Capítulo II: Os Leões
Os leões.
José acabava de acordar... Sonhava com leões (Hemingway). Lembrou-se dum dia em que fora demitido de uma das muitas empresas em que trabalhou como datilógrafo, lembrou: "Que num dia como em outro qualquer... Sendo demitido, olhou para a esquerda e viu numa revista da empresa, esta que acabara de demiti-lo a seguinte frase: ?O que vale agora é fé em Deus..." Aquela frase marcara a vida de José, pensou em todos os problemas... Pensou na sua fé na virgem e em Santo Expedito, santo que era devoto nos tempos de criança, quando sonhava em ganhar no natal... Aquele tratorzinho de brinquedo que tanto sonhara... E... Que por infelicidade o pai não podia dá-lo, não por ruindade, não por "paoduragem", mas que a família silva não tinha dinheiro... E sempre, maldizia e humilhava o pai na cachaça... (bom... José veio da roça, onde pescaria é um esporte passado de pai para filho à beira da lagoa... E... por pura... pura bondade o pai José, um dia... deu ao filho José, um gole de cachaça para afugentá-lo do frio... Que coisa linda e triste... Que tristeza... Que tristeza... Que angústia sente José... Que ódio... Sentiu... Que amor... perdera...) Algo que o pai nunca bebera, mas que sempre pediu... Não ordenou ou exigiu do filho... Mas simplesmente pediu ao filho que não fizesse aquilo... José, desobedecendo ao pai, com o coração amargurado por um sonho "não" realizado na infância... Bebia e bebia muito e todos os dias... Bebia um copo! De cachaça!
Bom... José, embora não seja "alcoolista" não dispensa uma boa cachaça, não interessa se é de Salinas-MG, não interessa se é das melhores... O que interessa a José é que seja analgésico para a amargura... Triste e casmurra! Já cansada das recentes derrotas e do corpo... Lembremos que Jose andava muito a procura e a "caça" de emprego e trabalho... Andava muito para que sobrasse o suficiente para a cachaça mais barato e um pouco de verduras, um ovo ou uma caixa de fósforos para o cigarro da neguinha (viciada) e que acende o fogão que faz a comida da família Silva e do au-au (cachorro da família)
"____José desgraçado! Bêbado de novo ?" Berrou da cozinha a esposa, enquanto José se distraia em sua coleção de borboletas... A esposa de José o humilhava pelo fato deste não ter o sustento para a família e por dar despesas, como: A água que bebe, a comida que come...
"____José desgraçado! Gastou muito óleo fritando ovo!" O argumento da esposa de José não era a possibilidade deste, ter um colesterol elevado que poderia causar-lhe sérios problemas de saúde ou uma terrível indisposição intestinal... O argumento meus caros e confidentes leitores, era que José ao usar muito óleo para fritar ovo... Gastaria muito, deste óleo que lhe é negado! Acarretando custo financeiro... Luxo... Que, infelizmente, não se dava à família Silva.
"____José desgraçado! Fumou droga de novo e tá surtando?" Baixinho... Para que os vizinhos não escutem e a família silva toda! Incluindo a caçula e o au-au, não seja alvo de discriminação social, moral e cultural... Risos... "Vou chamar a PAM (polícia de atendimento médico)" Bem alto! Claro! Incisivo e ameaçador... Gritando, berrando... Gritando! Para que ele se assuste... Porque há, nesta época, acho... Tratamento compulsório! E isto dói e dói muito! Lástima por esta época... Lástima por minha época... 5.769
José, como bem sabemos, era um homem simples, "humilde" nunca lera os clássicos econômicos de Karl Marx acerca do capitalismo, talvez nem soubesse que no jornal de sua cidade havia cadernos sobre economia, de vez em quando lhe passava a seguinte pergunta na cabeça... "O que é capitalismo ?". Mas José era um homem sábio... Não muito... Mas sábio o suficiente pra sentir na pele exatamente o que quer dizer esta palavra estranha e grande... Pequena para mandar na vida de tantas pessoas... Na dele, por exemplo... Tinha, sim, uma vaga idéia do que representava aquela palavra, já que a caçula de vez em quando chegava da escola dizendo sobre esta palavra... "Papai... Hoje vi na aula de geografia que o problema lá na África pode estar no sinal... onde para o ônibus... E nem sabemos... Sabia ? É... por exemplo: aqueles meninos que fazem coisas de circo, sabe ? Então! Isto não é diferente da África não!"
A África bem como o inferno, onde há fome, miséria, ódio e lutas tribais entre povos irmãos é aqui... A África bem como o paraíso onde há leite e mel... Onde há macacos que se amam e respeitam degladiam, mas não chegam a matar um irmão! Onde há africanas negras... Lindas que não olham para o lado em sinal de respeito à própria cultura é aqui!
Onde é tua África, leitor... (?)!
José sabia, sentia diariamente e vivia também, que esta palavra, media relações, que antes eram mediadas pelo amor... Esta é coisa mais perversa (FREUD) daquela palavra que de vez em quando José questiona a si mesmo... "O que é miséria ?"... "O que é ódio ?"... " O que é amor ?...
O dinheiro! Tem o poder! De mediar à relação de um casal, como a de José e Maria, de irmãos, como a caçula e o Técnico de eletrônica... Entre filhos como a de José e o técnico de eletrônica... E a de José e José, seu pai... Amado, ora odiado e invejado! Risos... Não se assustem... Pesquisem sobre, complexo de Édipo em Freud.
Autor: Glauber Marques
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