Irei!



Às vezes eu me pego me preocupando comigo mesmo. Como se a vida merecesse preocupações. É melhor deixar a porcaria do tempo passar. Daqui a pouco vai escurecer, tu vai dormir e amanhã será outro dia (ou será o mesmo?). Alguma coisa tem que acontecer. Não precisa ser necessariamente uma coisa boa. Sei que isso só depende de mim. Mas entre mim e "alguma coisa" existem os riscos: a violência gratuita, a sociedade capitalista, os cidadãos desconfiados. Me sinto abandonado, como se eu não tivesse nascido mas jogado no mundo ou fora dele. Não sei viver aqui. Não tenho as qualidades necessárias. Minhas escolhas se adiantaram. Fui persuadido por prazeres medievais. Prazeres carnais. Estou chegando nas últimas. Estou encurralado pelo os meus dois finais atrozes. O fim da vida terrena e o fim da vida limitada. Qualquer que seja estarei perdido e liquidado. Estarei sozinho em mim mesmo. Irei! passo a passo sem temer e sem me cuidar. Preciso satisfazer a minha vontade e assim velar a minha inevitável infelicidade. Meus glóbulos oculares se afogam em lágrimas quando penso que talvez eu nada posso fazer por mim mesmo. Cada dia que passa me sinto mais abandonado, angustiado, fracassado, amargurado... tristeza tristeza tristeza.
Autor: Marcelo Moreira Grilo


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