UMA ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA DA COMUNIDADE DO CATU GOIANINHA, RN



RESUMO

O presente trabalho é fruto de pesquisa acadêmica vinculada a disciplina de Geografia Agrária, do Curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Consta de uma análise que visa caracterizar a comunidade de remanescentes indígenas Catu, localizada no município de goianinha, Rio Grande do Norte. Será levado em consideração os aspectos históricos, culturais e geográficos desta comunidade, com o objetivo de se analisar seu desenvolvimento econômico e suas interferências na realidade social. Para tanto, foram realizadas pesquisa no local, com os moradores da região, abrangendo desde trabalhadores agrícolas a professores, utilizando-se meios eletrônicos e documentação escrita. Justifica-se a pesquisa frente a necessidade de reflexão dos graduandos de cursos na área de ciências humanas, assim como também da sociedade de uma maneira geral, acerca dos problemas rotineiros relacionados ao espaço agrícola. Com a presente pesquisa foi visto que as questões agrícolas e agrárias podem ser claramente trabalhadas por meio de pesquisas mais aprofundadas, por pesquisadores de várias áreas do conhecimento, devido à agricultura familiar presente na comunidade, localizada as margens da grande produção latifundiária exercida por determinada empresa açucareira. Assim, observou-se a presença de uma má distribuição de terras, de trabalhos sazonais nesta empresa por pequenos proprietários e também a necessidade de um maior investimento na melhoria das questões ambientais, como o tratamento de resíduos industriais por órgãos municipais. Por tanto, espera-se contribuir para o meio acadêmico com uma pesquisa nova, crítica e embasada em análises empíricas e bibliográficas para o aprecio geral da academia e interessados.
Palavras-chave: geografia agrária, produção, agricultura familiar.


1. INTRODUÇÃO

A comunidade do Catu esta localizada no município de Goianinha, situado ao sul da costa potiguar. A origem da comunidade Catu remonta ao período colonial brasileiro, época marcada pela grande expansão das missões jesuíticas por todo o território nacional. Nas redondezas do município de Canguaretama existiam duas tribos indígenas que ai se situavam: os potiguares e os cariris. Descendentes dessas tribos, tomam destaque na colonização de áreas além de Canguaretama os irmãos Antonio e João Catu. O primeiro estando nas mediações do atual território de Goianinha casou-se com uma índia tapuia dando origem a grande parte dos descendentes que até hoje existem no lugar. O segundo, migra para as áreas do atual município de Areia Branca.
Tempos após a vinda dos irmãos e disseminação de sua cultura, fluxos migratórios advindos do município de Canguaretama aproveitaram a densa Mata Atlântica existente para a produção de carvão e sua utilização de energia elétrica. Tal atividade foi a precursora para os processos de devastação e sua conseqüente interferência no bioma que culminou com grande perda da caça e pesca utilizados pelos indígenas pela extinção de espécies adaptadas a Mata Atlântica.
De acordo com o professor Luiz Catu, morador e representante da população local indígena junto a FUNAI, o território cultural da população apresenta uma grande área de abrangência, sendo ao todo três catus localizados nesta região. Segundo ele, a existência de tal território é importante para manter a identidade do lugar bem como a preservação do espaço sócio-ambiental. Medidas internas tem sido tomadas para tal ensejo como a criação de trilhas ecológicas, que visam não somente a apreciação da paisagem mas também a arrecadação de fundos para a manutenção da mesma e principalmente a conscientização da população externa acerca da comunidade existente e os problemas por eles enfrentados.

