Sobre as Ligas Camponesas.



Introdução: O presente estudo tem como objetivo principal, retratar uma análise histórica sobre um tema de singular importância no contexto das lutas políticas e sociais protagonizadas pelas áreas rurais do Brasil. As ligas Camponesas representam para Pernambuco e para a nossa breve história nacional um grandioso fato histórico e político. O caráter reacionário ou até mesmo revolucionário que os camponeses e expropriados rurais se manifestaram frente a uma estrutura fundiária herdada desde o período colonial, concentrando grandes extensões de terra nas mãos de uma minoria elitista contribuiu notoriamente para reacender a vertente de lutas e manifestações políticas nas áreas rurais brasileiras frente a todas as injustiças que uma "classe proletária, porém não operária" estavam profundamente vulneráveis. É constatável que após a Segunda Guerra Mundial, vai haver uma grande dinamização na produção agrária do Brasil, com isso, várias foram às modificações nas estruturas econômicas e sociais que ocorreram nas áreas rurais brasileiras, transformando assim o campo, não somente em uma zona de produção e fornecimento de mercadorias, mas também, nesse momento, as áreas rurais irá ser uma vertente consumidora das novas técnicas e maquinários industriais, provocando assim um aumento na acumulação de capital e a ampliação de áreas destinadas para a produção agro-pecuária. Pois bem, frente a todas essas mudanças, ocorre também o surgimento de uma burguesia industrial que junto aos latifundiários vão aderir a uma modernização conservadora no campo, provocando assim uma grande expropriação de camponeses e foreiros de suas terras e transformando uma grande parte desses, em trabalhadores assalariados sem quase nenhum direito trabalhista. Enfim, tendo em vista que desde a década de 1940 o campo estava passando por profundas mudanças, é válido ressaltar que, essas modificações ou essa modernização teve um caráter profundamente conservador e que com tudo isso, o campesinato passou a ser cada vez mais explorado e sua condição de vida fica a cada momento dessa modernização, mais próximo à miséria. É nesse contexto que, tendo em vista os notáveis contrastes sociais, as zonas rurais mais uma vez se transformam em um espaço bastante atribulado, devido às manifestações das camadas exploradas contra os desmandos das "novas" e "velhas" elites rurais. Eis que surge as Ligas Camponesas e os Sindicatos Rurais, protagonizando a defesa do trabalhador oprimido e também, dando um caráter político as lutas camponesas do Nordeste brasileiro, evitando assim que o movimento fosse simplificado a uma estereotipação, seja de movimentos messiânicos, seja de banditismo social. Definições tão comuns para as lutas sociais das áreas rurais brasileiras. Enfim, com o advento das ações das Ligas Camponesas, o Brasil protagonizou um momento na qual, poder-se-ia até cogitar em determinado momento que se um dia houvesse a implantação de uma Revolução Socialista no país, esse acontecimento não iria ser conduzido pelo proletariado urbano ligado ao marxismo-leninista dos partidos de esquerda, principalmente o Partido Comunista. Mas, devido às conjunturas do determinado período (década de 1950/1960) essa revolução iria ser orientada através das ações das Ligas Camponesas e seu principal líder, o advogado Francisco Julião que apaixonadamente lutava contra as oligarquias, a fim da concretização de uma reforma agrária. O episódio das Ligas Camponesas no Brasil, sem dúvida foi um fato histórico e político de singular importância para a formação de uma camada politizada e crítica nas áreas rurais do país e sem dúvida, muito que escutamos sobre o tema da reforma agrária, deve-se as ações de um "proletário rural" bastante aguerrido em busca dos seus ideais e objetivando a construção de um Brasil mais justo e digno para a população do campo e da cidade. As Ligas Camponesas: As Ligas Camponesas, podemos assim afirmar, surge da necessidade dos trabalhadores rurais se organizarem de forma representativa e institucional para responder a injusta questão agrária do país, tendo em vista a estrutura fundiária nacional. Pois bem, nesse contexto, concebe-se como o movimento das ligas, como um fato histórico e político acontecido em nossa breve história nacional, que buscava ampliar o debate sobre a propriedade rural brasileira, em uma época que o Nordeste se encontrava um notável paradoxo social devido ao modelo de produção modernizada