O PAPEL DO ENFERMEIRO FRENTE A INFECÇÃO HOSPITALAR: PERSPECTIVA BIOÉTICA



O PAPEL DO ENFERMEIRO FRENTE A INFECÇÃO HOSPITALAR: PERSPECTIVA BIOÉTICA

Abraão Portela da Silva1
Ana Alice silva de Melo1
Arlindina Mendes Guimarães Neta1
Vanessa Sousa Picão2

RESUMO

A presença de agentes patológicos em um determinado órgão ou sistema e capaz de provocar um distúrbio fisiológico denominado infecção, dessa forma o contato ou penetração desses agentes no organismo vivo promovem a proliferação e subsequentemente às manifestações de sinais e sintomas próprios do ciclo infeccioso compondo assim o quadro clínico da doença. Este estudo teve como objetivo descrever os princípios bioéticos da enfermagem, baseou-se nos caos de infecções hospitalares. Assim, tratou-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa que utilizou pesquisas de publicações da última década para chegar a um denominador comum a respeito do assunto. Com base nos dados encontrados conclui-se que a infecção hospitalar é uma síndrome controlável, desde que os princípios bioéticos fundamentais sejam respeitados em todos os âmbitos da saúde, destacando-se, de forma significativa, a atuação da enfermagem.

PALAVRAS-CHAVES: infecção, sepse, enfermeiro, bioética
ABSTRACT

The presence of pathogens in a particular organ or system and can cause a physiological disorder called infection, so the contact or penetration of these agents in the living organism promotes the proliferation and subsequently to the manifestations of signs and symptoms characteristic of the infectious cycle thus composing clinical disease. This study aims to describe bioethical principles of nursing, was based on the chaos of hospital infections. So, this was a literature that used qualitative research publications of the last decade to reach a common denominator on the subject. Based on data obtained it is concluded that hospital infection is a syndrome controllable, since the fundamental bioethical principles are respected in all areas of health, among which, significantly, the nursing performance.

KEY WORDS: infection, sepsis, nursing, bioethics





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1-Acadêmicos do curso de enfermagem, na Faculdade São Francisco de Barreiras, cursando o 2º semestre.
2-Docente de Bioética do curso de enfermagem, na FASB, formada pela faculdade UNIARARAS/FIOCRUZ especialista em educação e saúde e orientadora deste artigo
INTRODUÇÃO

A infecção consiste num distúrbio fisiológico provocado pelo surgimento de agentes patogênicos (bactérias, fungos, vírus e protozoários) em um determinado órgão ou sistema do corpo. A princípio, o contato bem como a penetração do microorganismo no corpo permite o desencadear de todo o ciclo infeccioso. Seqüencialmente vem a proliferação dos microorganismos e a manifestação dos sinais e sintomas que compõe o quadro clínico da doença.
Os sinais e sintomas mais comum são: febre dor no local afetado, alteração de exames laboratoriais, debilidade, dentre outros. Estes por sua vez, mudam de acordo com, a localização topográfica da lesão infecciosa, podendo ou não disseminar-se por meio da corrente sanguínea, provocando um fenômeno indesejado denominado Sepse (Infecção Generalizada).
A septicemia (ou sepse) é uma síndrome de prognóstico ruim que, quando proveniente do ambiente hospital é conhecida como Infecção Hospitalar ou Sepse Nasocomial, geralmente associada ao descuido com a higiene da equipe técnica de saúde, a infecção hospitalar pode ser prevenida se for dada a devida atenção ao quadro clínico no paciente, ponderando a sua evolução e mantendo-o sob atenção geral enquanto este estiver no estagio de possível progressão da doença.
Casos de pessoas que realizaram cateterismo cardíaco, exames radiológicos com utilização de contraste, retirado de pequenas lesões de pele e retirado de nódulos de mama, dentre outros, apresentam uma suscetibilidade maior quanto ao surgimento de infecção Hospitalar.
Existe ainda a probabilidade de que a manifestação dessa doença só ocorra após alta hospitalar, mas isso só é possível caso com algum mau procedimento tenha sido realizado durante a internação.
Contudo, o diagnóstico da Infecção Hospitalar só pode ser estabelecido mediante avaliação de um profissional treinado (médico ou enfermeiro com qualificação especial em Infecção Hospitalar) que deverá considerar todo o histórico clinico do paciente. Vale, entretanto, ressaltar que as infecções hospitalares no Brasil são a quarta causa de mortalidade, destacando-se como uma das principais dificuldades encontradas a nível hospitalar e que ascendem sérios comprometimentos reflexos na economia e na sociedade como um todo (Santos 2000).
Mediante essas questões e com base na vivencia dos enfermeiros com os casos de infecção hospitalar formulou-se o problema que estimulou a realização desse estudo bibliográfico: Qual a perspectiva Bioética para os procedimentos de Enfermagem nos casos de Infecção Hospitalar?
Dessa forma, o objetivo dessa pesquisa foi conhecer a atuação do enfermeiro frente a infecção hospitalar, levado ao conhecimento da população as necessidades de implantar medidas profiláticas de forma eficaz na infecção hospitalar.
A realização do estudo foi de grande valia para nós, pois nos proporcionou enriquecimento teórico sobre um fato muito freqüente nas unidades e instituições de saúde que podem ser evitados com ações e medidas profiláticas promovidas por toda a equipe de saúde. Permitiu que despertássemos nosso foco para a atuação da equipe de enfermagem mediante ao paciente internado na instituição, principalmente a aqueles submetidos a processos cirúrgicos e uso antibioticoterapia reduzindo a imunidade, pois estão mais propícios a uma septicemia hospitalar.