2. METODOLOGIA

O seguinte trabalho foi realizado através de visita in locu, onde analisamos o lado social como as relações entre a população, os recursos que estão disponíveis a eles e as condições destes recursos, assim como também foi levado em conta a questão econômica da comunidade como o principal produto cultivado, as relações de plantio e venda destes produtos bem como as conseqüências da proximidade a uma usina para a comunidade. Para tanto foi utilizado também, meios eletrônicos e escritos e relatos dos próprios moradores.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 QUESTÃO AGRÁRIA E A AGRICULTURA FAMILIAR
No Brasil, as relações no campo sempre foram voltadas para a grande concentração de terras o qual é um problema que, em toda a sua história, jamais se buscou resolver. As sesmarias, processo pelo qual o território brasileiro foi dividido no período da colonização, teriam uma importância decisiva na conformação dessa estrutura agrária, e conforme BAUER (1998) a discrepância entre aqueles que controlam e monopolizam a terra e os trabalhadores e pequenos proprietários rurais, constitui o problema central do setor agrário brasileiro, expressando-se na ostensiva riqueza, poder e status de uns poucos e numa adjeta miserabilidade e desqualificação social e econômica da grande maioria.
Outro fato que contribuiu para esta estrutura fundiária permanecer foi o cultivo dos produtos que era monocultora e voltada para a exportação como o caso da cana-de-açúcar, que foi a primeira economia do Brasil e até os dias atuais tem grande importância. Sendo assim, também podemos citar a industrialização do campo como outro fator e somando todos estes os grandes proprietários sempre saem com ganhos, enquanto o pequenos produtores, aqueles que têm uma agricultura predominantemente familiar ficam sem condições e sem subsídios para fazer frente ou ao menos ter uma concorrência mais leal com os latifundiários, deixando assim a riqueza muito concentrada e os contrates sociais enormes (ARAÚJO, 2009).
Segundo Iara Alfatin (2009), a agricultura familiar pode ser resumida em cinco grupos que são os índios, os escravos africanos, os mestiços, os brancos não herdeiros e os imigrantes europeus. Estes dariam origem ao processo de agricultura familiar. Na comunidade do Catu, que tem uma agricultura familiar são remanescentes de índios, ainda não reconhecidos pela FUNAI.
3.2 A PRODUÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR E A CRIAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR
A A produção da cana se dá de forma monocultora, utilizando-se para isso agrotóxico, com a finalidade de diminuir a incidência de pragas e conservar a produção. Entretanto o uso de tal meio faz-se nocivo a produção dos pequenos agricultores que para sobreviver plantam entre as margens do rio e da plantação açucareira. De acordo com seus moradores o uso destes agrotóxicos interfere em suas plantações, criações e principalmente na qualidade de vida das pessoas que ali moram uma vez que estas têm contato direto com estes produtos e estão expostas a áreas onde estes agrotóxicos são utilizados.
Também na extração são utilizados meios químicos reconhecidamente prejudiciais a saúde pública e ao ecossistema envolvido, pois são utilizados diversos tipos de veneno que apresentam alta capacidade de percolação no solo, indo afluir no lençol freático. Tal constatação é dada pelos moradores da região que afirmaram apresentar sintomas que variam desde reações alérgicas a processos infecciosos na pele, aumentando assim, a demanda por serviços públicos de saúde. Entretanto a prefeitura mostra-se em caráter imparcial, frente aos recursos recebidos da mesma empresa sob forma de impostos por uso de terra, denominados royaties.
Figura 1: Do lado esquerdo plantação de subsistência. Do lado direito plantação de cana-de-açúcar da usina Estivas.
Na figura 1 podemos observar de um lado a plantação de subsistência e do outro a de cana-de-açúcar que fica muito próxima da plantação e das casas da comunidade ficando assim uma pequena faixa de terra que hoje os pequenos agricultores dispõem para plantarem, segundo relatos da população as terras eram maiores, porém a muito tempo alguns funcionários da usina que esta situada no local, a qual está a frente do presente seguimento, empresa truste que controla desde o cultivo e processamento até a distribuição dos produtos sobre forma de açúcar cristalizado e derivados, começaram a fazer visitas constantes a comunidade onde eles diziam que se não vendessem as terras para a usina iriam perdê-las. Diante da falta do conhecimento desses agricultores muitos deles ficaram com medo de perder suas terras, visto que era a única coisa que tinham, então venderam, e a usina se aproveitando desta situação comprou as terras a preços irrisórios deixando esses agricultores sem condições de comprar outras terras. Assim, acabaram se fixando as margens do rio Catu, onde estão até os dias de hoje.
Sem terras para plantar, sem subsídios para trabalhar, muitos agricultores dependem dos trabalhos temporais da usina para sobreviver ou para auxiliar na renda. Apesar de ocupar grande parcela dos trabalhadores rurais, uma vez que eles não dispõem de formas as quais possam sobreviver, a atividade açucareira, que é realizada na usina a qual fica próxima a comunidade, não é a única fonte de subsistência dos mesmos, mas a agricultura familiar normalmente desenvolvida nos incipientes espaços domésticos também se mostra presente. Em tal agricultura como ALTAFIN coloca, "a diversificação de culturas configura-se como parte da estratégia adotada pela família camponesa, que tem na combinação com a criação de animais sua alternativa de fertilização dos solos e melhoria na produtividade dos cultivo".
Na comunidade, assim como nas demais agriculturas deste gênero, se encontra grande variedade de cultivo como os principais gêneros alimentícios mais comuns como a batata, a mandioca e hortaliças. Porém o principal produto é o feijão carioca o qual é vendido por R$ 0,35 o quilo. Atualmente existem alguns programas desenvolvidos pelo governo federal de incentivo a produção agrícola entre eles: o Brasil mais alimentos e Compra direta. Ações estas que visam dá créditos ao micro produtor e sua inserção no mercado, pois como eles não se organizam para vender suas produções acabam dependendo de atravessadores e se vêem obrigados a vender seus produtos a preços muito baixos.
Em campo foram entrevistados alguns agricultores onde se pode observar a produção doméstica na qual a principais responsável pela manutenção da economia domestica é a própria família e alguns poucos empregados externos que trabalham cerca de oito horas por dia, seis messes por ano. A realidade destes agricultores, apresenta-se, na maioria das vezes, na figura de pessoas que trabalharam durante grande parcela de sua vida em usina de beneficiamento da cana, até que conseguiram se fixar na terra sob diversos modos, mas quase sempre ligados ao trabalho ao redor dessas empresas. Pessoas com quantidades de filhos superiores a que costuma-se observar na média geral da população brasileira, como forma de aumentar e melhorar a produção doméstica de alimentos.

