Uma proposta de aula de geografia sobre a nova ordem mundial.



Plano de Aula

Tema: Como podemos caracterizar a nova ordem mundial?
Série: 1º amo ? Ensino Médio.
Tempo de Aula: 3 aulas

Objetivos: Entender quais são as principais características da velha e da nova ordem mundial; compreender a pluralidade de visões acerca do mundo pós guerra fria e suas consequências; constituir e relacionar a visão do local, a partir das práticas espaciais dos pais dos alunos e do global a partir da visão dos vídeos e da reproduzida no livro didático; construir noções de nova ordem mundial.

Conteúdo: Velha ordem mundial, nova ordem mundial, globalização, conflitos, guerra fria e consequências do fim da guerra fria , mundo bipolar e mundo multipolar.

Atividades: I ? Os alunos deverão entrevistar os pais questionando sobre o fim da guerra fria, a opinião dos pais sobre o conflito, as consequências do fim desse conflito e se esse conflito impactou de alguma forma na vida deles.
II - Sistematização das principais ideias dos pais dos alunos na sala de aula, reflexão sobre a noção de guerra fria e fim de guerra fria dos alunos e um pequeno esboço sobre a visão do livro acerca da passagem da velha ordem mundial para a nova ordem mundial, através de um quadro comparativo.
III - Apresentação de dois clipes que retratam de maneira diferente a passagem da velha ordem para a nova ordem mundial, são esses: Wind of change (Scorpions) e Welcome to the Jungle (Guns n Roses).
IV - Construção de um texto sobre a visão do aluno acerca das consequências do fim da guerra fria, em uma forma de síntese, tendo como base as distintas visões trabalhadas na aula.
V ? Debate sobre as conclusões dos alunos.

Avaliação: Produção do texto e participação no debate.

A construção do plano de aula a partir dos textos de Ruy Moreira e Karl Marx.

Partindo das práticas espaciais dos pais dos alunos e dos alunos, passando pelas diferentes práticas espaciais dos clipes Wind of Change e Welcome to the Jungle e chegando a uma noção de Nova Ordem Mundial.

Optamos por partir do conhecimento dos pais dos alunos sobre a Guerra Fria, através de uma entrevista, com o fito e extrair as práticas espaciais deles, que nos mostrará uma visão ou um conceito de guerra fria e, sobretudo, se esse conflito e o fim desse conflito impactaram na vida deles e como eles observaram essa passagem de "ordens mundiais".
Entende-se por prática espacial a relação que se dá, porém, extrapola a relação homem-meio (como sugere Moreira), constitui-se a partir da percepção, do conhecimento empírico, da prática, do conhecimento, do exercício, diário, semanal, anual; que revela saberes, sentimentos, sentidos geográficos e não geográficos etc. A ideia de prática espacial é bem trabalhada por Moreira, que usa a prática espacial, o saber espacial e a ciência geográfica, tríade que tentaremos trabalhar nesse pequeno projeto de aula.
Moreira anuncia a relação homem-espaço como relação prioritária de análise da geografia, que deve utilizar a prática espacial como seu nexo estruturante e ponto de partida, objetivo antigo e complexo da ciência geográfica.
Destarte, Moreira afirma que:

"O espaço como realização e condição de existência e reprodução travada seminalmente no âmbito metabólico da relação homem-meio. (...) A sua forma dialética. Há uma dialética dos contrários intrínseca à própria essência da relação homem-meio, a luta pela sobrevivência do homem-ser-natural, que puxa para dentro de si a organização espacial e se transforma a si mesma em relação homem-espaço." (2009)

Como já dito, o ponto de partida do nosso plano de aula é a prática espacial dos pais dos alunos, que no segundo momento será sistematizada na sala de aula, confrontada com o conteúdo do livro didático e com as práticas espaciais dos alunos, que possivelmente não viveram esse momento, mas, possuem práticas espaciais derivadas do conhecimento escolar e de outros meios como filmes, documentários, entre outros meios. Deste modo, chegamos ao segundo ponto levantado por Moreira na sua tríade, que é o Saber Espacial, constituídos na sistematização das práticas espaciais com raízes na empiria.
Posteriormente, utilizaremos os dois clipes, Wind of Change e Welcome to the Jungle, para enriquecer, com duas visões totalmente distintas de passagem da velha ordem para a nova ordem mundial, o conteúdo. Mais do que novas visões, os clipes mostram práticas espaciais, no caso, construídas a partir das práticas espaciais das duas bandas. Os dois clipes possuem uma certa similaridade no que diz respeito do tratamento de uma situação ou várias situações, tratadas no clipe, e na generalização dessas situações para todo o mundo, assim, ou o mundo está no vento da mudança, como sugere o Scorpions, ou está na selva, como sugere o Guns n Roses.
Essa generalização nos faz lembrar da abstração da população na geografia, pois as cenas dos clipes sugerem que as diversas populações e grupos mostrados no filme contemplam a totalidade dos eventos da guerra fria e da nova ordem mundial. Para Marx: "A população é uma abstração, se desprezarmos, por exemplo, as classes que a compõem".
Marx ainda invoca uma relação entre concreto e abstrato e no próprio estabelecimento entre o que é concreto e o que é abstrato. As práticas espaciais, apesar de possuir o seu grau de abstração, tornam-se mais concretas do que os clipes, que, por exemplo, lançam informações a cada segundo e estão, na maioria das vezes, externas aos alunos.Além disso, é errôneo partir de situações específicas e tira-las como a totalidade de um evento, lançando o princípio da indução.