DESENVOLVIMENTO

No Brasil, foram no século XVI que surgiu a assistência hospitalar, com as Irmandades de Misericórdia, as Santas Casas. A primeira Santa Casa de Misericórdia foi a de Santos, fundada por Brás Cubas, em 1543.
"As informações sobre a situação da arte de curar e das doenças, na época da descoberta do Brasil, 1500, são carentes de relatos. Entre os índios brasileiros, a missão, a arte de curar, cabia ao pajé ou "caraíba" ou "piaga", que reunia as funções de feiticeiro, adivinho, sacerdote e curador" (RODRIGUES, 1997).
O primeiro relato de Infecção Hospitalar desponta somente a partir de 1956 com tema sobre esterilização do material hospitalar, na "Revista Paulista de Hospitais" (RODRIGUES, 1997), mas só em 1975 são iniciados estudos nos hospitais brasileiros indicativos que revelavam a incidência de paciente acometido pela doença em 1971 ficava em torno de 283.000 a 911.000 pacientes, enquanto o número de óbitos associados oscilava entre 48.000 e 156.000.

Ainda segundo o referido autor em 24 de junho de 1983, o Ministério da Saúde publica a portaria nº 196, estabelecendo um dos marcos históricos no Brasil relacionado ao domínio das infecções hospitalares em que todo hospital, independentemente da entidade mantenedora, porte ou especialidade, deveria compor uma comissão de controle da infecção. Às Secretarias de Saúde dos Estados competia promover a implantação e fiscalização dessas comissões.
Para Freitas (2000), atualmente os diversos profissionais da área da saúde vêm se organizando a fim de discutir e encontrar soluções para a alta ocorrência de Infecção Hospitalar, estando precedidos pelas Associações de Estudos sobre Infecção Hospitalar ? regionais e nacionais ? grupos de estudo do Ministério da Saúde, entre outros. Diante das significativas dificuldades, a maioria dos profissionais envolvidos nessa luta conta a Infecção hospitalar baseiam-se nos estudos realizados por instituições estrangeiras, como o CDC de Atlanta ? EUA, para constituição fundamentada da sua prática clinica.
"Parece que o Brasil está longe de ter um controle efetivo das infecções hospitalares. O último dado nacional sobre a questão é de 1994, portanto há oito anos, e o índice obtido foi 13%, sendo que o máximo permitido pela Organização Mundial de Saúde é de 5%." (FREITAS, 2000)
Para Couto,Pedrosa e Nogueira (2003), lavagem básica das mãos com água e sabão visa a remoção da maioria dos microorganismos da flora transitória, de células descamativas, de pêlos, de suor, de sujidades e de oleosidades. O objetivo da lavagem das mãos é reduzir a transmissão de microorganismos pelas mãos, prevenindo as infecções. A eficácia da lavagem de mãos depende da duração e da técnica.
Outras medidas foram colocadas por Camargo et al. (1998), Turrini (2000) e Oliveira et. al (2007) como fatores predisponentes para os surtos de infecção hospitalar dentro de uma unidade de saúde, tais como: falta de diagnóstico precoce; "rejeição" ao isolamento de contato; má-formação básica ou acadêmica dos profissionais, rotatividade de funcionários, falta de aderência às normas/rotinas, falta de interesse, a existência de poucos funcionários e enfermeiras, não liberação dos funcionários pelas chefias para atividades educativas, falta de comprometimento das chefias, falha na liderança das enfermeiras, falta de comunicação entre os turnos.