e com a "penetração do capital na agricultura, conduzindo inexoravelmente á separação do produtor direto da terra e dos frutos de seu trabalho". (AZEVÊDO, Fernando Antônio. AS LIGAS CAMPONESAS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 19). Pois bem, ao haver essa capitalização na produção agrícola, consequentemente a acumulação do capital será um fator predominante no processo de expropriação do camponês ou do trabalhador foreiro de suas terras, onde os mesmo produzem as suas formas de subsistência, geralmente baseadas em "lavouras brancas", surgindo assim uma camada de trabalhadores assalariados e com isso, acarretando em uma "marginalização" dessas pessoas, uma vez que, ao haver essa mudança de relação social no campo, as terras na quais, os camponeses e os foreiros utilizavam para o sustento de suas famílias, foram confiscadas devido à busca pelo aumento da produção. É válido prestarmos uma atenção maior a essa modificação de status, ou seja, no momento em que o camponês se torna um trabalhador assalariado (característica tipicamente do capitalismo), a sua subsistência será concretizada, não pelo seu trabalho direto em suas terras, mas agora será pela sua força de trabalho em troca de uma remuneração salarial. A partir daí, a ideologia política presente nas áreas rurais, passa por uma releitura e por uma nova análise, haja vista que, as bandeiras de luta do camponês expropriado seria a devolução imediata de suas terras e de sua autonomia na sua própria produção econômica. No entanto, a classe assalariada, que nesse determinado momento se encontra dentro desse sistema modernizador da produção, terá como principal meta política a criação de um corpo de leis trabalhistas. Ora, vejamos que a ótica dessas duas classes (trabalhadores assalariados e camponeses), apesar de estarem no mesmo bojo das classes exploradas pelo capital, manifestam nas suas intenções políticas finalidades diferentes. Nesse contexto, a resistência feita á articulação entre a propriedade fundiária e o capital industrial teve "o papel e o significado político do movimento camponês nas décadas de cinqüenta e sessenta, em Pernambuco, e que se expressou através da ação das Ligas Camponesas e dos Sindicatos Rurais". (AZEVÊDO, Fernando Antônio. AS LIGAS CAMPONESAS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 21). É válido ressaltar que essa modernização na produção agrícola, seguia os métodos do até então conhecido como "Via Prussiana" no qual, segundo Lênin, o capital penetra no campo mantendo a grande propriedade agrária e o monopólio da terra, a partir de onde promove a modernização agrária e as transformações das relações sociais atrasadas e arcaicas. (AZEVÊDO, Fernando Antônio. AS LIGAS CAMPONESAS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 21). É nesse modelo prussiano que vai haver uma aliança entre os latifundiários do Nordeste brasileiro junto a uma burguesia industrial, que com as suas novas técnicas de produção, vão "invadir" a produção agrícola e provocar as mudanças nas relações de trabalho das áreas rurais. Mudanças essas que são marcadas profundamente pela manutenção da exclusão política do campesinato. Em outras palavras, atribui a esse modelo de desenvolvimento na produção uma modificação na própria forma de se produzir, porém é fato que ainda prevalecia no campo todo o mandonismo coronelista, mantidos intocados assim alguns aspectos da política local. Assim, o encanto da vida dos engenhos bangüês aos poucos era substituído pela modernização dos ciclos das usinas transformando esses bangüês em apenas fazendas fornecedoras de cana, tendo em vista esse desenvolvimento agrário-industrial. Ora sabe-se que as relações de trabalho no Nordeste estavam totalmente restritas a conjuntura latifundiária local, foi nessa ocasião que mesmo tendo consideráveis modernizações, havia um "pacto agrário" que mantinha a famosa "paz agrária", ou seja, a manutenção sobra às formas de exploração e de exclusão política para os camponeses e camadas populares. Tendo em vista, essas modificações, a exploração do campesinato tende a aumentar cada vez mais, uma vez que, agora a verticalização do poder local não está somente restrito aos "barões de açúcar" (esses por sua vez, ainda mantinha a sua influencia sobre as vidas camponesas), mas também a uma burguesia industrial que tratara de expandir o trabalho assalariado em detrimento aos trabalhadores foreiros. Nessa conjuntura, os desmandos e a exploração