As práticas espaciais dos clipes e a conclusão do trabalho.

O clipe Wind of Change (vento de mudança), do grupo Scorpions faz um retorno ao mundo bipolar, ressaltando alguns fatos importantes, como a construção do muro de Berlim, utilizando imagens de exércitos, de inúmeros conflitos, principalmente, os que envolvem a África e a Ásia. Sobretudo, o clipe invoca uma relação específica do homem com o espaço, que, nesse caso, manifesta-se como território, com relações de poder em várias escalas, São práticas espaciais que envolvem conflitos, guerras, rivalidades e muita tensão. A prática espacial nos aparece de forma muito clara com prática de poder.
O vento da mudança traria assim a paz, demonstrado no clipe com vários acordos entre países, simbolizado pelo aperto de mãos, além da queda do muro de Berlim, que seria o grande marco da paz, e para nós um marco de uma nova prática espacial.
Essa prática espacial se daria de forma diferente pelo fim do mundo bipolar, e seria retratada pela relação dos sujeitos com o espaço, totalmente distinta daquela relação do mundo bipolar. As práticas de poder ficariam, de certa forma, escamoteadas, e as práticas espaciais se dariam a partir de outros princípios.
Basicamente temos no "novo mundo" uma prática espacial de harmonia, de fraternidade e de paz. É uma prática espacial, a nosso ver, forjada para simular uma hipotética paz do mundo com o fim da Guerra Fria, eleger o capitalismo como modelo supremo e integrador. Deste modo, todas as rivalidades antes existentes seriam superadas, sendo vistas de forma clara pelas supostas novas práticas espaciais.
Já o clipe Welcome to the Jungle (Bem vindo à Selva), propõe que vivemos em uma selva dominada pelo capitalismo, ressaltando o poder do consumo na vida das pessoas, da mídia como um agente de controle e dos organismos de repressão. Constituem-se, assim, práticas espaciais totalmente distintas, que partiriam dessa condição de dominação do capitalismo globalizado.
Especificamente, o clipe trabalha com um sujeito que chega de ônibus em uma grande cidade, apresentando feições do estereótipo do "homem do campo", logo, apresenta as suas práticas espaciais, e, de forma avassaladora, é transformado ao modo de vida urbano-capitalista-consumista, reconstruindo suas práticas espaciais. Como Marx salienta, é o poder que o capitalismo tem de transformar tudo na sua imagem e semelhança, como uma missão civilizatória (MARX 1958 apud HARVEY 2005).
O clipe mostra esse processo de transformação do sujeito, quase como uma lavagem cerebral, e, a nosso ver, baseando-se em Moreira, mostra como as práticas espaciais são transformadas, reconstruídas e voláteis.
Os últimos passos da aula, a construção de um texto e o debate, significariam a última parte da tríade de Moreira, ou seja, a ciência geográfica, que se daria pela sistematização do saber geográfico mais generalizado de abstração, justamente, a construção do texto com o vasto repertório de visões, opiniões e conceitos da nova ordem mundial, o que problematizaria e tentaria responder como podemos caracterizar a nova ordem mundial, pergunta inicial desse trabalho.
Assim, não se formaria uma, mas várias visões e conceitos da nova ordem mundial, considerando as práticas espaciais dos alunos e dos pais, as práticas espaciais retratadas nos clipes, juntamente com os discursos dos grupos e do conteúdo do livro didático e do debate com o professor.

Referências Bibliográficas.

Vídeos: Wind of Change (Ventos de mudança) ? grupo: Scorpions;
Welcome to the Jungle (bem-vindo a selva) grupo: Guns n Roses.
SENE, E.; MOREIRA,J.C. Geografia Geral e do Brasil: Espaço Geográfico e Globalização. São Paulo: Editora Scipione.
Marx, Karl (1986). Introdução [à Crítica da Economia Política]. In Para a Crítica da Economia Política ? Salário, Preço e Lucro, o Rendimento e suas Fontes. São Paulo: Nova Cultural, 2ª edição. (escrito de fins de agosto a meados de setembro de 1857).
Moreira, R. Da espacialidade ao espaço real: O problema da teoria geral a propósito do simples e do complexo em geografia.
Harvey, D. A produção capitalista do espaço. 2005. Editora Anablume.



Autor: Felipe De Souza Ramão


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