Sofia



Hoje eu tenho a minha maior paixão e alegria de todas, e é um ser humano, não um cachorro ou um coelho que outrora tive, mas um ser humano e uma pessoinha singela e sem intenção alguma de conquistar proezas, amores ou riquezas. É uma pessoinha que me acorda de manhã aos gritos me chamando de papai e gritando alegre, feliz, eufórica pela descoberta de mais um pedacinho do mundo que se chama gafanhoto.
Uma pessoinha que veio a um mundo bagunçado, com o pai morando numa casa e mãe em outra e nem se quer se cumprimentam na rua, mas isso não é importante, pode ter certeza essa pessoinha que o papai a amará muito mais que qualquer mãe. Como num pesadelo que tive a trocaria pelo meu braço esquerdo só para tê-la de qualquer jeito, qualquer condição e não somente o braço, o corpo e toda minha eternidade póstuma só para tirá-la de alguém que a ameaçasse.
Essa pessoinha, essa menininha humilde e inocente tem o poder de me fazer muito mais feliz que um decacampeonato mundial do cruzeiro, todo o ouro e a prata do mundo, todos os objetos mortos e sem vida de toda eternidade, mais feliz que 700 esposas e 300 concubinas como teve nosso rei Salomão.
Essa pessoinha é a coisa mais bela, mais frágil e mais doce que eu um dia poderia ter na vida e que também requer mais cuidado e atenção, tema em me pedir colo mesmo quando não posso dar e mesmo não podendo, digo: "papai da colinho pra ela, papai sempre vai dar colinho pra ela" talvez um dia ela estando bem grande, maior que eu, porque já estarei aprisionado pela velhice e se ela pedir não hesitarei em cumprir a promessa acima.
Gosto de ver os desenhos animados com ela, ver os palhaços que nunca me fizeram sentindo, gosto de ir lá na padaria conversando coisas como: patati-patatá, snoopy, balinha, cocó e muitas outras que só nós dois entenderíamos. Gosto de chegar em casa e ver pelo portão da minha casa o rostinho dela detrás das grades, detrás da porta, sorrindo sapateando e gritando: "papai... papai..." Gosto de saber que hoje ela já sobreviveu há dois anos, quatro meses e muitos dias.... Que é forte, que é feliz, que sabe algumas frases do hebraico e algumas frases de músicas judaicas.
Fico triste quando ela se vai no final de semana, assim fico mais livre, posso sair, dormir até tarde não me preocupar se será mordida pelas cachorras da minha mãe, mas essa liberdade não é maior que a alegria de ouvir o som de sua voz ou o som de seus passos. Esta liberdade não é maior que a obrigação de comprar leite, fazer a comida, preparar a mamadeira.
Fico por aqui, tenho que ir lá fazer a mamadeira da neném, sem açúcar por causa dos dentes já que ela não acordará para escová-los. No fim... A palavra portuguesa amor, inglesa love, hebraica avar e a francesa amour não conseguem traduzir o que sinto todas são muito pequenas e incompletas.



Autor: Glauber Marques


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