ao trabalhador transformam mais uma vez o Nordeste em um "barril de pólvoras" prestes a explodir, com uma reação camponesa, principalmente contra aos simultâneos processos de expropriação das terras cedidas a outrora ao campesinato, devido à necessidade de expansão das lavouras de cana de açúcar para que ocorresse um aumento no fornecimento de matéria-prima para as usinas produtoras. Esse processo de expulsão foi concretizado de uma forma bastante clara, tornando o trabalhador rural e o camponês como uma mercadoria exclusiva para a serventia ao capital. Formando assim uma ótica industrial dentro da própria lavoura canavieira. A partir desse momento, que o camponês agora assumirá a posição de assalariado no processo de produção, sendo diretamente separado da própria produção e dos instrumentos de trabalho. Com isso, vai haver um grande processo de superexploração, e uma presença de um pagamento salarial totalmente inferior ao soldo mínimo regional. É válido ressaltar que, os direitos trabalhistas, nessa conjuntura quase que inexistia na concepção das mentes camponesas, uma vez que, apesar de aos poucos uma considerável maioria de camponeses estivessem passando por profundas mudanças no seu cotidiano, se aproximando cada vez mais do próprio proletariado urbano, essa população rural, primeiramente, ainda não estava pronta para sofrer uma mudança tão radical, tendo em vista a secularidade das suas antigas relações de trabalho e produção. Sendo assim, quando o assalariado rural passa a se tornar a classe popular mais numerosa, não vai haver um "proletário rural" organizado e crítico aos seus direitos trabalhistas. A modificação desse quadro veio de forma bastante pragmática, pois as próprias circunstâncias, praticamente obrigavam a uma releitura política sobre a conjuntura desse determinado momento nas áreas rurais do Nordeste. Frente a essa conturbada modificação na produção, paralelo a um aumento significativo da exploração aos trabalhadores rurais, às primeiras organizações de lutas sociais em defesa ao campesinato não vai ter um discurso tão revolucionário, a ponto de almejar diretamente uma própria reforma agrária. Sabe-se que as primeiras Ligas Camponesas, surgem como organizações civis e se manifestam totalmente ligadas aos anseios de lutas do PCB ? Partido Comunista Brasileiro, em meados da década de 1940. Isso porque o próprio interesse partidário seria antes de tudo uma organização mais centralista em torno de instituições sindicais. Esses sindicatos por sua vez, mais presente nas áreas urbanas, buscavam defender os interesses das classes assalariadas, ou seja, o próprio partido comunista não tinha uma experiência na abordagem sobre os direitos de trabalhadores rurais que não estavam enquadrados no sistema industrial da época vigente. Outra questão é que o radicalismo das ações das Ligas Camponesas vão se manifestar por volta das décadas de 1950 e 1960, períodos que vão ser caracterizados por uma maior expropriação generalizada. Enfim, as primeiras organizações de defesa aos trabalhadores rurais se encontravam em um período na qual estava se instalando no campo as condições prévias para as expropriações. Isso explica que no início, as Ligas Camponesas não tinham o caráter tão revolucionário, comparada ao seu caráter de uma década posterior. Na própria história das Ligas Camponesas, pode-se constatar que um ponto de singular importância para a configuração de associações civis defensoras dos direitos dos camponeses fora a criação no Engenho da Galiléia (Vitória de Sto. Antão) da SAPPP ? Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco. Onde mais tarde essa organização se tornaria o ponto fulminante para a consolidação das ações das Ligas. A criação da SAPPP de deu em 1955. No início suas ações estavam voltadas para a busca por resoluções mais pragmáticas a vida dos camponeses. Principalmente de uma ajuda financeira para que algumas famílias comprassem caixões mortuários na hora de um enterro de algum parente. Esse fato revela nitidamente como era a situação de miséria que os camponeses estavam tão vulneráveis. Era durante esse período que o próprio executivo municipal emprestava um caixão para o velório de algum cidadão. No entanto esse caixão, no momento do enterro, teria que ser devolvido à prefeitura, para que o mesmo servisse para outro funeral, ou seja, o finado teria que ser retirado do caixão e ser enterrado diretamente na sua sepultura. Com isso, a SAPPP tinha funções