Capítulo IV: O passarinho



Não há caminho mais árduo, duro, porém cheio de esperança do que aquele pelo qual percorre um solitário desempregado homem à procura de emprego que nem sabe se existe. José já estava cansado, acordara neste dia cedo... Antes do sol se mostrar e ainda com estrelas no céu... Lembrou-se da noite anterior, onde próximo à janela rezou ao seu Santo de devoção e à Virgem... Ficou chateado quando lembrou que a família não tinha mais T.V. pensou na caçula que era proibida pela nega de sair para as casas das coleguinhas, o coração de José doeu, ao lembrar que a caçula não veria mais o palhaço carequinha. José olhou para o céu, o sol já estava a pino, já passava do meio-dia, o sol já seguia caminho para as montanhas para descansar de mais um dia de 12 horas (mais ou menos) de trabalho, e nosso bom homem, ainda não tinha conseguido nada!
Já cansado e exausto, José se assentara numa praça, pegou da sacola de plástico um pão que resolveu não comer para esperar ficar com muita fome, como agora, (ainda não tinha almoçado) o pão um tanto duro, pela perda de água, despedaçava como se fosse alpiste... Cabisbaixo, suspirou... E ergueu um pouco os olhos e viu um passarinho, não conseguiu identificar se era um periquito ou um pardal, se era um abutre ou um corvo, se era uma fênix ou outro pássaro mitológico, José fez um som estranho com a boca... "sh! sh! sh! sh! sh..." O passarinho, virou a cabeça de lado, virou a face direita para o nosso herói... E como se fosse mágica, começou a balançar a cabeça respondendo ao "sh..." de José, então sorriu nosso amigo, nosso bom homem que como São Francisco de Assis prestava atenção à fome dos animais... José, despedaçou um pedacinho do pão que lhe servia como almoço... Levantou bem devagar... Bem devagar... Para não assustar o passarinho... E José, quase chorou de tanta felicidade, ao ver... Que aquela pequena ave... Comia do seu pão, como come a caçula. José sentiu em si a força dos gigantes do olímpico, dos gladiadores e dos jogadores da seleção brasileira nas copas de 58, 62, 70, 94, 98 e 2002 e todas aquelas em que jogaram com paixão, embora não tenham trazido a taça e a garra de soldados em cruenta batalha pela libertação das mulheres, crianças, idosos e todo aquele que não pode carregar uma espada, como José!
José! Respirou fundo! Fez as devidas orações! Levantou-se, jogou a sacola no lixo, como um cidadão de bem que era, embora alcoolista e saiu em busca de trabalho para comprar uma T.V. a cores para a caçula assistir ao palhaço carequinha!
Autor: Glauber Marques


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