3. CONCLUSÃO

Diante destes dados acima apresentados podemos observar de maneira clara e concreta as características que estudamos na academia, como a má distribuição de terras durante toda a história e que reflete na estrutura atual, a falta de incentivos aos pequenos agricultores, já que o interesse maior é o cultivo voltado para a exportação e as falhas ou até mesmo ausência dos programas do governo e outros fatores que estão muito presentes nesta área do Catu. O predomínio do latifúndio, a baixa utilização da terra, a dificuldade de acesso do produtor à propriedade e à posse da terra, os baixos níveis da produção agrícola, a orientação da política governamental, estimulando a produção para a exportação, e a assistência aos grandes e médios produtores, em detrimento dos pequenos produtores são fatores comuns e facilmente detectados em toda a região do nordeste.
É preciso divulgar a realidade a qual essa comunidade é submetida, para que se possam criar políticas que melhorem a produção e que mostrem os direitos de comunidades como essa. Quantos Catus não existe no nosso Brasil? Seria uma ingenuidade achar que esses problemas estão presentes em apenas um determinado local. A problemática desta comunidade e de tantas existentes é a mesma, uma pequena faixa de terra com vários agricultores, fronteirando com uma imensidão de terras de um único mentor.
Muitos trabalhos de melhorias já estão sendo desenvolvidos, mas muito há de se fazer ainda nesta área. Explorar seu potencial, incentivar e melhorar os projetos já em ação, melhorar as políticas para os pequenos agricultores, dando-lhes possibilidades de trabalhar para sobreviver dignamente. Quem sabe algumas destas e outras medidas não diminuiriam as desigualdades que se originam desde a colonização do nosso território através da divisão e distribuição das terras (PEDRO, 2003).

REFERÊNCIAS

ALFATIN, Iara. Reflexões sobre o conceito de agricultura familiar. Disponível em: http://redeagroecologia.cnptia.embrapa.br/biblioteca/agricultura-familiar. Acesso em 16 de junho de 2009.
ANDRADE, Sandra Maria Correia de. A questão agrária no Nordeste. São Paulo: Ática, 1997.
ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Nordeste, nordestes: que nordeste? In: Desigualdades regionais e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1995.
BAUER, Guilherme Telles. Sobre as origens da questão agrária brasileira. Disponível em: http://rhr.uepg.br/v3n1/bauer.htm. Acesso em: 03 de março de 2009.
IDEMA. Disponível em: http://www.idema.rn.gov.br. Acesso em: 16 de Junho de 2009.
STEDILE, João Pedro. A origem do latifúndio no Brasil. Disponível em: http://brasil.indymedia.org. Acesso em: 29 de Julho de 2003.



Autor:


Artigos Relacionados


Ploeg, Jan Douwe Van Der - Sete Teses Sobre Agricultura Camponesa

Resenha Disciplina Agroecologia / Ploeg,jan Douwe Van Der - Sete Teses Sobre Agricultura Camponesa

Tecendo ReflexÕes Sobre A Pequena ProduÇÃo Do Semi-Árido Brasileiro

Agricultura Familiar

Agricultura Em Mato Grosso

Agricultura Familiar No Brasil

A Agricultura Moderna E O êxodo Rural