bastante práticas e de caráter assistencialista, tendo em vista a dura vida dos camponeses do Nordeste. No entanto, quando os processos de expropriação dos camponeses começam a acontecer, principalmente no próprio Engenho da Galiléia, a Sociedade Agrícola, passa ater um caráter mais radical e inicia um grande conflito político pela devolução das terras expropriadas e principalmente pela própria reforma agrária. Nesse sentido as lutas camponesas no nordeste ganham uma nova denotação, e não se resume apenas a uma luta isolada. Enfim, o "proletariado camponês" ao se encontrar como a principal vítima do processo de acumulação de capital na lavoura canavieira, vai gradativamente se guiando para apenas duas saídas. A primeira consistia em simplesmente se adaptar as novas regras de uma economia de mercado no campo, se tornando na melhor das hipóteses um trabalhador assalariado não contemplado por direitos trabalhistas (é válido ressaltar que nesse processo de adaptação do trabalhador as novas formas de produção regida pela burguesia industrial, foram constatadas um grande contingente de famílias marginalizadas, devido a grande utilização da mão-de-obra temporária, ou seja, ser um assalariado fixo em no latifúndio rural, mesmo sem ter algum direito trabalhista, a partir da década de 1960 era um privilégio de poucas famílias.). a segunda alternativa era se manifestar antagonicamente a essas mudanças na produção capitalista que cada vez mais expropriava a pobre família camponesa de sua principal "fortuna" a terra para o plantio e para a criação de gado de uma forma extensiva, voltada para a subsistência. É nesse contexto de superexploração e expulsão em massa do camponês que a Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco, foi obrigada a intervir na defesa da pequena propriedade camponesa e da própria luta do campesinato, erguendo a bandeira de uma reforma agrária. Um fato de singular importância fora que a SAPPP, adotou uma tática de não se isolar, e agregou entidades sindicais e forças políticas do estado de Pernambuco e até setores libertários da Igreja Católica. Bem a existência das Ligas Camponesas, pode-se dizer que já existiam desde a década de 1945, sabe-se que esses coletivos estavam ligados ao Partido Comunista Brasileiro, o principal nome de referência política esquerdista naquele momento, porém, mesmo existindo e lutando contra as injustiças dos latifúndios, as Ligas somente teve um papel realmente de luta organizada, quando se iniciaram as desapropriações das pequenas propriedades, principalmente no Engenho da Galiléia, em Vitória de Santo Antão que representa o símbolo e a síntese da luta camponesa dessas décadas "subversivas" dos camponeses (1940, 1950, 1960). De fato, a luta travada no Engenho da Galiléia conquistou um grandioso significado político para o nordeste, haja vista que, esse conturbado processo político e quem sabe poderíamos até dizer que revolucionário, tendo em vista a tentativa de superação da hegemonia política das oligarquias e da burguesia industrial. A medida que as Ligas se fortaleciam, ficava mais notória a atuação de Francisco Julião na luta em defesa aos camponeses expropriados. Nessa conjuntura, as oposições políticas ao governo estadual gerido majoritariamente, tanto no executivo quanto no legislativo, pelo PSD, (ou seja, PCB, PSB, PTB, UDN, Sindicatos e frações de uma burguesia urbana) em 1956 sintetizam uma aliança com os setores rurais, isolando ainda mais o governo de Cordeiro Farias. Com isso, não tarda para que as forças oposicionistas ao governo pessedista conquistam o poder político e nessa conjuntura, com a vitória de Cid Sampaio (UDN) em 1958, apoiado por Pelópidas da Silveiras (PSB) o contexto político do estado de Pernambuco ficara cada vez mais democrático e com isso, o clima ia favorecendo ainda mais para a concretização de uma luta tão sonhada pelas Ligas Camponesas ? a Desapropriação do Engenho da Galiléia. No ano de 1959, acontece essa desapropriação do engenho, baseado no artigo 141, parágrafo 16 da Constituição Federal, que assegurava a desapropriação, por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro. É nesse momento que a atuação das Ligas Camponesas nas lutas em defesa da terra, passava por uma nova fase, uma vez que, a organização política do campesinato nesse momento, se encontrava muito mais politizado e mais crítico em relação aos assuntos estaduais. É nesse contexto que a luta camponesa fica ainda mais