Pode-se entender o conceito de Bioética utilizando as seguintes frases de Clotet apud Boemer & Sampaio (1997): "estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados da saúde, na medida em que essa conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais"
Os estudos pioneiros acerca da bioética surgiram no mundo intelectual ocidental nos últimos trinta anos (DINIZ, 2000).
Sgreccia (2002) explica que o Princípio de Totalidade (ou Princípio Terapêutico) é um das fundamentações e peculiaridade da ética medica. Essa teoria baseia-se na a corporeidade humana como um todo unitário resultante de partes distintas e unificadas organicamente e hierarquicamente entre si pela existência única e pessoal.
Por muitos anos a teoria principialista foi hegemônica nos estudos bioéticos. Mesmo face a poucas teorias antagonistas à teoria principialista o domínio da teórica dos quatro princípios foi considerável. Países onde a bioética ascendeu e prevaleceu mais tardiamente (países periféricos na produção intelectual em bioética, como o Brasil) ainda hoje "abraçam" a teoria principialista como sendo a principal referência teórica da bioética.

ENFERMAGEM E A BIOÉTICA NA INFECÇÃO HOSPITALAR

Em suma, o comportamento ético é fruto de uma ação consciente, em que o sujeito permite-se distinguir a diferença entre o perfeito e o imperfeito, o certo e o errado, a virtude e vício. Assim, a consciência e responsabilidade são desígnios da ética. O livre arbítrio, por sua vez, procede da autonomia decisória do individuo moral, sendo que o anseio da liberdade deve estar atrelado à responsabilidade da ação sem repressões de outros e sem os "impulsos das paixões" (SILVA et. al., 2007).
A ação ética deve está inserida no contexto holístico a fim de orientar o enfermeiro (ou qualquer outro profissional) na sua vivencia prática diária. Contudo, é intrigante perceber que, por meio de pesquisas, é constatada uma discrepância significativa entre teoria e a prática (SILVA et. al., 2007).

É por meio da prescrição de enfermagem objetiva-se minimizar a contaminação e transmissão de agentes infecciosos. Para a eficiência desse serviço deve-se ter por descrito as rotinas diárias a serem realizadas como: limpeza, desinfecção e esterilização de materiais de uso e superfícies.
O setor de enfermagem é responsável pelo cuidado adequado de cada material, controlando e validando os diferentes processos, para a detecção precoce de falhas e garantir a qualidade total do serviço prestado.
São indispensáveis as atenções às regras essenciais como a lavagem de mãos antes e depois do contato com cada paciente, ou sempre que precisar; o uso adequado de luvas, aventais, óculos e máscaras; e a limpeza do ambiente logo depois de cada uso do cliente.
Se tratando de infecções virais é importante medidas quanto às preventivas além das já citadas como a realização da imunização ( vacina contra HPV ) aos pacientes, ao pessoal de saúde, familiares e contactantes. Nos casos de pacientes portadores de vírus altamente contagiosos é procedente o isolamento de contato.
Quanto às infecções bacterianas, deve-se evitar a manipulação excessiva (ou desnecessária) de cateteres. Em casos confirmados de infecção bacteriana, deve-se administrar antibiótico de acordo com o quadro clinico do paciente. É indicado também manter sistema fechado ao fazer monitoramento invasivo hemodinâmico.
Uma indispensável medida para controle das infecções hospitalares é o treinamento e educação continuada para o pessoal de saúde. Manter registros da qualidade da água, da sorologia dos pacientes e episódios de bacteriemia, bem como registros com nome do funcionário que conecta e desconecta o cliente como uma máquina. Realizar exame físico, manter controle dos exames laboratoriais, evitarem ao máximo transfusões sangüíneas e de hemoderivados também são medidas extremamente significativas.
Neste item, é pertinente afirmar que a educação ao paciente e aos familiares sobre medidas de higiene, imunização, como evitar infecções e quando comunicar ao pessoal de saúde é indispensável. É preciso a realização da limpeza dos sistemas de refrigeração sistematicamente e que o pessoal da saúde (enfermeiros e os demais) utilizem os equipamentos de proteção individual (EPI?s) para a segurança de ambos (profissional e paciente).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo Freitas (2000), diz que a infecção hospitalar no Brasil ainda é caso de grande índice de morte, pois o controle de qualidade é insuficiente para suprir as necessidades.
Para Castro et. al. (1998) o problema da infecção hospitalar é decorrente da ma formação dos profissionais o que acarreta na falta de qualificação na saúde, um dos fatores prejudiciais é a falta de higienização no ambiente hospitalar.
De acordo com Camargo et. al. (1998) os maiores fatores prejudiciais a infecções hospitalares é de responsabilidade não só dos enfermeiros mais também de todos os funcionários da unidade, onde os mesmos devem manter higiene adequada, assim mantendo não só a promoção como a prevenção de infecções.
Assim percebemos que os autores não se diferem da mesma teoria a qual se dá a tematica pesquisada, que ambos buscam orientar e informar não só os enfermeiros como outros profissionais do que é e como previnir a infecção hospitalar no âmbitro de trabalho em campo ou nos setores fechados como clínicas e hospitais.

