Capítulo III: Vomitos Ébrios.



Capítulo III
Vômitos ébrios.
E aconteceu que José de novo, chegara bêbado em casa... Mas uma vez vomitou na sala que a neguinha lava com todo o carinho e esforço e mais uma vez a caçula viu o pai naquela depravada e desgraçada situação... Qual exemplo e lembrança do pai, levaria a caçula ? Qual ? José não sabia exatamente o que era aquilo, o olhar de uma criança ao ver o papai chegando bêbado, todo sujo e sangrando a canela esquerda, por ter bebido demais... A lembrança jamais sairia da cabeça da caçula... E a cicatriz sairia da memória de José quando se tornasse fechada e indolor. A memória de uma criança acerca do pai é algo estranho e bonito... Nestas horas, acredito que não guardará o medo do pai agredir a mãe... Lembremos que ele nunca fez isto! Porque o faria num momento de tamanha fragilidade ? Isto não era possível... José já quebrou o armário da cozinha, já chutou a geladeira, já quebrou a mão ao chutar a parede... Mas a própria família ? Não! José era um homem doente! Da alma, da mente, da sociedade e da cultura, aquela que veio da pescaria e que fora alimentada pelo natal não atendido! Sim...
José acordara... Bêbado, machucado n´alma, amargurado no corpo já várias vezes cicatrizado... Com vergonha... Saiu para beber pra esquecer que tinha prometido a todos e até para o espelho, que pararia de beber... José era mentiroso, como todo dependente químico!
Bom... José, depois da cachaça encontrou um amigo de cachaça, conversaram muito... Muito mesmo... Falaram sobre a dificuldade de se conseguir um bom emprego (Argentino Souza e Antônio Barros) ou até mesmo um emprego ruim... Porque não ? José, não era um homem forte como o pai dele... Ele tinha uma patologia horrível na coluna... Que lhe causava horríveis dores, isto o impedia de carregar entulho, trabalhar como servente... Lembremos que José trabalhava aproximadamente 12 horas sentado, na época não havia NR17... Os pulsos de José doíam, como se algo de mais de 1.000 kg lhe esmagasse os braços... Não tinha como pegar peso... Era tímido, não conseguiria vender nada além... Da T.V. Philips, P&B...
E foi isto mesmo que José fez... O único divertimento da família, exceto do técnico de eletrônica que tinha dinheiro o suficiente para ir ao motel com a namorada e ao cinema antes ou depois e há filmes no motel... Risos, que nem precisa ir ao cinema... Risos... São um tanto sugestivos, né não ? Risos!
José saiu cedo... Não com o coração amargurado... Mas feliz, já que tinha conseguido, em parte, resolver o problema de falta de trabalho da família Silva, pegaria o único divertimento da família e trocaria numa máquina, uma "pretinha", assim, a nega, poderia fazer uns reparos, pegar umas costuras... Esta máquina é daquelas antigas... Da época da avó de José e não há necessidade de luz elétrica para que funcione... Ela tem um espécie de pedal, onde a costureira pode movimentá-lo: "pé pra baixo, pé pra cima" e assim, girar a roda que alimenta de força mecânica a agulha... Gerando energia e sustento a todos, até pro au-au. O pior... Não havia pior... A caçula poderia ir à casa do vizinho para ver os desenhos que tanto gosta, como: "meu querido pônei", a nega poderia ir à casa das vizinhas e assistir às novelas das 21:00 que tanto alimenta de podridão a todos nós! Até você, caros leitores (as) e da irmã para ver as novelas, o técnico de eletrônica, nem se fala... E, nosso protagonista, cachaça!
Cai a noite, após um crepúsculo vespertino, onde o sol de mercúrio vai se repousando atrás d´uma montanha verde... Do serrado... Do Brasil, onde há terra boa! Onde há tudo que todo ser humano sempre sonhou, inclusive amor... Cai a noite! Morre o dia! Muda-se o dia! Cai a noite... A lua se torna amarela, o sol dorme, as estrelas se tornam inspiração para poetas e solitários, se transformam em bússola para aqueles que estão perdidos, na angústia e no mar...
Todos se recolhem, a caçula num sono tranqüilo, um sono infantil, com suspiros doces, a nega... Costurando... Costurando... Conseguira neste dia pegar dois consertos, de duas saias das vizinhas onde assiste novelas... O técnico de eletrônica estava lá fora falando aos berros com a namorada! José, assiste a tudo! Com um sorriso estranho e assustado nos lábios, amanhã é dia de ir à caça de emprego. Onde ?

Autor: Glauber Marques


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