forte, principalmente sobre o tema da reforma agrária. Um ponto de grandiosa magnitude para o enriquecimento teórico do presente estudo consiste em fazermos uma análise sobre a data de desapropriação do Engenho da Galiléia e o próprio episódio da Revolução Cubana, bem, como podemos enxergar, ambos os acontecimentos políticos aconteceram no ano de 1959 e justamente em uma direção ? Campo ? Cidade. A expansão e a atuação das Ligas Camponesas preocupavam não somente os grandes proprietários de terra do Brasil, mas até mesmo os Estados Unidos. Em vista da Revolução Cubana, feitas nas "barbas do Tio Sam", e temendo o seu desdobramento em outros países da América Latina, o governo Kennedy começou a preparar as bases para uma contra-revolução, através da criação, em 1961 da Aliança para o Progresso e envio de militares americanos disfarçados em comerciantes, religiosos, industriais etc., para o Nordeste. Em 1962 cerca de 5 mil norte-americanos entraram no Brasil. Essa cifra nunca tinha sido tão elevada. Esses militares eram, na verdade, os "boinas verdes" (green berets), forças especiais dos Estados Unidos treinadas para reverter a situação em qualquer país caso esta caminhasse em direção ao socialismo. Estando infiltrados na sociedade, teriam maior facilidade para obterem informações e poderiam dar sustentação a grupos anti-guerrilhas ou de opositores das reformas. (ADAS, Melhen. PANORAMA GEOGRÁFICO DO BRASIL. 3ª ed. São Paulo, Moderna, 1998, p. 380). Era nesse exato momento que as Ligas Camponesas não paravam de reivindicar por uma reforma agrária radical e consequentemente se fortalecia cada vez mais politicamente, com a sua capacidade de mobilização de massas populares nas manifestações. No entanto, esse crescimento também levava a organização das Ligas camponesas a se afastarem cada vez mais dos sindicatos aliados, uma vez que, havia uma diferença entre a luta sindical, isto é, basicamente pela implementação e por maiores direitos trabalhistas aos trabalhadores assalariados do campo, e a luta revolucionária camponesa em busca da liberdade do trabalhador do campo em sua extensão de terra, onde de lá que ele iria tirar o sustento de sua família, estando ligado diretamente aos frutos de sua produção e não atrelado a relações salariais de caráter capitalistas. Ora, os partidos que indiretamente conduziam os sindicatos rurais, passavam a adotar o caráter mais revisionista (principalmente o PCB, que na década de 1960, passava a cada vez mais aderir a uma política regida pela Social-Democracia, ou Marxismo Revisionista), ou seja, mais negociação menos ruptura. Com a continua disparidade entre os objetivos políticos das Ligas Camponesas em relação aos Sindicatos Rurais e as Organizações Políticas, o principal representante das Ligas Camponesas ? Francisco julião, com as suas teses anti-partidos define uma ruptura com o PCB em 1961, tornando as Ligas Camponesas uma organização cada vez mais revolucionária e radical. Com esse episodio, Julião desenvolve ainda mais as idéias de treinamento de guerrilha armada para os melhores quadros das Ligas, e distribuindo essas pessoas por vários estados para dar continuidade ao caráter revolucionário das Ligas por outros cantos do Brasil. Essas idéias de ruptura com as Organizações Políticas, não trouxeram nenhum saldo positivo para as Ligas, uma vez que, ao contrário de uma organização partidária, as deliberações das Ligas Camponesas espalhadas pelo Nordeste brasileiro não aconteciam de forma homogênea e verticalizada, ou seja, o caráter horizontal das Ligas Camponesas favoreceu a uma pluralização de idéias e táticas políticas, essa situação cresce cada vez mais, após o rompimento com o PCB e toda sua organização disciplinada e verticalizada que sustentava uma auto-organização das Ligas até 1961. Essa situação vai ser constatada na campanha de Francisco Julião a deputado Federal, onde ele vai ser eleito com uma pequena margem de votação e não se elegendo, além dele, nenhum dos candidatos indicados pelas Ligas. No entanto, as idéias de Francisco Julião continuavam cada vez mais no conteúdo de suas propostas de caráter socialista, buscando assim manter acesa a chama do ideal revolucionário, frente às posições reformistas do PCB. Paralelo a isso, não parava de crescer as próprias diferenças entre as Ligas Camponesas e os sindicatos rurais. Pode-se constatar a existência de competições entre as Ligas, os Comunistas e setores progressivos da Igreja Católica na disputa de