etnográfico irá garantir a eficácia do resultado final. A valoração do homem pela sua cultura e proximidade do resto do mundo para essa conjuntura, trabalha na perspectiva da revitalização dos valores morais e culturais, penetrando na intersubjetividade da alteridade tão elencada no decorrer deste trabalho. O éthos do sujeito é considerado, embora haja um caráter polissêmico.
Indubitavelmente, o trabalho etnográfico auxiliado pela imagem torna estruturas culturais bastante próximas, ligam classes e aproximam grupos sociais. A compreensão do que antes parecia estranho é promovido pelos resultados desses trabalhos que tem por objetivo difundir uma cultura ou até mesmo denunciar ema realidade social como foi o caso de Batenson e seus estudos na Nova Guiné.
O uso da imagem dá um caráter valorativo à afirmação do antropólogo, é a ratificação da produção escrita, é um exemplo palpável da situação descrita. A imagem muitas vezes reflete o som de mil palavras por si. E a Antropologia tem mobilizado essa característica a favor, agregando novos detalhes e novos olhares.

REFERÊNCIAS


BARBOSA, Andréa. In. CUNHA, Edgar Teodoro da. Antropologia e Imagem. 1ªed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

BURKE, Peter. Trad. DENTZIEN, Plínio. Uma História Social do Conhecimento. 1ªed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

MELO, Veríssimo de. Princípios e Metas da Antropologia Cultural. VOL.I. Rio Grande do Norte: Museu Câmara Cascudo, 1981.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O Trabalho do Antropólogo. 2ªed. São Paulo: UNESP, 2000.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Um Discurso Sobre as Ciências. 1ªed. Coimbra: Afrontamento Porto, 1988.
Autor: Leonardo Nunes


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