Contexto histórico de O Manifesto do Partido Comunista de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-895).



Contexto histórico da Obra Manifesto do Partido Comunista

Por Maria Galdina Toledo



A obra que a partir de agora passaremos a expor trata-se do Manifesto do Partido Comunista escrito por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-895). A presente Obra foi escrita entre fins de 1847 e início de 1848. Sua primeira publicação se deu em 21 de fevereiro de 1848. Esta obra foi redigida como programa da Liga dos Comunistas. Este movimento originou-se de uma espécie de evolução natural da Liga dos Justos, e esta, por sua vez, estava intimamente ligada à trajetória da própria indústria moderna e às primeiras tentativas de organização da classe operária européia, especialmente da alemã.
O texto, apresentado por Marx e Engels, foi assumido na íntegra pela Liga dos Comunistas, durante o segundo congresso da entidade, realizado no final de 1847, na cidade de Londres. A Obra Manifesto do Partido Comunista, pode ser considerada um panfleto político, escrito a mais de um século, foi durante boa parte do século XX um espectro a rondar a humanidade, pois este pequeno livro levou, com a forma de pensamento nele contida, à separação política daqueles que se encontram favoráveis às ideias marxistas e aqueles que a combatem.
Ao longo das formações de partidos trabalhistas pode-se observar que estes utilizaram o texto do Manifesto do Partido Comunista como uma espécie de catecismo para a formação de seus militantes. Contudo, a alcunha de Partido Comunista passou a ser assumida somente a partir da Revolução Russa, com vitória dos Bolcheviques, ala majoritária do Partido Operário social Democrata da Rússia que, com Lênin liderou a revolução de 1917, que após a derrubada do Czar Nicolau II e do Governo provisório, instaurou o regime socialista na Rússia, e formou posteriormente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1922.
A obra que iremos apresentar esta inserida em um contexto histórico e social. O Manifesto do Partido Comunista, escrita no século XIX, pertence ao momento histórico da Revolução Industrial e do surgimento da classe operária.
O século XVIII viu surgir importantes inovações tecnológicas, como por exemplo, a máquina de fiar, o tear mecânico, e principalmente, a máquina a vapor, que é o símbolo da Revolução Industrial. Nesse período desenvolveu-se também o uso de uma nova fonte de energia, o carvão, que conjuntamente com os aprimoramentos das técnicas de fabricação favoreceram o surgimento das indústrias. Essas novas tecnologias trouxeram muitas mudanças nos modos de organização do trabalho e da produção.
A Revolução Industrial surgiu na Inglaterra do século XVIII em razão de esta ter conquistado nos séculos anteriores as condições necessárias para realizá-la, como entre outras a acumulação de capitais e grande reserva de minerais, principalmente o carvão.. No século XIX a industrialização se estendeu pelo continente europeu, na França, na Bélgica, a Oeste da Alemanha, no Norte da Itália e em alguns pontos da península Ibérica.
Com os cercamentos, na Inglaterra, das antigas terras comunais, do período feudal, houve a transformação destas em propriedades privadas, para a criação de ovelhas, a fim de que estas fornecessem a lã para as indústrias têxteis do país, com isso os camponeses, que antes utilizavam a terra que foi cercada comumente, se viram obrigados a abandonar os campos e migrar para as cidades, em busca de um emprego nas fábricas. Desse modo, forma-se então, conforme nos mostra o historiador René Remond (1918-2007):

uma massa assalariada que não tem por si nada a mais além de sua capacidade de trabalho físico, que não tem nem reservas nem recursos, mão de obra não qualificada, vinda em linha direta do campo à busca de trabalho, obrigada a se acomodar ao primeiro serviço que encontra. p. 104.

A industrialização e urbanização trouxeram grandes transformações sociais. Os que mais sofreram com essas mudanças foram os operários devido às precárias condições de moradia e de saneamento das áreas onde habitavam, pois os trabalhadores eram obrigados a se contentar com os locais abandonados pela população, locais que Remond compara às atuais favelas.
A rotina de trabalho destes trabalhadores era extremamente cansativa, podia alcançar uma jornada diária de até 16 horas, em geral, trabalhava-se enquanto a luz do sol permitia. Uma rotina sem descanso, o trabalho seguia até mesmo aos domingos, suprimiram-se os dias santificados e reduzia-se cada vez mais as possibilidades de descanso dos trabalhadores.
Esses operários recebiam baixíssimos salários e se viam em constante risco de desemprego, pois a falta de empregos proporciona aos industriais um verdadeiro exército de reserva, que poderá substituir o operário, doente ou grevista, sem qualquer dificuldade de arranjar outra mão de obra. Além do mais estes operários não recebiam nenhum auxílio caso adoecessem, se acidentassem ou por envelhecimento.
Uma boa parcela dessa massa de operários era formada por mulheres e crianças, que desde a mais tenra idade são obrigadas a trabalhar. Além de enfrentarem todas essas duras condições de trabalho, esse grupo recebia salários inferiores aos homens.
Nesse contexto de exploração e de péssimas condições de vida e de trabalho é que surge o pensamento socialista moderno, como uma forma de crítica à exploração capitalista. A Obra que analisamos, Manifesto do Partido Comunista, veio dar corpo ao pensamento comunista.
Esse pensamento crítico e opositor ao capitalismo, presente em obras como Crítica da economia política (1859), O Capital (1867) e o Manifesto do Partido Comunista (1848), foram fundamentais para a implantação no século XX, dos regimes socialistas, principalmente na Rússia, com a formação da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, extinta em 1991).
Assim como a aplicação das interpretações das teorias de Marx e Engels em diversos lugares do planeta, como a China, que até hoje é um país chefiado pelo partido comunista chinês, apesar de aproximações a formas de capitalismo. Vemos também, a tentativa, ou até em alguns casos, a implementação de regimes socialistas ou o alinhamento a este que ocorreu também no sudeste da Ásia, Europa oriental, África sub-Saariana e Cuba.
Vale lembrar que o modelo de socialismo implantado nestes países se originou de interpretações do pensamento e das obras de Marx e Engels. Pois de acordo com seus teóricos o comunismo viria como o fim do Estado e da propriedade privada. Os países de orientação socialista, em grande parte puseram fim à propriedade privada, e não ao Estado. O socialismo implantado nestes países desenvolveu-se na forma de governos ditatoriais e altamente repressivos com aqueles que discordam do regimes.


Referências Bibliográficas:
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. O manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2005.
REMOND, René. O século XIX: 1815-1914. Tradução de Frederico Pessoa de Barros. 7ª. ed. São Paulo: Cultrix. 1997.


Autor: Maria Galdina Toledo


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