direções de sindicatos, com isso, os sindicatos que eram dirigidos pelas Ligas, sempre adotavam deliberações bastante coerente às idéias de Julião. No ano de 1963 Pernambuco protagoniza uma nova fase na política estadual com a vitória de Miguel Arraes ao governo do Estado, a estratégia adotada por Arraes em relação às Ligas Camponesas estavam mais ligadas a uma aliança surgida na necessidade em manter e ampliar as bases governistas no campo, mantendo assim, o caráter de governo popular. Nesse período as ações das Ligas Camponesas devido a várias divergências internas, tornavam-se cada vez menos agressiva, paralelo também ao caráter do governador Miguel Arraes que ficou mais restrito ao legalismo constitucional, dificultando e até impedindo ocupações de massas de camponeses aos engenhos, com a finalidade da reforma agrária. Pois bem, o período de 1961 a 1964, as lutas camponesas já estavam por demais desgastadas devidos as suas rupturas políticas e ao seu caráter horizontal em suas deliberações internas, dificultando cada vez mais uma unidade ideológica e política de seus militantes e dos líderes. Porém, mesmo com todo esse desgaste e isolamento político, frente ao crescimento dos sindicatos rurais em defesa basicamente ao trabalhador assalariado do campo, com absoluta certeza, as ações das Ligas Camponesas desde as primeiras ações assistencialistas da SAPPP em meados da década de 1950 tem um papel de singular magnitude política na luta política e social nas áreas rurais de Pernambuco e do Nordeste brasileiro. Considerações Finais: A guisa de considerações finais a esse estudo científico, pode-se considerar que devido a todos os descasos de exclusão social e política, exploração e miséria que estavam os trabalhadores rurais do Brasil estavam expostos, tendo em vista as modificações ocorridas na produção agrária em torno de uma economia de mercado cada vez mais capitalizada, a atuação das Ligas Camponesas na zona canavieira de Pernambuco, representou uma resposta social do campesinato frente, a não só os desmandos dos coronéis e as práticas de expropriação de terras, mas, o movimento das Ligas, teve uma representação de singular magnitude, uma vez que, foi um "grito dos miseráveis e excluídos" a uma dívida histórica que as elites brasileiras têm perante o povo sofrido do campo, ou seja, o direito a terra. O Universo solidarista envolveu o campesinato de tal maneira que fez com acendesse todo "o poder de fogo" dos explorados em uma área rural que estava preste a mais uma vez explodir em algum tipo de levante popular, à medida que a pequena propriedade familiar era retirada das famílias pobres e que eram crescentes as injustas relações de trabalho, desagregando cada vez mais o trabalhador rural da produção agrícola em nome da expansão das economias capitalistas de uma burguesia industrial que comandavam as usinas, acabando assim com os famosos engenhos Bangüês e criando uma vasta camada de trabalhadores "marginalizados" no campo. Enfim, as Ligas Camponesas se fortaleciam cada vez mais, principalmente quando elas foram vinculadas a uma luta social e política muito mais amplas, amalgamando assim, por alguns momentos o campo e a cidade, em uma única camada de explorados pelo capital, e também se aproximando cada vez mais de concretizações de reformas bastante expressivas e de até transformações na própria sociedade. E foi no bojo de conturbados processos políticos que as oposições unidas protagonizaram vários episódios de mudanças políticas e eleitorais no estado, pressionando cada vez mais as camadas elitistas da sociedade pernambucana. Logicamente que o movimento social-agrário, em torno da bandeira de uma reforma agrária radical iria se contrapor aos interesses do bloco industrial agrário, onde esse, devido ao enfraquecimento de suas teorias conservadoras, somente encontra uma única forma de reprimir as camadas populares do campo e da cidade, isto é a utilização de um "exercito armado", conspirando assim um golpe militar que se deflagrou em 1964, representando assim uma ruptura e um retrocesso notório na política social e popular do Brasil. Bibliografia: ADAS, Melhen. PANORAMA GEOGRÁFICO DO BRASIL. 3ª ed. São Paulo, Moderna, 1998 ANDRADE, Manuel Correia. Lutas Camponesas no Nordeste. 2ªed. São Paulo: Ática 1989. AZEVÊDO, Fernando Antônio. As Ligas Camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
Autor: Wallace Melo Gonçalves Barbosa


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