CONCLUSÕES

Após realização desse trabalho chegamos a seguinte conclusão que para prevenir a infecção hospitalar, os profissionais de saúde devem estar atentos aos cuidados básicos com a higienização dos instrumentos utilizados em todos os setores e clinicas hospitalares, bem como na lavagem das mãos um ato simples mais de grande importância, vislumbrando sempre o bem estar do paciente. Vale ressaltar que toda a unidade hospitalar deve estar envolvida neste combate à Infecção hospitalar, desde a diretoria, enfermeiros, médicos e técnicos, todos devem estar imbuídos no mesmo propósito. Contudo cabe à enfermagem praticar os princípios bioéticos previamente estudados nas teorias em sala de aulas (antes da vivencia clínica) contribuindo significativamente para a degradação dos casos de infecção hospitalar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARGO, L.F.A.; OLIVEIRA, C.; LASELVA, C.; VALLONE, C.; HOSAKA, E. et al. Programa de controle de transmissão de bactérias multirresistentes (BMR) em uma UTI geral: aderência a medidas de isolamento de contato e relato da ocorrência de transmissão cruzada. In: VI CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTROLE DE INFECÇÃO E EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR, Campos do Jordão, nov., 1998. Tema Livre 6 (Medidas de Controle), p. 199.

CASTRO, T.L.G.A.; LEAL, R.W.; MONÉIA, A.C.F.; Lavagem das mãos: estudo comparativo pré e pós-campanha. In: VI CONGRESSO BRASILEIRO DE
CONTROLE DE INFECÇÃO E EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR, Campos do Jordão, nov., 1998. Poster 2 (Medidas de Controle), p. 44.

DINIZ, D. Bioética e Enfermagem. SérieAnis 14. Brasília: LetrasLivres, Junho de 2000. p. 1-4.

FREITAS, AGS. Infecção Hospitalar e Resistência Bacteriana uma Atitude Ética e Multidisciplinar. Folha de São Paulo, 18 de março de 2000.

OLIVEIRA, et. al. Infecções hospitalares em uma unidade de internação de um Hospital universitário. Rev Enferm UFPE On Line. 2007; 1 (2):187-91.
RODRIGUES, Edwal Aparecido Campos. Histórico das Infecções Hospitalares. In:_____. Infecções Hospitalares Prevenção e Controle. São Paulo: Sarvier, 1997. Cap 1, p.03-27.

SANTOS, A. E. V. Riscos de Infecções Hospitalares na unidade de Terapia Intensiva neonatal: a enfermagem e os procedimentos invasivos pelo estudo do cateterismo umbilical. Rio de Janeiro, 2000. 224p. Tese ( Mestrado ) ? Universidade Federal do Rio de Janeiro.

SGRECCIA, E. Manual de Bioética: Fundamentos e Ética Biomédica. 2ª Ed. São Paulo: Manole, 2002.

SILVA, F. et. al. Conduta Ética dos Profissionais de Enfermagem em Relação aos Erros Cometidos na Assistência. Revista Científica da FAMINAS: Muriaé. v. 3, n. 1, sup. 1, p. 439, jan - abr 2007.

TURRINI, R. N. T. ? Programas de controle de infecção hospitalar. Fatores relacionados a sua implementação. In: III CONGRESSO PAN AMERICANO, VI CONGRESSO BRASILEIRO E I CONGRESSO DA ODONTOLOGIA DE MINAS GERAIS DE CONTROLE DE INFECÇÃO E EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR, 2000, pôster n. 205 AP, Belo Horizonte.

Autor: Ana Alice Melo


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